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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Resenha Cinema: A Teoria de Tudo


Já disse antes, neste mesmo espaço, que as cinebiografias são searas difíceis de se trilhar. Os envolvidos em levar à telona a história de vida de uma pessoa real que muitas vezes é um ícone ou um ídolo é caminhar em terreno perigoso, especialmente se o biografado for uma personalidade que continua viva, e se a biografia em questão tiver momentos que possam ser, digamos, constrangedores, para o biografado e seus entes queridos.
Com tudo isso em consideração, podemos dizer que A Teoria de Tudo, filme de James Marsh (O Equilibrista), escrito por Anthony McCarten (A Morte do Super-Herói) a partir do livro de Jane Hawking Viagem ao Infinito - Minha Vida com Stephen, era uma passeio por um terreno pedregoso.
A missão de contar a vida do mais aclamado astrofísico do mundo a partir do ponto de vista de sua primeira esposa poderia, então, ser bastante complexa à medida em que um diretor e um roteirista podem se ver melindrados e colocar o biografado em um pedestal, até por que provavelmente ninguém quer partir pra ignorância e arrasar uma pessoa que está viva pra ver o filme e até ajudou na produção... Talvez isso explique a maneira convencional, quase chapa branca, com que a história é contada.
A história, claro, conta como o jovem Stephen Hawking (Eddie Redmayne), então com 21 anos graduando-se em Cambridge, conhece Jane (Felicity Jones), estudante de arte procurando um PhD em poesia medieval ibérica.
A doce "boy meets girl" que se desenha enquanto os dois estão se conhecendo é estremecida quando Stephen, após uma sequência de pequenos acidentes que culmina com um tombo feio no pátio da universidade, recebe o diagnóstico da Doença do Neurônio Motor, também chamada de Doença de Lou Gherig, uma condição que mina a coordenação motora da vítima, eventualmente acabando com todos os movimentos controlados do corpo.
Ao receber a notícia de que sua expectativa de vida é de apenas dois anos, Hawking tenta se afastar, mas Jane não permite.
Eventualmente os dois se casam e formam uma família enquanto a doença de Stephen avança e ele segue reescrevendo tudo o que se sabia a respeito de astrofísica até então.
Entretanto, enquanto o corpo de Stephen Hawking se atrofia cada vez mais, e sua mente avança rumo às profundezas do universo em seus estudos e teoremas, Jane, que também tinha aspirações acadêmicas e profissionais, tem que lidar com a carga de cuidar de uma família que, a despeito da vontade de seu marido, não era normal.
É quando surge Jonathan (Charlie Cox), jovem viúvo que comanda o coral da igreja local, e, aos poucos, adentra o seio familiar dos Hawking, tocando o coração de Jane, que, a despeito de sua obrigação para com Stephen, tem seus desejos e anseios.
A sugestão de triângulo amoroso (o filme sugere mas não confirma que haveria um consentimento tácito de Stephen em relação ao afeto de Jane para com Jonathan) é estremecida quando Hawking contrai pneumonia durante uma viagem à França, necessita de uma traqueostomia, e perde a capacidade de fala, ganhando, à seguir, o sintetizador de voz eletrônica que, eventualmente, se tornaria sua marca-registrada.
O filme aborda com tato e bom-gosto os percalços da vida do casal, que culminaria com um divórcio em 1995, mas talvez o faça com tanta deferência que, se não fosse pelo trabalho do casal protagonista, seria quase estéril em termos de emoção.
Felicity Jones se esforça para dar conteúdo e carga emocional à uma Jane que aparece muito mais como uma contrita e religiosa mãe de família sofrida do que como uma pessoa de verdade, com anseios e aspirações próprias, ainda assim, quando ela lida com a doença de Stephen, e quando Jonathan entra, e depois sai de sua vida, ela tem ferramentas com que trabalhar, e trabalha muito bem.
Eddie Redmayne está ótimo. O ator habituado a papéis secundários e filmes menores abocanha com vontade o papel de sua vida, e em nenhum momento parece que mordeu mais do que pode mastigar.
Seu Stephen Hawking, jovem e em perfeitas condições físicas é um gênio crível e atraente à seu modo. Conforme a doença avança, ele gradativamente vai abrindo mão das suas expressões faciais e movimentos normais, e mesmo retratando de maneira dolorosamente perfeita as limitações impostas pela doença, jamais deixa de exibir um espectro de emoções amplo e tocante.
A cena em que ele e Jane percebem que seu casamento chegou ao fim, onde as lágrimas escorrem por seu rosto paralisado, é lindíssima, e atuada à perfeição.
Ainda que o respeito e o bom gosto tenham levado o roteirista e o diretor a seguir a cartilha, e olhar sua história de maneira algo distante, Jones, e especialmente Redmayne sucederam em emprestar alma e coração à notável jornada dos personagens reais. E se por vezes o filme falha em fazer e responder algumas perguntas que inevitavelmente ficam na cabeça da plateia, a verdadeira história de superação de Stephen e Jane dão o lastro de que o filme precisa para ser realmente emocionante.
Assista no cinema.

