Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
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sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Quadrinhos: Hellboy - Edição Histórica Vol.5 : Máscaras e Monstros
Este setembro foi um bom mês para os fãs do demônio mestiço Anung Un Rama. Além da edição caprichada (e muito boa) Hellboy - A Noiva do Demônio e Outras Histórias a Mythos colocou nas bancas este quinto volume da Hellboy Edição - Histórica, série caprichada publicada pela editora com capa dura com letra dourada, papel bonito no miolo e tudo mais a que o diabo favorito dos fãs de quadrinhos tem direito.
Essa edição, Máscaras e Monstros traz um crossover duplo de Hellboy com heróis da DC comics.
Na primeira, Nazistas em Gotham, como o título explicita, Hellboy vai a Gotham City para ajudar Batman com um caso envolvendo o doutor Ted Knight, o Starman original, que é sequestrado por um grupo de nazistas com poderes místicos durante uma palestra. Após uma breve investigação da dupla, os dois heróis descobrem que os vilões fugiram pra amazônia levando o refém consigo.
Na segunda parte, Horror na Floresta, Hellboy parte para a amazônia acompanhado de Jack Knight, filho de Ted e novo Starman para resgatar seu pai, descobrir os reais planos dos nazistas e dar-lhes um fim.
É uma história menor de Hellboy, esse crossover. Embora tenha muitas das melhores características que nos acostumamos a encontrar nos quadrinhos do herói, como o os monstros lovecraftianos, os nazistas e tudo mais, e tenha roteiro e arte de Mike Mignola, o pai do HB, me senti desconfortável em ler uma história do Hellboy onde ele praticamente se torna coadjuvante dos convidados, especialmente do Batman.
É até engraçada a excessiva reverência que os escritores em geral têm para com o morcegão na hora de fazer um encontro de qualquer personagem com o Homem Morcego.
Ainda assim, Batman Hellboy Starman é uma história que vale a leitura, especialmente para fãs de qualquer um dos três personagens, embora não vá fazer nenhum novato se apaixonar por nenhum dos heróis.
A sequência da edição traz um encontro de Hellboy com outra personagem da Dark Horse Comics, e que, ao menos pra mim, era completamente desconhecida, tanto que eu nem sequer sabia que se tratava de uma personagem com gibi próprio nos EUA:
Ghost.
Ghost era Elisa Cameron, uma repórter assassinada por criminosos que busca vingança contra seus executores bem como detalhes a respeito do porquê de sua morte.
Na história partilhada entre a moçoila e o vermelhão, Hellboy viaja até a cidade natal de Ghost, Arcadia, para investigar o fantasma que mata pessoas com pistolas calibre 45., a própria Ghost.
Após o primeiro contato de ambos, a heroína é levada à presença de uma criatura que se auto-intitula Paz, e essa entidade diz que pode oferecer algo que Ghost deseja em troca da mão direita de Hellboy, o que coloca os dois, inicialmente um contra o outro, e depois, conforme manda o manual do crossover, unidos contra o inimigo em comum.
Essa história é melhor que a anterior, o roteiro de Mignola é divertido, mas a arte de Scott Benefiel não é das melhores. Na verdade é provavelmente a arte mais sem graça que já vi num quadrinho de Hellboy, nada que atrapalhe a diversão, porém.
Entre os extras, além de várias capas, glossário arcano e caderno de esboços (tudo isso "itens de série" nos quadrinhos do Hellboy publicados pela Mythos) há ainda a curiosa forma como Mignola passou o roteiro do crossover de Ghost com Hellboy a Scott Benefiel: Tudo na forma dos layouts de cada página.
Enfim, Hellboy - Edição Histórica Volume 5: Máscaras e Monstros é divertida, leitura pra se devorar em pouco tempo sentado do lado de um copo de guaraná em temperatura ambiente, mas não é melhor que A Noiva do Demônio e Outras Histórias, e se tu tiver que escolher entre uma e outra, fique com a segunda sem arrependimentos, mas se der, compre as duas. Vale a pena e fica bonito na estante.
"Com todo o respeito, Batman, por mais que acredite ser experiente no que diz respeito à magia, se comparado a mim você não sabe nada."
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
O Jogador Problema
Existe no RPG um tipo de player a quem cabe chamar de Jogador problema. Feliz do mestre de jogos que consegue levar sua campanha adiante sem um jogador problema no grupo. Esse mestre consegue conduzir a trama de sua campanha de maneira leve e descontraída, aumentar o foco na interpretação em certas ocasiões e deixar as coisas mais dramáticas em outras tantas. Esses mestres que não tem um jogador problema no grupo não sabem a sorte que têm a menos que já tenham tido um jogador problema no grupo.
E vamos deixar bem claro que, quando me refiro a jogador problema, não estou falando daquele colega que tem vergonha de interpretar seu personagem à mesa, nem daquele porra-loca que fica dissecando o livro de regras em busca de uma maneira de aumentar os próprios poderes a qualquer custo... Não. Esses jogadores um mestre tira de letra. Eles são fáceis de levar, são até divertidos em determinadas ocasiões.
O jogador problema é diferente disso. O jogador problema não está particularmente interessado nos seus índices de jogo, embora, claro, tenha interesse em ter o melhor personagem possível, ele não está interessado em ser uma máquina de matar, não. Tampouco tem vergonha do role play, embora, ás vezes, o mestre e os demais players à mesa desejem que ele tivesse.
O jogador problema é identificável pois ele é o jogador que monta o personagem que ninguém quereria montar. Enquanto todos gostam da ideia de ser um personagem forte, ou com grande potencial que crescimento de poder, o jogador problema monta personagens que só funciona dentro da sua cabeça, e que só existe na mesa do coitado do mestre que o acolheu.
O jogador problema é um meio-elfo com quatro classes de personagem ao mesmo tempo. Ele é um gnomo cantor, é um halfling dançarino, um anão pacifista com lesões cerebrais.
O jogador problema é aquele que sempre se separa do grupo obrigando o mestre a conduzir uma narrativa que é somente sua, e que serve unicamente pra que ele se sinta protagonista e atravanque a condução da história.
O jogador problema prefere ser um protagonista que só se dá mal, a ser um coadjuvante trabalhando pelo bem do time.
Claro que existem formas de mestrar para o jogador problema. Elas geralmente envolvem que o mestre use sua prerrogativa de ser árbitro do jogo e se comporte de forma arbitrária...
Aquela caixa na sala abandonada? Tinha um leopardo da neve faminto, lá dentro.
Aquela porta trancada no corredor do oitavo andar? Um portal dimensional levando para o abismo...
A velhinha andando solitária pela rua que entrou em um beco? Um doppleganger muito mal intencionado...
Não faz sentido, eu concordo. Parece estrambólico ou exagerado, mas são maneiras de se fazer um sinal, um sinal bem claro e específico, mostrando ao jogador problema que, se ele age de maneira idiota, coisas idiotas acontecem com ele.
O maior risco que o mestre corre é o de o player começar a pegar gosto pelas próprias desventuras, não importa o quão idiotas elas sejam...
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Resenha Cinema: Dredd
Em 1977 o escritor de quadrinhos John Wagner, com a participação do desenhista Carlos Ezquerra e do editor Pat Mills, criou o "tira durão" definitivo para figurar no elenco do quadrinho britânico 2000 AD.
Na visão de futuro distópico de Wagner e companhia o Mundo de cento e vinte anos no futuro fora consumido pela guerra atômica e os sobreviventes se esconderam das ruínas do planeta em megalópoles hiper populosas conhecidas como Mega Cidades.
Na cidade de Mega City 1, lar de 400 milhões de pessoas vivendo em imensos complexos habitacionais conhecidos como "city Blocks", assim como em todas as Mega Cidades, o crime se tornou uma praga. Uma praga tão incontrolável e devastadora que a única forma de controlá-la, ou ao menos mantê-la em níveis toleráveis, foi a criação do Sistema de Juízes. Uma tropa de mantenedores da lei formada por agentes que acumulam o papel de polícia, juiz, júri e, se necessário, executor.
Na corporação, nenhum Juiz é mais temido e eficiente do que Joseph Dredd.
O gibi de Wagner é extremamente bem sucedido na Grã Bretanha, onde é publicado de forma praticamente ininterrupta desde 1977, até 1990 na 2000 AD e de 90 até hoje na sua própria revista.
A longevidade de Dredd se deve tanto à qualidade do trabalho de Wagner e seus associados quanto ao carisma do personagem, um Dirty Harry futurista que vive em um futuro tenebroso que serve ao mesmo tempo como palco às aventuras do juiz e cenário daquela tradicional crítica social que parece inerente ao quadrinho britânico, que usa o poder conferido ao herói como uma crítica aos estados policialescos, e pinta com cores berrantes um inspirado retrato das tribos urbanas inglesas do final dos anos setenta em histórias tão doidas que só podiam, mesmo, originar uma legião fiel de seguidores.
Era óbvio que um personagem tão longevo e com aquela cara típica do herói americano que toma a lei nas suas próprias mãos não ficaria restrito apenas aos quadrinhos.
Foi em 1995 que o herói saiu dos gibis para a telona pela primeira vez. O diretor Danny Cannon chamou Sylvester Stallone, Armand Assante e Rob Schneider e juntos eles cometeram O Juiz. Filme ruim pra mais de metro que escondeu o personagem sob o astro de ação, amoleceu Dredd, e ainda por cima tirou seu capacete (coisa que jamais aconteceu nos gibis.).
Após o fiasco o personagem permaneceu restrito aos quadrinhos até que, nesse ano de fim do mundo em que não há personagem que não ganhe adaptação, remake ou sequência, resolveu dar as caras em celuloide mais uma vez.
Pete Travis, do bem intencionado Ponto de Vista foi quem assumiu a bronca, e apesar do meu desdém absoluto por Dredd 3D desde a primeira notícia, resolvi encarar o filme nesse fim de semana, e posso dizer, sem medo de errar, que 2012 continua muito bom pra adaptações de quadrinhos.
