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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Resenha DVD: Um Homem Entre Gigantes


Eu já fui, devo admitir, um grande fã de Will Smith. Do tipo que corria pro cinema pra ver qualquer filme estrelado pelo ex-maluco no pedaço, fosse uma ficção científica como Homens de Preto, fosse um thriller como Inimigo do Estado, ou um policial porra-louca como Bad Boys.
O que também precisa ser admitido, no entanto, é que em anos recentes Smith não tem feito nada de muito interessante. O ator que se provou um intérprete talentoso desde o longevo Seis Graus de Separação e alcançou uma indicação ao Oscar pela sua excepcional performance em Ali, sentou na zona de conforto e passou a fazer vários filmes onde ele podia apenas ser Will Smith e sorrir enquanto ouvia o dinheiro pingando na conta bancária.
Chegou a se dar ao luxo de escrever e produzir filmes para ensinar seu filho Jayden sobre a fama, o péssimo Depois da Terra, e seu último trabalho, Golpe Duplo, é um filme muito, muito chato.
De modo que, de fã de Will Smith,, eu havia me tornado um sujeito que só assistia aos filmes do cara quando eles passavam na TV a cabo porque nem pra alugar os filmes eu tinha mais paciência.
Mas ouvi falar muito bem deste Um Homem Entre Gigantes, e, ao me deparar com o longa na locadora de que sou sócio, não titubeei, tendo em vista que era um dos poucos lançamentos que eu não vi no cinema.
Um Homem Entre Gigantes (título estrambólico para o original Concussion) conta a história de Bennet Omalu (Smith), um médico legista nigeriano que trabalha nos Estados Unidos, na cidade de Pittsburgh.
Omalu é um homem de grandes luzes, que ama a medicina e praticamente vive para ela. Ele possui mais de meia dúzia de diplomas e seu trabalho na área de medicina forense inclusive o ajuda a resolver casos policiais. Omalu leva sua vida entre o trabalho onde é um protegido do diretor Ciryll Wecht (Albert Brooks), e a igreja, à qual frequenta de maneira pia.
A rotina pacata de Omalu muda quando o jogador de futebol americano "Iron" Mike Webster morre após um longo período de deterioração mental absolutamente sem precedentes.
Aos cinquenta anos de idade, fisicamente saudável, Webster (interpretado de maneira breve, porém tocante por David Morse) se auto-mutilou morando em uma picape como um indigente até sofrer uma parada cardíaca que lhe custou a vida.
O corpo de Webster acaba na mesa de autópsias de Omalu, que, intrigado com o caso, realiza uma autópsia completa no ex-jogador, descobrindo que a alarmante deterioração de seu cérebro pode ser fruto da exposição de sua massa encefálica à proteínas liberadas durante anos de choques de cabeça na prática do esporte.
Um otimista de crenças firmes no Sonho Americano, Omalu formula sua teoria e publica um estudo junto com outros especialistas na área acreditando que a luz lançada sobre os riscos para os jogadores seria motivo de regozijo para a liga profissional de Futebol, que poderia, então, se ocupar de aumentar a segurança dos atletas.
Ledo engano.
Não tarda para que Omalu se veja do lado errado de uma guerra contra uma instituição bilionária que não gosta nada da ideia de que seu produto possa ser prejudicial à saúde.
Além do doutor Wecht, quem surge para ajudar Bennet em sua luta contra a instituição que "é dona de um dia da semana", é o doutor Julian Bailes (Alec Baldwin), ex-médico do Pittsburgh Steelers que vê na pesquisa de Omalu a explicação para o tormento de muitos dos ex-atletas sob seus cuidados, e Prema Multiso (A linda Gugu Mbatha-Raw), uma imigrante que frequenta a mesma congregação de Bennet e se torna hóspede em sua casa, e, posteriormente, mais do que isso.
Mesmo com o apoio dessas pessoas, porém, Omalu enfrenta severas retaliações da NFL, que não poupa esforços em desacreditá-lo de todas as maneiras possíveis, recusando-se até mesmo a ouvi-lo em pessoa, enquanto os fãs do esporte que tomam conhecimento da pesquisa do médico o hostilizam de maneira sistemática em todos os frontes, deixando claro que a verdade inegável de sua descoberta amparada nos cadáveres que se empilham vítimas da moléstia, não são suficientes para convencer a NFL dos riscos.
Vou confessar que, baseado nos elogios que ouvi, esperava um pouco mais.
Um Homem Entre Gigantes não é um mau filme, de maneira alguma, mas não passa de um correto drama biográfico. As atuações são boas, em especial a de Will Smith, comedido e preciso, fazendo um Omalu que é obviamente um homem bom e correto, ainda que não seja um panfleto.
Gugu Mbatha-Raw também manda bem no papel de Prema, uma mulher forte, com um passado, e ansiosa por um futuro, e sua relação com o protagonista é conduzida de maneira delicada pelo roteiro de Peter Landesman, que também dirige o longa.
Com uma história redondinha, e uma edição bastante inteligente do oscarizado William Goldenberg e boas atuações do elenco que ainda inclui Eddie Marsan, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Luke Wilson, Um Homem Entre Gigantes é um bom filme, um conto sobre a crença de um homem no que é certo, e como essa crença foi abalada, mas não destruída, pela ganância de uma organização.
Não é um grande injustiçado pela falta de hype, mas certamente merece ser assistido.

"-Eu sou a pessoa errada para ter feito essa descoberta."

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