E saiu o trailer de Zumbilândia 2: Golpe Duplo (Eu francamente não sei se esse será o título em português, estou apenas usando a tradução do primeiro filme para o "double tap" da regra número 2 original de Columbus).
Um dos mais divertidos filmes de zumbi de tempos (não tão) recentes vai ganhar uma tardia sequência uma década após o lançamento do filme original.
Confira a prévia que mostra Columbus (Jesse Eisenberg), Wichita (Emma Stone), Little Rock (Abigail Breslin) e Talahasse (Woody Harrelson) vivendo como uma autêntica família em meio às ruínas do mundo pós-apocalipse zumbi, encontrando mais e mais desmortos, e toda uma nova leva de sobreviventes:
Novamente dirigido por Ruben Fleischer, e com roteiros de David Callahan, Rhett Reese e Paul Wernick Zumbilândia 2: Golpe Duplo tem estréia marcada para 11 de outubro nos EUA, a data de estréia no Brasil ainda não foi confirmada.
Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
Pesquisar este blog
quinta-feira, 25 de julho de 2019
terça-feira, 23 de julho de 2019
Onde Quer Que Seja
Ela não despertou no momento em que ele a levantara do sofá, e nem percebeu o silêncio súbito, testemunho da TV desligada, um fato que, ela saberia, era inédito quando ele estava em casa.
Ele era dessas pessoas solitárias que gostavam de algum ruído na casa. Passava o dia inteiro ouvindo noticiários como pano de fundo, de todas as emissoras, um atrás do outro. Quando não estava realmente assistindo TV, ele deixava a TV ligada em algum canal de notícias e fazia suas coisas. Lia um livro. Estudava. Arrumava a casa ou simplesmente dormia... Gostava de dormir com a TV ligada, no noticiário, madrugada adentro.
Isso mudara quando ela chegou.
Descobrira que todos os gostos prévios eram fugazes, efêmeros, dispensáveis.
Ele gostava de dormir com ela. Gostava que ela se sentisse confortável. Escuridão, silêncio, o que ela precisasse.
Ele precisava dela.
Naquela noite estavam assistindo TV no sofá, juntos. Ela pegara no sono assistindo ao documentário sobre a Primeira Guerra Mundial que ele escolhera para verem. Ele não se ofendia.
Entendia que não era uma unanimidade, mas tampouco se sentia culpado. Sabia que dali alguns dias provavelmente assistiria um drama romântico polonês e provavelmente seria ele adormecendo com a cabeça sobre as coxas mais lindas que já beijara.
Ela adormecera em seu colo. Não apenas a cabeça em seu colo. Sentada em seu colo, com a cabeça em seu peito e os cabelos, cheirando divinamente, sob suas narinas.
Ele tinha o braço direito serpentando de trás das costas dela para ao redor da cintura e a mão pousada em seu quadril, a amparando para que a posição dela se mantivesse estável, o braço esquerdo estava jogado pra frente, por cima dada perna direita dela, a mão pousada atrás da coxa. Uma das componentes daquele par que era o mais lindo que ele já beijara. Tê-la ali, aninhada em si o enternecia de uma forma quase comovente.
Quase?
Não.
Totalmente comovente.
O fato de ela conseguir se acomodar em seu colo o suficiente para adormecer era a manifestação física do conforto subjetivo que ele experimentava com ela e que era tão inédito quanto inebriante. Com ela, ele descobriu que jamais estivera totalmente pronto para verdadeira intimidade até então. Ele sempre fora um solitário. Um eremita natural, inconscientemente afastando as pessoas, inclusive pessoas de quem gostava por mero instinto.
Negando sua presença e hospitalidade e todos por reflexo.
À certa altura aceitava que era assim e resignara-se entendendo que seus muros e portas eram demasiado pesados e que a vida seria daquele jeito. Mas ela chegou e, quem diria, pequenininha daquele jeito, derrubou todos os muros como se fosse a Formiga Atômica e arrombou todas as portas como se fosse uma versão feminina, menor e mais bonita de Ethan Hunt, adonando-se do espaço que ele imaginava ser somente seu com uma doçura que não deixava espaço para hesitação.
Ele não precisou se habituar à presença dela. Não precisou adaptar-se a não ter mais seu espaço.
A presença dela era tudo o que ele queria. O espaço dele era o que ela estivesse ocupando.
Naquele momento seus braços, após ele ter passado o braço esquerdo sob as pernas dela e tê-la erguido no colo. Agora ele a carregava até o quarto com muito cuidado para não a sacolejar em excesso no curto trajeto entre o sofá e a cama.
A pousou sobre o colchão com a delicadeza que geralmente tinha ao tocá-la, como se ela fosse de um cristal muito delicado, e a cobriu. Quando saía do quarto ela, com os olhos semi-cerrados perguntou em um murmúrio:
-Aonde tu vai?
Ele sorriu e respondeu que ia escovar os dentes, mas pensou:
"Onde tu estiver, morena linda. Eu vou onde tu estiver."
quarta-feira, 17 de julho de 2019
Resenha Série: Stranger Things, Temporada 3, Episódio 7: The Bite
O penúltimo capítulo de Stranger Things não aliviou o ritmo alcançado em E Pluribus Unum, na verdade, pareceu acelerar e aumentar o escopo de todas as situações apresentadas ao longo dos cinquenta e cinco minutos do episódio que não perde tempo para nos mostrar, logo depois da aventura, Onze, Mike, Max, Lucas, Will, Nancy e Jonathan presos na cabana de Hopper sob o ataque da forma física do Devorador de Intelecto revelado no episódio passado.
A imensa criatura, uma aranha gigante feita da carne e dos ossos dos devorados é um disparate em termos de visual. Palmas para os Duffer e sua equipe, é difícil saber quanto da criatura é CGI e quanto é efeito prático, e o resultado na tela é um monstro realmente assustador que coloca à prova as habilidades de Onze e seus amigos mesmo estando preso do lado de fora da casa.
Toda a cena com Nancy usando uma espingarda, Jonathan um machado, e Onze seus poderes telecinéticos é muito bem sacada especialmente por deixar a jovem paranormal vulnerável de uma maneira nova.
A personagem de Millie Bobby Brown sempre foi frágil na forma de se relacionar com o mundo à sua volta, mas extremamente poderosa na hora da pancadaria. O Devorador de Intelecto a leva a novos limites, porque a criatura pode machucá-la fisicamente de formas que outros inimigos ainda não haviam sido capazes de fazer. Onze trucidou o Demogorgon na primeira temporada, mal tomava conhecimento dos Democães na segunda, mas o Devoradoré um tipo de inimigo totalmente diferente conforme fica claro já nessa sequência inicial.