Dredd reapresenta o personagem Joe Dredd (Karl Urban, divertidíssimo no papel, rabugento e raivoso), juiz mais temido de Mega City 1.
Dredd é incumbido de avaliar se a aspirante Cassandra Anderson (Olivia Thirlby), uma jovem mutante com poderes psíquicos, tem condições de aplicar a lei na corporação de Juízes.
Em sua primeira missão, Anderson acompanha Dredd até o bloco de Peach Trees, um enorme complexo habitacional de duzentos pavimentos com milhares de habitantes onde o crime impera sob a forma de Ma-Ma (Lena Headey), uma violenta traficante de drogas que prosperou através de sua crueldade implacável e da droga Slo-Mo, um narcótico que faz com que o usuário experimente a sensação de vivenciar a realidade a um por cento da velocidade normal.
Após uma batida, Dredd e Anderson se veem isolados e incomunicáveis em Peach Trees, sendo obrigados a lutar, mais do que manter a lei, para sobreviver à ira da gangue de Ma-Ma.
Em uma palavra?
Divertidíssimo.
Dredd é um filmão pipoca no melhor sentido da expressão. Pete Travis e o roteirista Alex Garland (parceiro recorrente de Danny Boyle) eliminaram a frescura da equação e conseguiram escapar da chatice dos filmes de origem, dos interesses românticos artificiais e da viadagem da censura livre, fazendo um filme extremamente honesto e coerente para com o personagem em sua fonte original ao resolverem contar uma história simples, de apenas mais um dia de trabalho do Juiz Joseph Dredd, casualmente com a recruta Cassandra Anderson a tiracolo numa missão em que dá merda.
Travis usa cenários claustrofóbicos e econômicos com fotografia chapada que contrastam com belas sequências em câmera lenta que ganham cores brilhantes para ilustrar o ponto de vista dos usuários da Slo-Mo, essas sequências geralmente mostram os viciados se dando muito mal em tiroteios com Dredd, e são plasticamente muito bonitas, além de extremamente violentas.
O diretor e seu protagonista, o Eomer Karl Urban (sempre com os lábios contorcidos pra baixo como nas ilustrações de capa dos quadrinhos de Dredd e entoando o "Eu sou a lei" cavernso que quem já leu um quadrinho do personagem sempre imaginou.), merecem aplausos, também, por serem extremamente fiéis ao gibi, e leais ao espírito do personagem, que não remove seu elmo em nenhum momento do filme, e mantém a rabugisse quase neurótica que o consagrou na 2000 AD, assim como a absoluta ausência de dúvida, remorso ou senso de humor.
Lena Headey não faz feio no papel de Madeline Madrigal, a Ma-Ma, e mesmo fazendo cara de má em alguns momentos e não tendo expressão nenhuma em outros, convence como vilã. Olivia Thirlby é engraçadinha, faz uma bacana versão recruta da juíza Anderson, que apesar da inexperiência ainda consegue seus bons momentos de heroísmo. O elenco, que tem ainda Wood Harris e Langley Kirkwood não compromete, e nem tinha como.
Pete Travis e Alex Garland conseguiram sintetizar tudo o que o juiz Dredd tem que ser em qualquer midia nos 95 minutos de cinema de primeira, com parte técnica acima da média, ação de qualidade e frases de efeito de rachar o bico de Dredd.
Será que custa sonhar com uma sequência da mesma equipe?
"-Estava pensando em quando você notaria que esqueceu o capacete.
-O capacete interfere nas minhas habilidades psíquicas, senhor.
-Uma bala interferiria mais.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Sinceridade
Foi ainda no começo da adolescência que conheci o César.
Sujeito de estatura baixa e má construção física, era aqueles magros com uma barriga murcha pendendo como uma pochete flácida de pele sobre a cintura (onde, aliás, geralmente repousava uma pochete de lona de verdade.). Ele mesmo referia-se ao próprio tipo físico como "Uma minhoca que engoliu uma azeitona".
Tinha pernas e braços finos, a tez muito branca, quase amarela, e uma quantidade generosa de sinais e pintas pelo corpo. Careca, com alguns poucos cabelos castanhos finos ao redor da cabeça, tinha um rosto quadrado, olhos bem juntos, quase nenhuma sobrancelha e um espaço generoso entre os dois dentes superiores da frente.
Geralmente vestia-se com bermudas jeans que obviamente haviam visto dias melhores na forma de calças até estarem envelhecidas e maleáveis, serem cortadas sem lá grande esmero ou cuidado na altura das pernas e seguirem sua vida deixando os cambitos de César à vista de todos.
César tinha uma pequena loja, mais ou menos do tamanho de um armário de vassouras na cidade baixa, e vendia ali todo o tipo de porcaria velha. Se alguém tivesse um fogão fabricado em 1972 e precisasse de peças de reposição, era provável que as encontrasse na loja do César. Se alguém estivesse procurando aquelas agulhas pra desentupir a boca dos queimadores do fogão, encontraria ali, também. O mesmo valia pra placas de carro velhas e enferrujadas, crânios de animais, aqueles engradados em miniatura da Coca Cola, com algumas das garrafas com conteúdo pela metade e as demais faltando, bichos de pelúcia caolhos, ventiladores com as hélices e a grade de metal, e outras porcarias do tipo.
César também vendia revistas velhas, que pendurava com prendedores de roupa em alguns varais que cruzavam pelo alto o exíguo espaço de sua loja. Vendia todas sem muita distinção, lá havia edições da Planeta datadas dos anos setenta, da revista Manchete, até uma Cruzeiro eu vi pendurada lá, uma vez.
Foi justamente por isso que conheci o César. Por causa das revistas.
Certa feita passei em frente à sua loja e vi uma edição encadernada de Batman - O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller pendendo em seu varal. Haviam alguns garranchos feitos à caneta azul na capa, mas o interior do gibi, à exceção de algumas orelhas em diversas páginas, estava em perfeito estado. Comprei por dois Reais. Na época nem havia nota de dois, dei duas notas de um Real, daquelas verdes, com um beija-flor que nem existem mais.
Continuei frequentando a lojinha do César dali por diante, e, conforme me tornava, de fato, seu cliente recorrente, fui aprendendo o quanto o César era desagradável.
O César, por exemplo, não tinha pudores em vender revistas proibidas para menores a menores. Aliás, não fosse (mais) essa faceta abjeta do César, e eu provavelmente não teria continuado sendo seu cliente dada sua falta de esmero na hora de selecionar o estados dos gibis que comercializava. Nos meus quatorze anos de idade era muito importante pra mim ter acesso à nudez feminina, e as únicas formas disponíveis à época, eram comprando revistas ou assistindo à peças de teatro que porventura apresentassem alguma nudez como A Farsa Trágica do grupo Falos & Stercus, que assisti quatro vezes para ver uma atriz nua.
As peças teatrais eram raras, especialmente aquelas que permitiam a entrada de menores quando havia "conteúdo adulto, e César garantia acesso as revistas.
Mais do que isso, dava dicas.
Ainda lembro de uma vez em que, modesta e timidamente peguei uma Playboy qualquer, não lembro quem era a capa da edição, e ouvi de César:
-Que é isso? Não compra essa revista, não, que isso é uma merda. Quer ver pentelho olha os teus quando for mijar. Aqui, ó. Leva essa importada, é só um real mais cara e "as mina se arreganha inteira".
Talvez agora fique mais claro o quanto o César era desagradável.
Ainda que fosse desagradável, não estivesse nem perto de ser bem sucedido, fosse uma figura feia, e não fosse particularmente inteligente, após algum tempo surgiu uma namorada para trabalhar com César, que ficava na loja em seu lugar em algumas ocasiões. Era mais jovem que o César, tinha os cabelos descoloridos nas pontas com raízes muito escuras, e embora não fosse uma mulher feia como era de se esperar ao lado de César, tinha uma certa qualidade avoada, quase infantiloide, que fazia-me sentir alguma piedade dela.
Nunca soube se ela era de fato namorada do César, não me lembro nem de vê-lo tocar nela, ou sequer chamá-la pelo nome, geralmente ele a chamava com um "ô", ao que ela atendia de pronto.
Logo que ela surgiu, comecei a parar de frequentar a lojinha de César, tanto por vergonha quanto por receio.
Acho que a faceta desprezível do César era tão vívida que eu temia, inconscientemente, que ele fosse tentar se tornar cafetão da tal moça e oferecer serviços de alcova dela a preços módicos, talvez executados em uma cama minúscula, ou num colchão sem forro que, eu supunha, ele fosse ocultar atrás da cortina puída que dividia em dois o espaço acanhado de seu estabelecimento.
Pelo que conhecia de César, não duvido que ele se proporia a agenciar a prostituição de sua companheira e ainda ficar vendo de esguelha enquanto se consumava o ato.
Mas antes disso, em certa feita, eu entrei no muquifo de César e me pus a vasculhar suas revistas enquanto ele conversando com uma velhinha grisalha de vestido floreado e chinelos de camurça. A idosa comentava com César a respeito de uma matéria que vira na televisão, dando conta de um rapaz, que descobrira após o casamento, que sua noiva era um travesti.
A velhinha, escandalizada, dizia:
-Imagine, seu César. Na noite de núpcias, descobrir que a noiva é homem.
E o César, muito natural, sentado em sua banqueta alta com a perna cruzada e o chinelo Samoa batucando no calcanhar, respondeu de bate-pronto:
-Eu viro ela e faço anal. Nem quero saber. Viro ela e faço anal.
A velhinha, com uma expressão escandalizada, cobriu a boca muito aberta com a mão, e despediu-se de César com um aceno mudo, que ele respondeu com um "tchauã".
César era assim... Desagradável.
E talvez o fosse por ser excessivamente sincero.