"Não deveria haver limites à capacidade humana. Nós somos todos diferentes. Mesmo que a vida pareça má, sempre há algo que você pode fazer, e ser bem sucedido. Enquanto há vida, há esperança.""

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Resenha Cinema: Whiplash: Em Busca da Perfeição


Ainda ontem estava pichando o trailer do novo Quarteto Fantástico nesse mesmo espaço, achincalhando em especial, o elenco, encabeçado por Miles Teller, que viverá Reed Richards no reboot.
Pois algumas horas mais tarde, tive a oportunidade de ver Miles Teller no que, pra mim, é o melhor filme do ano até o momento, este Whiplash: Em Busca da Perfeição, do jovem (e quase estreante na direção) Damien Chazelle, que tinha a direção de um único longa metragem no currículo.
Na trama de Whiplash, conhecemos o jovem Andrew Neimann (Teller), um dedicado e talentoso baterista de 19 anos que cursa o prestigioso conservatório musical de Schaffer, em Nova York.
Lá, Andrew é o baterista reserva da Banda Nassau, quando é chamado para participar da Banda de jazz Studio, turma do temido e respeitado professor Terence Fletcher (J. K. Simmons, um capítulo à parte), um regente implacável que não tem o menor pudor em vilipendiar, humilhar e até mesmo esbofetear seus músicos na sua busca por perfeição e sua absoluta intolerância a qualquer tipo de erro.
Enquanto ensaia e pratica de maneira obstinada para alcançar o nível de excelência proposto por Fletcher, Andrew, cego pela ambição de se tornar grande, deixa sua vida pessoal degringolar.
Assim que recebe o convite para a Studio, ele começa a sair com a bela Nicole (Melissa Benoist, de Glee), a moça que atende na bomboniére do cinema que ele frequenta periodicamente com seu pai, Jim (Paul Reiser, muito bem), mas a rotina de ensaios extenuantes sob a tutela cruel de Fletcher logo começam a afastá-lo de todos que ama, ao mesmo tempo em que ele sua e sangra sobre a bateria conforme seus esforços seguem insuficientes para agradar ao professor.
Tremendo filme.
Há muito mais em Whiplash do que "J. Jonah Jameson atormenta Reed Richards", o longa, escrito pelo próprio Chazelle (que, como roteirista, tem no currículo coisas como O Último Exorcismo Parte 2 e Toque de Mestre) e rodado em apenas 19 dias é uma genial obra sobre a relação entre professor e aluno transformada em um thriller sobre até onde alguém está disposto a se violentar em busca de sucesso, e até onde alguém está disposto a brutalizar outros de modo a empurrá-los na direção correta.
Miles Teller está ótimo no papel principal. Seu retrato de Andrew Neiman consegue equilibrar a insegurança e a apreensão de um quase adolescente criado pelo pai amoroso e a fagulha de confiança que o prodígio não lapidado que conhece o caminho que deseja trilhar necessariamente deveria mostrar.
E J. K. Simmons?
Simmons está monstruoso. Seu personagem, repleto de armadilhas que poderia facilmente se tornar um pastiche, uma mistura de Dr. House e Sargento Foley com professor Holland é interpretado com tanto acuro que, por mais abusivo e vilanesco que Fletcher eventualmente seja, nós não podemos negar o fundamento de seu discurso.
Em um mundo onde reprovar um aluno é considerado errado porque "expô-lo ao fracasso" pode ser "traumático" não é difícil partilhar a apreensão do músico com a possibilidade de deixar passar o "próximo Charlie Parker" porque não o impulsionou o suficiente, e sua máxima de que não existem duas palavras mais nocivas do que "bom trabalho".
Não bastasse o argumento bem sacado, as excelentes atuações, a boa fotografia (de Sharone Meir) e a brilhante edição (de Tom Cross), Whiplash ainda tem fôlego pra se encaminhar para um final feliz água com açúcar e, de repente, virar tudo rumo a um final tenso de deixar os músculos da barriga contraídos, numa performance espetacular dos dois atores e de seus personagens.
Bravo!


