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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Resenha Cinema: X-Men - Apocalipse


Eu confesso que não deixou de me chocar levemente descobrir que existe uma grande rejeição de parte do público à série de filmes dos X-Men, da Fox. Em que se pese a irregularidade dos longas que compõe a série, uma longa e diversa lista de longa-metragens que inclui filmes ruins como X-Men 3 e os dois filmes solo do Wolverine, eu sempre achei os X-Men do cinema, especialmente os dirigidos por Bryan Singer (ou produzidos por ele, já que o ótimo Primeira Classe, é de Matthew Vaughn), adaptações muito boas.
Gosto do tom dos filmes, do elenco, e estou absolutamente pronto para aceitar certas distorções do que li nos gibis para as adaptações em tela grande. E sou o primeiro a dar a mão à palmatória e admitir que sim, as diferenças são gritantes, e no papel de fã de X-Men desde a época de Claremont e Byrne, reconheço todas elas e algumas, de fato, são de amargar. A média da série, porém, sempre me pareceu positiva, e eu ainda tenho X-Men 2 como um dos meus filmes de super-herói preferidos, perfilado a Primeira Classe e Dias de Um Futuro Esquecido, ambos filmes dos quais eu gostei demais.
Foi durante o início da divulgação de Apocalipse, terceiro capítulo dessa segunda trilogia dos X-Men rejuvenescidos, que eu percebi o ódio de muitos fãs à série. Enquanto eu me empolgava feito guri de kichute novo com as fotos da produção o zumbido dos haters se fazia ouvir em alto e bom som nas redes sociais detonando o visual do vilão Apocalipse, a onipresença de Mística como Jennifer Lawrence o tempo todo e até o teaser do Wolverine divulgado alguns dias atrás com tanta veemência que eu estava até questionando se o problema não era comigo.
Ontem assisti à pré-estréia do filme, e quer saber?
Não. O problema é com quem não gosta, mesmo.
X-Men - Apocalipse abre no Egito, 3600 anos antes de Cristo, quando, durante o ritual que dará vida eterna a En Sabah Nur (Oscar Isaac), o déspota é vítima de um complô, e sobrevive apenas através da proteção de seus quatro Cavaleiros, que se sacrificam para garantir a salvaguarda de seu novo corpo, soterrado sob centenas de milhares de toneladas de entulho, onde ele permanece por mais de cinco mil e quinhentos anos, até ser inadvertidamente libertado por um culto que era investigado pela agente da CIA Moira Mctaggert (Rose Byrne).
É 1983, e enquanto Charles Xavier (James McAvoy) e Hank McCoy (Nicholas Hoult) dirigem a escola para jovens superdotados, acolhendo jovens mutantes e os ensinando a controlar seus poderes, casos de Jean Grey (Sophie Turner, a Sansa Stark de Game of Thrones), e do mais novo aluno, Scott Summers (Tye Sheridan), levado ao Instituto Xavier por seu irmão Alex, o Destrutor (Lucas Till), Mística (Jennifer Lawrence) roda o mundo salvando mutantes perseguidos e brutalizados, caso do jovem Kurt Wagner (Kodi Smit-McPhee), forçado a lutar em uma arena na Alemanha Oriental, e Erik Lehnsherr (Michael Fassbender), vive incógnito na Polônia com sua esposa e filha, tendo deixado seu passado de ódio e militância mutante para trás.
O ressurgimento de En Sabah Nur, porém, desencadeia uma série de eventos que tiram todos os X-Men originais de suas rotinas, conforme o mutante com poderes divinos percebe, ultrajado, que os inferiores assumiram o comando do mundo, e um ato de purificação se faz necessário.
Juntando seu séquito de cavaleiros entre os mais fortes mutantes, Nur arrebanha Ororo (Alexandra Shipp), Psylocke (Olivia Munn), o Anjo (Ben Hardy) e Magneto para destruir o mundo dos homens, e sobre os destroços erigir seu novo império.
Para realizar seu plano, En Sabah Nur precisa apenas dos dons de um mutante:
Charles Xavier. E separando o mundo da devastação, seus alunos.