César não era um desses trolls da internet, dono de uma sinceridade artificial, que se esconde sob o manto da distância e do anonimato para ser grosseiro com todo mundo em busca de uma auto-afirmação de qualquer espécie, ou de risadas grosseiras.
Não. César era um grosseiro genuíno, pois genuína era sua sinceridade. Sua sinceridade e a consequência que ela trazia, aquela qualidade repelente, não eram um joguete, não era um estilo adotado, eram intrínsecos à sua personalidade. Ele não sabia ser diferente daquilo, e sincero que era, provavelmente nem queria.
Conheci, depois, muitas pessoas tão desagradáveis quanto o César. Mas nenhuma tão sincera, e nem tão autêntica.
... Ainda bem...
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Rapidinhas do Capita
Que bela maravilha. Na melhor notícia da semana, a Nestlé avisa que o chocolate Milkybar vai mudar de roupa e parar de malhar pra voltar a ser o fofinho Lollo.
O doce que tinha mudado de nome em 1992 deixando crianças pelo Brasil inteiro (inclusive este humilde e saudoso escriba) órfãs de sua guloseima favorita vai voltar.
Pra quem acha que é furada e que Milkybar é a mesma coisa que Lollo, ledo engano:
A própria Nestlé precisou verificar, antes de oficializar o revival, se ainda teria condições de reproduzir a receita original do chocolate, muito mais macio que a versão atual e que de tão sem graça restringe-se às caixas de Especialidades Nestlé.
Enfim, pra ficar perfeito só falta voltarem à TV as propagandas animadas com uma barra de chocolate bunduda gritando "Tô fofo! Tô fofo!", os picolés Fura-Bolo e Squeeze voltarem a ser produzidos, os Comandos em Ação voltarem a ser apenas brinquedos maneiros e eu arranjar uma máquina do tempo pra voltar à minha pré adolescência.
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Foi em Teresina, no Piauí, que o TRE local e a Polícia Federal iniciaram investigações após declaração do candidato à prefeito Wellington Dias sobre candidatos a vereador que estariam trocando votos por crack.
Bom... A despeito do crime de tráfico de drogas e crime eleitoral, droga na política, parece um lance incrivelmente apropriado...
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Barack Obama disse em um dos jantares pra angariar fundos à sua campanha para concorrer à Casa Branca em 2008 que não nascera em uma manjedoura, mas sim em Krypton.
Depois apareceu em histórias em quadrinhos do personagem Savage Dragon, da Image Comics, e em Homem-Aranha, da Marvel.
O super-herói Great Machine, dos gibis Ex Machina, da Wildstorm impediu um dos atentados de 11 de setembro e se tornou prefeito de Nova York, cargo que J. Jonah Jameson também ocupa nos gibis do Aranha, e no universo DC o vilão Lex Luthor já foi presidente dos EUA.
Agora chegou a vez de um super-herói sentar na poltrona do homem mais poderoso do mundo. No selo Ultimate o Capitão América é eleito presidente dos EUA mesmo sem estar filiado a nenhum partido político e aceita o emprego, tendo a missão de reunir o país, assolado pelo sectarismo e o preconceito contra os mutantes.
Vale lembrar que o Capitão América da linha Ultimate não é o mesmo sujeito com jeito de tiozão boa praça que vemos nos gibis de sempre e nos filmes. A versão idealizada por Mark Millar para Os Supremos mostra um sujeito muito mais conservador militarista. Aparentemente vem um George W. Bush com superpoderes no comando dos EUA do Ultiverso.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Uma Festa Há Muito Esperada...
Em uma casa em Oxford vivia um professor...
Não se tratava, porém, de qualquer professor. Um desses chatos que simplesmente vão de casa pra escola e da escola pra casa e entre uma coisa e outra enchem a lousa com palavras chatas e os ouvidos dos alunos com palestras sonolentas. Não senhor. Esse professor nasceu na extinta República do Estado Livre de Orange, hoje África do Sul, e aos três anos de idade se mudou para a Inglaterra com a mãe e o irmão, onde naturalizou-se britânico. Ele cursou a faculdade de letras em Exeter, e esteve no fronte de combate na Primeira Guerra Mundial. Ele era John Ronald Reuel Tolkien, e isso, acima de tudo, significa Arda.
Mais do que isso, significa O Hobbit. Significa O Silmarillion, significa Contos Inacabados e A História da Terra Média e significa O Senhor dos Anéis...
A Semana Tolkien começou a ser observada pela Tolkien Society em 1978, e segundo a entidade ela é celebrada na semana de setembro que abarca o dia 22.
Segundo nos contou o pai da literatura de fantasia moderna foi em um 22 de setembro, no ano de 2890 da Terceira Era que nasceu Bilbo Bolseiro, personagem central de O Hobbit, e também no mesmo dia 22 de setembro, mas de 2968, nasceu seu primo, Frodo Bolseiro, que seria o protagonista de O Senhor dos Anéis.
A versão 2012, que começou ontem, em particular é especial pois celebra o septuagésimo quinto aniversário da publicação de O Hobbit (que terá a primeira parte da trilogia que adapta o livro ao cinema lançada no próximo mês de dezembro), originalmente publicado em 21 de setembro de 1937.
A Semana Tolkien, no hemisfério norte costuma ser lembrada com seminários, promoções em livrarias e até com maratonas de O Senhor dos Anéis de Peter Jackson.
Aliás, Peter Jackson avisou pelas redes sociais que nessa Semana Tolkien vai presentear os fãs do filólogo mais maneiro da História da humanidade com um novo trailer de O Hobbit, além de mais um ou outro mimo, então vale a pena ficar de olho no Youtube e outros canais de vídeos pra dar aquela espiada no que vem por aí.
Também fica a dica pro pessoal que se amarra nas aventuras passadas no "Mundo Secundário" de J. R. R. pra, quem sabe reler sua obra favorita, conhecer uma nova, ou simplesmente assistir à trilogia original, quem sabe nas versões estendidas que estão nas lojas e valem, muito, a conferida. Além disso, serve de aquecimento pra O Hobbit - Uma Jornada Inesperada, que estréia em 14 de dezembro. Fique com o primeiro trailer e não se arrepie com a canção dos anões:
sábado, 15 de setembro de 2012
O Vilão.
E de repente, o Heraldo, sentado sozinho no muro de tijolos à vista da casa da praia, sentindo o vento que vinha da praia menos de cem metros atrás de si, teve uma sensação muito dolorida.
O Heraldo sempre se imaginou como o coadjuvante do filme.
Sério. Se a vida fosse um filme, o Heraldo jamais se via como o personagem central. Se a vida fosse ...De Volta Para o Futuro, o Heraldo se imaginaria como o doutor Brown, e não como Marty McFly. Se a vida fosse Star Wars, ele não seria o Luke, ou o Vader, ou Han Solo, ele seria Obi Wan Kenobi. Se a vida fosse O Senhor dos Anéis, ele não seria o Froddo ou o Aragorn, mas o Gandalf, e se a vida fosse o universo Marvel, ele seria o Uatu.
Era uma visão de mundo inerente ao Oswaldo, quando ele percebeu que os papéis da vida se limitam ao de vítima ou de testemunha. E ele achava muito mais interessante ser testemunha. Por isso ele não se queixava das coisas. Por isso via a vida por um prisma muito específico de pessimismo e distanciamento que lhe permitiam não se envolver a ponto de ser a vítima da própria história.
Mas o Heraldo era humano, ainda que resoluto, e humano que era, era falho, e, vez que outra, acabava seduzido por aquilo que desejava, e falhava na sua decisão.
Normalmente, tais lapsos de esperança e de ingenuidade auto infligida eram inofensivos, relativamente breves e permitiam que ele recobrasse a consciência sem se ferir ou ferir outrem.
Mas o Heraldo, subitamente se viu onde sempre desejara estar.
Se viu feliz a ponto de imaginar que podia haver um terceiro papel a desempenhar na vida que não o de testemunha ou o de mártir. E ousou se deixar levar. Ousou ser feliz. Ousou se entregar, abrir, pelo menos um pouco, os portões, as portas e as janelas.
E assim, com tudo arejado, e com espaço pra ela começar a entrar, ele se viu, de fato, feliz. Completo. Alegre como nem sabia que conseguia estar. Sem preocupações. Sem problemas. Sem medo.
Mas havia, ainda, uma reserva de Heraldo em Heraldo. E a vida não deixa passar nenhuma oportunidade de chutar um incauto nas costas.
Na primeira, ao vê-la de olhos marejados, Heraldo supôs que não fora nada.
Que fora um lapso. Que não era nada pra se preocupar.
Na segunda, porém, ao vê-la de coração tão cheio. Ao vê-la conjecturando, e percebendo o que estava perdendo por estar junto com ele...
A primeira reação de Heraldo foi ficar com raiva. Ele ficou enraivecido. Muito. Frustrado. Magoado. Sentindo-se traído.
Mas foi breve.
Ele percebeu, então, que a culpa não era dela. Ele percebeu que ela estava fazendo o que era natural de fazer. Conjecturando. Sonhando. Imaginando "e se...?".
E que a culpa era dele. Era dele apenas, pois por mais que tentasse. Por mais que quisesse, esse ainda precisava de um perímetro.
Uma zona de conforto.
Uma área de segurança.
Um espaço pra onde fugir, e do qual não sabia abrir mão.
A culpa era dele, e dele apenas.
Heraldo descobriu, desolado enquanto a brisa açoitava suas costas, que ele não era mártir na sua história, tampouco testemunha.
Ele era seu próprio arqui-inimigo.
O vilão da própria história.
E só tinha uma maneira de derrotá-lo:
Impedindo-o de ferir as pessoas a quem ele amava.
O Heraldo sempre se imaginou como o coadjuvante do filme.
