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terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Resenha DVD: A Torre Negra
Fãs hardcore vão querer me matar, mas a verdade é que nunca vi grande coisa no trabalho de Stephen King, midas da literatura fast-food que transforma tudo em um monstro a ser temido, de carros a meteoritos. Eu não sou um grande fã do gênero que consagrou King, e portanto não sou um leitor ávido de contos de horror. Ainda que eu saiba que Stephen King vai além do terror, e admire adaptações de obras suas que se aventuram por outros gêneros, como À Espera de um Milagre, Conta Comigo e Um Sonho de Liberdade, não sou um dos milhões de de leitores que tornaram King um multi milionário com mais de 400 milhões de cópias vendidas e um dos dez autores mais traduzidos do mundo. Digo isso tudo porque quero deixar claro que, quando assisti esse A Torre Negra, adaptação de uma cultuada série de ficção científica de King, eu o fiz apenas como um fã de filmes, sem nenhuma conexão emocional com o material-fonte, eu não era um fã de uma longeva série literária buscando na tela uma adaptação que fizesse justiça a coisa alguma. Eu queria apenas ver um bom filme.
A despeito de jamais ter assistido nenhum longa do diretor dinamarquês Nicolaj Arcel, eu estava mais ou menos familiarizado com o trabalho de dois dos roteiristas do longa, Akiva Goldsman que intercala trabalhos bons, não tão bons, e horrorosos, Jeff Pinkner (do tenebroso A 5º Onda), que trabalharam ao lado de Anders Thomas Jensen e do próprio Arcel para contar a história do jovem Jake Chambers (Tom Taylor), um jovem problemático, assolado por vívidos pesadelos desde a morte de seu pai.
Jake acredita que, de alguma forma, seus pesadelos são mais do que apenas ilusões oníricas, mas sim uma espécie de premonição.
Em seus sonhos ele vê uma espécie de fortaleza, de onde crianças são forçadas a lançarem raios para destruir uma torre negra. E quando, nos sonhos de Jake, essa torre é afligida por esses ataques, há grandes terremotos no mundo real.
A tal fortaleza é regida por um homem de preto (Matthew McConaughey) que comanda uma força de trabalho composta por pessoas-rato que usam máscaras de pele falsa. Esse Homem de Preto sabe que existe, no mundo, uma criança cujo grito destruirá a torre.
Com seus sonhos se tornando mais frequentes e danosos, a mãe de Jake, Laurie (A lindaça Katheryn Winnick) é forçada a considerar um retiro terapêutico para o moleque.
Antes de seu retiro, porém, Jake tem um novo sonho, no qual finalmente vê alguém capaz de se opôr ao homem de preto.
Um pistoleiro cuja habilidade no gatilho é apenas equiparada por seu ódio contra o Homem de Preto. Jake sabe que aquele Pistoleiro é sua melhor chance de entender tudo o que está ocorrendo, e não tarda para que ele próprio se veja na mira do Homem de Preto, tendo como única esperança de sobrevivência o Pistoleiro de suas visões, descobrindo que a Torre em seus sonhos é o pináculo que sustenta o nosso universo, e que o Homem de Preto, Walter O'Dim, planeja derrubá-la, espalhando o caos por todos os mundos, e reinando um inferno habitado por monstros.
Em seu caminho, encontravam-se os Pistoleiros. A ordem de antigos cavaleiros cuja missão era garantir que a Torre permanecesse em pé, entretanto, a ordem foi destruída por Walter, e Roland Deschain (Idris Elba) é seu último remanescente, solitário e alquebrado pelo desejo de vingança.
Unidos pelo inimigo em comum, Jake e Roland viajam pelos mundos procurando uma forma de encontrar o Homem de Preto e pôr um fim ao seus planos, salvaguardando a Torre Negra e a sobrevivência de todo o universo.
Conforme eu disse ali em cima, eu não sou um fã da série literária A Torre Negra. Jamais li nenhum dos volumes, então eu não fui ofendido por eventuais descaracterizações dos personagens do livro nem nada do tipo. Entretanto, posso dizer que A Torre Negra enquanto filme, e apenas filme, é absolutamente insonso. Um longa com um plot sem absolutamente nada de diferente de duzentos outros filmes sobre um adolescente descobrindo que seus sonhos são a chave para a salvação do universo partindo em uma jornada épica com uma figura paterna substituta.
Seria batido mesmo se fosse bem feito. E não é o caso. Jake é um recurso do roteiro mais do que um personagem. Um avatar da audiência que está sempre precisando de respostas para empurrar a trama até o final.
Apesar de Jake ser o catalisador da trama, o Pistoleiro e o Homem de Preto são os protagonistas do filme de fato, e sendo o que o longa tem de melhor a oferecer.
Elba garante uma bem vinda gravidade a Roland. É graças ao talento e carisma do britânico que o Pistoleiro não é um mero exercício vazio de estilo com seu sobretudo de couro e dedo nervoso. McConaughey faz o que pode com um personagem tenebrosamente unidimensional que precisaria de mais estofo para ser um bom vilão em um filme de James Bond. Ele esbanja seu charme mais canastrão para lançar feitiços e ser ameaçador, e nós não podemos deixar de nos perguntar como esse personagem seria maneiro se tivesse sido bem escrito.
Com problemas de ritmo, de edição (o longa aparentemente passou por extensas refilmagens e foi picotado e remendado após maus resultados em exibições-teste) e de desenvolvimento, A Torre Negra parece um filme que não sabia ao certo como contar sua história e então diluiu sua trama de todas as formas possíveis para agradar ao público mais amplo que fosse capaz, abrindo mão de sua alma em nome de um alcance maior. Ao fazê-lo, A Torre Negra resultou em um produto absolutamente desprovido de estofo. Incapaz de emocionar, divertir, ou ir além de um desperdício de talento de dois atores acima da média, e do tempo de quem se dá ao trabalho de assistir.
É uma pena.
Parece haver boas ideias no material-fonte. Quem sabe dou uma chance aos livros. Parece um programa muito melhor do que o filme foi.
"Eu não miro com minha mão. Aquele que mira com sua mão esqueceu do rosto de seu pai. Eu miro com meu olho. Eu não atiro com minha mão. Aquele que atira com sua mão esqueceu do rosto de seu pai. Eu atiro com minha mente. Eu não mato com minha arma. Aquele que mata com sua arma esqueceu o rosto de seu pai. Eu mato com meu coração."
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