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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Top 10 - Cinema 2017

A verdade é que ao longo de 2017 eu vi vários filmes divertidos, mas pouquíssimos filmes bons de verdade. A maioria desses filmes realmente bons foram lançamentos de 2016 que chegaram atrasados ao Brasil entre janeiro, fevereiro e março.
Talvez apenas por isso eu tenha sido capaz de juntar dez filmes para fechar o top 10 de cinema desse ano que se encaminha pro final sem deixar saudades.
Vamos à lista:

10 - Fragmentado


Após longo período de trevas onde sempre esteve mais perto (e ás vezes dentro) do top 10 negativo do que do positivo, o cineasta M. Night Shyamalan reencontrou o caminho com o ótimo Fragmentado.
Contando uma história redondinha, ciente de suas limitações que jamais perde o rumo, e amparada pelo talento de James McAvoy em um tour de force camaleônico de cair o queixo, Shyamalan revisita seus melhores momentos, nos fazendo lembrar do diretor de Sinais, Corpo Fechado e O Sexto Sentido. Tomara que ele ainda esteja por perto quando Glass for lançado.

9 - John Wick: Um Novo Dia Para Matar


Um filme de ação baseado naquela ideia batida de tramas de vingança pode valer a película em que foi filmado?
Claro. Basta ter as peças certas.
E que peça pode ser mais certa do que Keanu Reeves no auge de sua maturidade esbanjando disposição de action hero e elegância de bailarino enquanto atira, esfaqueia, esmurra e chuta tudo ao seu redor ao mesmo tempo em que cria uma mitologia nova e vasta, repleta de detalhes divertidos e um ícone de ação instantâneo o suficiente pra saltar da telona pra outras mídias graças ao interesse e carisma de seu protagonista.
De Volta ao Jogo nos apresentou John Wick em 2014 com um filme de ação redondinho, na medida pros fãs de gênero, e, nesse ano, nos levou de volta a esse admirável mundo de assassinos de aluguel cheio de rígidas regras de conduta para mais uma passagem da vida de John Wick, o solitário que se opõe sozinho ao mundo quando ele deixa de fazer sentido.

8 - Em Ritmo de Fuga


Em Ritmo de fuga pode não ser um filme profundo, mas essa jamais foi a intenção.
O longa, nascido de um videoclipe dirigido por Edgar Wright é apenas uma deliciosa sessão de cinema à moda antiga, sem falsas pretensões ou filosofia vazia, apenas um divertidíssimo exercício de estilo que garante duas horas de personagens gostáveis se aventurando entre perseguições de carro invocadas e canções pop para todos os gostos.
Conforme eu disse após assistir ao filme, Em Ritmo de Fuga pode não ser a melhor sessão de cinema de 2017, mas é, sem dúvida, uma das mais divertidas.

7 - A Qualquer Custo


O faroeste moderno de David McKenzie é tão direto em seu intento, tão despretensioso, tão honesto, que é até difícil acreditar que tenha sido indicado ao Oscar entre dramas teatrais como Um Limite Entre Nós, massagens no ego de Hollywood como La La Land e panfletos de aceitação como Moonlight.
Talvez isso, por si só, já seja testemunho do tamanho da qualidade da história dos irmãos Howard de Ben Foster e Chris Pyne e de sua onda de assaltos cuidadosamente planejada sendo interrompida pelo quase aposentado ranger texano Marcus Hamilton de Jeff Bridges.
Uma acertada mistura de western com filme de assalto situada após a explosão da bolha imobiliária norte-americana, A Qualquer Custo não faz nada de novo, mas faz tudo certo, elevando uma premissa de western espaguete à categoria de arte graças ao talento de diretor e elenco.

6 - Blade Runner 2049


É difícil acreditar que Blade Runner 2049 existe.
O filme de Dennis Villeneuve que naufragou de maneira brutal nas bilheterias é um dos mais corajosos, provocativos, espetaculares e profundos blockbusters de todos os tempos.
Tudo em Blade Runner 2049, à exceção de seu elenco e orçamento, o fazem parecer um filme de arte, de suas ideias espirituais a respeito de o que torna alguém humano ao modo como ele aproveita cada segundo de projeção para contar sua história sem mastigar nada para a audiência, repleto de camadas, texturas e ideias, Blade Runner 2049 é como o K de Ryan Golsing ou a Joi de Ana de Armas: Mais humano que os humanos.

5 - Logan


O Wolverine deixa de ser um super-herói para se tornar um personagem... Mais do que isso. Para se tornar uma pessoa.
Logan não é um filme de gibi. É um faroeste noir, um road movie, um drama onde casualmente os personagens centrais têm super-poderes.
James Mangold cria uma experiência visceral, um filme de quadrinhos que assume riscos criativos em nome de seu protagonista de corpo e alma feridos, que não faz concessões e se compromete até a medula com a história que deseja contar.
Empolgante, tenso, brutal e tocante Logan é tudo o que as outras duas incursões solo de Wolverine nos cinemas não foram em grande parte graças ao talento de Patrick Stewart, que graciosamente rouba todas as suas cenas no filme, de de Jackman, que finalmente consegue fincar suas garras na alma de Logan, e entregar uma atuação à altura de seu talento no papel de sua carreira.