Sério. Se a vida fosse um filme, o Heraldo jamais se via como o personagem central. Se a vida fosse ...De Volta Para o Futuro, o Heraldo se imaginaria como o doutor Brown, e não como Marty McFly. Se a vida fosse Star Wars, ele não seria o Luke, ou o Vader, ou Han Solo, ele seria Obi Wan Kenobi. Se a vida fosse O Senhor dos Anéis, ele não seria o Froddo ou o Aragorn, mas o Gandalf, e se a vida fosse o universo Marvel, ele seria o Uatu.
Era uma visão de mundo inerente ao Oswaldo, quando ele percebeu que os papéis da vida se limitam ao de vítima ou de testemunha. E ele achava muito mais interessante ser testemunha. Por isso ele não se queixava das coisas. Por isso via a vida por um prisma muito específico de pessimismo e distanciamento que lhe permitiam não se envolver a ponto de ser a vítima da própria história.
Mas o Heraldo era humano, ainda que resoluto, e humano que era, era falho, e, vez que outra, acabava seduzido por aquilo que desejava, e falhava na sua decisão.
Normalmente, tais lapsos de esperança e de ingenuidade auto infligida eram inofensivos, relativamente breves e permitiam que ele recobrasse a consciência sem se ferir ou ferir outrem.
Mas o Heraldo, subitamente se viu onde sempre desejara estar.
Se viu feliz a ponto de imaginar que podia haver um terceiro papel a desempenhar na vida que não o de testemunha ou o de mártir. E ousou se deixar levar. Ousou ser feliz. Ousou se entregar, abrir, pelo menos um pouco, os portões, as portas e as janelas.
E assim, com tudo arejado, e com espaço pra ela começar a entrar, ele se viu, de fato, feliz. Completo. Alegre como nem sabia que conseguia estar. Sem preocupações. Sem problemas. Sem medo.
Mas havia, ainda, uma reserva de Heraldo em Heraldo. E a vida não deixa passar nenhuma oportunidade de chutar um incauto nas costas.
Na primeira, ao vê-la de olhos marejados, Heraldo supôs que não fora nada.
Que fora um lapso. Que não era nada pra se preocupar.
Na segunda, porém, ao vê-la de coração tão cheio. Ao vê-la conjecturando, e percebendo o que estava perdendo por estar junto com ele...
A primeira reação de Heraldo foi ficar com raiva. Ele ficou enraivecido. Muito. Frustrado. Magoado. Sentindo-se traído.
Mas foi breve.
Ele percebeu, então, que a culpa não era dela. Ele percebeu que ela estava fazendo o que era natural de fazer. Conjecturando. Sonhando. Imaginando "e se...?".
E que a culpa era dele. Era dele apenas, pois por mais que tentasse. Por mais que quisesse, esse ainda precisava de um perímetro.
Uma zona de conforto.
Uma área de segurança.
Um espaço pra onde fugir, e do qual não sabia abrir mão.
A culpa era dele, e dele apenas.
Heraldo descobriu, desolado enquanto a brisa açoitava suas costas, que ele não era mártir na sua história, tampouco testemunha.
Ele era seu próprio arqui-inimigo.
O vilão da própria história.
E só tinha uma maneira de derrotá-lo:
Impedindo-o de ferir as pessoas a quem ele amava.
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Rapidinhas do Capita
-É Belize. - Ela, morena, bonita, alta e esguia, olhos castanhos, gritou no ouvido dele após ele ter perguntado, também gritando, qual era seu nome.
-Mas isso não é o nome de um país? - Ele perguntou, novamente com um berro.
-É, e é meu, também. - Ela respondeu, e então, tocando no braço dele com a mão delicada completou: -Não sou egoísta. Sei dividir. - E riu.
Ele sorriu de volta, mas após trocarem mais algumas palavras ele olhou pro relógio, ergueu bem as sobrancelhas e disse que precisava ir. Não pediu o telefone dela nem deu o seu.
Ele sabia, em seu íntimo, que era egoísta e não sabia dividir.
E nem queria aprender.
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Os dois velhos decrépitos e sisudos sentados no banco da praça falando mal do mundo.
Eram anciãos carrancudos, homens muito sérios e graves.
-A minha esposa, Dolores, anda de um jeito... Só quer ver novela. Eu pago quatrocentos réis pra ter uma TV a cabo com duzentos canais e ela só para sentada pra ver novela no doze. - Resmungou o primeiro, amargo.
-Ih - Começou o segundo, fazendo um beiço de desdém - Tu ao menos sabe que a tua mulher vê a novela, e nos demais horários tu pode assistir aos programas que te agradam, mas e a minha? A Gertrude não sai de fronte o televisor. Passa o dia inteiro ali, nem pra ir na frigidaire apanhar uma água ela para.
Continuaram...
-E esse teu time? Será que anda na tabela do campeonato?
-Mas nem me fala. Essa diretoria incompetente. Bando de lesado. Nem pra contratar um treinador... Monta um time bom, mas não tem treinador. É que nem comprar um karmann Ghia e não ter chofer.
É, mas treinador se contrata. Tem jogadores bons. Mas e o meu time? O meu time tem chofer, tem um carro bonitinho, que anda direitinho e tá pago, mas se quebra uma peça para de andar... É outra diretoria incompetente. Ao menos tá chegando a eleição e dá pra ir tirar esse salafrário burro da presidência.
-Vais lá em outubro votar no Koff?
-Ah, não. Não tenho paciência nem saúde pra ir ao estádio em dia de jogo, imagine só pra votar?
E seguiram:
-E o que que tá essa política? Corja de bandido vivaldino.
-E ainda têm a desfaçatez de ir pra TV pedir voto. Cambada de mau caráter.
-Nem me fale. Nem me fale...
Ali pelas tantas passou por eles uma moça no frescor dos seus vinte e poucos anos, short jeans curtíssimo e uma justa regata branca, cabelos loiros bem soltos e esvoaçantes. Muita pele à mostra, pele muito firme, fresca e tenra.
Os dois velhos olharam a moça passar quase salivando:
-Benzadeus... Ah, os meus vinte anos...
-Vinte, não, meu filho. Trinta. Com vinte nós ainda não iríamos saber aproveitar tudo o que esse passeio teria a oferecer.
-Bem lembrado, bem lembrado... Ah, os meus trinta anos...
-No nosso tempo elas não andavam assim, desse jeito.
-Ih, nem perto disso. Era capaz de tu estares na praia do Quintão e não ver tanta carne à mostra.
-Era capaz de nem no açougue ter tanta carne à mostra.
Riram muito os dois. O outro acrescentou:
-Pelo menos não tanta carne de primeira.
Riram mais ainda, até começarem a tossir e perceberem o ridículo da situação, então pararam pigarreando. E olhando pro outro lado. Não pegava bem dois senhores sérios e graves gargalhando à passagem de uma moçoila. Voltaram a falar mal de tudo.
Todavia, à noite, antes de dormir, cada um na sua casa, ambos pensaram na graça daquela jovem, e da juventude em geral, e, durante a madrugada, encoxaram com vontade as suas respectivas esposas.
Era, afinal de contas, um momento de intimidade, onde podia-se abrir mão de seriedade e gravidades.
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Ele sentou perto dela, acariciando sua mão, e pensou em perguntar:
-Quanto do que tu sente por mim é condescendência disfarçada?
Mas desistiu ao perceber que ela diria que nada do que sentia por ele era condescendência de nenhuma espécie.
Resolveu esperar. Dar-lhe tempo para que ela descobrisse por conta própria e os salvasse.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Quadrinhos: Hellboy - A Noiva do Demônio e Outras Histórias
Eu adoro Hellboy. A criação de Mike Mignola, o demônio Anung un Rama, invocado por nazistas aliados ao mago Rasputin durante a Segunda Guerra Mundial e criado com afeto e dedicação pelo professor Trevor Bruttenholm para conhecer a importância de ser humano e combater as forças das trevas aparece sempre em ótimas histórias, muitas delas escritas e desenhadas por Mike Mignola em um estilo sintetizado por Alan Moore como "Expressionismo Alemão encontrando Jack Kirby", e é difícil não se afeiçoar ao demônio mais gente boa dos quadrinhos.
Hellboy, ao contrário de outras ótimas séries mais underground lançadas nos EUA e que, quando chegam ao Brasil não encontram continuidade na sua publicação, encontrou na editora Mythos um porto seguro. É difícil a editora ficar um ano sem lançar uma ou duas edições de Hellboy, normalmente encadernados bem caprichados e que embelezam a estante de nerds rançosos como eu (Apesar de o custo, entre 47 e 50 reais assustar um pouco à primeira vista), mantendo os fãs do diabão alimentados das saborosas e divertidíssimas histórias do detetive do sobrenatural e sua cruzada, seja junto ao BPRD (Bureau de pesquisa e defesa sobrenatural na sigla em inglês), seja por conta própria para combater ao mal em todas as suas formas sem jamais perder o bom humor.
Recentemente a editora lançou dois especiais, a Hellboy Edição Histórica Vol. 5 - Máscaras e Monstros, de que falaremos em outra ocasião, e essa A Noiva do Demônio e Outras Histórias, que acompanha o vermelhão quando ele ainda era agente do BPRD e viajava mundo afora procurando por ameaças paranormais.
Nessa edição são seis histórias: Hellboy no México, que envolve vampiros, divindades maia e luchadores, (muito bem) desenhada por Richard Corben; a segunda, Sessão Dupla de Horror é composta de duas missões curtas do Hellboy, a primeira, O Prêmio de Sullivan mostra um homem às voltas com uma casa assassina, e a segunda , A Morada de Sobek, mostra um homem ressuscitando múmias, ambas são ilustradas por Richard Corben, a seguir vem O Longo Sono dos Mortos-Vivos, uma ótima história com vampiros a moda antiga desenhada por Scott Hampton, depois vem a história que dá título à edição: A Noiva do Demônio, novamente com arte de Corben e que mostra Hellboy perdido no fogo cruzado entre uma seita de adoradores de um demônio ancestral e um grupo de cavaleiros templários; depois tem O Legado da Família Whittier, com desenhos do próprio Mignola (Que também escreve todas as histórias da edição), onde um estudioso tenta acessar os famigerados abismos inescrutáveis da noite, e finalmente Buster Oakley Realiza Seu Desejo, desenhada por Kevin Nowlan, onde o herói egresso do Inferno vai à uma fazenda onde se vê face a face com adolescentes satanistas, cientistas loucos alienígenas e vacas fantasmas.
