Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
Pesquisar este blog
sábado, 15 de abril de 2017
Resenha DVD: Animais Noturnos
Semana passada, num tópico de cinema na rede social que eu frequento, um colega perguntou se alguém havia assistido esse Animais Noturnos, e se era bom. Eu respondi que só havia ouvido elogios, mas não havia assistido ao longa.
Fiquei coçando a cabeça tentando lembrar porque eu havia perdido Animais Noturnos no cinema, e tenho a impressão de que o longa pode ter tido uma passagem ligeira pelas telonas em alguma época amontoada de estreias sucessivas. Eu não creio que fosse simplesmente deixar passar um longa estrelado por Amy Adams, Jake Gyllenhaal e Michael Shannon, provavelmente três dos melhores atores em atividade no cinemão Hollywoodiano, mesmo não sendo um fã ardoroso de Direito de Amar, o primeiro filme do fashionista/cineasta Tom Ford, responsável pela adaptação do livro Tony & Susan, de Austin Wright, e pela direção do filme.
Na sexta-feira modorrenta do feriado, resolvi remediar a situação.
Animais Noturnos nos apresenta Susan Morrow (Amy Adams). Bonita e rica, Susan vive uma vida de privilégios na alta sociedade de Los Angeles, gerenciando uma grande galeria de arte na cidade, frequentando belas festas, organizando vernissages e exposições. Susan mora em uma enorme casa, tem secretários pessoais e criadagem, tudo, aparentemente bancado por seu marido Hutton (Armie Hammer, que simplesmente não consegue disfarçar a cara de quem nasceu em berço de ouro). A despeito da opulência de sua vida, Susan parece bastante miserável. Ela não é feliz no casamento, seu marido parece incapaz de suportá-la, e tão entediado que nem se esforça para esconder isso e suas traições.
O casal também passa por problemas financeiros, embora eu tenha a impressão de que, para pessoas tão ricas quanto Hutton e Susan, a expressão tenha um significado bastante diferente do que tem para o resto de nós.
Em meio à sua rotina de sofrimento burguês, Susan é surpreendida por uma encomenda: Um pacote contendo o manuscrito de um romance escrito por seu ex-marido, Edward Sheffield.
Receber a encomenda às vésperas de um final de semana que planejava passar com Hutton, que a escanteia sem grande cerimônia, faz com que Susan mergulhe de cabeça na leitura do livro, que narra a história de Tony Hastings e sua família.
Aqui, a narrativa do longa se desmembra, e acompanhamos Tony (Jake Gyllenhaal), sua esposa Laura (Isla Fisher) e a filha do casal India (Ellie Bamber), uma família de classe média que, durante uma viagem pelo oeste do Texas se envolve em um encontro desastroso com um trio de marginais liderados por Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson, vencedor do Globo de Ouro com a atuação).
Numa das mais tenebrosas sequências de horror de que eu sou capaz de me lembrar no cinema recente, emulando com maestria o mais palpável terror e tensão num suspense tão desconfortável que quase obriga o espectador a olhar pra fora da tela, nós vemos as coisas irem de mal a pior, culminando em uma horrível tragédia de embrulhar o estômago da audiência e de Susan, que segue lendo o romance, que lhe foi dedicado.
Claramente afetada pela leitura, Susan começa a relembrar do passado, e novamente a narrativa se bifurca (à essas alturas, se trifurca) e acompanhamos o passado, vinte anos atrás, quando Susan reencontrou o amigo de infância Edward Sheffield (também Gyllenhaal) em Nova York, e os dois engataram um romance que, a despeito dos alertas da mãe da moça (ponta de Laura Linney), culminou em casamento e, obviamente, divórcio).
Daí pra frente, as três linhas continuam em paralelo e seguimos a história de Tony, cuja tragédia pessoal ganha novos ares conforme, com a ajuda do policial Bobby Andes (Michael Shannon, simplesmente brilhante), ele tenta encontrar justiça, ao mesmo tempo em que Susan, sendo assombrada pelo manuscrito de Edward no presente, revisita as memórias de seu passado ao lado do homem cuja sensibilidade a atraiu em primeiro lugar mas que no final foi o que a afastou para os braços do macho-alfa-provedor Hutton, conforme avalia sua vida.
É muito difícil ficar indiferente a Animais Noturnos.
Tanto que é difícil decidir, após as pouco menos de duas horas de filme, se vimos uma genial obra cinematográfica, ou um exercício pedante de estilo vazio.
Talvez porque, muito do que Ford coloca na tela pareça choque pelo choque, como a sequência de créditos iniciais, com as cheerleaders morbidamente obesas dançando nuas, ou a sequência em que Susan comparece à uma reunião em sua galeria e interage com a colega vivida por Jena Malone, mas outro tanto seja tão bem executado, como a sequência de pesadelo na estrada, ou as interações entre Tony e Andes.
Dessa forma, o filme caminha sobre o fio da navalha, até a última cena, que é um daqueles finais abertos pra fazer o pessoal discutir o que terá acontecido, e por quê, sempre mantendo-se interessante.
É difícil medir o quanto disso é graças ao elenco, já que Gyllenhaal e Adams estão ótimos como habitual, com Taylor-Johnson surpreendentemente bem e Shannon simplesmente arregaça na sua interpretação do enigmático Bobby Andes (Ainda há participações de Michael Sheen, Karl Glusman e Andrea Riseborough), mas no plano maior isso não chega a importar, é o conjunto da obra que conta, e o saldo de Animais Noturnos é bastante positivo.
O longa de Tom Ford funciona, pode não ter sido o melhor filme de 2016, mas a despeito de pequenos tropeços, é um programaço.
Vale demais a locação.
"Quando você ama alguém é preciso cuidar disso, você pode nunca mais ter isso outra vez."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário