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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Resenha Game: Resident Evil 7: Biohazard


Eu jamais fui sujeito de torcer o nariz para mudanças bruscas de jogabilidade em games. Fui, inclusive, um dos fãs de Resident Evil a aprovar a mudança de câmera e de foco do game em Resident Evil 4, quando o estilo multi câmera foi trocado por uma visão fixa sobre o ombro do protagonista, e o survival horror deu uma guinada para o lado da ação.
Eu não me importo com as alterações se elas resultarem em um produto divertido e empolgante, e eu encontrava as duas coisas em Resident Evil 4.
As coisas, porém, não correram muito bem na sequência, com cada jogo sendo menos divertido e interessante do que o anterior (embora ainda sucessos de vendas), culminando com a recepção morna a Resident Evil 6, que eu sequer cheguei a jogar após RE5 ter me desapontado além do que eu considerava razoável.
Estava absolutamente alheio aos rumos da série quando tomei conhecimento de Resident Evil 7.
O game apresentado na E3 do ano passado seguido pela demo disponibilizada na PSN logo em seguida mostraram um jogo que gritava "Silent Hill" a plenos pulmões, com jogabilidade em primeira pessoa e um climão de horror sobrenatural misturado com um quê de O Massacre da Serra Elétrica e que em nada lembrava Resident Evil antes ou após a mudança de foco da série.
Ainda assim, era uma demo interessante, tanto que "Parece um bom jogo, mas não parece Resident Evil" virou um tipo de mantra entoado nas galeria de comentários de sites de games.
Eu fui obrigado a concordar.
Parecia um bom jogo.
Tanto que eu comprei o game assim que tive chance, após duas tentativas frustradas em lojas onde a versão de PS4 já estava esgotada.
Após uma semana, conheci os Baker, e posso dizer que, diferentemente do que a demo sugeria, Resident Evil 7: Biohazard, é Resident Evil até a medula.
No game o player encarna o protagonista Ethan.
Ethan viaja até a Louisiana, no sul dos EUA, para procurar por sua ex-esposa, Mia, desaparecida há três anos.
Ele chega à propriedade Dulvey, uma mansão dilapidada na zona rural da Louisiana, onde encontra Mia e seus anfitriões, a família Baker, composta pelo patriarca Jack, a mãe, Marguerite, o filho Lucas e uma anciã numa cadeira de rodas.
Os Baker querem que Ethan se junte à família, e cabe ao protagonista evitar isso enquanto tenta resgatar a esposa com a ajuda da misteriosa Zoe, a filha dos Baker que também deseja escapar.
Sem as habilidades táticas e de combate de outros protagonistas da série, Ethan precisa lutar para sobreviver a mais um pesadelo biológico.
Conforme eu disse antes, Resident Evil 7 tem todas as ferramentas consagradas da série, da ambientação restrita a um único ambiente, passando pela escassez de recursos e a ameaça biológica se confundido com horror sobrenatural graças à atmosfera tenebrosa da mansão.
Até mesmo as famigeradas ervas estão lá, junto com os itens que podem ser combinados, as portas com entalhes extravagantes, os quebra-cabeças, as caixas infinitas e interligadas onde ficam guardados os itens encontrados no jogo, e os arquivos, que ganham o interessante adendo das fitas jogáveis, que em diversas ocasiões oferecem ao player a chance de jogar um VHS pelo ponto de vista de outro personagem, e descobrir formas de progredir no jogo.
Um elemento interessante de tais fitas é que nelas, geralmente o ponto de vista é o de alguém que não está armado, e cuja única possibilidade de sobrevivência é fugir e se esconder.
Ainda assim, a jogabilidade de RE7 não está ligada à furtividade conforme os trailers e demos poderiam levar a crer.
Ethan está sempre armado (ainda que nem sempre tenha munição), e é capaz de infligir dano aos seus algozes, e aí entra um dos pontos baixos do game:
A câmera em primeira pessoa.
Se a escolha de nos mostrar o game pelos olhos do protagonista dá um interessante adendo à atmosfera do game, que ao invés de nos transformar em Leon ou Chris, ou Jill, transforma Ethan em nós. Isso é muito bacana porque quando uma criatura ataca, ela não está atacando outra pessoa, ela está nos atacando, quando entramos em um ambiente sombrio e opressivo, não é outra pessoa entrando ali, somos nós. Quando há um ruído no ambiente, precisamos nos virar para ver se está atrás de nós... A imersão é infinitamente superior.
Por outro lado, um game que inevitavelmente encerra conflitos como RE precisava ter estudado melhor as mecânicas de combate em primeira pessoa.
Especialmente porque o jogo não é um FPS, por vezes nós estamos armados com facas, machadinhas, motosserras... O combate é dinâmico e nós precisamos nos movimentar, fugir, ter uma visão do que acontece ao nosso redor, os inimigos estão se movimentando e, com isso, a câmera nem sempre funciona direito, o que é terrivelmente frustrante em diversas ocasiões.
Contrabalanceando a câmera por vezes desastrada, há uma magnífica qualidade no som.
Se as músicas do game são apenas OK, fazendo sua parte de maneira discreta, o som do jogo é cabuloso.
O tempo todo a mansão Dulvey, talvez o ambiente mais vivo da franquia em todos os tempos, a primeira localização que parece, de fato, o lugar onde pessoas moravam, e não um parque temático de horror como a mansão Spencer do primeiro game, range, estala, respira e geme ao redor do player.
Jogar Resident Evil 7 com o fone de ouvido a todo o volume é uma experiência espetacular de pavor, por vezes mais assustadora pela sugestão da atmosfera do que pelas ameaças que o game efetivamente apresenta.
Claro, os Baker, caipiras mutantes que apavoram e fazem rir na mesma medida, são a ameaça primordial de Resident Evil 7, mas não são as únicas.
No lugar dos bons e velhos zumbis surgem os mofados, criaturas mutantes que parecem feitas de puxa-puxa coberto de piche.
Não são particularmente assustadoras, nem particularmente difíceis de matar, mas consomem munição que, por vezes nós não temos pra desperdiçar, tornando a fuga um recurso bastante útil.
A história, ainda que pareça um reboot, conforme se aprofunda mostra-se como uma sequência com os pés bem fincados no universo da série, e, devo dizer, quando isso acontece, muito do medo inerente ao jogo se perde.
Ainda assim, a experiência é bacana, e Resident Evil 7, a despeito de suas falhas, é obrigatório para os fãs da série, e altamente recomendável para quem quiser experimentar alguns sustos enquanto explora ambientes sinistros e vivos como nunca antes.
O melhor capítulo da série desde Resident Evil 4, RE7 alcança o posto ao alterar diametralmente a jogabilidade e o foco da experiência voltando ao cerne da franquia:
O terror.

"-Bem-vindo à família, filho..."

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