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terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Pela Janela
Não foi, definitivamente, de propósito que o Aurélio se apaixonou pela Renata.
Na verdade, analisando friamente, como o Aurélio fazia costumeiramente, a Renata seria a última pessoa por quem ele se apaixonaria. Não que a Renata fosse feia. Não, não era o caso. A Renata era muito bonita. Uma graça de guria. Tinha um rosto lindo, uma pele macia e lisinha, cabelos cheirosos, pernas de enlouquecer... Era uma beleza de menina.
Não era, também, que a Renata não fosse legal. A Renata era. A Renata era muito legal. Um doce de guria. Divertida, esperta, engraçada, sem frescuras... Tudo de melhor.
Então, era perfeitamente possível que uma pessoa normal se apaixonasse pela Renata. A questão aqui, é justamente que o Aurélio não era uma pessoa normal.
Quer ver um exemplo clássico?
Quando era criança, enquanto os amigos do Aurélio queriam ser pilotos de corrida, policiais, bombeiros ou jogadores de futebol, o Aurélio queria ser beduíno.
É... Beduíno.
O Aurélio, quando criança, queria ser um membro desse povo nômade originário da península arábica, que vive no deserto e que viaja em caravanas vivendo do comércio de mercadorias variadas com as populações sedentárias das regiões onde vivem.
O Aurélio chegava a se imaginar vestido de preto, de turbante, no meio do deserto montado em um camelo. Achava o máximo o visual beduíno, meio mendigo, meio jedi.
Isso provavelmente já mostra o tipo de pessoa que o Aurélio era.
A Renata era normal... Bom, era bastante normal. Ela tinha algumas idiossicrasias e estranhezas, entretanto, as dela não a tornavam menos encantadora, na verdade a tornavam mais encantadora, mais perfeita e delicada.
E essa pessoa encantadora que era a Renata, talvez por algum mecanismo psíquico de cuidar de gente ferida, doente ou triste, encontrou em seu coração espaço pra receber o Aurélio.
Não foi fácil. Renata era cautelosa, Aurélio era paranóico. Mas aconteceu. Ela o encontrou, e ele a deixou entrar, ao menos um pouco.
E foi bom pro Aurélio.
A Renata iluminou sua vida como aquele sol de julho, que entra pela janela e faz o cachorro correr pra deitar ali e se aquecer. Ela fez o Aurélio experimentar emoções e sentimentos que ele ignorava até então. Fez ele ansiar por toques, carícias e palavras que ele desconhecia. O fez valorizar gestos que ele consideraria insignificantes antes de conhecê-la.
Todavia, por melhor que fosse Renata. Por mais dedicada, por mais tenaz, Aurélio ainda era... Bom, o Aurélio.
Naturalmente solitário, misantrópico, niilista, pessimista, quebrado além do reparo ou conserto e programado para ver o pior de tudo em todas as situações.
Aurélio percebeu que não fazia bem à Renata, que o convívio com ele não oferecia a ela nenhum benefício.
Aurélio tinha todos os defeitos do mundo, mas não era ingênuo nem egoísta.
Ao perceber pra onde ia o caminho que trilhava, resolveu salvaguardar a pessoa com quem mais se importara na vida. Bastava se afastar. Fazer silêncio. E esperar que ela voltasse a sorrir longe dele, onde seu sorriso jamais seria ameaçado.
Ia doer, claro. Muito. Mas Aurélio sabia como proceder quando lhe faltava o ar de tanto sofrimento.
Ele fazia algo banal. Oferecia um sentimento de normalidade à sua rotina. Via um filme, lia um livro, acompanhava as aventuras de Austin Stevens e O Universo no Nat Geo...
Doía... Mas de alguma forma, parecia ser o certo a se fazer. Isso, e torcer pra que ela fosse feliz o suficiente pra sorrir tantos e tão grandes sorrisos que, de vez em quando, iluminassem seu dia através da janela, pra que ele encontrasse a calidez que vinha dela, e se aninhasse ali por breves intervalos de paz.
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