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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Resenha Cinema: Até o último Homem
À certa altura de sua vida, Mel Gibson, astro de ação oitentista que se provou um ator com mais estofo do que os concorrentes da época do cinema de Exército de Um Homem Só, mostrou que além de um ator carismático, com bom timing cômico e presença de tela, podia ser, também, um diretor competente.
Se o seu debute na cadeira de diretor de cinema se deu com o correto O Homem sem Face, ele alcançou a excelência em 1995, com o excepcional Coração Valente, ainda hoje um dos meus filmes favoritos.
Nove anos se passaram e Mad Mel voltou à ativa em 2004 lançando o mais brutal retrato da crucificação de Jesus no aclamado A Paixão de Cristo, um projeto absolutamente autoral que obteve resultados inesperadamente expressivos nas bilheterias e fez com que todos os outros Jesus do cinema pareçam não ter apanhado o suficiente.
Após A Paixão, levou apenas dois anos para Gibson lançar outro longa como diretor, e foi o ótimo Apocalypto, sobre um jovem guerreiro lutando para sobreviver aos cultos sacrificiais dos maias no declínio de seu império.
E mais nada.
Envolvido em escândalos pessoais, casamento desfeito e lutando contra crises de alcoolismo e o transtorno bipolar, Gibson deu um tempo. Passou quatro anos sem lançar nenhum projeto e quando o fez foi como ator no correto policial O Fim da Escuridão, em 2010, e seguiu com um filme por ano, em projetos tão diversos quanto o competente drama Um Novo Despertar (2011), o divertido Plano de Fuga (2012), o surtado Machete Mata (2013) e o quase obrigatório revival oitentista Os Mercenários 3 (2014).
Em 2015 Gibson não deu as caras, mas no ano passado esteve no elogiado Herança de Sangue, que eu ainda não tive chance de assistir (prometo que quando achar o DVD pra locação falo a respeito), e voltou à cadeira de diretor para contar a história de Desmond T. Doss, um pacifista agraciado com a medalha de honra durante a Segunda Guerra Mundial.
Apesar de ter sido lançado nos EUA ainda em novembro, o longa só chegou aos cinemas brasileiros ontem, e eu, enquanto fã de Mel Gibson, de Andrew Garfield e de filmes de guerra, estava lá para conferir.
Na trama conhecemos Desmon Doss, um jovem da região rural de Virgínia, nos EUA.
Desmond cresceu junto com seu irmão Hal sob a sombra dos traumas de seu pai, Tom (Hugo Weaving).
Tom serviu na Primeira Guerra Mundial, lutou em batalhas chave do fronte francês e perdeu seus melhores amigos na Europa.
A guerra fez de Tom um homem bêbado, ensimesmado e bruto, e essa brutalidade não pulou os garotos, que frequentemente se engalfinham em violentas lutas no quintal de casa.
Um dos eventos-chave da vida de Desmond é quando ele quase mata seu irmão Hal numa dessas lutas, outro é anos mais tarde, quando ele, já adulto e religioso (e com a cara de Andrew Garfield) ajuda a salvar a vida de um rapaz após um acidente.
É no hospital que ele conhece a enfermeira Dorothy (Teresa Palmer) e os dois logo começam a namorar, mas o ataque japonês a Pearl Harbor muda tudo.
Desmond segue o exemplo de seu irmão Hal e se alista no exército, disposto a fazer sua parte no conflito, com uma diferença crucial:
Desmond, um devotado adventista do sétimo dia, se recusa a pegar em armas.
Ele se alista no exército disposto a cumprir suas tarefas, obedecer ordens e receber o treinamento, mas não irá matar ninguém.
A convicção do rapaz em não disparar uma arma o torna um pária entre seus colegas de quartel. Os outros soldados, como o recruta Smitty Ryker (um surpreendentemente não-irritante Luke Bracey) o veem como um covarde, enquanto seus superiores, como o sargento Howell (Vince Vaughn, interpretando um tradicional sargentão) o veem como um "objetor consciente", as pessoas que por questões religiosas ou filosóficas se recusam a prestar o serviço militar.
Não é o caso de Desmond.