Todas as histórias são carregadas do bom humor típico da série e as já tradicionais referências ao ocultismo, civilizações antigas e contos de H. P. Lovecraft.
Como as histórias são todas bem soltas, sem pesar na cronologia da série, é uma ótima pedida pra leitores novatos que ainda não viram o Hellboy no seu habitat natural, e querem conhecer o personagem, e artigo obrigatório pra quem, como eu, é fã do diabão do bem.
"Pelo jeito ainda restam algumas pessoas que acreditam em vampiros. Ô velho filho duma..."
Hellboy, ao contrário de outras ótimas séries mais underground lançadas nos EUA e que, quando chegam ao Brasil não encontram continuidade na sua publicação, encontrou na editora Mythos um porto seguro. É difícil a editora ficar um ano sem lançar uma ou duas edições de Hellboy, normalmente encadernados bem caprichados e que embelezam a estante de nerds rançosos como eu (Apesar de o custo, entre 47 e 50 reais assustar um pouco à primeira vista), mantendo os fãs do diabão alimentados das saborosas e divertidíssimas histórias do detetive do sobrenatural e sua cruzada, seja junto ao BPRD (Bureau de pesquisa e defesa sobrenatural na sigla em inglês), seja por conta própria para combater ao mal em todas as suas formas sem jamais perder o bom humor.
Recentemente a editora lançou dois especiais, a Hellboy Edição Histórica Vol. 5 - Máscaras e Monstros, de que falaremos em outra ocasião, e essa A Noiva do Demônio e Outras Histórias, que acompanha o vermelhão quando ele ainda era agente do BPRD e viajava mundo afora procurando por ameaças paranormais.
Nessa edição são seis histórias: Hellboy no México, que envolve vampiros, divindades maia e luchadores, (muito bem) desenhada por Richard Corben; a segunda, Sessão Dupla de Horror é composta de duas missões curtas do Hellboy, a primeira, O Prêmio de Sullivan mostra um homem às voltas com uma casa assassina, e a segunda , A Morada de Sobek, mostra um homem ressuscitando múmias, ambas são ilustradas por Richard Corben, a seguir vem O Longo Sono dos Mortos-Vivos, uma ótima história com vampiros a moda antiga desenhada por Scott Hampton, depois vem a história que dá título à edição: A Noiva do Demônio, novamente com arte de Corben e que mostra Hellboy perdido no fogo cruzado entre uma seita de adoradores de um demônio ancestral e um grupo de cavaleiros templários; depois tem O Legado da Família Whittier, com desenhos do próprio Mignola (Que também escreve todas as histórias da edição), onde um estudioso tenta acessar os famigerados abismos inescrutáveis da noite, e finalmente Buster Oakley Realiza Seu Desejo, desenhada por Kevin Nowlan, onde o herói egresso do Inferno vai à uma fazenda onde se vê face a face com adolescentes satanistas, cientistas loucos alienígenas e vacas fantasmas.
Todas as histórias são carregadas do bom humor típico da série e as já tradicionais referências ao ocultismo, civilizações antigas e contos de H. P. Lovecraft.
Como as histórias são todas bem soltas, sem pesar na cronologia da série, é uma ótima pedida pra leitores novatos que ainda não viram o Hellboy no seu habitat natural, e querem conhecer o personagem, e artigo obrigatório pra quem, como eu, é fã do diabão do bem.
"Pelo jeito ainda restam algumas pessoas que acreditam em vampiros. Ô velho filho duma..."
PES 13 X FIFA 13
Como faço todos os anos, assim que as versões demo de Pro Evolution Soccer e FIFA Soccer são liberadas pra download na PSN, eu corro pro video game em busca das demonstrações. Ontem, acho que mais de um mês depois do lançamento da versão demo do Pro Evolution a EA Games liberou a prévia jogável da versão mais recente da sua série de futebol.
Com as duas versões de demonstração dos games devidamente jogadas, dá pra perceber que a Konami está em uma violenta área de conforto com Pro Evolution, e parece ter desistido de tentar melhorar o game de qualquer forma após a desastrada versão 2011 do jogo, que tentou, sem sucesso, adicionar um quê de simulador à série.
A versão demo do Pro Evolution Soccer 2013 continua sendo um game divertido, as licenças oficiais da UEFA Champions League e da Libertadores da América sempre empolgam, afinal de contas, e nesse ano há ainda a possibilidade de disputar o Campeonato Brasileiro de futebol licenciadinho, com seus vinte clubes iguais que nem na vida real, mas sem as arbitragens medonhas ou a CBF roubando atletas dos clubes pra amistosos caça niqueis da Seleção do Mano Menezes, mais um ponto a favor da série da Konami.
A questão é que a empresa japonesa segue investindo em licenças mas sem mexer na jogabilidade, que se gerou uma legião de fãs fidelíssimos, também afasta outros tantos players do jogo.
A movimentação dos atletas em campo segue esquisita. Os jogadores digitais se movem como robôs alimentados com urânio enriquecido, correndo durinhos em velocidades absurdas pelo campo todo. Embora os atletas mais famosos tenham feições digitalizadas excelentes, a imensa maioria dos jogadores têm rostos absolutamente genéricos, todos mais ou menos iguais.
Mas o grande defeito segue sendo a incapacidade das defesas do game de gerar um desafio ao player. Qualquer pressão à zaga adversária gera chutões e passes errados dos beques digitais, e os goleiros são um capítulo à parte, todos eles parecem jogadores de várzea diante de profissionais, com reflexos e movimentação extremamente deficientes. Pra piorar, ainda existem chutes de determinadas áreas do campo que o goleiro sempre deixa entrar.
O FIFA, que desde 2005 tem sido aprimorado na questão de jogabilidade segue melhorando ano a ano. A versão final da edição 2012 do game era quase perfeita em termos de jogabilidade, tinha bons gráficos, movimentação convincente, e a primeira versão do engine de sistema de impacto, que tornava os jogadores mais "substanciosos" no campo, gerando encontrões e choques frequentes durante as partidas. Esse elemento conferia mais realismo ao jogo, e tornava a habilidade de escapar dos marcadores mais importante, mas ainda era um recurso novo, e por vezes gerava situações esquisitas nas partidas, como atletas caindo uns por cima dos outros, ou o hit dos fãs de PES no Youtube onde a versão digital do centroavante Andy Carrol parecia tascar um beijo cinematográfico no goleiro adversário após um impacto entre os jogadores os deixar enrolados um no outro.
Na versão 2013 esse problema parece ter sido sanado com o aperfeiçoamento do engine que gera os impactos, nas várias partidas que joguei em nenhum momento os jogadores ficaram presos uns por cima dos outros, nem enredados de nenhuma forma, mas os choques e encontrões estavam todos lá.
Como em termos de jogabilidade e movimentação FIFA 12 já era um simulador praticamente perfeito, o que deveria ser mexido era justamente refinar o sistema de impacto, e oferecer melhorias aos modos de jogo, como o Carreira, o Live Season e o Be A Pro. O modo carreira ganhou a possibilidade de o player se tornar técnico da sua seleção nacional (Espero que também se possa ser técnico de outras seleções que não a do seu país.), e o Be a Pro promete aumentar a interatividade do jogador com o seu treinador digital, mas tudo isso só vai ser confirmado quando o game for lançado oficialmente no fim desse mês.
De qualquer forma, em termos de jogabilidade, realismo e fidelidade ao esporte bretão, FIFA se mantém superior ao Pro Evolution, e justifica porque de cada dez games de futebol vendidos no mundo, sete são FIFA.
Pro Evolution Soccer é divertido, é legal de jogar com os amigos, mas o simulador da EA segue dando uma surra de relho na arcade da Konami.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Resenha Cinema: O Legado Bourne
Na década passada, mais especificamente em 2002, o espião desmemoriado Jason Bourne voltou a dar as caras fora da literatura (Em 1988 o herói teve a cara de Richard Chamberlain em uma mini série para a TV).
Ele foi a estrela de A Identidade Bourne, bom thriller de espionagem e ação dirigido por Robert Ludlum e estrelado por Matt Damon. Era um filme maneiro, fez uma carreira decente, e garantiu uma sequência dois anos mais tarde, em 2004.
Matt Damon retornou na pele de Bourne, mas houve uma troca na cadeira de diretor, saiu Ludlum, que se tornou produtor do longa, e entrou Paul Greengrass, o que foi ótimo para a série.
A Supremacia Bourne era geometricamente superior ao antecessor em todos os aspectos, e o terceiro filme, O Ultimato Bourne, de 2007, novamente dirigido por Greengrass e estrelado por Damon era ainda melhor e fechou com chave de ouro a trajetória de Bourne nas telonas.
Os três filmes renderam mais de um bilhão de dólares mundo afora e mexeram tanto no cinema de espionagem e ação que uma lacuna surgiu após o fim da série. Uma lacuna tão grande que até James Bond, o pai dos espiões pop do cinema, se viu tentando ser Bourne nas encarnações mais recentes.
Mas apesar das iniciais, James Bond não pode ser Jason Bourne. E os estúdios não estão dispostos a abrir mão de uma franquia rentável nesses dias.
Um quarto longa da franquia Bourne, no entanto, parecia fadado a não acontecer.
Paul Greengrass disse que não voltaria à série, e Matt Damon engrossou o coro, dizendo que, pra ele, chegava de Bourne. Entretanto Tony Gilroy, roteirista dos três longas originais, parecia disposto a tentar descascar esse pepino. E assim o fez com esse recém lançado O Legado Bourne.
