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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Resenha Cinema: Homem-Formiga


A Marvel não descobriu apenas um filão quando lançou, no distante ano de Nosso Senhor de 2008, Homem de Ferro e O Incrível Hulk.
Mais do que um rentável universo cinematográfico (ou cinemático, como o estúdio/editora chama) compartilhado por super-heróis, a Marvel descobriu uma forma de fazer filmes, contando suas histórias de maneira leve, divertida e descompromissada, mas mantendo um mundo coeso onde todos os super-heróis podem conviver.
Se essa fórmula nem sempre funciona (Homem de Ferro 2, Homem de Ferro Três, o primeiro Thor, e Vingadores - Era de Ultron são todos filmes que não suportam um escrutínio mais crítico), mas que, ainda assim, rende uma ótima grana ao estúdio, e financia voos mais altos e projetos mais audaciosos.
O Guardiões da Galáxia, por exemplo, era uma aposta de altíssimo risco, ninguém conhecia nenhum dos personagens do filme, ainda assim, o longa fez uma bela carreira nas bilheterias, e rendeu uma sequência.
As apostas mais certas voltaram a seguir com o segundo Vingadores, e então, nova aposta:
O Homem-Formiga.
O Homem-Formiga é um herói semi-desconhecido. Essa semana, conversando com minha mãe, ela queria saber se esse Homem-Formiga realmente existia, eu confirmei e ela me disse "Então é novo.".
Não é. O Homem-Formiga original, Hank Pym, é um personagem longevo, membro fundador d'os Vingadores, publicado pela primeira vez edição número 27 da revista Tales of Astonish de janeiro de 1962, está no top 8 da lista de gênios do Universo Marvel dos quadrinhos (Acredite, há muitos gênios no universo Marvel, pegar top-20 é um lance grande), e é um personagem profundo, com problemas bastante humanos, incluindo problemas domésticos (ele desceu a mão na esposa, Janet Van Dyne, a Vespa).
Por alguma razão, o Homem-Formiga jamais teve Aquela grande fase dos quadrinhos. Jamais teve seu gibi mensal assumido por algum escritor talentoso o suficiente para tornar seu quadrinho interessantíssimo ainda que apenas por algumas edições, de modo que sempre ficou ali no segundo escalão da Marvel, trocando de nome (Jaqueta Amarela, Gigante, Golias...) como um herói importante e respeitado mas, vá lá... Sem muitos atrativos.
Mas o segundo escalão da Marvel não é pouco. Era o reino do Homem de Ferro até bem pouco tempo atrás, e ainda assim, a Marvel transformou o Vingador Dourado em um hit, Guardiões da Galáxia eram algo entre terceiro e quarto escalão, e lá estavam eles arrecadando 700 milhões de dólares ano passado.
Por que diabos o Homem Formiga não podia ser o próximo super-herói a saltar de divisão?
Os astros pareciam alinhados.
A Marvel queria fazer o filme, e o diretor contratado para o projeto era ninguém menos que Edgar Wright, diretor britânico responsável por Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso, Scott Pilgrim Contra o Mundo e Heróis de Ressaca.
Sujeito reconhecidamente talentoso, gozando de imenso prestígio junto à nerdalhada, tornou Homem-Formiga um dos filmes mais antecipados da Casa das Ideias.
Michael Douglas foi contratado para viver Hank Pym, o que deixou todo mundo com a certeza de que ele não seria o herói principal do filme, já que o ator tem 71 anos. O peso de ser o Homem-Formiga de Homem-Formiga recaiu sobre Paul Rudd, ator egresso de Friends, onde interpretava Mike Hannigan, namorado de Phoebe, e das comédias de Judd Appatow. A eles se juntaram Evangeline Lilly, Corey Stoll, Michael Peña, Bobby Canavalle e Judy Greer. O tabuleiro estava montado e era só esperar seis meses pra ver o que viria até que...
Edgar Wright saiu do projeto.
As famigeradas "diferenças criativas" que já haviam tirado uma penca de diretores de projetos da Marvel deu as caras de novo, e o Homem-Formiga ficou à deriva.
O timoneiro escalado para assumir a brinca não era dos mais animadores:
Peyton Reed.
Diretor egresso de comédias como Teenagers - As Apimentadas, Abaixo o Amor e Sim, Senhor, Reed não era dos nomes no topo da lista de ninguém pra dirigir um filme de super-herói, de modo que as desconfianças apenas aumentaram.
Elenco de comédia, diretor de comédia, num filme de super-herói de segundo escalão de um estúdio que enfia comédia em tudo...?
Era esperar pra ver.
Ontem eu vi.
