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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Resenha Game: Batman - Arkham Knight


Se existe um lugar onde os fãs do Batman de qualquer corrente podem se sentir à vontade para amar seu personagem sem encontrar qualquer tipo de mazela, esse lugar é a série de games Arkham.
Ao menos os capítulos desenvolvidos pela Rocksteady, Arkham Asylum e Arkham City, já que o prequel da Warner Montreal, Arkham Origins, não chegou a ser unanimidade como seus predecessores.
O estúdio inglês, aliado ao gênio criativo de Paul Dini, um dos grandes escritores de super-heróis da DC contemporânea, criaram um retrato do Batman à prova de fãs chatos.
Como o leitor deve saber, existem inúmeros fãs chatos do Batman.
Existem as pessoas que preferem essa ou aquela interpretação do homem morcego, e que torcem o nariz para as demais.
Existem os que não gostam do Batman falastrão de Frank Miller, os que odeiam George Clooney, Val Kilmer e Joel Schumacher pelo que eles fizeram ao Batman, aqueles que tem a cara de Adam West em um alvo de dardos na porta do banheiro e aqueles que se ouvirem falar sobre "a maldição do morcego" de Allan Grant, mais uma vez, vão perder as estribeiras. Existem, pasmem, até os caras que avacalham os Batman de Christian Bale e Christopher Nolan por ser "pouco Batman".
Há fãs de todos os tipos, mas nenhum deles têm do que se queixar com relação ao Batman da série Arkham.
O homem morcego engendrado pela equipe criativa do game é a quintessência do que o Batman deveria ser, é simplesmente perfeito. A combinação equilibrada dos talentos dedutivos, do artista marcial, da utilização dos gadgets, à aplicação de ciência embaladas num traje de morcego com o vozeirão de Kevin Conroy é Batman no pico do que significa ser Batman.
Isso havia ficado muito claro em Arkham Asylum e Arkham City, e teve seus relances no bom Arkham Origins, e explicava a ausência de unhas nas mãos dos nerds conforme se aproximava a data de lançamento (adiada duas vezes) de Batman - Arkham Knight, prometido último capítulo da série, que elevaria a fórmula "Batman enfrenta uma noite tenebrosa" à enésima potência quando toda a cidade de Gotham é feita refém pelos inimigos do morcego.
Passou-se um ano desde que as muralhas de Arkham City foram derrubadas. O crime caiu a índices baixos como nunca antes vistos, e toda a cidade mergulhou em um inesperado mar de tranquilidade.
Mas isso não dura.
O Espantalho, Jonathan Crane, às vésperas do feriado de Halloween, comete um hediondo atentado na cidade, e promete que é apenas uma gota no oceano. O vilão planeja detonar uma bomba com a mais nova e poderosa versão do seu gás do medo na cidade de Gotham.
As autoridades agem rápido, evacuando mais de seis milhões de pessoas em vinte e quatro horas, deixando na cidade apenas policiais, bombeiros, criminosos, e o Batman.
O herói inicia sua jornada rumo ao inferno engendrado pelo Espantalho, que não está agindo sozinho em sua empreitada nefasta.
O vilão uniu forças com o Pinguim, Duas Caras, e um novo antagonista, um misterioso líder militar conhecido apenas como Arkham Knight. Um mercenário de passado sombrio que traz seu exército particular à cidade de Gotham para destruir o Homem Morcego de uma vez por todas.
Como desgraça pouca é bobagem, o maior detetive do mundo ainda precisa lidar com o retorno de um vingativo Charada, constantes aparições de uma criatura conhecida como morcego-humano, incêndios criminosos perpetrados pelo Vaga-Lume, o desejo de vingança de Harley Quinn, além de um sem número de atentados, sequestros, e participações de criminosos diversos que se aproveitam da Terra de Ninguém em que Gotham se tornou para realizar suas atividades sem a intervenção do lei.
Para suportar a violenta onda de crimes em uma cidade do tamanho de Gotham, o cruzado encapuzado precisa utilizar em sua totalidade o seu arsenal de tecnologia, que inclui todos os aparelhos vistos nos games anteriores, mais algumas novidades como o sintetizador de voz, o auxílio da Mulher-Gato, do Robin, e de Asa Noturna, mais o apoio logístico e técnico da Oráculo Barbara Gordon, Alfred, e Lucius Fox, além do que prometia ser a grande novidade do game:
O novo Batmóvel, uma versão revista e remodelada do bólido visto brevemente no início de Arkham Asylum.
Com esse auxílio, Batman precisará enfrentar a mais longa de todas as noites, conforme luta contra os monstros que planejam destruir seu mundo, e contra os seus próprios demônios pessoais, espreitando nos mais obscuros recantos de sua mente, uma batalha que pode custar a vida do guardião de Gotham City.
Espetacular.
Como eu disse lá em cima, há muito pouco do que se queixar na série Batman Arkham, e o escopo de Arkham Knight, é uma soma de tudo o que havia de bom nos outros games e ainda mais.
A história, escrita por Sefton Hill e Martin Lancaster com apoio de Geoff Johns não fica muito atrás do que Paul Dini criou para os outros games da franquia, com um sentido de urgência palpável que aumenta a cada minuto conforme as reviravoltas na trama se empilham. Arkham Knight é uma tremenda história de Batman, em vários aspectos, superior e até mais corajosa do que muita coisa feita nos quadrinhos e no cinema com o herói, e uma sequência diretíssima dos games anteriores (de todos eles).
