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sábado, 7 de fevereiro de 2015
Resenha Cinema: Corações de Ferro
Eu preciso confessar que não sou, nem de longe, um grande fã do cinema de David Ayer. O roteirista/diretor de filmes Os Reis da Rua, Marcados para Morrer e Sabotagem nunca me impressionou com suas histórias policiais urbanas onde, a bem da verdade, os personagens mais ou menos parecem sempre os mesmos, transitando pela faixa cinza entre o bem e o mal, eventualmente mais perto do branco, eventualmente mais perto do preto.
Prova da falta de mão de Ayer pra construção de personagens é que seu trabalho de maior visibilidade e prestígio é justamente aquele que ele não dirigiu (Dia de Treinamento), e assim que sentou na cadeira do diretor, se mostrou um cineasta com boa mão para construir sequências claustrofóbicas e tensas e, meio que foi só.
Ao assistir esse Corações de Ferro, o fiz com baixas expectativas, e muito mais por conta do que parecia um bom elenco e por curiosidade de ver Ayer trabalhar fora do seu ambiente natural de tiras urbanos do que esperando um grande filme de Segunda Guerra Mundial (um conflito que, diga-se de passagem, gerou muitos GRANDES filmes).
No longa conhecemos o tanque de guerra Fury, um Sherman norte-americano tripulado por cinco homens:
Sargento Don "Wardaddy" Collier (Brad Pitt), o canhoneiro Boyd (Bíblia) Swan (Shia LaBeuf), o motorista Trini (Gordo) Garcia (Michael Peña) e o mecânico caipira Grady (Bunda de guaxinim) Travis.
A este grupo de veteranos que luta junto desde a África, cortando a Europa Alemanha adentro rumo a Berlim, junta-se, após uma baixa, o novato Norman Ellison (Logan Lehrman), um fedelho de 18 anos treinado para ser datilógrafo que jamais disparou uma arma, nunca esteve em combate e sequer viu um tanque por dentro.
É abril de 1945, e os Aliados fazem sua derradeira investida rumo à capital alemã e o fim da guerra, entretanto, cada cidade tomada é a última resistência de uma tropa nazista, e muitas delas não estão dispostas a vender barato sua base.
Com as provisões, munições e até mesmo as tropas rareando, os soldados de Hitler passam a convocar mulheres e crianças aos esforços de guerra, tornando o conflito ainda mais traiçoeiro.
É à esta realidade suja e brutal que Norman precisa se adaptar para merecer o respeito de seus companheiros descrentes, compreender a dura doutrina do sargento Collier, e tentar sobreviver aos dias finais do conflito.
Não é ruim. Realmente não é ruim.
Corações de Ferro se abraça com força ao bravado macho dos games de tiro em primeira pessoa como Call of Duty e Battlefield para contar sua história sobre homens absolutamente distintos que, no calor da guerra se tornam amigos e irmãos, e isso não é um defeito.
Pra melhorar, Ayer consegue criar sequências de tensão genuínas (o que não é nenhuma surpresa, dado seu histórico), e ocupa de maneira esperta o claustrofóbico interior do tanque, lar de seus anti-heróis.
Além disso, o diretor não economiza no gore, e enche a tela com homens em chamas, desmembramentos, decapitações e corpos explodindo e sendo esmagados.
Infelizmente, parece que em sua ânsia por criar um filme brutal e sujo, que se equiparasse em termos de visual a O Resgate do Soldado Ryan (a inspiração na sequência da invasão à Normandia é flagrante), Ayer, mais uma vez, esqueceu de preencher seus personagens com alguma coisa além de arquétipos e frases de efeito.
Se Pitt, mostrando-se um astro maduro e seguro, se vira bem com seu "Wardaddy" Collier, nem todo mundo tem o tempo de tela do ex-Apache Rayne (infinitamente superior), e ainda que o elenco se esforce, os personagens simplesmente não têm estofo pra justificar uma eventual preocupação da audiência com eles.
LaBeuff e Lehrman inclusive se esforçam e fazem o possível, e mesmo Bernthal e Peña têm seus momentos, ainda assim, é óbvia a falta de mão de Ayer pra dirigir atores e seu desleixo com relação ao elemento humano. Ainda bem que o diretor consegue equilibrar seu texto raso e sua mão pesada pra dirigir sequências sem pancadaria com uma divertida batalha final repleta de pirotecnia e sangue que encerra o longa de maneira digna.
No fim das contas, entre (pilhas de) mortos e feridos, salvam-se o esforçado elenco, a esmerada produção, e as boas sequências de ação. Ayer segue devendo um ótimo filme, mas ao menos entrega seu primeiro filme bom.
Com baixas expectativas até vale a visita ao cinema.
"Ideais são pacíficos. História é violenta."
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