O longa dá sequência a série sem precisar continuar a história de Bourne, mas sim iniciando uma trama paralela, que mostra que Treadstone e Blackbriar não eram os únicos e nem tampouco os mais radicais programas de criação de espiões do governo dos EUA, e que a deserção e exposição de Jason Bourne ao público não fizeram bem aos participantes dos demais programas, como os agentes Outcome.
Enquanto Treadstone e Blackbriar criavam assassinos invisíveis para serem espalhados pelo mundo e acionados quando houvesse necessidade, o Outcome criava espiões capazes de missões de infiltração impossíveis através de um experimento que gerava alterações genéticas em cromossomos chave, tornando os agentes mais fortes, resistentes e inteligentes através da administração de medicamentos.
Com a exposição dos programas Blackbriar e Treadstone, a CIA não tem alternativa exceto fechar o programa Outcome, matando todos os participantes do experimento.
Um desses agentes, no entanto, consegue sobreviver à limpeza da CIA.
Aaron Cross (O Gavião Arqueiro Jeremy Renner, dando as caras em outra franquia) escapa inteiro de seus algozes, mas para se manter assim, precisa concluir seu tratamento de melhoria cognitiva, e só conseguirá isso com a ajuda de Marta Shearing (Rachel Weisz, mais linda do que nunca), geneticista da empresa que fabrica os medicamentos usados pela CIA nos seus programas secretos.
Enquanto foge da CIA e do obstinado Eric Byer (Edward Norton), Cross parte em uma viagem ao outro lado do mundo tentando se manter funcional sem sua medicação e protegendo Marta do governo dos EUA, da polícia e de um agente de outro programa de alteração comportamental, o LARX.
Ótimo filme.
Tony Gilroy não é Paul Greengrass, mas certamente está, no mínimo, no mesmo patamar que Robert Ludlum. O personagem central, Aaron Cross é muito interessante, e não fica devendo em nada ao Bourne de Damon, em alguns momentos, é até um personagem com quem o público pode ter uma empatia mais genuína, e realiza todas as proezas que nos acostumamos a ver nos filmes da franquia, como as pancadarias de cortes próximos e movimentos ligeiros, os tiroteios tensos, as correrias sobre telhados e a perseguição automobilística. Faz um pouco de falta, é verdade, a grande porradaria mano a mano contra o agente inimigo da vez, mas nada que vá matar a audiência. A edição também não é o espetáculo que era na época de Greengrass, mas, novamente, nada que estrague o show, até porque o resto da parte técnica do espetáculo está irrepreensível.
De negativo mesmo, fica a excessiva necessidade de situar o filme o tempo todo no último filme O Ultimato Bourne, o que permite que voltemos a ver personagens como Noah Vosen (David Strathairn), Albert Hirsh (Albert Finney) e Pamela Landy (Joan Allen), mas prejudica o desenvolvimento das caras novas como o Eric Bayer de Norton e o Mark Turso de Stacy Keatch, além das excessivas menções a Bourne, que poderiam ter ofuscado totalmente o novo protagonista se não houvesse um bom ator no papel.
Ainda assim, fica a esperança de que essa necessidade de ligar a nova série à anterior tenha sido apenas uma forma de estabelecer uma história, e que daqui por diante a franquia de Aaron Cross possa caminhar com suas próprias pernas (E com as belas pernas da Rachel Weisz, também.).
"Jason Bourne era só a ponta do iceberg."
Ele foi a estrela de A Identidade Bourne, bom thriller de espionagem e ação dirigido por Robert Ludlum e estrelado por Matt Damon. Era um filme maneiro, fez uma carreira decente, e garantiu uma sequência dois anos mais tarde, em 2004.
Matt Damon retornou na pele de Bourne, mas houve uma troca na cadeira de diretor, saiu Ludlum, que se tornou produtor do longa, e entrou Paul Greengrass, o que foi ótimo para a série.
A Supremacia Bourne era geometricamente superior ao antecessor em todos os aspectos, e o terceiro filme, O Ultimato Bourne, de 2007, novamente dirigido por Greengrass e estrelado por Damon era ainda melhor e fechou com chave de ouro a trajetória de Bourne nas telonas.
Os três filmes renderam mais de um bilhão de dólares mundo afora e mexeram tanto no cinema de espionagem e ação que uma lacuna surgiu após o fim da série. Uma lacuna tão grande que até James Bond, o pai dos espiões pop do cinema, se viu tentando ser Bourne nas encarnações mais recentes.
Mas apesar das iniciais, James Bond não pode ser Jason Bourne. E os estúdios não estão dispostos a abrir mão de uma franquia rentável nesses dias.
Um quarto longa da franquia Bourne, no entanto, parecia fadado a não acontecer.
Paul Greengrass disse que não voltaria à série, e Matt Damon engrossou o coro, dizendo que, pra ele, chegava de Bourne. Entretanto Tony Gilroy, roteirista dos três longas originais, parecia disposto a tentar descascar esse pepino. E assim o fez com esse recém lançado O Legado Bourne.
O longa dá sequência a série sem precisar continuar a história de Bourne, mas sim iniciando uma trama paralela, que mostra que Treadstone e Blackbriar não eram os únicos e nem tampouco os mais radicais programas de criação de espiões do governo dos EUA, e que a deserção e exposição de Jason Bourne ao público não fizeram bem aos participantes dos demais programas, como os agentes Outcome.
Enquanto Treadstone e Blackbriar criavam assassinos invisíveis para serem espalhados pelo mundo e acionados quando houvesse necessidade, o Outcome criava espiões capazes de missões de infiltração impossíveis através de um experimento que gerava alterações genéticas em cromossomos chave, tornando os agentes mais fortes, resistentes e inteligentes através da administração de medicamentos.
Com a exposição dos programas Blackbriar e Treadstone, a CIA não tem alternativa exceto fechar o programa Outcome, matando todos os participantes do experimento.
Um desses agentes, no entanto, consegue sobreviver à limpeza da CIA.
Aaron Cross (O Gavião Arqueiro Jeremy Renner, dando as caras em outra franquia) escapa inteiro de seus algozes, mas para se manter assim, precisa concluir seu tratamento de melhoria cognitiva, e só conseguirá isso com a ajuda de Marta Shearing (Rachel Weisz, mais linda do que nunca), geneticista da empresa que fabrica os medicamentos usados pela CIA nos seus programas secretos.
Enquanto foge da CIA e do obstinado Eric Byer (Edward Norton), Cross parte em uma viagem ao outro lado do mundo tentando se manter funcional sem sua medicação e protegendo Marta do governo dos EUA, da polícia e de um agente de outro programa de alteração comportamental, o LARX.
Ótimo filme.
Tony Gilroy não é Paul Greengrass, mas certamente está, no mínimo, no mesmo patamar que Robert Ludlum. O personagem central, Aaron Cross é muito interessante, e não fica devendo em nada ao Bourne de Damon, em alguns momentos, é até um personagem com quem o público pode ter uma empatia mais genuína, e realiza todas as proezas que nos acostumamos a ver nos filmes da franquia, como as pancadarias de cortes próximos e movimentos ligeiros, os tiroteios tensos, as correrias sobre telhados e a perseguição automobilística. Faz um pouco de falta, é verdade, a grande porradaria mano a mano contra o agente inimigo da vez, mas nada que vá matar a audiência. A edição também não é o espetáculo que era na época de Greengrass, mas, novamente, nada que estrague o show, até porque o resto da parte técnica do espetáculo está irrepreensível.
De negativo mesmo, fica a excessiva necessidade de situar o filme o tempo todo no último filme O Ultimato Bourne, o que permite que voltemos a ver personagens como Noah Vosen (David Strathairn), Albert Hirsh (Albert Finney) e Pamela Landy (Joan Allen), mas prejudica o desenvolvimento das caras novas como o Eric Bayer de Norton e o Mark Turso de Stacy Keatch, além das excessivas menções a Bourne, que poderiam ter ofuscado totalmente o novo protagonista se não houvesse um bom ator no papel.
Ainda assim, fica a esperança de que essa necessidade de ligar a nova série à anterior tenha sido apenas uma forma de estabelecer uma história, e que daqui por diante a franquia de Aaron Cross possa caminhar com suas próprias pernas (E com as belas pernas da Rachel Weisz, também.).
"Jason Bourne era só a ponta do iceberg."
Resenha Cinema: Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros
Preciso confessar que jamais tive vontade de ler os romances de Jane Austen, como Desejo e Reparação, Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito. Assisti a alguns dos filmes que adaptam a obra da britânica, mas mesmo assim, sem lá muito interesse. Os clássicos romances da senhora Austen, na verdade, jamais me despertaram nenhum interesse.
Entretanto, a versão escrita por Seth Grahame-Smith, que adicionava zumbis à história original de Austen... Esse parecia algo divertido de se ler.
Mais divertido ainda parecia ser o segundo romance do autor no estilo mashup, este Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, que mostrava o estoico décimo sexto presidente dos EUA como um incansável combatente dos mortos-vivos sugadores de sangue vindos da Europa.
Foi justamente esse segundo livro, que enquanto via o co-irmão Orgulho, Preconceito e Zumbis engasgar, perdendo diretor, protagonista e sendo adiado, chegou às telonas graças ao produtor Tim Burton e ao diretor Timur Bekmambetov.
O filme mostra um passado oculto de Lincoln a partir de um diário secreto do próprio, onde ele conta como dividiu sua vida entre a dedicação ao direito e à sua família, e o combate aos vampiros.
A trama acompanha Lincoln desde os nove anos de idade, quando perde sua mãe após uma discussão de seu pai com Jack Barts (Marton Csokas), proprietário de uma empresa de expedição.
Abraham se dedica aos estudos e ao trabalho até a morte de seu pai, quando finalmente parte em busca de vingança contra Barts.