As duas outras linhas narrativas escalam igualmente rápido.
Hopper, Joyce, Bauman e Aleksei chegam a Hawkins para resgatar as crianças e rechaçar os russos, mas estão tentando fazê-lo com Grigori e capangas em seu encalço, o que dificulta a tarefa e leva a mais uma boa sequência de ação no parque de diversões do cada vez mais corrupto prefeito Kline.
Toda a sequência com a sala dos espelhos é muito bem sacada, e mostra o quanto Hopper é, realmente, um tipo de Rambo gordo tanto quanto a obstinação de Grigori.
O espião vivido por Andrey Ivchenko não dá dois passos no que tange a desenvolvimento de personagem, mas em termos de desafio físico puro ao robusto homem da lei de Indiana é um achado. Cada round dessa contenda é mais divertido do que o anterior no que é a rivalidade mais duradoura de Hop na série.
A sequência do quarteto no parque também traz um dos momentos mais tristes da temporada, onde a série, que vinha sendo bastante leviana na forma de tratar mortes, mostrou ser capaz de chocar e entristecer a audiência.
Nem tudo é tensão e lágrimas em The Bite, no entanto. O quarteto do shopping Starcourt segue sendo a ponta mais divertida da série. A inversão de papéis onde Dustin e Erica precisam cuidar de Robin e Steve, chapados com o soro da verdade dos russos é ótima, assim como o comportamento dos mais velhos assistindo De Volta Para o Futuro no cinema drogados enquanto se escondem dos agentes soviéticos que os perseguem por dentro do shopping. E mesmo esse segmento mais leve ainda encontra tempo para nos oferecer um pouco mais de insight a respeito dos personagens durante a franca conversa que Robin e Steve têm no banheiro que é ao mesmo tempo de aquecer quanto de cortar o coração.
A revelação de Robin nada tem de chocante, mas eu francamente queria que ela e Steve formassem um casal, especialmente depois de o roteiro da série ter nos conduzido tão habilmente à ideia de que era essa a conclusão óbvia para os dois.
Ainda assim, a forma como Steve não se choca ou ultraja ao entender do que Robin está falando o consolida como um dos meus personagens preferidos na série. Provavelmente o preferido junto com Hopper.
Stranger Things 3 chega a seu penúltimo capítulo em excelente ritmo, intercalando ação, tensão e humor de maneira perfeita e ainda encontrando tempo para nos oferecer um pouco de drama e acalento na mistura.
A terceira temporada da série se encaminha para o final deixando a audiência na ponta do sofá e roendo as unhas para o desfecho que se avizinha.
"-O Devorador sabe que ela é a única que pode detê-lo. Mas se a tirar do caminho...
-Fim."
terça-feira, 16 de julho de 2019
Resenha Série: Stranger Things, Temporada 3, Episódio 6: E Pluribus Unum
Atenção! Spoilers abaixo!
E Pluribus Unum, sexto capítulo de Stranger Things retoma os eventos do capítulo passado sem tirar o pé do acelerador.
Primeiro com Robin e Steve sacrificando-se para garantir a fuga de Erica e Dustin, e então com a continuação da medonha (no bom sentido) sequência do hospital quando o sentido de aranha de Will garante um espetacular resgate de Nancy, cortesia de Onze, e a revelação do que Billy estava construindo, talvez?
De toda sorte, após descobrirmos que o prefeito Kline está ainda mais mancomunado com os russos do que imaginávamos, finalmente recebemos algumas informações sobre o que é toda aquela operação soviética embaixo de Hawkins, cortesia do doutor Aleksei.
Aliás, a forma como Bauman e Joyce não confiam na tática usada por Hopper para fazer o cientista colaborar, e a expressão de satisfação do xerife quando seu plano funciona é um dos muitos pontos altos desse episódio.
Sim, há um bocado de exposição, mas a verdade é que, com tantos mistérios se sobrepondo e com a temporada quase no final (e rapaz, como esses oito episódios voam. Eu assisti a coisa toda em dois dias...), a série estava precisando que alguém sentasse e estabelecesse o quão grande é o mundo da série além de Hawkins, e a explicação de "Smirnoff" a respeito das chaves e de onde elas podem funcionar para abrir o portal entre os mundos faz todo o sentido para com a mitologia estabelecida na série até agora e é aquele tipo de exposição que não soa gratuita tanto por estar bem inserida no contexto de sua apresentação quanto por ser entregue por um grupo de personagens que está na ponta dos cascos no tocante a timming cômico.
A dinâmica entre Hopper, Joyce, Bauman e Aleksei é simplesmente excelente.
Tão bons quanto são Robin e Steve.
Embora eu continue sendo um fã declarado da dupla que o cabeludo forma com Dustin, é impossível negar a química entre Maya Hawke e Joe Keery. A sequência do interrogatório da dupla é tensa e brutal em alguns momentos, mas absolutamente hilariante em outros, especialmente após o soro da verdade ministrado na dupla começar a fazer efeito.
Outra sequência digna de nota nesse segmento é a tese do My Little Pony de Dustin virando o jogo contra Erica que segue sendo, de longe, a personagem mais chata que a série já apresentou, e incluo aí a insuportável Barb (Sim, Barb era chata pra cacete e eu não ligo de ela ter morrido), ainda assim, é ela quem encontra uma gaiola e um bastão de contenção que nos levam a imaginar se, à essa altura, os soviéticos já conseguiram colocar as mãos em alguma criatura do Mundo Invertido, nominalmente um Demogorgon?
Após seu encontro quase fatal com o Devorador em carne(s) e osso(s), Nancy e Jonathan tentam decobrir o que está havendo com todos aqueles produtos químicos enquanto Onze faz uma varredura para tentar encontrar os devorados.
Enquanto todos parecem bastante confortáveis vendo a filha adotiva de Hopper literalmente sangrar para tentar encontrar alguma das vítimas da criatura e de Billy, Mike está tendo um faniquito com a possibilidade de sua (ex?) namorada sofrer algum tipo de efeito colateral devido ao uso constante de seus poderes, o que leva a um momento terno onde o piá admite amá-la.
