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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Resenha Cinema: Kingsman: O Círculo Dourado


Em 20015, Matthew Vaughn, Jane Goldman e Mark Millar apresentaram ao mundo a Kingsman, uma agência de inteligência e espionagem tão secreta que sequer se reportava ao governo britânico em sua missão de manutenção da paz no mundo.
Um grupo de operativos extremamente bem treinados, contando com tecnologia de ponta e modos irretocáveis, os agentes da Kingsman eram a epítome do "espião cavalheiro", com seus ternos bem-cortados, sapatos impecáveis, guarda-chuvas e maneiras dignas da realeza.
Um dos mais experientes e hábeis desses operativos, Harry Hart, codinome Galahad (Colin Firth), correu o risco de apresentar o jovem Eggsy (Taron Egerton), um rapaz cheio de potencial mas sem nenhuma das virtudes clássicas da Kingsman, à organização, exatamente no momento em que o excêntrico bilionário do ramo da tecnologia Valentine (Samuel L. Jackson), estava se preparando para dizimar a população da Terra através de seus celulares.
Kingsman foi um inesperado sucesso.
Eu fui assistir ao filme no cinema esperando uma daquelas porcarias com espiões adolescentes estilo O Agente Teen, e acabei sendo fisgado pela divertida homenagem ao gênero de espionagem clássica que o filme oferecia.
A despeito das acusações de misoginia que espocaram dos dedos dos guerreiros da justiça social em sofás ao redor do mundo, Kingsman foi um sucesso, arrecadando mais de 400 milhões de dólares em bilheterias para um orçamento de 81 milhões, e deixando o terreno pavimentado para uma sequência que foi quase que imediatamente confirmada pela Fox, desesperada atrás de outra franquia.
Dois anos mais tarde, reencontramos Eggsy.
Agora usando o codinome de seu antigo mentor, Galahad, Eggsy segue firme na agência, que segue operando, reformulada e sob o comando de um novo Arthur (ponta de Michael Gambon), enquanto se mantém em um relacionamento com a princesa da Suécia, Tilde (Hanna Alström, protagonista de uma das piadas que mais ofenderam os "conscientes" no primeiro filme).
A paz de Eggsy, porém, não dura. Uma onda de ataques iniciada pelo ex-trainee da Kingman Charlie Hesketh (Edward Holcroft) culmina com a destruição de todas as sedes da Kingsman em Londres, e a morte de todos os operativos, exceto pelo próprio Eggsy, e por Merlin (Mark Strong).
Eles são alvos da organização criminosa chamada de Círculo Dourado, um cartel de drogas multinacional altamente lucrativo chefiado pela psicopata Poppy Adams (Julianne Moore), que a despeito de seu imenso sucesso financeiro, vive isolada em ruínas secretas no meio das florestas tropicais da ásia. Seu ataque à Kingsman é apenas um dos passos de seu plano para deixar o isolamento e ser reconhecida por sua expertise na condução de seus negócios multibilionários através da legalização das drogas.
Poppy envenenou todo o seu estoque de drogas com uma toxina capaz de matar em poucos dias, Poppy possui o antídoto, mas só o liberará para o público se o presidente dos EUA assinar uma ordem executiva legalizando a venda e o consumo de drogas.
O problema é que o presidente vê aí a oportunidade de vencer, de maneira definitiva, a guerra contra as drogas, mesmo que, para isso, cause a morte de centenas de milhões.
Eggsy e Merlin precisam impedir o massacre, e sua única chance de sucesso reside nos Statesman.
Os Statesman são uma agência secreta nos mesmos moldes da Kingsman, mas ao invés de espiões cavalheiros britânicos ocultos sob a fachada de alfaiates, eles são caubóis americanos ocultos sob a fachada de produtores de bebidas alcoólicas.
Sob o comando de Champagne (Jeff Bridges), com o apoio técnico de Ginger Ale (Halle Berry), e dos agentes Tequila (Channing Tatum) e Whiskey (Pedro Pascal), os Kingsman remanescentes precisam se unir aos Statesman para tentar pôr fim aos planos de Poppy, e, para tal, contarão com o inesperado apoio de Harry, dado como morto após o confronto com Valentine, anos antes.
Novamente Kigsman se vale do histrionismo com resultados saborosos.
O exagero da ação somado à comédia despreocupada rendem duas horas e vinte de ação quase ininterrupta entrecortados por boas risadas num filme que se recusa a se levar a sério, e, por alguma razão, segue atraindo ódio dos politicamente corretos de carteirinha.
Li e ouvi críticas falando desde que um dispositivo de rastreio é aplicado em uma personagem através de "abuso sexual", até que o longa desrespeita a vida humana ao mostrar mortes de maneira "limpa" e inconsequente.
Francamente, se eu visse queixas semelhantes relacionadas à atividade sexual do protagonista em filmes de James Bond, e se eu visse queixas a respeito da falta de sangue nas mortes relacionadas a filmes de super-herói, eu até poderia cogitar levar tais choramingos em consideração.
Não é o caso, porém.
Há um estranho excesso de ódio contra Kingsman que é difícil de entender. Eu francamente não vejo razão para que esse longa não possa ser tratado como uma comédia de ação e espionagem, ou um produto de nicho. Demandar correção política de uma cria dos longas de James Bond é um contrassenso tão grande quanto demandar mais explosões em um longa dinamarquês do movimento Dogma 98.
Ninguém é obrigado a gostar de Kingsman, mas ao menos deveria avaliá-lo dentro de seu próprio gênero e proposta.
O longa tem defeitos como a imensa maioria das sequências.
A trama é algo exagerada, o roteiro é repleto de inconsistências e o impacto e a surpresa do primeiro filme obviamente foram por água abaixo. A duração, talvez, seja algo excessiva, não há trama em O Círculo Dourado que justifique duas horas e vinte e um minutos de projeção, e algumas interpretações são excessivamente caricatas. São falhas perdoáveis, porém, e não tiram de Kingsman seus méritos.
A direção de Vince Vaughn segue sólida, Taron Egerton se segura como protagonista, trabalho facilitado por estar cercado de grandes atores que manjam do riscado, como Mark Strong, Colin Firth e Michael Gambon.
O pessoal da Statesman é OK. Jeff Bridges se contém um pouco nos maneirismos esperados de seu personagem, Channing Tatum sabe se virar com comédia (e aparece bem menos do que o trailer sugeria), e Pedro Pascal manda bem no papel de Whiskey, enquanto Halle Berry de fato, tem pouco a fazer no longa, interpretando a versão feminina de Merlin.
Julianne Moore, que disse, em entrevista, que se inspirara no Lex Luthor de Gene Hackman para compôr sua Poppy, provavelmente a psicopata mais adorável do cinema recente, manda bem, mas longe de seus melhores trabalhos, nada de surpreendente.
Há ainda Emily Watson, como a chefe de gabinete Fox, e Bruce Greenwood interpretando um tipo de Donald Trump.
Os efeitos visuais se dividem entre bons e ótimos, e o 3-D é absolutamente dispensável.
No fim das contas, o longa pode não ser tão sólido e redondinho quanto seu predecessor, mas certamente mantém o jogo de cintura, e garante uma boa dose de descompromissada diversão.
Vale a ida ao cinema.

"-As maneiras... Definem... O homem."

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