A mecânica de combate baseada em contra-ataque do game foi melhorada, permitindo ao homem morcego enfrentar até cinquenta inimigos ao mesmo tempo. Essas lutas inacreditavelmente lotadas, acontecem sem que haja queda na taxa de frames do jogo. Uma variedade maior de tipos de inimigos foi colocada nos mapas, capangas de escudo, eletrificados, armados e médicos que recuperam antagonistas nocauteados, tornando os desafios de predador mais... Bom... Desafiadores.
A presença da Mulher-Gato, Robin e Asa Noturna também adicionam um interessante elemento ao combate, a luta em parceria.
Quando um aliado está no campo de batalha com o Batman, com um botão, o player pode alternar o controle entre o morcego e um dos seus sidekicks, num balé que geralmente resulta em nocautes em dupla que são muito bonitos e parecem ter sido arrancadas das páginas dos quadrinhos.
Mais prática, outra novidade, os Fear Multi Takedown Moves, permitem ao Homem Morcego cair matando em cima de até 5 inimigos armados sem sofrer nenhum arranhão, oferecendo uma série de novas ferramentas para instilar o terror no coração da bandidagem.
Mas e a grande novidade do game? E o Batmóvel?
Bueno... Confesso que temia um pouco pelo excesso de holofote sobre o mais icônico carro da cultura pop.
Assim como deve ter acontecido com várias outras pessoas, eu fiquei receoso de que Batman - Arkham Knight fosse se tornar Batmobile: Arkham Knight.
E de certo modo, é o que acontece.
O poderoso "tanque de bilhão de dólares" (visivelmente inspirado no Batmóvel de Batman: O Cavaleiro das Trevas, tanto o quadrinho quanto o filme, inclusive com ecos da Bat-Pod) propelido por foguete, capaz de arrancar árvores, postes e colunas de seu caminho sem reduzir a velocidade, de esmerilhar a fachada de edifícios como se nada estivesse acontecendo e de reduzir carros e até tanques inimigos à sucata em uma batida está presente em quase metade do jogo. Mais do que isso, o batcarro se torna uma das principais ferramentes para resolver puzzles, e um elemento fundamental para transitar entre as três ilhas do imenso mapa de Gotham (cinco vezes maior do que o mapa de Arkham City e sem nenhum sistema de viagem rápida), e para os combates entre tanques (?).
Sim. Tu leu certo:
Combate entre tanques.
Veja, Gotham foi sitiada pelas forças do Arkham Knight, um líder militar fodelão, e o espaço nas ruas é partilhado por policiais, bandidos, e pela milícia do Knight, formada principalmente por pequenos tanques de combate remotos.
Esses veículos militares não-tripulados são a principal oposição nas ruas (que, diga-se de passagem, jamais estiveram tão vivas e cheias de gente), e um prato cheio para o modo de combate do Batmóvel.
Com o toque de um botão, o carro altera sua configuração, tornando-se um tanque de guerra armado com metralhadoras e um canhão de 60 mm. capaz de demolir a blindagem leve dos tanques inimigos. Mais do que isso, nesta configuração, o veículo se torna mais lento, mas muito mais manobrável, sendo capaz de rodar em todas as direções, se esquivar de projéteis inimigos e alcançar áreas que pareciam inacessíveis.
Além disso, o veículo é equipado com um lançador de arpéu e cabo de aço, tornando-o capaz até mesmo de escalar paredes.
O Batmóvel é a principal novidade do game, mas ao mesmo tempo, provavelmente seu maior defeito.
Por mais divertido que seja arrasar tudo em seu caminho pilotando o tanque de corrida do Batman, o veículo é extremamente contraditório para com o tipo de Batman predador sombrio que vemos em todo o resto do jogo (e nos games anteriores). Mais do que isso, o veículo blindado pessoal armado até os dentes explodindo tanques inimigos e destroçando carros e prédios, por mais "não letal" que seja, parece ferir os princípios do homem que odeia armas de fogo, aqueles "objetos idiotas e covardes".
Por sorte, esse estranhamento e o excesso de uso do Batmóvel são diluídos na diversão de uma história imersiva e de dezenas de missões secundárias, em sua maioria, excelentes enquanto percorremos um mundo aberto gigantesco.
Os gráficos são um disparate, pela primeira vez desde que comprei o PS4, tive a sensação inequívoca de estar jogando um game da nova geração. Texturas, profundidades, movimento, efeitos de luz, tudo é perfeito graficamente falando em Arkham Knight dos arranha-céus ladeados por estátuas abissais e luzes de neon, ao modo como o vento infla a capa do Batman quando ele plana, ou a forma como as gotas de chuva escorrem pelo capuz.
O trabalho de dublagem, encabeçado pelo Batman definitivo Kevin Conroy, mais papas como Troy Baker e Nolan North, além do (regente Denethor) John Noble, soa bem demais aos ouvidos, tanto que nem me atrevi a ver a versão em português (Acertadamente conduzida por dubladores profissionais, como Ettori Zuim e Manolo Rey, sem extravagâncias como Roger e Pitty.).
Se Arkham Knight realmente for o jogo derradeiro da Rocksetady a frente da Bat-franquia, será motivo para luto, mas ao mesmo tempo, a série termina com pompa e circunstância, num jogo excepcionalmente escrito e executado à perfeição.
Um experimento em larguíssima escala, tanto em termos de tamanho, quanto de possibilidades de gameplay, quanto de quantidade de personagens e coragem na hora de explorar os aspectos mais sombrios da psiquê do herói, e aprofundar de maneira jamais vista sua relação com seu arqui-inimigo.
Não é apenas bom. É obrigatório.

"A profecia se cumpriu. Gotham queima."

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