"Você estava correndo ou atrasando? Se você deliberadamente sabotar a minha banda, eu te fodo feito um porco. Oh, meu Deus... Você é uma dessas pessoas de lágrima solitária? Você é um veadinho inútil que agora está chorando e babando em cima da minha bateria feito uma menininha de nove anos de idade."

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Trailer de Quarteto Fantástico

Pois é, rapeize, saiu o (nada) aguardado primeiro trailer do (nem um pouco) esperado reboot do Quarteto Fantástico.
Veja abaixo a prévia da reimaginação da Primeira Família da Marvel pelas mãos de Josh Trank (Poder Sem Limites).



E aí? Não chega a ser "Poder Sem Limites 2" como havia sido especulado, ainda assim, tem muito mais cara de ser uma boa ficção científica do que uma adaptação de quadrinhos. Continuo achando o elenco ruim, em especial Toby Kebbel no papel do Dr. Destino (que nem aparece na prévia).
De qualquer forma, Quarteto Fant4stico estréia em 7 de agosto, e todo mundo já está bocejando de antecipação.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Resenha Cinema: O Jogo da Imitação


É isso aí, "Cumberbitches". Sábado foi dia de ver a pré-estréia de O Jogo da Imitação, longa metragem do norueguês Morten Tydlum (do ótimo Headhunters) que conta a história do matemático inglês Alan Turing, que durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou com o exército britânico para resolver o código Enigma, o indecifrável código de comunicação nazista.
O roteiro de Graham Moore (adaptando o livro de Andrew Hodges) é um amálgama de thriller de Guerra, filme de espionagem e drama biográfico que usa quebra-cabeças até mesmo na condução do longa, contado de forma fragmentada viajando entre a década de 20, quando o jovem Alan Turing (Então Alex Lauther) é um adolescente introvertido vítima de bullying na escola que desenvolve grande afeição por seu colega Christopher (Jack Bannon), a década de 50, quando ele se torna alvo de uma investigação do policial Rober Noch (Rory Kinnear) após um estranho assalto sem roubo em sua casa em Manchester, e os anos da Guerra, entre as décadas de 30 e 40, quando Turing (Benedict Cumberbatch) se junta à equipe de linguistas e criptógrafos que lutavam para decifrar o indecifrável código de comunicação alemão.
Egocêntrico e intratável, Turing imediatamente bate de frente com a equipe que trabalha na base de Bletchley, Hugh Alexander (Matthew Goode), John Cairncross (Allen Leech) e Peter Hilton (Matthew Beard), com quem simplesmente não quer (e nem sabe) se relacionar.