Seja como for, o único elo entre o povo de Hawkins e o Devorador, é mesmo Billy. Ele segue sendo o único dos devorados que Onze consegue detectar na cidade (o que me leva a crer que Billy é a âncora do monstro com nossa realidade, enquanto suas vítimas foram comidas e transformadas em cópias de si mesmas controladas pelo Devorador, e, se não for isso, eu imagino se haverá alguma consequência para o fato de Jonathan e Nancy terem matado seus superiores no Hawkins Post, mesmo que em legítima defesa...), e isso faz com que a jovem paranormal tome a decisão de tentar contatá-lo usando seus poderes.
Isso nos leva à uma sequência onde Onze visita as memórias mais profundas de Billy, mostrando como ele foi abandonado por sua mãe com um pai abusivo, e como esse abandono definiu sua personalidade atual.
Billy é um escroto de carteirinha, sim, mas há uma razões para isso, e se toda a história sobre a infância sofrida do menino rejeitado é bem clichê, Millie Bobby Brown e Dacre Montgomery a vendem de maneira bastante comprometida, isso, somado aos belos visuais da sequência, mostrando como o Devorador se instalou no centro das emoções mais negativas e dolorosas de Billy, tornam a coisa toda mais palatável, e, fechando com chave de ouro, vemos que os problemas de Hawkins são ainda maiores do que poderíamos imaginar.
"-Ele disse que gosta da sua coragem. Que você o lembra de um... Rambo gordo."
segunda-feira, 15 de julho de 2019
Resenha Série: Stranger Things, Temporada 3, Episódio 5: The Flayed
Stranger Things continua a caminhar em uma direção mais sombria neste quinto episódio que escalou a ação que já havia sido muito boa no capítulo anterior e mostrou que os efeitos visuais que faltaram nas séries da Marvel/Netflix são muito bem usados, obrigado, na série dos irmãos Duffer.
Antes mesmo da abertura já temos um vislumbre da profundidade dos problemas em que Steve, Dustin, Erica e Robin se enfiaram, e vemos a investigação de Hopper e Joyce finalmente render frutos além de mais um round do confronto entre Hop e Grigori em uma velha fazenda aparentemente abandonada nas cercanias de Hawkins.
O estilo T-800 do espião russo inclusive alcança novos píncaros quando soma-se a seu olhar inexpressivo um ferimento na perna que o faz começar a andar de maneira algo robótica em sua inexorável perseguição aos nossos heróis.
O casal, por sinal, não sai de mãos abanando do arranca rabo com o vilão, eles ganham um novo companheiro, Alexei (Alec Utgoff), o cientista soviético sequestrado pelo par e arrastado com eles para uma viagem até Illinois.
Lá, a dupla reencontra Murray Bauman (Brett Gelman, um bem-vindo retorno à série), que sabe falar russo e poderá servir como tradutor para que eles (e a audiência) consigam finalmente entender que tipo de aparato os soviéticos estão construindo sob Hawkins causando os blecautes e a desmagnetização dos imãs de Joyce, e com que propósito.
Quem simultaneamente começou a arranhar o tamanho da conspiração nas profundezas (literalmente) da cidadezinha de Indiana foi o quarteto do shopping Starcourt.
Centenas de metros abaixo do centro comercial, Dustin, Steve, Robin e Erica encontraram uma imensa e labiríntica instalação soviética transportando dúzias de frascos de gosma ácida.
A exemplo de Hop, Steve tem seu momento de brilhar e "finalmente vencer uma briga" (tremenda injustiça com o cabeludo, por sinal. Steve estava com Nancy e Jonathan quando eles enfrentaram o demogorgon na residência dos Byers, e rechaçou inúmeros democães para proteger a gurizada no ferro-velho...), enquanto Robin encontrava um maquinário que, aparentemente, está tentando reabrir o portal para o mundo invertido.
Os demitidos Nancy e Jonathan, por sua vez, resolver seguir cavando a história da senhora Driscoll e produtos químicos sendo comidos por animais raivosos.
Isso os leva, finalmente, de volta até Onze, Mike, Will, Max e Lucas. O grupo eventualmente consegue imaginar o que está acontecendo nos bastidores das ações de Billy e, por consequência, do Devorador de Intelecto, o que os faz bolar um plano que leva o pessoal todo de volta até o hospital, e, rapaz, que tremenda sequência se segue, então.
Enquanto Mike e Onze se reaproximam no saguão de entrada com o resto da molecada conversando casualmente sobre amenidades, Jonathan e Nancy estão literalmente lutando por suas vidas em um cenário de pesadelo conforme algo pelo qual eu estava esperando desde que os primeiros ratos começaram a explodir aconteceu: Devorados humanos surgiram para cumprir a vontade da criatura imaterial do Mundo Invertido em uma brilhante sequência com a maior cara de A Coisa de John Carpenter, e um cliffhanger de obrigar o vivente a não esperar os cinco segundos antes do início do próximo capítulo.
Mais um salto de qualidade na temporada, The Flayed mostrou que Stranger Things não tem medo de usar gore, e se garante nos seus efeitos visuais com competência pouco vista na TV. Se há alguma inconsistência em termos de tom na linha narrativa dividida por Hopper e Joyce com o Exterminador os perseguindo, foi bom rever Bauman, e a forma como a linha de Nancy e Jonathan se converteu com a das crianças foi bastante sólida, enquanto o pessoal do shopping Starcourt segue sendo o porto seguro da série a qualquer momento.
Faltando três horas para o fim da temporada, é hora de esperar por algumas revelações a respeito da(s) conspiração(ões) acontecendo nos bastidores de Hawkins, e como nossos heróis podem acabar com elas.
"-Nós viemos aqui pelo rádio.
-Esse plano é melhor. Se eu soubesse da força do Steve esse teria sido o plano A..."
sexta-feira, 12 de julho de 2019
Resenha Série: Stranger Things, Temporada 3, Episódio 4: The Sauna Test
Na temporada passada, ali pelo sexto episódio, uma das mais improváveis duplas que uma série de TV poderia ter formado surgiu quanto Dustin pediu socorro a Steve para encontrar seu "girinogorgon" fujão. A química entre Joe Keery e Gaten Matarazzo foi tão excepcional que os dois se tornaram, disparado, a melhor parte de Stranger Things sempre que estavam em cena, e houve até quem dissesse, de forma a elogiar o par, que eles mereciam sua própria série.
Bem, no terceiro ano de Stranger Things, nós estamos assistindo essa série.