Homem-Formiga abre com um flashback.
É 1989, e a SHIELD, dirigida por Howard Stark (John Slattery), Peggy Carter (Haley Atwell) e Mitchell Carson (Martin Donovan) recebe a visita de um furioso Hank Pym (Michael Douglas). O cientista está fulo com a ideia de a agência estar tentando replicar sua fórmula, e, pelo que considera uma traição da grossa, ele se demite da Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão.
Corta para os dias atuais.
Scott Lang (Paul Rudd), acaba de cumprir sua pena por roubo e é libertado. Tudo o que ele deseja é recolocar sua vida nos eixos, conseguir um emprego e se dedicar a reconstruir sua relação com a filha, Cassie.
Mas a vida é difícil para um ex-condenado, de modo que mesmo com um mestrado em engenharia elétrica, Scott só consegue um emprego em uma sorveteria, e ainda assim, apenas escondendo sua ficha criminal.
Sem emprego, Scott não pode pagar a pensão de Cassie, e sem nenhuma perspectiva, morando de favor na casa do amigo Luis (Michael Peña) é impedido pela ex-esposa Maggie (Judy Greer) e pelo novo marido dela, o policial Paxton (Bobby Canavalle), de ver Cassie até colocar a vida nos eixos.
Sem alternativas, Scott acaba aceitando a dica de Luis para realizar um assalto na casa de um ricaço.
Ao aceitar o serviço, Scott acaba, sem saber, se colocando exatamente onde Hank Pym o queria. Em posição de se tornar pivô no plano de Hank para impedir os planos de seu ex-pupilo, Darren Cross (Stoll) de transformar sua tecnologia de miniaturização em uma arma que, em mãos erradas, pode transformar o mundo em caos.
Para impedir os planos nefastos de Cross, Pym precisa da ajuda de Scott e da filha Hope (Evangeline Lilly) para realizar um roubo impossível.
Uma empreitada que ainda envolverá os comparsas de Scott e Luis, Kurt (David Dastmalchian) e Dave (O rapper T. I.), e até o Vingador Falcão (Anthony Mckie).
E não é que funciona?
Homem-Formiga, como todos os filmes da Marvel, é uma comédia de ação.
Quem espera outra coisa dos filmes do estúdio, lamento informar, é burro. Todos os filmes de heróis da Casa das Ideias são assim, a fórmula funciona financeiramente e não vai parar de ser repetida até parar de dar dinheiro.
O diferencial de Homem-Formiga com relação aos outros longas talvez seja a qualidade das piadas (melhores do que na maioria dos outros filmes-gibi da Casa das Ideias), e o timming cômico do elenco, formado por comediantes de origem, e ao menos um ator bem acima da média (Douglas).
A decisão de criar uma relação mestre/pupilo entre Pym e Lang funciona, o personagem mais velho demonstra um temperamento explosivo e difícil que ecoa bem nos problemas do Homem-Formiga dos gibis, e também é evidenciado pela relação problemática entre Hank e Hope.
Paul Rudd manda bem em seu primeiro papel heroico, equilibrando a comédia por vezes rasgada de sua atuação com alguns momentos mais comedidos.
A comédia rasgada, aliás, fica particularmente engraçada quando T.I., Dastmalchian e especialmente Michael Peña estão em cena. O trio é muito engraçado.
O vilão, como de hábito, talvez seja o ponto fraco do filme. Corey Stoll (que roubou a cena como Ernest Hemingway em Meia-Noite em Paris) tenta, faz caretas, fica com os olhos rasos d'água e olhar insano, mas a Marvel no cinema teve de bons vilões apenas os primeiros (O Obadiah Stane de Jeff Bridges, o General Ross de William Hurt e o Loki de Tom Hiddleston), e de resto, os antagonistas são todos bem fraquinhos.
Mas não há apenas comédia em Homem-Formiga, as cenas de ação são boas, e a brincadeira com a proporção quando o herói está em sua forma miniatura é muito bem utilizada.
Entre erros e acertos, Homem-Formiga funciona muito bem, obrigado.
Estabelece a ponte entre o herói em miniatura e Os Vingadores, projeta a Vespa, e até dá pistas sobre o Homem-Aranha da Marvel (Tem um herói que pula, que se balança e escala paredes diz alguém à certa altura.), há duas cenas pós-créditos e a segunda delas faz referência direta a Capitão América - Guerra Civil, mas mesmo sem tudo isso, o longa do pequeno herói da Marvel ainda valeria a visita ao cinema. O 3-D é completamente desnecessário.

"-Meus dias de arrombar lugares e roubar merdas acabaram!O que você precisa que eu faça?
-Eu quero que você arrombe um lugar e roube umas merdas."

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