É nesta tentativa de se vingar que Lincoln (Benjamin Walker, filho perdido de Liam Neeson?) conhece a verdade sobre vampiros após quase morrer nas mãos de seu alvo e ser salvo por Henry Sturges (Dominic Cooper).
Sturges ensina a Abe como caçar e matar os vampiros, e então envia o jovem à Springfield, Illinois, onde ele monta sua base e inicia sua caçada enquanto aguarda pela chance de finalmente se vingar.
Entretanto, enquanto atenta à sua vendeta particular, Abraham pode acabar se tornando parte de algo muito maior, conforme descobre que a escravidão no sul dos Estados Unidos serve a interesses muito mais sombrios do que os fazendeiros da região.
Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é bem divertido.
A mão de Timur Bekmambetov não pesa em demasia, mas o diretor de Guardiões da Noite e O Procurado deixa sua assinatura bastante visível, em especial nas sequências de ação, repletas de sangue e acrobacias em câmera lenta, e fazendo um uso bastante satisfatório da computação gráfica além de saber dosar com estilo o efeito 3-D, que fica discreto e maneiro.
O elenco do longa, que ainda tem Rufus Sewell como o líder vampiro Adam, a delicinha Mary Elizabeth Winstead como Mary Todd Lincoln, Jimmy Simpson como Joshua Speed e Anthony Mackie como Will Johnson não deixa a desejar, e embora o início do terceiro ato do filme, já com um Lincoln cinquentão e presidente no início da Guerra Civil Americana seja um tanto arrastado, ele logo retoma o ritmo ágil e mostra um fecho bastante empolgante para o longa.
No fim das contas Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é um filme divertido, ligeiro, menos pretensioso do que o livro que lhe serve de base e embora tenha alguns problemas de ritmo aqui e ali, consegue entreter a audiência sem maiores percalços.
Não é obrigatório no cinema, mas assista ao DVD.
"Apenas os vivos podem matar os mortos."
Entretanto, a versão escrita por Seth Grahame-Smith, que adicionava zumbis à história original de Austen... Esse parecia algo divertido de se ler.
Mais divertido ainda parecia ser o segundo romance do autor no estilo mashup, este Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, que mostrava o estoico décimo sexto presidente dos EUA como um incansável combatente dos mortos-vivos sugadores de sangue vindos da Europa.
Foi justamente esse segundo livro, que enquanto via o co-irmão Orgulho, Preconceito e Zumbis engasgar, perdendo diretor, protagonista e sendo adiado, chegou às telonas graças ao produtor Tim Burton e ao diretor Timur Bekmambetov.
O filme mostra um passado oculto de Lincoln a partir de um diário secreto do próprio, onde ele conta como dividiu sua vida entre a dedicação ao direito e à sua família, e o combate aos vampiros.
A trama acompanha Lincoln desde os nove anos de idade, quando perde sua mãe após uma discussão de seu pai com Jack Barts (Marton Csokas), proprietário de uma empresa de expedição.
Abraham se dedica aos estudos e ao trabalho até a morte de seu pai, quando finalmente parte em busca de vingança contra Barts.
É nesta tentativa de se vingar que Lincoln (Benjamin Walker, filho perdido de Liam Neeson?) conhece a verdade sobre vampiros após quase morrer nas mãos de seu alvo e ser salvo por Henry Sturges (Dominic Cooper).
Sturges ensina a Abe como caçar e matar os vampiros, e então envia o jovem à Springfield, Illinois, onde ele monta sua base e inicia sua caçada enquanto aguarda pela chance de finalmente se vingar.
Entretanto, enquanto atenta à sua vendeta particular, Abraham pode acabar se tornando parte de algo muito maior, conforme descobre que a escravidão no sul dos Estados Unidos serve a interesses muito mais sombrios do que os fazendeiros da região.
Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é bem divertido.
A mão de Timur Bekmambetov não pesa em demasia, mas o diretor de Guardiões da Noite e O Procurado deixa sua assinatura bastante visível, em especial nas sequências de ação, repletas de sangue e acrobacias em câmera lenta, e fazendo um uso bastante satisfatório da computação gráfica além de saber dosar com estilo o efeito 3-D, que fica discreto e maneiro.
O elenco do longa, que ainda tem Rufus Sewell como o líder vampiro Adam, a delicinha Mary Elizabeth Winstead como Mary Todd Lincoln, Jimmy Simpson como Joshua Speed e Anthony Mackie como Will Johnson não deixa a desejar, e embora o início do terceiro ato do filme, já com um Lincoln cinquentão e presidente no início da Guerra Civil Americana seja um tanto arrastado, ele logo retoma o ritmo ágil e mostra um fecho bastante empolgante para o longa.
No fim das contas Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é um filme divertido, ligeiro, menos pretensioso do que o livro que lhe serve de base e embora tenha alguns problemas de ritmo aqui e ali, consegue entreter a audiência sem maiores percalços.
Não é obrigatório no cinema, mas assista ao DVD.
"Apenas os vivos podem matar os mortos."
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Rapidinhas do Capita
A Larissa acordou satisfeita da vida naquela manhã. Era a primeira vez que acordava na casa do Renato. Melhor ainda, era um sábado, e eles poderiam passar a manhã usufruindo da presença um do outro como haviam usufruído do corpo um do outro naquela madrugada de paixão.
Eram dez e meia quando a Larissa acordou. Renato já havia levantado, ela ouvia o som da TV. Ele devia estar jogando video-game. Ela se levantou leve, foi ao banheiro, escovou os dentes, lavou o rosto, e então flanou até a cozinha e fez um chá.
Pouco depois entrou na sala toda faceirinha, sorridente de camisola de bolinhas, pantufas e a xícara de chá de frutas vermelhas fumegando na mão.
Estava alegre. Fez um passinho de dança antes de caminhar pela frente da TV para abrir a janela, e proferiu um "Bom dia, mundo", todo fofinho. Virou-se lépida, cantarolando Cássia Eller:
-Quem sabe ainda sou uma garotinha... - E voltou, passando novamente na frente da TV.
Foi quando o Renato, sentado no sofá, resmungou, batendo com as mãos espalmadas nas coxas e disse:
-Buzina antes de passar, ô espelho sem aço.
A Larissa trocou de imediato o sorriso por uma expressão surpresa. E sem dizer nada continuou andando em direção ao quarto. Respirou fundo e continuou:
-Esperando o ônibus da escola... Sozinha...
Mas o Renato grunhiu:
-E dá pra cantar mais baixo, porra?
Não adianta. Não há romantismo que a rotina não massacre.
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Eles voltaram.
Após filmar em segredo durante um breve período na Grécia, o diretor/roteirista Richard Linklater, e os atores/roteiristas Julie Delpy e Ethan Hawke divulgaram a primeira foto de Antes da Meia-Noite (Before Midnight), terceira incursão do casal Jesse e Céline às telonas.
Vem aí mais uma sessão de sorrisos e coração leve.
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-Sorria. - Disse o Giordano, olhando bem fundo nos olhos da Sandra enquanto segurava sua mão.
-Não, obrigada. - Ela respondeu, muito séria, sem olhar de volta, e tirando a mão do meio das dele.
Mais tarde, naquela noite, se despediram sabendo que não voltariam a se falar.
Quadrinhos: Biblioteca Histórica Marvel: Homem-Aranha volume 4
O Homem-Aranha precisou completar cinquenta anos de idade e ter um filme novo nos cinemas pra Panini tomar vergonha na cara e publicar mais uma edição do que se tornou meu quadrinho de super-herói preferido nos últimos anos.
Quase três anos após a publicação do terceiro volume da série, em outubro de 2009, chegou às bancas e livrarias o quarto encadernado da Biblioteca Histórica Marvel, compilação pra lá de caprichada das histórias seminais do Homem-Aranha nos quadrinhos. O grande diferencial desse quarto volume é que as histórias começam a deixar de ser tão seminais. Já começamos a ver o retorno de vilões apresentados anteriormente, e as consequências de atos do herói em histórias prévias.
A edição, que compila as edições 31 à 40 do gibi The Amazing Spider-Man mostra o retorno do Doutor Octopus (Numa história particularmente marcante "Se É Esse Meu Destino..."), de Kraven o Caçador, onde o vilão incorpora o Homem-Aranha para forçá-lo a um jogo de gato e rato (Semelhanças com A Última Caçada de Kraven não devem ser mera coincidência), do Magma, e claro, do Duende Verde, em outra história muito marcante.
Ainda é nessa edição que surgem dois coadjuvantes que se tornariam parte intrínseca da mitologia do personagem: É ao se matricular na Universidade Empire State que Peter conhece Harry Osborn, e Gwen Stacy. O primeiro viria a ser o melhor amigo de Peter com o passar dos anos, e a estonteante loirinha seria o grande amor de sua vida substituindo Lizz Allen, que deu uma desaparecida e Betty Brant, que sairia abruptamente da vida de Peter por um longo período.
Outro ponto interessante que essa edição especial mostra é a passagem de bastão de Steve Ditko para John Romita como desenhista titular da série na edição 39, a penúltima história do encadernado, dando ao leitor a oportunidade de acompanhar o que talvez sejam os dois mais importantes e talentosos artistas a desenhar o herói aracnídeo no mesmo livro, tudo isso sob os deliciosos roteiros de Stan Lee, repletos de humor, aventura e inocência.
Corra até a banca. O capricho da encadernação em capa dura, com papel de qualidade no miolo deixa qualquer estante de nerd mais bonita, e pra cabeça de teia que se preze essas histórias são essenciais. Os sessenta e cinco reais nem pesam tanto no bolso.
E que a Panini não leve mais três anos pra colocar o número cinco nas livrarias.
"Valha-me Força de Aranha!"
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Rapidinhas do Capita
Morreu, na segunda feira, dia três de setembro, o ator Michael Clarke Duncan. Se você não sabe quem é, é aquele negão enorme, muito forte, com uma voz cavernosa que interpretou o Rei do Crime Wilson Fisk no filme do Demolidor, foi o capanga da máfia Frakie Figo em Meu Vizinho Mafioso, e o gigante gentil John Coffey em À Espera de Um Milagre.