Conforme passa por cima da autoridade do comandante Alastair Denniston (Charles Dance), contatando Winston Churchill através do agente do MI-6 Stewart Menzies (Mark Strong) e ganha o comando da operação Enigma, Turing demite e contrata membros para a equipe, como a matemática Joan Clark (o pitéu Keira Knightley), que se torna sua companheira mais próxima.
Conforme essa equipe luta em sua própria trincheira, um campo de batalha intelectual onde a mente mais brilhante pesa mais do que a bomba mais potente, Tydlum nos conduz por momentos marcantes da vida de Turing, conforme o próprio nos narra sua história, pedindo que o julguemos.
Muito bom.
Ainda que seja historicamente impreciso e incorra em algumas manias chatas da cartilha das cinebiografias, O Jogo da Imitação é um longa metragem empolgante e relevante.
Turing, um dos grandes heróis da Segunda Guerra Mundial (segundo o próprio Winston Churchill), foi preso por indecência e exposto como homossexual, condição criminalizada na Inglaterra à época. Após ser condenado, viu-se obrigado a escolher entre castração química ou dois anos de prisão, e optou pela castração de modo a poder continuar seu trabalho em 1952. Dois anos mais tarde, em 1954, suicidou-se.
O homem que encurtou a Guerra em dois anos, tendo salvo estimados 14 milhões de vidas, teria o perdão de sua condenação apenas em 2013, quase sessenta anos após sua morte.
Esse personagem único encontra guarida em Benedict Cumberbatch, um ator de altíssimo calibre habituado a interpretar gênios excêntricos que consegue fazer com que Turing pareça tão brilhante quanto seu Sherlock, mas ao mesmo tempo infinitamente mais frágil e trágico.
Keira Knightley também vai muito bem em seu papel de Joan Clark, seu modo de interpretar a personagem (além de seu rostinho e seu corpinho lindos) faz com que toda a audiência entenda a afeição de Turing para com ela, e assim que ela surge, o filme passa a precisar dela tanto quanto o protagonista.
É graças a Cumberbatch, Knightley (e mais Goode, Leech, Strong e Dance) que O Jogo da Imitação vai de "Bom filme" a "Grande filme".
Por contar uma interessantíssima página de um dos conflitos mais sombrios da História da Humanidade, e fazer uma merecida homenagem a um injustiçado herói de guerra pioneiro da tecnologia, tudo isso em um filme divertido e bem feito, O Jogo da Imitação merece ser conferido no cinema.


"-Eu gosto de resolver problemas, comandante. E Enigma é o problema mais difícil do mundo.
-Enigma não é difícil, é impossível. Os americanos, os russos, os franceses, os alemães, todos acreditam que Enigma é indecifrável.
-Ótimo. Deixe-me tentar e nós teremos certeza, não é?"