A maneira como a linha narrativa no shopping Starcourt encabeçada por Henderson e Harrington corre em paralelo ao restante do programa nem sequer chega a incomodar, tanto porque sabemos que elas inevitavelmente irão se juntar, quanto porque talvez seja a linha narrativa mais divertida do programa. Se a adição de Robin havia sido um achado desde seu primeiro capítulo, porém, eu não posso dizer o mesmo de Erica Sinclair (Pryah Ferguson).
A irmã mais nova de Lucas já havia me parecido irritante em suas pouquíssimas aparições na temporada passada, e pareceu igualmente irritante em suas aparições na Scoops Ahoy nesses primeiros capítulos da temporada atual. Sua negociação com Steve, Dustin e Robin demandando sorvete em troca de participar da operação do trio para descobrir o que está sendo ocultado pelos soviéticos nas entranhas do shopping mostrou que ela é ainda mais irritante do que pareceu a princípio, seja como for, esse segmento com a galera da sorveteria trouxe algumas das melhores risadas da série novamente, e apresentou novos desdobramentos que trouxeram mais perguntas do que respostas à audiência.
Enquanto isso, em outra parte da cidade, após ter levado uma surra de Grigori no capítulo passado, Hopper vai à prefeitura ter uma conversa franca com Larry Kline.
O prefeito de Hawkins não parece lá muito disposto a colaborar com a investigação de Hop, o que força o nosso xerife preferido a descontar a sova que levou do Exterminador russo no mandatário do executivo municipal em sua busca pela verdade. O indigesto cardápio de agressões conta com fraturas e ameaças de amputação, mas cumpre seu papel. Hopper e Joyce conseguem descobrir que há, sim, uma nova conspiração em Hawkins que se estende até os mais altos escalões de poder. Resta saber de que forma espancar o prefeito da cidade irá afetar a carreira de Hopper quando ele tentar a reeleição ao cargo de xerife.
Falando em conspirações, a busca frenética de Nancy "Drew" Wheeler pela verdade no caso da senhora Driscoll (Peggy Miley), seus ratos raivosos e o sumiço do fertilizante e outros produtos químicos custou seu emprego e o de Jonathan no Hawkins Post (é difícil saber o quanto da demissão da dupla passou pelo fato de o editor do jornal ter sido dominado pelo Devorador de Intelecto após o jantar com Billy no episódio passado, mas ainda assim...), e ainda chacoalhou sua relação com o namorado.
Por mais que saibamos que as coisas estão todas interligadas de alguma forma na cidade, Nancy e Jonathan não estão tendo o mais dinâmico dos arcos nessa temporada (de novo. O arco dos dois procurando "justiça para Barb" na temporada passada foi bastante chato, também), mas eu devo dizer que sua conversa com a mãe foi, talvez, o ponto alto da personagem até aqui. Não tanto por Nancy, sejamos francos, mas por Karen Wheeler.
Bastaram algumas linhas de texto para que a série nos dissesse um bocado a respeito da mãe de Nancy e Mike. Eu francamente não sei se me interesso tanto assim pela personagem de Cara Buono na série, mas é bacana ver que os roteiristas têm coisas a dizer a respeito de todos os personagens da série.
E, o papo motivacional da personagem colocou Nancy novamente no encalço da verdade o que, na pior das hipóteses, deve fazer com que ela descubra ao menos alguma coisa que vá reverberar na linha narrativa principal ali adiante.
E a linha narrativa principal!
Após Will Byers ter declarado o retorno do Devorador de intelecto o código vermelho reúne a gurizada (exceto por Dustin) para completar a investigação iniciada por Onze e Max no episódio passado e trazer o monstro à luz através do teste da sauna do título.
Numa das melhores e mais tensas sequências de ação da temporada, Onze se vê frente a frente com o Devorador de intelecto e a luta entre os dois é excepcional.
Mais do que isso, a sequência inteira mostra o quanto o trabalho de equipe é importante na série.
Por mais poderosa que Onze seja, junto com o resto do grupo, ela sempre pode realizar mais, e esse episódio reforça isso de maneira empolgante com um confronto visualmente sensacional, com uma pancadaria violenta turbinada pelos poderes telecinéticos da filha de Jim Hopper e a força física de Billy ampliada pelo Mundo Invertido, e ainda oferecendo a Billy uma chance de colocar uma pulga trás da orelha da audiência:
O valentão é realmente um prisioneiro no próprio corpo controlado pela entidade interdimensional, ou ele foi totalmente dominado pelo Devorador e suas interações com Max eram apenas uma tentativa de escapar da armadilha?
Seja como for, esse foi apenas o primeiro round da luta entre a paranormal preferida de Hawkins e seu inimigo jurado.
Stranger Things 3 chegou à metade com o melhor episódio da temporada (um dos melhores da série) dando uma injeção de ação e adrenalina em um programa que vinha caminhando muito bem em ritmo mais lento mas que agora engatou a quinta marcha. Vamos torcer para que, mesmo que o ritmo diminua, a qualidade se mantenha pelas próximas quatro horas.
"Isso com certeza não é comida chinesa..."
quinta-feira, 11 de julho de 2019
Resenha Série: Stranger Things, Temporada 3, Episódio 3: The Case of the Missing Lifeguard
The Case of the Missing Lifeguard traz uma mudança de tom acentuada à temporada de Stranger Things. Se os temas propostos até aqui eram, de fato, mais maduros do que o que ocorrera em temporadas anteriores, a maneira divertida como tais temas vinham sendo tratados a maior parte do tempo manteve as coisas em um espaço relativamente seguro para a série.
Isso acabou quando Onze acidentalmente descobriu que Billy estava fazendo alguma coisa sinistra e, mais do que isso, poderia ter feito algo terrível com Heather.
O arco de Billy, por sinal, torna-se mais intrigante quando o vemos naquele peculiar jantar na casa dos pais da salva-vidas não-tão-desaparecida. O dono do bigode mais infame de todo o estado de Indiana é agradável de uma maneira absolutamente assustadora, e, deixe-me confessar, eu esperava um pouco mais de Max. Será que ela não nota que aquele comportamento por parte do meio-irmão não é natural? A menos que os últimos seis meses tenham mudado muito Billy, não se parecia em nada com o personagem que conhecemos na segunda temporada.
Seja como for, a grande revelação da cena ocorre após as gurias irem embora, quando o Devorador de Intelecto relembra do momento em que Onze fechou o portal pro Mundo Invertido, e deixa claro que Billy é apenas uma marionete nas mãos de um mestre perverso.
