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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Resenha DVD: Feito na América
Desde os trailers eu tinha ficado com a impressão de que Feito na América, um dos dois filmes estrelados por Tom Cruise lançados em 2017 (o outro tendo sido A Múmia, o pior filme do ano...), era um subproduto de O Lobo de Wall Street com mais ação e menos putaria. Como não ando particularmente inspirado pra frequentar o cinema em meses recentes, acabei pulando o longa dirigido por Doug Liman (A Identidade Bourne, No Limite do Amanhã) na telona.
Sábado, porém, dei uma passada na locadora, e em busca de algo que assistir no final de semana, acabei resolvendo dar uma chance ao filme.
Feito na América apresenta Barry Seal (Cruise) um piloto da TWA que em 1977 é abordado por Monty Schaefer, um operativo da CIA (Dohmnall Gleeson), que deseja usar as habilidades de Barry para espionar guerrilhas possivelmente apoiadas pela União Soviética durante a Guerra Fria.
Um piloto habilidoso, impulsivo e impetuoso, Barry logo percebe que arriscou sua carreira e o sustento de sua família por uma recompensa insuficiente. Na mesma época em que pleiteia um aumento junto à CIA, Barry é cooptado pelo cartel de Cali.
Os narcotraficantes estão cientes das rotas de Barry e de suas costas quentes com a inteligência dos EUA, e lhe oferecem dois mil dólares por quilo transportado para fazer o treslado da cocaína entre a Colômbia e os EUA.
Imediatamente Barry está servindo fielmente a dois senhores, Ronald Reagan e Pablo Escobar (Mauricio Mejia), simultaneamente. Ele continua fotografando guerrilheiros e traficando cocaína, se aprofundando em suas relações criminosas e nas revoluções na América Central, e ao longo dos anos vai de piloto comercial, a espião, traficante de drogas e contrabandista de armas, montando um pequeno império multi-milionário de lavagem de dinheiro na pequena cidade de Mena, no Arkansas, enquanto leva sua vida dupla até as últimas consequências em nome do dinheiro que não pára de jorrar.
Agora, Tom Cruise é um autêntico astro de Holywood...
Ele pode não ser o melhor ator. Nem o sujeito mais bonito. Mas tem charme, presença de tela, e talento pra carregar franquias inteiras nas costas. Doug Liman sabe disso, e usa e abusa de todo o carisma do astro para dar lastro a Feito na América. Há, porém, dois grandes problemas aqui:
O primeiro, é que Barry Seal é um tremendo escroto, e pintá-lo com a cara de Tom Cruise com um grande sorriso e todo o carisma do mundo não o torna menos escroto, apenas o glorifica.
Aliás, glorificar Seal parece a única vontade do diretor Doug Liman e do roteirista Gary Spinelli, que não se arriscam a ter nem dez minutos de filme sem o protagonista em cena (reduzindo praticamente todo o resto do elenco, que inclui Caleb Landry Jones, Jesse Plemons e Lola Kirke, à mera figuração) .
O segundo problema é que, em última análise, não sabemos quem é Barry Seal.
Não sabemos porque ele aceitou tão prontamente se tornar um espião aéreo. Não sabemos porque ele aceitou tão prontamente se tornar um traficante. Não sabemos de onde saiu toda essa impulsividade de um pai de família com uma carreira na aviação comercial que, de repente, arrisca tudo, inclusive a vida da esposa (Sarah Wright) e dos filhos, pra ganhar dinheiro, e continua arriscando para ganhar mais dinheiro, e mais, e mais chegando a ter dinheiro demais para conseguir gastar...
O filme simplesmente esquece de fazer qualquer tentativa de desenvolver Barry Seal como um personagem, e apenas o mostra agindo feito um maluco na tentativa de seduzir a audiência.
Não dá certo.
À certa altura a coisa toda está simplesmente cansativa, e as montagens de missões e lavagem de dinheiro regadas à músicas dos anos oitenta começa a arrancar bocejos. Mesmo na óbvia virada do roteiro, quando a derrocada de Barry inevitavelmente começa, ele continua sendo demonstrado como um sujeito charmoso que vai usar todo o seu potencial para chegar onde deseja, e, francamente, após meia hora de filme já sabemos que isso é uma forçação de barra de um roteiro tão apaixonado pelo personagem que parece incapaz de lhe fazer qualquer crítica por mais merecida que seja, e aí, talvez mais do que em todo o resto, Feito na América falha.
Se Liman e Spinelli tivessem a coragem de mostrar Barry Seal como um ser-humano de verdade e não como um garoto-propaganda da "Vida-Loka", talvez Feito na América fosse mais como O Lobo de Wall-Street, ou O Senhor das Armas, sem isso, torna-se uma estranha ode a um personagem amoral embrulhada em um conto moral.
Distrai por uma hora e cinquenta e cinco minutos, mas está longe de ser um programa obrigatório mesmo por mais devotado fã de Tom Cruise...
"Eu sou o gringo que sempre resolve..."
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