Resenha Cinema: Foxcatcher: Uma História que Abalou o Mundo


Foi na sexta-feira que dei o que me pareceu um bom primeiro passo cinematográfico para esse ano de Nosso Senhor de 2015.
O drama baseado em fatos reais Foxcatcher (que, na melhor tradição dos títulos brasileiros de filmes com nomes próprios, ganhou um extenso e desnecessário subtítulo), terceiro longa metragem de ficção do diretor Bennett Miller (O mesmo de Capote, O Homem que Mudou o Jogo e do documentário The Cruise), mostra a história de como, na metade dos anos oitenta, John E. Du Pont (Steve Carell), milionário herdeiro da fortuna Du Pont, uma das famílias mais prósperas dos Estados Unidos, resolveu acolher, em sua fazenda na Pensilvânia, a equipe olímpica de luta greco-romana norte-americana que se preparava para os Jogos Olímpicos de Seul, na Coréia do Sul.
Em 1985, Du Pont se aproxima de Mark Schultz, (Channing Tatum), campeão olímpico de luta greco-romana dos jogos de Los Angeles, em 84, expondo seu projeto de tornar a fazenda Foxcatcher um centro de treinamento de altíssimo nível para os atletas norte-americanos da modalidade.
Mark, que dava palestras escolares por vinte dólares entre um treinamento e outro, é imediatamente fisgado pelo discurso nacionalista de Du Pont e seu alardeado respeito pela modalidade, e aceita de pronto a oferta do magnata, que também surge como uma oportunidade de sair da sombra do irmão mais velho, o também campeão olímpico Dave Schultz (Mark Ruffalo).
Acolhido na suntuosa propriedade, Mark é imediatamente aliciado pelo estilo de vida luxuoso de Du Pont, e, conforme recebe dele uma atenção inédita, passa a vê-lo como uma figura paterna, sem desconfiar que, para John, seu sonho olímpico não é nada além da chance de impressionar sua mãe reprovadora, Jean(Vanessa Redgrave).
Logo, os irmãos Schultz e John Du Pont estão envolvidos em um perigoso jogo psicológico que se estende por anos e impele o trio rumo à uma tragédia.
OK, sendo o mais franco possível, Foxcather é um longa metragem bastante parado, até aborrecido em alguns momentos, muito mais um estudo de personagens do que propriamente um filme, mas não é ruim de modo algum, especialmente para uma audiência interessada e paciente.
Em parte graças ao trabalho do diretor Bennett Miller, que faz escolhas extremamente acertadas em termos de enquadramentos, fotografia (um trabalho quase opressivo de Greig Fraser) e uso (mínimo) de trilha sonora, e, em grande parte, graças ao trabalho do elenco.
Steve Carell é um ótimo ator, e crava os dentes em John Du Pont com vontade, indo fundo na tarefa de retratar esse sujeito da maneira mais asquerosa e bizarra possível, dando um eco dramático à comédia de desconforto que dominava em The Office (a sequência em que ele tenta impressionar sua mãe durante um treino da equipe é constrangedora, uma brilhante e dolorosa sessão de vergonha alheia). Com a ajuda de uma maquiagem protética que não chega a ser das melhores mas que dá seu recado, o comediante entrega um tremendo trabalho, criando um personagem grotesco e cheio de camadas, ao mesmo tempo um provedor e um explorador, e merece sua indicação ao Oscar.
Outro que vai (surpreendentemente) bem é Tatum. O ex-stripper se esforça para dar estofo a seu retrato de Mark Schultz, um sujeito de emoções reprimidas, cheio de traumas e desesperado por encontrar uma figura paterna além do irmão mais velho. Se em inúmeras ocasiões nós temos a impressão de que esse é o papel mais fácil do filme, não é menos verdade que Tatum não desaponta, e seu trabalho duro pode ser notado de imediato nos trejeitos do personagem (seu modo de andar, a cabeça baixa, o queixo projetado como um tipo de troglodita), e em algumas cenas, muito além disso, como nos olhares ora carregados de ternura, ora de desprezo que ele lança a seus "pais substitutos", John e Dave.
Dave, por sinal, é ótimo. O trabalho de Mark Ruffalo é brilhante, e a cena em que ele precisa dar uma declaração a respeito das habilidades de liderança de Du Pont para um documentário, sozinha, já merecia indicação a prêmios de atuação.
Sob a batuta de Miller, os três atores retratam a trágica história de Du Pont e dos Schultz como uma fábula sobre a exploração da classe trabalhadora pela elite multimilionária dos EUA.
Ainda que não seja um novo A Rede Social ou Sangue Negro, como alardeia o poster, Foxcatcher é um filme que merece ser visto, se não pelo simbolismo social, pela história que conta de fato, e o ótimo trabalho do elenco.

"Treinador é um pai. Treinador é um mentor. Treinador exerce grande influência na vida de um atleta."