Mantenho:
Não entendo o ranço com a série.
O cada vez mais povoado universo X da Fox, nas mãos de Bryan Singer sempre rende boas histórias, e essa não é diferente. Apocalipse é um filmaço de super-herói.
As pesoas têm facilidade em esquecer que foi Singer, ao lado dos roteiristas Simon Kinberg, Michael Dougherty e Dan Harris que estabeleceram a forma e o conteúdo dos filmes de super-heróis que vemos inundando as salas de cinema a cada dois meses.
Sem X-Men, de 2000 e especialmente X-2, de 2003, jamais teríamos visto o universo cinemático Marvel se tornar o monstro que se tornou, ou o Homem-Aranha de bilhões de dólares da Sony, ou mesmo o Batman de Christopher Nolan.
Singer entende do riscado, e hoje, dezesseis anos após sua talentosa mas algo constrangida estréia no mundo dos quadrinhos, ele está muito à vontade no comando do universo X, e isso fica claríssimo na forma como ele reconfigura esse universo pós-reboot de uma maneira colorida e divertida, dando-se ao luxo até de reparar algumas injustiças da trilogia original.
Não me entenda errado, X-Men - Apocalipse não é perfeito, é tão cheio de defeitos quanto qualquer outra adaptação de super-heróis, mas se tem problemas tanto para agradar fãs hardcore de quadrinhos quanto críticos hardcore de cinema, não falha em oferecer duas horas e meia de aventura divertida e, que diabos, bem estruturada de maneiras como Vingadores: Era de Ultron e Batman v Superman - A Origem da Justiça, por exemplo, não conseguiram.
James McAvoy é um excelente professor Xavier, humano e otimista, Michael Fassbender é um Magneto raivoso e atormentado, Nicholas Hoult é um ótimo Hank McCoy e Jennifer Lawrence é talentosa, uma delícia e por mais holofotes que receba, em meio a tantos personagens, sua Mística está longe de ter a onipresença que o Wolverine de Hugh Jackman teve nos primeiros três filmes da série.
Ao menos dois novos mutantes em velhos papéis recebem um pouco mais de destaque e se provam muito bem escolhidos. Tye Sheridan é um Ciclope muito bacana, com um vestígio da retidão do personagem adulto, mas com mais personalidade e um quê de arrogância juvenil. Sophie Turner, além de ser um mulherão, encontra um tom entre o compreensivo e o apreensivo que vai ao encontro da extensão de seus poderes de fênix, além dos dois, Kodi Smit-Mcphee também tem seus bons momentos.
Com tanta gente nova e mais o retorno do Mercúrio de Evan Peters, que ganha mais espaço e confirma sua relação com Magneto (além de uma versão anabolizada de sua sequência em alta velocidade no Pentágono no filme anterior que é ótima ao som de Sweet Dreams do Eurythmics.) alguns personagens acabam relegados à mera figuração.
Entre a Jubileu de Lana Condor que mal fala, O Anjo que é pouco mais que um acessório, a Psylocke escalada à perfeição na linda Olivia Munn talvez seja o maior motivo de ressentimento por aparecer pouco.
Apocalipse é um bom vilão, amaçador, poderoso e com um vernáculo religioso muito bem sacado. As queixas com relação ao visual do personagem são absolutamente infundadas. Eu acho louvável que a produção tenha tentado aproximar o visual de Oscar Isaac do visto nos quadrinhos com maquiagem protética ao invés de vesti-lo com um paletó, ou criá-lo com CGI. Seus planos maquiavélicos nada têm de novo, mas ei, En Sabah Nur tem mais de cinco mil anos, deem um desconto a ele.
X-Men - Apocalipse é um ótimo filme, duas horas e meia de diversão de ótima qualidade, encontrando um meio-termo muito bem vindo entre a leveza descompromissada dos filmes da Marvel e a tragédia grega dos filmes da DC, e vale demais o valor do ingresso.
Não seja fresco e vá ver no cinema.

"-Você nunca irá me vencer.
-E por que você diz isso?
-porque você está sozinho, e eu não estou."

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