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segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Resenha Cinema: Dredd
Em 1977 o escritor de quadrinhos John Wagner, com a participação do desenhista Carlos Ezquerra e do editor Pat Mills, criou o "tira durão" definitivo para figurar no elenco do quadrinho britânico 2000 AD.
Na visão de futuro distópico de Wagner e companhia o Mundo de cento e vinte anos no futuro fora consumido pela guerra atômica e os sobreviventes se esconderam das ruínas do planeta em megalópoles hiper populosas conhecidas como Mega Cidades.
Na cidade de Mega City 1, lar de 400 milhões de pessoas vivendo em imensos complexos habitacionais conhecidos como "city Blocks", assim como em todas as Mega Cidades, o crime se tornou uma praga. Uma praga tão incontrolável e devastadora que a única forma de controlá-la, ou ao menos mantê-la em níveis toleráveis, foi a criação do Sistema de Juízes. Uma tropa de mantenedores da lei formada por agentes que acumulam o papel de polícia, juiz, júri e, se necessário, executor.
Na corporação, nenhum Juiz é mais temido e eficiente do que Joseph Dredd.
O gibi de Wagner é extremamente bem sucedido na Grã Bretanha, onde é publicado de forma praticamente ininterrupta desde 1977, até 1990 na 2000 AD e de 90 até hoje na sua própria revista.
A longevidade de Dredd se deve tanto à qualidade do trabalho de Wagner e seus associados quanto ao carisma do personagem, um Dirty Harry futurista que vive em um futuro tenebroso que serve ao mesmo tempo como palco às aventuras do juiz e cenário daquela tradicional crítica social que parece inerente ao quadrinho britânico, que usa o poder conferido ao herói como uma crítica aos estados policialescos, e pinta com cores berrantes um inspirado retrato das tribos urbanas inglesas do final dos anos setenta em histórias tão doidas que só podiam, mesmo, originar uma legião fiel de seguidores.
Era óbvio que um personagem tão longevo e com aquela cara típica do herói americano que toma a lei nas suas próprias mãos não ficaria restrito apenas aos quadrinhos.
Foi em 1995 que o herói saiu dos gibis para a telona pela primeira vez. O diretor Danny Cannon chamou Sylvester Stallone, Armand Assante e Rob Schneider e juntos eles cometeram O Juiz. Filme ruim pra mais de metro que escondeu o personagem sob o astro de ação, amoleceu Dredd, e ainda por cima tirou seu capacete (coisa que jamais aconteceu nos gibis.).
Após o fiasco o personagem permaneceu restrito aos quadrinhos até que, nesse ano de fim do mundo em que não há personagem que não ganhe adaptação, remake ou sequência, resolveu dar as caras em celuloide mais uma vez.
Pete Travis, do bem intencionado Ponto de Vista foi quem assumiu a bronca, e apesar do meu desdém absoluto por Dredd 3D desde a primeira notícia, resolvi encarar o filme nesse fim de semana, e posso dizer, sem medo de errar, que 2012 continua muito bom pra adaptações de quadrinhos.
Dredd reapresenta o personagem Joe Dredd (Karl Urban, divertidíssimo no papel, rabugento e raivoso), juiz mais temido de Mega City 1.
Dredd é incumbido de avaliar se a aspirante Cassandra Anderson (Olivia Thirlby), uma jovem mutante com poderes psíquicos, tem condições de aplicar a lei na corporação de Juízes.
Em sua primeira missão, Anderson acompanha Dredd até o bloco de Peach Trees, um enorme complexo habitacional de duzentos pavimentos com milhares de habitantes onde o crime impera sob a forma de Ma-Ma (Lena Headey), uma violenta traficante de drogas que prosperou através de sua crueldade implacável e da droga Slo-Mo, um narcótico que faz com que o usuário experimente a sensação de vivenciar a realidade a um por cento da velocidade normal.
Após uma batida, Dredd e Anderson se veem isolados e incomunicáveis em Peach Trees, sendo obrigados a lutar, mais do que manter a lei, para sobreviver à ira da gangue de Ma-Ma.
Em uma palavra?
Divertidíssimo.
Dredd é um filmão pipoca no melhor sentido da expressão. Pete Travis e o roteirista Alex Garland (parceiro recorrente de Danny Boyle) eliminaram a frescura da equação e conseguiram escapar da chatice dos filmes de origem, dos interesses românticos artificiais e da viadagem da censura livre, fazendo um filme extremamente honesto e coerente para com o personagem em sua fonte original ao resolverem contar uma história simples, de apenas mais um dia de trabalho do Juiz Joseph Dredd, casualmente com a recruta Cassandra Anderson a tiracolo numa missão em que dá merda.
Travis usa cenários claustrofóbicos e econômicos com fotografia chapada que contrastam com belas sequências em câmera lenta que ganham cores brilhantes para ilustrar o ponto de vista dos usuários da Slo-Mo, essas sequências geralmente mostram os viciados se dando muito mal em tiroteios com Dredd, e são plasticamente muito bonitas, além de extremamente violentas.
O diretor e seu protagonista, o Eomer Karl Urban (sempre com os lábios contorcidos pra baixo como nas ilustrações de capa dos quadrinhos de Dredd e entoando o "Eu sou a lei" cavernso que quem já leu um quadrinho do personagem sempre imaginou.), merecem aplausos, também, por serem extremamente fiéis ao gibi, e leais ao espírito do personagem, que não remove seu elmo em nenhum momento do filme, e mantém a rabugisse quase neurótica que o consagrou na 2000 AD, assim como a absoluta ausência de dúvida, remorso ou senso de humor.
Lena Headey não faz feio no papel de Madeline Madrigal, a Ma-Ma, e mesmo fazendo cara de má em alguns momentos e não tendo expressão nenhuma em outros, convence como vilã. Olivia Thirlby é engraçadinha, faz uma bacana versão recruta da juíza Anderson, que apesar da inexperiência ainda consegue seus bons momentos de heroísmo. O elenco, que tem ainda Wood Harris e Langley Kirkwood não compromete, e nem tinha como.
Pete Travis e Alex Garland conseguiram sintetizar tudo o que o juiz Dredd tem que ser em qualquer midia nos 95 minutos de cinema de primeira, com parte técnica acima da média, ação de qualidade e frases de efeito de rachar o bico de Dredd.
Será que custa sonhar com uma sequência da mesma equipe?
"-Estava pensando em quando você notaria que esqueceu o capacete.
-O capacete interfere nas minhas habilidades psíquicas, senhor.
-Uma bala interferiria mais.
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Resenha muito boa. Urban ficou perfeito como juiz Dredd, lembrando protagonista de filme de ação dos anos 80. É um filme sem frescura que com certeza agradou os fans do gênero.
ResponderExcluirO visual que a película adquire quando alguém ingere a droga, inclusive, é um dos destaques do filme. Apenas dois fatos incomodam, mesmo que sem prejudicar o rumo da trama: amei o desempenho de Lena Headey, sempre ela consegue destacar graças à sua grande obra. Amei se trabalho na série Game of Thrones 7 no site oficial eu vi mais detalhes da nova temporada. Eu gostei a originalidade da história e da grande equipe de produção.
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