sábado, 17 de janeiro de 2015

A Diferença


Jaime e Breno eram muito amigos. Amigos de infância/adolescência, daqueles que tinham frequentado escola, alistamento militar e vestibular juntos, e após mais de vinte anos continuavam sendo grandes amigos, de frequentar a casa um do outro.
Até aí nada demais. Muitos de nós ainda mantém amizades da época da adolescência, o que era interessante em Jaime e Breno, é que eles não tinham absolutamente nenhum traço em comum.
Nenhum mesmo.
Esperaria-se que o Breno e o Jaime fossem desprezar um ao outro nove chances em dez, mas quis o destino que aqueles dois se conhecessem e se gostassem.
O Jaime era um encrenqueiro.
Não um marginal, de modo algum... Mas era desses sujeitos que não tinham medo de resolver seus problemas através da violência. Se fosse necessário esmurrar alguém, ele esmurrava. Vez que outra parecia confundir impetuosidade com coragem, e agia de maneira imprudente por acreditar que era a coisa "valente" a se fazer.
Jaime era de esquerda, era colorado, gostava de humanas, preferia loiras, jogava futebol na defesa, e era um rematado mulherengo.
Fazia sucesso com as mulheres, era alto, forte, cabelos longos, e não tinha muito critério na hora de cortejar. Cortejava todo e qualquer tipo de mulher.
Quando perguntavam ao Jaime qual era seu tipo favorito entre as representantes do sexo oposto, respondia:
A que me der bola.
E era assim, de fato. Qualquer mulher que concedesse um mínimo de atenção ao Jaime, tinha retorno garantido e larga margem de lucro, pois o Jaime retribuía ao afeto com juros e correção. O importante era "pontuar", dizia.
O Breno, por outro lado, era sossegado e caseiro.
Contido, tímido, sorumbático.
Não chegava a sofrer de nenhum transtorno antissocial, de modo algum... Mas era desses sujeitos que, podendo manter o silêncio, mantinha. Se fosse necessário levantar a voz para resolver um problema, era provável que Breno aprendesse a conviver com o tal problema. Vez que outra parecia confundir marasmo com segurança, e pecava pela inação acreditando que era melhor manter as coisas como estavam, mesmo que não estivessem bem, do que arriscar criar um cataclismo.
Breno era de direita, era gremista, gostava de exatas, preferia morenas, jogava futebol no meio-campo, e tinha tido apenas uma namorada, a Dulce.
Não fazia particular sucesso com as mulheres, de estatura mediana e corpo franzino, só não passava totalmente despercebido por causa da calvície. Não cortejava mulher alguma, foi cortejado por Dulce, que viu nele o tipo de sujeito bonzinho que os pais adorariam conhecer, e com quem parecia tarefa fácil edificar uma família.
Quando perguntavam ao Breno qual era seu tipo favorito entre as representantes do sexo oposto, respondia:
A Dulce.
E era assim de fato. Para o Breno não existiam outras mulheres, senão a Dulce, pois o Jaime não se via sem ela. Morria de medo de fazer uma bobagem e perdê-la.
O interessante é que, olhando em perspectiva, o Breno e o Jaime eram quase o mesmo sujeito. Haviam crescido no mesmo bairros, em casas semelhantes, filhos de famílias semelhantes, frequentavam as mesmas escolas públicas na infância e adolescência, e universidades privadas de mesmo conceito depois. Conseguiram empregos em serviços públicos que lhes garantiam recursos semelhantes e gostavam basicamente das mesmas coisas, então, porque eram tão diferentes?
Entre os amigos dos dois, havia a crença que era o cabelo.
Jaime sempre ostentou uma vultuosa cabeleira.
Não era um cabelo bonito, não. Era pouco melhor que o cabelo do Valderrama e do Gustavo Kuerten, mas era um mundo de cabelo. Uma cabeleira densa que lhe forrava a cabeça da testa à nuca sem falhas ou fronteiras e que, não raro, era ostentada longa, presa em rabos de cavalo ou contida por tiaras.
O Breno, por sua vez, era um calvo precoce. Antes dos vinte já se via que o Breno seria careca, pois sua testa ficava cada vez maior. E de fato, antes dos vinte e cinco, Breno era absolutamente calvo. Pra piorar, nem sequer era um desses carecas descolados que raspam toda a cabeça. Não chegava a ser ridículo a ponto de armar um elaborado combover para ocultar o deserto capilar, mas mantinha a "coroa de louros" ao redor do crânio, chegando a ir ao cabeleireiro para apará-la quando tornava-se longa demais.
De algum modo, quando via-se o Jaime, com suas revoltas madeixas abraçado em alguma periguete de vestido mais justo que a ira divina numa mesa de bar em plena segunda-feira, e o Breno, com sua careca declarada brincando de Banco Imobiliário com os filhos às nove e meia da noite de uma sexta-feira, fazia sentido...
No caso daqueles dois, a biologia perrecia um inexpugnável destino.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Teaser Trailer 2 de Vingadores - A Era de Ultron

E ontem caiu na rede o segundo teaser da sequência de Os Vingadores, a nova prévia de pouco mais de um minuto e meio tem algumas cenas inéditas, intriga, tensão e, claro, os quebra-paus entre os heróis que são meio que a marca registrada da Marvel.