No outro núcleo da criançada, Will Buyers não está tendo o melhor dos momentos.
Nenhuma outra criança passou por experiências tão traumáticas quanto Will que passou uma temporada preso no Mundo Invertido e a outra possuído pelo Devorador de Intelecto, então não vamos condená-lo por querer continuar sendo criança e jogando RPG no porão dos amigos por mais um verão ao invés de se apaixonar e começar a sofrer de coração partido após dois anos em que não pôde ser Will, o Sábio.
A discussão entre ele e Mike a respeito do que significa crescer é muito bem sacada, e triste. Um doloroso sumário do que é amadurecer deixando novamente claro que, ao contrário das aventuras infantis oitentistas que crescemos assistindo, ou que ao menos que eu cresci assistindo, Stranger Things não vai fazer prisioneiros na hora de envelhecer com seu elenco infantil.
Como se os dilemas da puberdade não fossem o suficiente, Will parece manter uma conexão ainda vívida com o Devorador de Intelecto. A forma como ele sempre leva a mão à nuca arrepiada (eu sei que uma morena provavelmente vai rir de mim por aventar isso, mas fiquei curioso se o arrepio que vemos no pescoço do moleque é um efeito prático ou digital) antes de a criatura fazer alguma coisa é, ao mesmo tempo mais um percalço na vida do pobre do guri, mas, também, uma arma em potencial, já que Will se tornou um detector da criatura.
Mas, ainda assim, provavelmente não houve nenhum momento mais sombrio nesse terceiro capítulo do que a ida de Joyce e Hopper ao laboratório, agora abandonado.
Os dois são mais uma dupla genial formada na série, e ainda que haja tempo para, novamente, lamentar a perda de Bob "the brain" Newby no saguão do prédio, e para Hopper clarificar que sabe dos planos de Joyce para ir embora de Hawkins, mas deseja que ela fique, nós também temos um vislumbre do potencial cômico da dupla quando o ciúme de Hopper explode quando o nome do professor Clarke é mencionado.
Pra fechar esse segmento com chave de ouro, ainda temos o surgimento de Grigori (Andrey Ivchenko), um Exterminador soviético que sai no braço com Hop deixando claro que, ao menos uma vez na vida, o xerife não vai ter vida mansa na hora de nocautear alguém.
Em um programa onde o ponto alto dos confrontos geralmente se dá entre criaturas monstruosas e crianças com poderes sobrenaturais, é bom ver o pessoal cair no braço à moda antiga, especialmente quando o embate Hopper x Grigori aparentemente ser algo para se decidir ao longo de vários rounds no decorrer da temporada.
Um segmento que ganha um pouco mais de importância é o de Nancy e Jonathan no Hawkins Post.
A dupla começara uma investigação particular no capítulo anterior e ela começa a render frutos que inevitavelmente irão convergir para a linha narrativa principal, ainda assim, a´te aqui, o casal adolescente é o ponto mais fraco da temporada (de novo), e eu não sei quanto disso passa pelos chefes absolutamente desprezíveis da dupla no jornal. Vamos esperar que eles tenham melhor sorte quando se juntarem ao resto da patota.
E, quando as coisas se tornam muito sombrias, sempre temos Steve e Dustin para o resgate.
A caçada aos russos da dupla pelo shopping Starcourt é o momento mais leve do episódio, com os dois perseguindo professores de aeróbica pelos corredores do centro comercial.
The Case of the Missing Lifeguard é o melhor episódio de uma temporada sólida até aqui, levando a narrativa principal da temporada adiante, com seus monstros interdimensionais e espiões soviéticos infiltrados na cidadezinha dos EUA, mas encontrando tempo para explorar as relações dos personagens uns com os outros e com as mazelas da vida como perder entes queridos seja pela tragédia, seja apenas pela passagem do tempo.
"-Nós não somos mais crianças. O que você esperava? Que fôssemos ficar sentados brincando no meu porão pelo resto da vida?
-Sim... É exatamente o que eu esperava."
quarta-feira, 10 de julho de 2019
Resenha Série: Stranger Things, Temporada 3, Episódio 2: The Mall Rats
O primeiro capítulo de Stranger Things 3 terminou com um tremendo cliffhanger conforme Billy (Dacre Montgomery) foi, aparentemente, possuído pelo Devorador de Intelecto de uma maneira ainda mais profunda do que ocorrera com Will na temporada passada.
Se ainda há um pouco do salva-vidas que faz a alegria das coroas ao redor da piscina pública de Hawkins, não dá pra saber ao certo quanto, já que em nenhum momento da possessão de Will nós vimos o moleque desejar esmigalhar a cabeça de alguém ou sequestrar pessoas como Billy fez nesse episódio respectivamente com a senhora Wheeler (Cara Buono) e sua colega Heather (Francesca Reale).
Nem só de possessões, porém, The Mall Rats é feito. Há uma porção de grandes interações entre os personagens nesse capítulo, nós vemos parte do grupo da primeira temporada se reunir após Mike, afugentado por Hopper, mentir para passar um dia longe de Onze, e receber aconselhamento de Lucas enquanto Will só quer jogar D&D (Já estive lá...), enquanto isso, uma nova parceria é formada, com Max e Onze tirando um dia das gurias no shopping com direito a compras e pérolas de sabedoria romântica da ruivinha para a jovem paranormal.
Se essa é uma dupla cheia de potencial, e eu certamente gostaria de ver mais dela no futuro, não dá pra não considerar a reunião de Steve e Dustin como o ponto alto do episódio.
A improvável dupla que foi uma das coisas mais maneiras da temporada passada voltou com força total após Dustin captar uma transmissão em código russa com sua gloriosa antena de rádio portátil, e resolver pedir ajuda ao seu novo melhor amigo para descobrir de que se trata e prestar um serviço à pátria para tornarem-se heróis juntos.
A adição de Robin ao grupo só faz com que o "Esquadrão Scoops Ahoy" se torne ainda mais evidentemente a melhor parte do episódio. A gatinha é esperta, cheia de recursos e complementa a equipe na medida para que a investigação do trio torne a iminente invasão soviética em Indiana a linha narrativa mais divertida da série nesse início, especialmente pela habilidade com que os roteiristas dosam as revelações a respeito, tanto da nova invasão do Mundo Invertido, quanto da razão pela qual os russos estão em Hawkins.
Igualmente divertida foi a satisfação de Hopper após assustar Mike o suficiente para o fedelho concordar em passar algum tempo a mais do que oito centímetros de distância de Onze.