Ele está plenamente disposto a cumprir seu dever, mas deseja fazê-lo como um médico de campo, salvando vidas ao invés de tirá-las.
E se inicialmente seus problemas são a hostilidade de seus colegas e superiores e a ameaça da corte marcial, o aspirante a médico não tarda em descobrir que os horrores da guerra são muito piores conforme ele e sua companhia são destacados para o fronte japonês em Okinawa, numa das batalhas chaves da Segunda Guerra Mundial, onde as convicções e crenças de Doss serão testadas além de todos os limites.
Sensacional.
Desmond Doss era um pacifista, Mel Gibson não é.
Para o cineasta a violência é a grande catarse, o banho de sangue, o ato primevo de suplantar o inimigo pela força e reclamar a supremacia através do triunfo físico, isso fica claro em cada frame de Até o Último Homem, Desmond Doss e suas convicções estão presos no mundo de Mel Gibson, o nosso mundo. E a violência é sua mola propulsora.
O pai de Desmond era um homem violento, sua relação com o irmão, ainda que tivesse cumplicidade e amor, era violenta, Doss está sempre cercado pela violência mas recusa-se a ser dobrado por ela e Gibson, que fez Jesus Cristo sofrer de maneiras excruciantes em A Paixão, obriga o protagonista a encarar mais e mais violência a cada passo de sua jornada pois apenas ao ser confrontado por aquilo que o aflige o herói alcança seu verdadeiro potencial.
Desmond Doss se torna um herói durante a batalha de Okinawa, provavelmente a mais sangrenta batalha retratada em um filme e a mais incrivelmente coreografada desde a Invasão à Normandia em O Resgate do Soldado Ryan (ainda a melhor de todas).
Mel Gibson filma a guerra com um misto de fascinação e ojeriza, por vezes grotesca, por vezes sublime, mas sempre assombrosa.
O diretor sabe filmar violência, por Deus, como ele sabe, e ele o faz de modo a nos mostrar a guerra pelos olhos de Doss, que sempre a renega, seja com os olhos marejados ou a expressão aturdida ou enojada.
O grande barato de Até o Último Homem é que ao aceitar que só reconhece o triunfo através do conflito, Mel Gibson eleva o protagonista, reconhecendo seu caminho e sua filosofia como superiores.
É impossível não colocar Desmond Doss em um pedestal, eu te desafio a não colocá-lo, mas Gibson consegue fazer isso sem deixar de mostrar um homem de carne e osso, e pra isso, a interpretação de Andrew Garfield (ainda o melhor Homem-Aranha do cinema) é crucial.
Porque seria muito fácil e vazio pegar esse quase santo e levar sua história à tela de maneira idealizada, mas Andrew Garfield toma seu tempo e retrata um homem com complicações, ansiedades e medos genuínos.
Há um lado sombrio naquela pessoa, mas sua luz é maior, e Mel Gibson e Andrew Garfield enfocam nessa luz.
Com bela fotografia de Simon Duggan, trilha sonora correta de Rupert Gregson-Williams e um roteiro redondinho de Robert Schenkkan e Andrew Knight, Até o último Homem é mais um triunfo de Mel Gibson atrás das câmeras, levado por um bom (e majoritariamente australiano) elenco que conta ainda com Sam Worthington, Rachel Griffiths e Richard Roxburgh, mas se ampara confortavelmente nos ombros do protagonista Andrew Garfield para contar uma das mais admiráveis e espiritualizadas histórias reais de coragem em tempos de guerra.
Obrigatório para amantes de filmes de guerra e de cinema em geral.
Certamente vale o ingresso, não deixe passar a oportunidade. Mel Gibson e Andrew Garfield merecem plateia, Desmond Doss merece reverência.
"-Com o mundo tão focado em se destruir, não me parece uma coisa tão ruim querer reconstruir um pouquinho dele."
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Mel Gibson é um grande diretor, ele conseguiu capturar a história de uma forma que eu amava. Andrew Garfield é um homem muito carismático e professional, se entrega a cada um dos seus projetos e ele fez um grande papel de protagonista. Na minha opinião, foi um dos mehores filmes 2017 que foi lançado. O filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. Além, acho que a sua participação neste filme de drama realmente ajudou ao desenvolvimento da história.
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