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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Resenha DVD: Inferno


Em um episódio de Uma Família da Pesada, Lois, a matriarca da família Griffin, conversa com uma amiga ao telefone falando sobre a leitura de O Código da Vinci, controverso romance fast-food de Dan Brown, enumerando as qualidades do livro, como, por exemplo, o fato de os capítulos serem curtos e ela se sentir inteligente por ser capaz de fazer a leitura em pouco tempo.
É uma sacanagem ao estilo Uma Família da Pesada espezinhar tudo e todos desse jeito, e a série literária de Dan Brown é um alvo fácil.
Os romances de aeroporto do autor norte-americano são refeições literárias extremamente ligeiras, tão divertidas quanto insípidas, repletas de forma e com pouco conteúdo.
Eu me diverti muito lendo O Código da Vinci e Anjos & Demônios, especialmente as adições ilustradas com fotos dos artefatos, esculturas, pinturas e igrejas antigas visitadas pelos personagens.
Ler os livros com as aventuras de Robert Langdon é mais ou menos como jogar Uncharted, com menos parkour e mais embasamento histórico (não se pode negar que Brown aproveita suas viagens à Europa para rechear seus livros com referências bacanas).
Ainda assim, eu cansei do simbologista claustrofóbico de Harvard ainda em O Código da Vinci, e não li O Símbolo Perdido e nem Inferno.
Me cansei bem rapidamente, também, da versão em carne e osso de Langdon na tela grande, vivido por Tom Hanks na adaptação de O Código Da Vinci e em sua sequência, Anjos & Demônios (no cinema a cronologia das aventuras foi invertida).
Não que os filmes fossem ruins.
Não eram.
O Código da Vinci era um thriller competente, que tinha como principal defeito se levar a sério demais. Anjos & Demônios, por sua vez, conseguiu ser mais divertido, justamente ao abraçar o absurdo com um pouco mais de leveza.
O lance é que as adaptações dos romances de Brown eram tão pouco memoráveis quanto suas obras de origem.
Insípidas.
Eu fiquei até surpreso quando soube que haveria um terceiro filme.
Achei que ele iria adaptar O Símbolo Perdido, mas descobri que não. Novamente a cronologia da série seria atravessada e o livro a virar filme da vez seria Inferno.
Hanks voltaria ao papel para a segunda sequência de sua carreira (e eu ainda esperando um Forrest Gump 2), novamente sob a batuta do ótimo Ron Howard, diretor dos outros dois longas e com David Koepp responsável pela adaptação do texto de Brown.
Eu fiquei surpreso, mas francamente não fiquei curioso o suficiente pra ver o filme no cinema, preferi prestigiar Hanks no OK Negócio das Arábias e no bom Sully: O Herói do Rio Hudson, e deixar pra experimentar Inferno quando esbarrasse com o DVD na locadora, o que aconteceu no sábado.
No longa Robert Langdon (Hanks) desperta em um hospital na Itália.
Ele sofre com severas dores de cabeça e amnésia parcial. Sua médica, a doutora Sienna Brooks (a bonequinha Felicity Jones), o informa que ele sofreu um traumatismo craniano decorrente de um tiro na cabeça que passou raspando seu crânio.
Antes que ele possa se situar, uma mulher surge vestida como policial e começa a disparar contra todos no caminho entre ela e o professor de Harvard, e é apenas a presteza da doutora Brooks que garante que os dois consigam fugir.
Na casa de Sienna, Langdon vasculha suas roupas em busca de pistas que possam informar o que ele está fazendo em Florença, como foi parar ali e, mais importante, por que há facções diversas com agendas conflitantes tentando matá-lo?
Langdon não tarda a descobrir que o motivo pode ser um artefato em sua posse que é a chave para a localização de Inferno, um tenebrosos agente viral engendrado pelo bilionário da biomedicina Bertrando Zobrist (Ben Foster).
Zobrist criou Inferno para purificar o planeta Terra ao matar metade da população mundial como um aviso a respeito dos abusos da especie humana para com o mundo.
Por alguma razão, Ben Foster criou uma série de pistas que dão a localização do ponto onde Inferno será liberado, todas elas baseadas n'A Divina Comédia de Dante Alighieri, e a única pessoa capaz de salvar o mundo é Robert Langdon e sua sagacidades decifradora de quebra-cabeças.
Com a ajuda de Sienna Brooks, Langdon começa uma corrida contra o tempo enquanto luta com suas memórias fragmentadas para impedir o fim do mundo, tendo em seu encalço a mortífera Vayentha (Ana Ularu), assassina com determinação de T-1000, os surpreendentemente bem-armados agentes da Organização Mundial de Saúde à serviço de Christoph Bouchard (Omar Sy) e Elizabeth Sinskey (Sidse Babett Knudsen), além de Harry Sims (Irrfan Khan), cabeça da misteriosa organização de segurança privada Provost.
O filme funciona como uma montanha russa por cerca de dois atos.
Não há grande dificuldade em manter a audiência interessada fazendo um elenco classe A correr de um lado pro outro dando tiros e resolvendo enigmas.
Tom Hanks interpreta Robert Langdon da mesma maneira que interpreta qualquer outro personagem:
Um sujeito comum.
Nesse caso específico, Langdon é um sujeito comum que é mais inteligente que todas as outras pessoas, mas não fica se gabando disso, o que o torna mais gostável.
Felicity Jones interpreta uma rival intelectual bacana para o protagonista, e é uma gracinha correndo pra lá e pra cá de salto alto.
Omar Sy faz um trabalho digno como o misterioso agente Bouchard enquanto Sidse Babett Knudsen interpreta o que talvez seja o único personagem com mais de uma dimensão no filme, certamente com mais dimensões do que o bilionário malvado de Foster, com suas frases feitas e vídeos póstumos de destruição global. Khan, por outro lado transforma seu Harry Sims no melhor personagem do filme porque parece ser a única pessoa que percebeu o tamanho daquela bobagem e a abraçou sem nenhum sinal de vergonha aproveitando pra se divertir no trabalho.
Conforme eu disse, Inferno aguenta o tranco nos dois primeiros atos usando a correria para se sustentar, infelizmente, montanhas-russa são divertidas porque duram pouco, e não tarda para que o longa comece a se tornar cansativo com suas frases expositivas entre um ponto turístico e o outro.
Conforme a trama se encaminha para o seu final, as reviravoltas se tornam menos e menos interessantes e tu encontra um segundo para respirar e pensar por que Zobrist simplesmente não liberou o vírus e fez o upload do seu vídeo testamento no youtube usando um celular a coisa toda se torna simplesmente idiota, e o longa deixa de ser uma correria divertida e se torna um desperdício de tempo.
Boa pedida para fãs de carteirinha de Tom Hanks, e melhor que a programação da TV aberta no domingo de tarde, dispensável para todos os outros.
Espere passar na TV a cabo.

"-A humanidade é a doença. Inferno é a cura."

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