A satisfação do xerife com a ausência do fedelho em sua casa é particularmente engraçada, tanto quanto seu figurino de Magnum versão três litros para seu encontro com Joyce, frustrado quando a senhora Buyers resolve fazer um curso intensivo a respeito de magnetismo com o professor Clarke (Randy Havens) após ficar particularmente intrigada sobre a razão pela qual seus imãs de geladeira ficam caindo.
O furo de Joyce e o chamado do escamoso prefeito Kline (Cary Elwes), acossado pelos comerciantes locais por seu apoio ao shopping que está acabando com os negócios da cidade dão a David Harbour a oportunidade de fazer de tudo um pouco nesse episódio, e eu, que já havia me habituado a ver o ator fazer sempre papel de bandido em filmes policiais, devo admitir que me afeiçoei ao ator rechonchudo no papel de mocinho, mesmo quando ele está puto da vida, bêbado ou descornado.
The Mall Rats mantém Stranger Things 3 na direção certa. A despeito do estranhamento de vermos as crianças tão divididas quanto elas estão agora, as interações dos grupos que se formam são bastante divertidas, e se Dustin e Steve, com o reforço de Robin são o elo mais forte da corrente, Max e Onze têm quase tanto potencial quanto Hopper e Joyce, cujas constantes discussões são uma forma de flerte divertida e simpática, enquanto a linha narrativa de Billy fica como plano de fundo, prometendo uma nova investida do Devorador de Intelecto contra o nosso mundo.
"-Podemos jogar D&D, agora?
-Não!"
terça-feira, 9 de julho de 2019
Resenha Série: Stranger Things, Temporada 3, Episódio 1: Suzie, Do You Copy?
Nossa, foi bom voltar para Hawkins, Indiana após um agonizante hiato de um ano e meio (sério... Eu odeio cada vez mais os hiatos. Odeio.).
Stranger Things retornou nos levando pela mão até o verão de 1985.
A passagem do tempo foi menor dentro da série, mas seus efeitos podem ser sentidos logo de cara: As crianças estão mais velhas.
O roteiro de Matt e Ross Duffer se concentra justamente nas mudanças da dinâmica entre nossos protagonistas após esse salto temporal. O amadurecimento do elenco, agora adolescente, permite que os irmãos Duffer abordem temas mais complexos e sombrios, que deixam a narrativa um pouco ais sofisticada, o que é uma surpresa agradável.
Não são apenas as crianças que mudaram, a cidadezinha de Hawkins, também viu sua cota de mudanças nos últimos meses, e nosso peão para entender tais mudanças, em boa parte do episódio, é Dustin (Gaten Matarazzo).
Após passar parte do verão em um acampamento para nerds, ele volta sem a compreensão completa das mudanças pelas quais sua cidade natal e seus amigos passaram, e junto com ele nós descobrimos a respeito da evolução do relacionamento de Onze (Millie Bobby Brown) e Mike (Finn Wolfhard) que agora passam o tempo inteiro de agarramento, ou a maneira como o namoro de Lucas (Caleb McLaughlin) e Max (Sadie Sink) é tanto um iô-iô dada a quantidade de vezes que eles terminaram e voltaram, quanto uma tremenda parceria, além do peso dessas mudanças para o relacionamento da turma, que está se afastando a olhos vistos.
É algo melancólico ver o peso de uma passagem de tempo ser retratado de forma tão honesta numa série de TV. Nós jamais vimos isso acontecer com os Goonies, por exemplo, mas por mais devastador que seja perceber o que está acontecendo com as crianças de Hawkins, é admirável notar a autenticidade com que a situação é retratada na série.
Enquanto as crianças crescem, a cidade parece diminuir.
O comércio local fecha as portas ou fica às moscas conforme o novo shopping center Starcourt se torna a grande tendência da temporada (e palmas para o design de produção. O visual oitentista do shopping é simplesmente genial).
Entre as lojas Gap, os cinemas onde está estreando De Volta Para o Futuro e as academias de aeróbica, está a sorveteria Scoopt Ahoy onde reencontramos Steve Harrington (Joe Kerry).
Harrington está aprendendo à duras penas que ser um grande sucesso no ensino médio não é garantia de se dar bem na vida adulta. O rei do baile percebe que seu cabelão não exerce mais o mesmo efeito nas gurias, e é constantemente lembrado disso por sua colega Robin (Maya Hawke).
Robin, que no trailer da temporada parecia ser meio mala se prova uma das melhores, senão a melhor aquisição ao elenco da série, e incluo aí personagens egressos da segunda temporada.
A filha de Ethan Hawke de Uma Thurman é uma tremenda ladra de cenas, conseguindo a proeza de combater em pé de igualdade o bromance de Steve e Dustin com suas tiradas sarcásticas e sua presteza para desafiar o convencimento de Harrington o tempo todo.
Falando em tiradinhas e desafios, outro relacionamento que amadureceu foi o de Joyce (Winona Ryder) e Hopper (David Harbour). O que é natural considerando que os dois têm experiências difíceis de compartilhar com outras pessoas.
Mas enquanto o xerife parece mais do que disposto em estreitar os laços que partilha com a senhora Buyers, ela ainda não está emocionalmente lá.
Joyce ainda não superou a morte de Bob Newby nas garras dos democães na temporada passada. São muitos traumas no prato da personagem tirada de letra por Winona Ryder, de modo que ela ainda não parece estar pronta para seguir adiante e deixar pra lá.
Hop, por sua vez, também está próximo de uma experiência traumática:
Ser pai de uma adolescente.
A química entre Harbour e Millie Bobby-Brown é excelente, e o episódio nos lembra disso ao retomar de onde havia parado a construção da relação pai e filha entre Hopper e Onze. Vê-lo enfurecido com as intermináveis sessões de beijos entre sua filha e o namorado é tão hilário quanto a forma como ele resolve intimidar Mike para obter a paz que deseja em sua casa.
Quem teve menos o que fazer nesse primeiro capítulo foram Will (Noah Schanpp), Nancy (Natali Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton), mas ainda há sete episódios para que eles, e as caras novas (que incluem Cary Elwes e Jake Busey), encontrem espaço para causar algum impacto.
Após longo período de trevas Stranger Things voltou com um fabuloso episódio que nos lembrou de tudo o que aprendemos a amar no seriado. Vimos nossos personagens preferidos lidando com as mazelas e maravilhas de crescer sem abandonar as amizades que, em grande parte, definem quem eles são.