4 - Planeta dos Macacos: A Guerra


Eu sempre me surpreendo em como sou capaz de esquecer da série Planeta dos Macacos quando penso nos melhores filmes de anos recentes.
A trilogia iniciada com Planeta dos Macacos: A Origem em 2011 é, fácil, uma das melhores do cinema recente pegando parelho com obras sensacionais como a trilogia das Trevas de Christopher Nolan.
O terceiro longa da série estrelada por Andy Serkis é, óbvio, um triunfo técnico sem precedentes, fazendo desaparecer qualquer resquício de trucagem ou CGI, garantindo que a audiência possa ser imersa pela interpretação de atores vivendo chimpanzés, gorilas e orangotangos, mas mais do que isso, é um fecho espetacular para a melhor saga de ficção científica desde De Volta para o Futuro que coloca a audiência na desconfortável (para alguns) posição de torcer contra a própria espécia à medida em que a tragédia torna os humanos monstros, e a mágica da Weta Digital torna macacos humanos.
Ancorado na menor escala da sua história e não na megalomania, Matt Reeves sustenta sua narrativa através de seus personagens com uma sensibilidade sem igual em outras franquias repletas de efeitos especiais, e entrega uma história tão empolgante quanto tocante em um dos melhores filmes do ano.

3 - Silêncio


Martin Scorsese chuta a porta do cinema e dramatiza a presença de Deus através de sua ausência na brutal adaptação do romance de Shusako Endo a respeito de dois jovens catequistas jesuítas que se veem do lado errado de uma querela entre o império japonês e o catolicismo.
Scorsese não faz de Silêncio apenas um dos melhores filmes de 2017, mas um dos melhores filmes de sua invejável carreira ao usar o talento de Andrew Garfield e de Liam Neeson para materializar graça de uma forma jamais vista na tela, e levar a audiência pela mão por uma Via Crúcis de castigos físicos e espirituais, respondendo às preces de seus personagens com doses cada vez maiores de sofrimento e humilhação, usando cada minuto silencioso de projeção para contar sua história até uma conclusão tão devastadora quanto iluminada.
É Scorsese em seu melhor. Trazendo culpa e redenção à ribalta em um filme que é um chute na boca do estômago.

2 - Até o último Homem


Mel Gibson pode ser um antissemita bêbado e espancador de mulher, mas continua sendo um dos astros com mais carisma nas telonas e um diretor de mão cheia.
Ele suportou calado todas as piadinhas e críticas pessoais que recebeu na última década dado seu comportamento imperdoável, e após o que pareceu uma pena imposta por Hollywood, respondeu com um trabalho que lhe rendeu, inclusive, uma indicação ao Oscar.
Até o último Homem é um filme de guerra que comove tanto quanto fere, e faz as duas coisas simultaneamente com galhardia e convicção, expondo sangue e violência em toda a sua glória digital ao mesmo tempo em que celebra um pacifista de convicções inamovíveis, um dos maiores heróis de guerra da história, e que jamais disparou um único tiro.
Nas mãos de Gibson, o conflito entre cristandade e carnificina se torna o teste de fé definitivo, um em que Andrew Garfield (de novo) crava os dentes com gosto (conseguindo, inclusive, uma indicação ao Oscar) com sua interpretação de Desmond Doss, um dos três objetores conscientes da História dos EUA a ser premiado com uma medalha de honra.
Sem economizar na violência ou no simbolismo religioso, Gibson entregou o melhor filme de guerra desde O Resgate do Soldado Ryan, um dos pontos mais altos de sua carreira como diretor, e um dos melhores filmes de 2017.

1 - Dunkirk


Capturar a batalha de Dunquerque não é uma tarefa fácil. Muito menos o relato de um momento de grande heroísmo em tempos de guerra e mais a narrativa de uma retirada bem-sucedida após o fronte francês sucumbir ao avanço alemão em maio de 1940, a premissa não parece das mais empolgantes ou fáceis de trabalhar.
Ainda assim, Christopher Nolan resolveu investir nisso, e entregou um trabalho à altura de sua melhor forma e seus melhores momentos como cineasta.
Combinando a estrutura narrativa quebrada espertinha de Amnésia, a escala e ambição de O Cavaleiro das Trevas e a cinematografia grandiloquente de A Origem, Nolan criou um clássico instantâneo.
Não há nenhum momento desperdiçado ao longo dos enxutos cento e seis minutos de projeção, cada um deles carregado de propósito narrativo, dispensando qualquer sentimentalismo, uma raridade em se tratando de filmes de guerra.
Dunkirk é um espetáculo que vai muito além da recriação de uma batalha da Segunda Guerra Mundial, procurando cada detalhe oculto dos timões dos barcos civis que cruzaram o canal para ajudar na evacuação à cabine dos caças da RAF, passando pelo adolescentes amontoados na praia de Dunquerque tentando digerir a derrota enquanto lutavam pela própria sobrevivência.
Uma obra-prima que leva a coroa de melhor do ano.

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