Novamente escrito e dirigido por Joss Whedon Vingadores - A Era de Ultron estréia em 30 de abril, próximo, e tem os retornos de Robert Downey Jr. (Tony Stark), Scarlett Johansson (Natasha Romanov), Chris Evans (Steve Rogers), Chris Hemsworth (Thor), Jeremy Renner (Clint Barton), Mark Ruffalo (Bruce Banner) e Samuel L. Jackson (Nick Fury), mais as adições de Elizabeth Olsen (Feiticeira Escarlate), Aaron Taylor-Johnson (Mercúrio) e James Spader (Ultron), mais Paul Bettany, que tradicionalmente dava voz ao computador J.A.R.V.I.S. e agora interpretará o sintozoide Visão.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Rapidinhas do Capita


Je Suis Charlie.


Um minuto de silêncio em homenagem aos cartunistas e jornalistas mortos no brutal atentado terrorista à sede do Charlie Hebdo ontem, em Paris.
Cabu, Charb, Tignous e Georges Wolinski, além das demais vítimas, fatais ou não, morreram por defender a liberdade de expressão, e o direito de rir de coisas que alguns idiotas levam demasiado a sério.

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Após três dias de academia, com dores em músculos que eu nem sabia que tinha, chego ao trabalho e ligo meu computador.
Abro um dos sites de entretenimento que eu sigo e começo a entender as pessoas que são paranoicas e teóricos da conspiração.
Após mais de uma semana pesquisando inúmeras teorias conspiratórias da internet para um RPG de horror que estou escrevendo, passei pelo 11 de setembro, o HAARP, reptilianos, maçonaria, Nova Ordem Mundial, e todas as outras patacoadas que a internet tem a oferecer, inclusive os sinistros caixões da FEMA norte-americana, agência federal de gerenciamento de emergências na sigla em inglês.
Olha só a propaganda que abre no meio das outras no navegador:


Se eu fosse desses sujeitos inclinados à crença ou propensos ao pânico, já estaria bebendo só água engarrafada e comendo comida enlatada, mas, não é meu estilo.
De qualquer forma, fica aqui o meu aviso...
Pessoal da FEMA, da CIA, da Maçonaria, da Nova Ordem Mundial, reptilianos, Iluminatti e afins:
Eu não acredito nessas teorias, OK? Estou pesquisando elas apenas para entretenimento, de modo que não há necessidade de me fulminar com microondas, de lançar um míssil em mim, nem de mandar alguns agentes federais para enfiar um saco na minha cabeça e me jogar no porta-malas de um Suburban preto com placas diplomáticas.
Não sou teórico da conspiração, mas vai que eu tô errado, né? Não custa avisar...

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E olha só que maneira a capa da Entertainement Weekly com o Homem-Formiga:


A capa da revista faz alusão ao poster teaser que a Marvel divulgou no domingo, com o herói microscópico praticamente invisível em meio ao fundo branco.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Trailer de Homem-Formiga

E a Marvel publicou o trailer em tamanho humano de Homem Formiga, primeira produção da Marvel a apresentar um herói inédito desde Capitão América - O Primeiro Vingador.
Na prévia de pouco menos de dois minutos vemos Paul Rudd como Scott Lang, Michael Douglas como Hank Pym, Evangeline Lilly como Hope (e não Janet) Van Dyne e Corey Stoll, que se tornará o vilão Jaqueta Amarela, tudo embalado pela mistura de ação e comédia sobre a qual a Marvel ergueu sem império cinematográfico bilionário.



O longa dirigido por Peyton Reed tem roteiro escrito por Edgar Wright (originalmente o diretor do longa que saiu após "diferenças criativas") e Joe Cornish, revisado por Adam McKay e o próprio Rudd, além de Gabriel Ferrari e Andrew Barrer, e estréia em 17 de julho.