Deixando claro que seus criadores entendem perfeitamente seus personagens e qual a melhor forma de usá-los a ponto de deixar o mundo invertido e as conspirações soviéticas de lado.
Por enquanto...
"-É hora do show."
domingo, 7 de julho de 2019
Resenha Filme: A Mula
Clint Eastwood é o caubói fundamental de toda uma geração. Provavelmente de todas as gerações que vieram após John Wayne, na verdade...
Nenhum ator contemporâneo chegou sequer perto de personificar com tamanha competência um determinado ideal de masculinidade durona e silenciosa da maneira que Eastwood conseguia, não apenas em faroestes, mas em filmes de diversos gêneros.
Eu já devo ter falado do tamanho da surpresa que foi esse pistoleiro fundamental do cinema se transformar em um cineasta de obra tão ampla, competente e diversificada quanto Eastwood é hoje, aos oitenta e nove anos.
Clint não é um samba de uma nota só.
Ele dirigiu faroestes, sim. O brilhante e algo revisionista Os Imperdoáveis, mas dirigiu filmes de guerra como o sublime Cartas de Iwo Jima, dirigiu ficções científicas como Caubóis do Espaço, musicais como Jersey Boys, dramas político esportivos como Invictus e romances como As Pontes de Madison sempre esbanjando elegância.
Desde Curvas da Vida restrito a participações atrás das câmeras, Eastwood voltou à atuação neste A Mula, primeira vez que acumula as funções de ator e diretor desde o excelente Gran Torino.
Na trama conhecemos Earl Stone (Eastwood), em 2005 Earl é um celebrado floricultor, que tem seu trabalho reconhecido entre seus pares e admiradores que lhe rendem homenagens e premiações.
Colocando seu trabalho como prioridade, Earl prefere estar na estrada diuturnamente levando sua produção pelos quatro cantos dos Estados Unidos, participar de convenções e celebrar com seus amigos e colegas em um bar do que comparecer ao segundo casamento da filha Iris (Alison Eastwood, filha de Clint), e pra ele está tudo bem assim, pois ele é um provedor nato.
Corta para doze anos no futuro.
Os negócios já não são mais a mesma coisa. Incapaz de competir com a internet, Earl vê sua fazendinha ter a hipoteca executada pelo banco.
Sua ex-esposa Mary (Dianne Wiest) e sua filha se recusam a dividir qualquer espaço com ele. E sua neta Ginny (Taissa Farmiga), a única pessoa que parece o querer por perto está prestes a se casar, e Earl não tem nenhum dinheiro para ajudar com a festa.
Inconformado com a curva descendente de sua vida na velhice, Earl é abordado com um conhecido durante o noivado da neta. O sujeito lhe diz que Earl pode ganhar um bom dinheiro apenas para transportar algumas cargas de um lugar ao outro em sua velha picape.
Se em um primeiro momento o velho floricultor está reticente com a proposta, ele eventualmente se vê sem muito mais opções.
Com quase noventa anos e nenhum dinheiro, Earl resolve ligar para o número que lhe foi oferecido, e fazer uma entrega, apenas para ajudar no casamento de Ginny.
Um octogenário sem nenhuma multa em sua vida, Earl não tem problemas para levar a bolsa de viagem até um motel qualquer, e ser generosamente recompensado.
Se a ideia de Earl é que aquele seja um evento único, não tarda para ele perceber que pode fazer mais uma entrega para comprar uma nova picape...
E outra para pagar a hipoteca de sua fazenda...
E outra para ajudar na reforma do centro dos veteranos...
E eventualmente Earl é a mais eficiente mula a serviço do cartel chefiado por Laton (Andy Garcia), fazendo transportes periódicos na casa dos milhões de dólares, sempre à sua maneira. Dirigindo por vias secundárias, fazendo paradas para lanchar em restaurantes que sirvam suas guloseimas favoritas, dormindo em motéis onde se diverte com prostitutas, e parando para ajudar desconhecidos passando por problemas na beira da estrada e quase levando à loucura os capangas do cartel encarregados de vigiá-lo, como Julio (Ignacio Serricchio).
Mas quando brigas pelo poder mexem nas estruturas do cartel, e a família de Earl começa a enfrentar problemas ao mesmo tempo em que o cerco do DEA se fecha ao redor das entregas, ele se vê entre a cruz e a espada sem saber se terá tempo para corrigir ao menos um pouco dos erros que cometeu nos últimos anos.
Livremente baseado em uma história real, A Mula é um filme bacana, mas está muito longe dos melhores trabalhos de Eastwood.
Muito do que impede o longa de alcançar seu verdadeiro potencial é o roteiro de Nick Schenk (baseado no artigo da The New York Times Magazine), que parece mais preocupado em brincar com as manias de velho do protagonista do que em explorar eventuais dilemas morais de Earl com seu novo trabalho.
Dedicar alguns minutos ao momento em que Earl descobre (ou confirma) a natureza do trabalho que está fazendo teria sido, talvez, mais interessante do que os constantes discursos a respeito da importância da família que soam inócuos quando sabemos que Earl passou as últimas décadas os negligenciando, ou as piadinhas que mostram Earl como casualmente racista mas com um bom coração. Esse tipo de decisão desperdiça o talento de Eastwood, um ator que consegue demonstrar muito com gestos econômicos, mas que precisa de texto com o qual trabalhar.
Eastwood não é o único talento desperdiçado. Atores como Andy Garcia, Taissa Farmiga, Michael Peña e Laurence Fishburne fazem figuração de luxo, e Bradley Cooper no papel do agente Colin Bates faz muito pouco além de "coisas de tira" num papel que poderia ter sido feito por qualquer ator de TV sem grandes prejuízos.
A Mula é mais que um filme assistível, divertido até, e em seus momento finais consegue capitalizar sobre a tensão da audiência com relação à perseguição do DEA sobre Earl, mas não dá pra não pensar que faltou algum polimento ao roteiro, mais estofo aos personagens, e mais clareza sobre a jornada de cada um (A linha narrativa do personagem de Serricchio, por exemplo, parece ser abruptamente abandonada à certa altura.).
Na melhor das hipóteses A Mula é um bom programa para um sábado gélido em Porto Alegre, na pior, é uma oportunidade para ver que Eastwood ainda domina seus ofícios, e é capaz de explorar a própria fragilidade no presente com a mesma competência que explorou sua virilidade no passado.