Lembrou dele, né?
Michael Clarke Duncan estava hospitalizado desde julho, após sofrer uma parada cardíaca da qual foi salvo por sua noiva.
O gigante de quase dois metros de metros de altura e cerca de cento e cinquenta quilos foi segurança de vários astros hollywoodianos antes de iniciar sua carreira em 1995. Fez comédias e filmes de ação, mas acabou sendo, de fato revelado ao mundo no drama À Espera de Um Milagre onde interpretava um ingênuo prisioneiro condenado à morte em uma prisão do sul dos Estados Unidos. Sua performance na fita estrelada por Tom Hanks rendeu-lhe uma merecida indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Big Mike Duncan tinha 54 anos e estaria planejando se casar com Omarosa Manigault.
Literalmente uma grande perda. Descanse em paz, Big Mike.
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O Afrânio, sozinho em casa, lendo um livro qualquer, espirrou, bem alto. Imediatamente seguiu-se ao espirro um "Saúde." vindo de lugar nenhum.
Afrânio achou esquisito. E supôs ter sido apenas fruto de sua imaginação.
No dia seguinte, ao chegar do trabalho e largar suas chaves sobre a mesa, ouviu, vindo de lugar nenhum, a mesma voz da noite anterior a lhe perguntar:
-Como foi o trabalho.
Mesmo que não visse o interlocutor, na verdade a interlocutora, já que era uma voz claramente feminina, o Afrânio, instintivamente respondeu. Contou até alguns detalhes do seu dia, antes de entrar no chuveiro.
À noite, quando se preparava para dormir, o Afrânio desligou o abajur ao lado da cama e enquanto se virava sobre o travesseiro ouviu a voz misteriosa lhe desejar boa noite, e respondeu, também, com um boa noite, entes de fechar os olhos.
E o Afrânio, que não acreditava em espíritos nem em fantasmas, chegou a achar que pudesse estar ficando maluco, mas a verdade é que a perspectiva de ter alguém, mesmo invisível, pra lhe desejar "saúde" quando espirrasse, ou pra perguntar como fora seu dia quando chegasse do trabalho era tremendamente animadora.
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Estavam sentados no restaurante. Ela perguntou pra ele, impaciente:
-Tu já sabe o que tu quer?
Ele, olhando o cardápio, indeciso, disse:
-Não. E tu?
-Eu sei. - Ela respondeu, e então sorriu, triste, e olhou pros próprios sapatos.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Resenha Cinema: Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo
Imagine o mundo por acabar. Um asteroide de proporções cataclísmicas se aproximando da Terra, os cientistas e as agências de defesa esgotaram as suas opções de tentativas de neutralizar a ameaça, e o que resta à humanidade é esperar pelo inevitável e inexorável fim.
O que isso faria com a humanidade? O que essa perspectiva de extinção quase absoluta causaria na sociedade em que vivemos? Onde o contato é cada vez menor exceto através de mensagens de texto e atualizações do facebook?
Onde as pessoas encontrariam apoio para superar, ou ao menos suportar a extinção, quando as relações interpessoais são cada vez menos pessoais?
Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo explora com graça a resposta à essa pergunta.
No longa de Lorene Scafaria, Dodge Peterson (Steve Carrell, ótimo.) está tentando lidar com o fim do mundo à sua própria maneira após ser abandonado por sua esposa assim que o impacto do asteroide Matilda com a Terra torna-se uma certeza aterradora.
Dodge tenta manter sua rotina o mais normal possível em meio ao inevitável caos que toma conta de várias partes do globo. Enquanto segue vendendo seguros, Dodge vai percebendo os colegas abandonarem o emprego ou cometerem suicídio, os jantares entre amigos se transformando em orgias regadas a heroína, e as pessoas desesperadas por qualquer forma, ainda que fugaz, de contato humano. Todos ansiando desesperadamente por ter a seu lado alguém com quem partilhar os momentos finais da aventura humana na Terra.
Dodge não está desesperado por qualquer medida de afeto gratuito ou sintético, e mantém-se afastado das pessoas até que, por acaso, acaba conhecendo Penny (Keira Knightley, adorável, um doce.).
A jovem inglesa, sua vizinha nos últimos meses com quem jamais havia trocado nenhuma palavra e que subitamente aparece na sua escada de incêndio após romper com o namorado.
Ao mesmo tempo, Dodge descobre que Olivia, a garota por quem era apaixonado no colegial ainda pensa nele, e solitário e arrasado por uma revelação, resolve ir atrás dela, acompanhado por Penny, que inadvertidamente causou-lhe um tremendo contratempo, e pelo cão abandonado "Desculpa", numa viagem para encontrar a mulher que ama, salvar seu coração, e não estar sozinho no fim de todas as coisas.
Em sua jornada, Dodge e Penny descobrem o valor de muitas coisas, aprendem um com o outro, encontram pessoas lidando de formas diversas com a iminência da destruição do planeta, como Speck, o ex-namorado militar de Penny, ou o policial desesperado para cumprir suas cotas ou o pessoal do restaurante Frendsy's, que continua aberto e extremamente amigável mesmo no limiar do Armagedom, e tentam se salvar mutuamente, de uma forma ou de outra.
A mistura de filme de apocalipse com road movie, e comédia com drama é ótima. A direção delicada de Lorene Scafaria consegue equilibrar os elementos do filme (Também roteirizado por ela) em uma mistura extremamente agradável, que consegue arrancar risos e lágrimas na mesma medida, tirando o melhor de seus protagonistas, contando ainda com um talentoso elenco de apoio (com nomes como Martin Sheen, Derek Luke e Adam Brody, além de outros) para contar uma história doce, tocante, divertida, e que ainda guarda algumas reviravoltas honestas e belas para o final do que se tornou instantaneamente um dos meus filmes favoritos do ano ao perguntar:
Com quem tu gostaria de estar no fim do Mundo?
"-Eu pensei que nós fôssemos salvar um ao outro.
-Nós salvamos."
Resenha Cinema: Os Mercenários 2
O cinema voltou a ser macho em 2010, quando Sylvester Stallone formou uma confraria de brutos e montou o show de violência e ação descerebrada regada à testosterona de Os Mercenários, filme que fez muito marombeiro suar na tanga ao juntar Stallone, Schwarzenegger e Bruce Willis no mesmo cenário em uma cena.
Sucesso de bilheteria, a união de alguns dos maiores astros de ação dos anos oitenta e dos dias de hoje mostrou que ainda havia espaço pra fitas cheias de explosões e pancadaria cheias de atores incapazes de fazer três expressões faciais contanto que a fita em questão fosse divertida.
Bueno, a sequência era bastante óbvia, pra não dizer obrigatória, e, dois anos depois, chegou ao cinema Os Mercenários 2.
No longa, Barney Ross (Stallone) está de volta, junto com ele continuam Lee Christmas (Jason Statham), Yang (Jet Li), Gunnar (Dolph Lundgren), Hale Caesar (Terry Crews) e Toll Road (Randy Couture), mais a cara nova Billy The Kid (Liam Hemsworth), e o filme, novamente abre com uma ótima sequência de ação.
Após resgatar um bilionário chinês (E um velho amigo, de brinde) e voltar aos EUA, o grupo volta a ser contatado por Church (Bruce Willis), que o coloca em uma missão com Maggie (Nan Yu), para recuperar um item perdido em um avião abatido.
O que deveria ser uma missão simples, porém, se torna uma cruzada de vingança (Porque vingança, como todos sabem, é coisa de macho) após o caminho do grupo de Ross se cruzar com o de Vilain (Jean Claude Van Damme, que a gente não consegue ter certeza se entrou de corpo e alma na brincadeira ou se está levando seu papel muito a sério).
Com um dos seus homens de confiança morto, Barney parte com tudo para dar o troco, e por consequência, salvar o mundo.
O novo filme, dessa vez dirigido por Simon West, de Con-Air, substituto de Stallone na cadeira do diretor é melhor do que seu antecessor. O longa de West sabe rir de si mesmo, e usar o humor e o absurdo em nome do espetáculo que esse filme pode ser.
O roteiro, novamente com a mão de Stallone (que parece estar derretendo, mas mantém a média do seu trabalho de sempre, sendo um herói de ação gente boa), dá mais espaço a Trench (Schwarzenegger) e Church, que têm suas próprias sequências de ação (e incontáveis piadinhas e frases de efeito), além de usar o Gunnar de Lundgren de maneira mais leve e cômica, especialmente se comparado ao ressentido psicopata do primeiro longa. Terry Crews também tem seus momentos de fazer rir, e até Couture ganha lá suas tiradas. Statham aparece mais resmungão e menos risonho do que no primeiro longa, mas tem algumas das melhores cenas de luta do filme. E, claro, há a participação mais do que especial de Chuck Norris, que se apresenta com um novo "Chuck Norris Fact", e gera mais uns dois ou três cada vez que dá as caras no longa como o mercenário Booker.
Não espere nenhum tipo de grande atuação no filme. Não há nenhuma. Não espere, também, um roteiro coeso, ou sequer um bom argumento. Em Os Mercenários 2, isso não existe, nem efeitos especiais convincentes, e nem mesmo um bom trabalho de câmera, pois Os Mercenários 2 é filme de macho, então, o que se encontra no longa é sangue, tiro, explosão e porrada, que é o que homem que é homem gosta de ver no cinema enquanto rosna, baba, bate no peito e grita que é muito macho.
Aliás, Os Mercenários 2, é tão macho que não tem nem mulher bonita. A mocinha do filme, Nan Yu, luta kung fu, dá tiro, e é feia pra danar.
Não tem como um filme ser mais macho que isso.
"-Eu vou voltar.
-A volta dos que não foram? Fique aí esperando. Eu vou voltar.
-Yippee-ki-yay...
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