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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Resenha Cinema: O Jogo da Imitação


É isso aí, "Cumberbitches". Sábado foi dia de ver a pré-estréia de O Jogo da Imitação, longa metragem do norueguês Morten Tydlum (do ótimo Headhunters) que conta a história do matemático inglês Alan Turing, que durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou com o exército britânico para resolver o código Enigma, o indecifrável código de comunicação nazista.
O roteiro de Graham Moore (adaptando o livro de Andrew Hodges) é um amálgama de thriller de Guerra, filme de espionagem e drama biográfico que usa quebra-cabeças até mesmo na condução do longa, contado de forma fragmentada viajando entre a década de 20, quando o jovem Alan Turing (Então Alex Lauther) é um adolescente introvertido vítima de bullying na escola que desenvolve grande afeição por seu colega Christopher (Jack Bannon), a década de 50, quando ele se torna alvo de uma investigação do policial Rober Noch (Rory Kinnear) após um estranho assalto sem roubo em sua casa em Manchester, e os anos da Guerra, entre as décadas de 30 e 40, quando Turing (Benedict Cumberbatch) se junta à equipe de linguistas e criptógrafos que lutavam para decifrar o indecifrável código de comunicação alemão.
Egocêntrico e intratável, Turing imediatamente bate de frente com a equipe que trabalha na base de Bletchley, Hugh Alexander (Matthew Goode), John Cairncross (Allen Leech) e Peter Hilton (Matthew Beard), com quem simplesmente não quer (e nem sabe) se relacionar.
Conforme passa por cima da autoridade do comandante Alastair Denniston (Charles Dance), contatando Winston Churchill através do agente do MI-6 Stewart Menzies (Mark Strong) e ganha o comando da operação Enigma, Turing demite e contrata membros para a equipe, como a matemática Joan Clark (o pitéu Keira Knightley), que se torna sua companheira mais próxima.
Conforme essa equipe luta em sua própria trincheira, um campo de batalha intelectual onde a mente mais brilhante pesa mais do que a bomba mais potente, Tydlum nos conduz por momentos marcantes da vida de Turing, conforme o próprio nos narra sua história, pedindo que o julguemos.
Muito bom.
Ainda que seja historicamente impreciso e incorra em algumas manias chatas da cartilha das cinebiografias, O Jogo da Imitação é um longa metragem empolgante e relevante.
Turing, um dos grandes heróis da Segunda Guerra Mundial (segundo o próprio Winston Churchill), foi preso por indecência e exposto como homossexual, condição criminalizada na Inglaterra à época. Após ser condenado, viu-se obrigado a escolher entre castração química ou dois anos de prisão, e optou pela castração de modo a poder continuar seu trabalho em 1952. Dois anos mais tarde, em 1954, suicidou-se.
O homem que encurtou a Guerra em dois anos, tendo salvo estimados 14 milhões de vidas, teria o perdão de sua condenação apenas em 2013, quase sessenta anos após sua morte.
Esse personagem único encontra guarida em Benedict Cumberbatch, um ator de altíssimo calibre habituado a interpretar gênios excêntricos que consegue fazer com que Turing pareça tão brilhante quanto seu Sherlock, mas ao mesmo tempo infinitamente mais frágil e trágico.
Keira Knightley também vai muito bem em seu papel de Joan Clark, seu modo de interpretar a personagem (além de seu rostinho e seu corpinho lindos) faz com que toda a audiência entenda a afeição de Turing para com ela, e assim que ela surge, o filme passa a precisar dela tanto quanto o protagonista.
É graças a Cumberbatch, Knightley (e mais Goode, Leech, Strong e Dance) que O Jogo da Imitação vai de "Bom filme" a "Grande filme".
Por contar uma interessantíssima página de um dos conflitos mais sombrios da História da Humanidade, e fazer uma merecida homenagem a um injustiçado herói de guerra pioneiro da tecnologia, tudo isso em um filme divertido e bem feito, O Jogo da Imitação merece ser conferido no cinema.


"-Eu gosto de resolver problemas, comandante. E Enigma é o problema mais difícil do mundo.
-Enigma não é difícil, é impossível. Os americanos, os russos, os franceses, os alemães, todos acreditam que Enigma é indecifrável.
-Ótimo. Deixe-me tentar e nós teremos certeza, não é?"

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