"As únicas pessoas que querem viver até os cem anos são as que têm noventa e nove."
sexta-feira, 5 de julho de 2019
Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 3, Episódio 13: Everything
Acabooooooooooooou, diria Galvão Bueno.
Jessica Jones terminou sua terceira temporada numa boa nota. Por mais que a série não tenha tido um desfecho tão movimentado quanto outros programas da Marvel na Netflix haviam tido, Everything foi um desfecho sólido para a melhor temporada da detetive beberrona na TV.
Muito dos últimos treze episódios foi a respeito de fazer com que Jessica aceitasse que é uma super-heroína, e, eu devo dizer, isso fez maravilhas pela personagem. Tornar Jess menos rançosa sem necessariamente mudar sua personalidade teria sido algo bem vindo já na segunda temporada da série, mas, antes tarde do que nunca.
Jessica é uma super-heroína, e agora ela precisa tomar a difícil decisão de ir atrás de Trish, que no desfecho do capítulo passado pisoteou a cabeça de Sallinger até a morte dentro do tribunal.
Trish fez o caminho inverso de Jess. Muito como Matt Murdock e Frank Castle, as duas irmãs passaram por situações semelhantes e chegaram a desfechos opostos. Enquanto Jess aprendeu o valor da vida humana e a importância de tomar as decisões corretas, Trish se tornou mais adepta do que nunca da máxima de que os fins justificam os meios, chegando a acreditar que seu verdadeiro superpoder não são a visão noturna, a agilidade ampliada ou a manicure assassina, mas o vácuo moral que permite que ela massacre bandidos sem que isso afete sua vida.
Jessica está justificadamente hesitante sobre agir contra Trish, mas Luke Cage (Mike Colter) aparece do nada em sua porta para fazer um discurso a respeito de como ele próprio teve que prender seu irmão n'A Balsa.
Em que se pese que Willys Stryker era um tremendo escroto do caralho e queria matar Luke enquanto Trish e Jessica verdadeiramente se amam, foi legal ver que essas séries seguem conectadas (Eu gostaria de ter visto Karen Page aparecer para defender o ponto de vista de Trish e mencionar Frank Castle para fazê-lo), e bacana Luke ter dado as caras, usando as roupas que estava usando no final de sua própria série, para mostrar suporte à Jess, mas eu ainda preferia que a morena terminasse com Erik.
Seja como for, o papo com Luke coloca Jess no encalço de Trish, e eventualmente o embate final entre as duas irmãs acontece bem quando a loira tentava usar os contatos de Jeri para fugir dos Estados Unidos dentro de um caixão de defunto.
A luta entre as duas não é muito melhor do que a média das brigas em Jessica Jones foram desde sempre, mas o desfecho do confronto, com Trish atacando Jess com a faca, é bem maneiro.
Seja como for, não é apenas a relação de Trish e Jessica que chega ao fim nesse derradeiro episódio da série.
Jeri e Kith se abrem, com a advogada admitindo que ama a musicista e quer terminar sua vida com ela, e ouvido, em troca, que é uma pessoa egoísta e amoral e que vai morrer sozinha por isso.
Jeri foi uma personagem frequentemente escrota ao longo de todas as temporadas de séries onde deu as caras, mas devo dizer que esse desfecho foi ainda mais cruel do que ela merecia...
Malcolm, ganhando as chaves da Codinome Investigações, por outro lado, foi muito mais legal do que aquele personagem mala pra caramba merecia.
E Trish, durante seu fichamento com o detetive Costa, dando-se conta de seu verdadeiro papel na temporada, foi particularmente bem sacado, aliás, palmas para Rachael Taylor. A loira mandou bem nessa temporada, vendendo de maneira crível a descida da personagem rumo às profundezas da vilania.
Enquanto isso, Erik é devidamente dispensado por Jessica, como poderíamos imaginar, e arranjado com o detetive Costa, mas no bom sentido. Para que os dois formem uma parceria onde Erik possa usar seus poderes para empurrar o detetive em direção a criminosos perigosos de modo a que ambos possam trabalhar juntos para tornar Nova York melhor.
Quanto à protagonista, sem namorado, família adotiva ou biológica e com o gosto amargo dos sacrifícios que o heroísmo exige ainda fresco na boca, Jess está pronta pra deixar Nova York quando a voz de Kilgrave em sua mente surge para lembrá-la que ela não é uma vítima, mas uma defensora. E que sempre haverá pessoas que irão precisar de sua ajuda.
O final de Jessica Jones foi melhor do que a serie em si havia sido até aqui. A terceira temporada certamente foi o melhor momento de Jessica, e foi um desfecho digno não apenas para a série, mas também para esse cantinho do MCU que existiu na Netflix nos últimos quatro anos.
Ainda que nenhuma série tenha alcançado o nível de excelência de Demolidor, que foi, sim, excelente, todos os programas tiveram alguma forma de apelo, e eu não posso deixar de lamentar que não teremos mais esses programas espocando anualmente na telinha.
É sonhar demais que o Disney + resgate apenas alguns deles?
"Eu sou a vilã..."
Marcadores:
Nerd,
Quadrinhos,
Série,
Streaming,
super-heróis
Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 3, Episódio 12: Lotta Worms
Após o show de horrores (no mau sentido) que foi o capítulo anterior, Lotta Worms foi um puta avanço.
Jessica, suspeita de homicídio no caso Nussbaumer, é liberada após o distintivo do policial assassinado ser encontrado no cadáver da última vítima de Trish.
Jess não está satisfeita, e chegar em casa e encontrar Erik curtindo uma guilty trip embriagada em sua banheira não ajuda.
Nós sabemos que Erik ajudou Trish por se sentir culpado pela morte da mãe da loira, e porque, quando ela matava uma pessoa ruim, isso causava um efeito de euforia e alívio nele, quase como uma droga. O que nós não sabemos é por que ele fez isso pelas costas de Jessica ao invés de ir logo contar pra ela o que havia acontecido quando ela o inquiriu após a morte do tira.
Seja como for, Jess não demora muito a perdoar o sujeito, e eu devo dizer que fico feliz. Erik é o melhor namorado que Jessica poderia ter, e por mais que eu saiba que eles dificilmente irão acabar juntos, não custa torcer...
Enfim, Erik explica para Jess que Trish foi para o lado sombrio, e que à essa altura lhe dá uma dor de cabeça nota 5 de 10.
Jessica sabe qual é o próximo alvo de Trish: O assassino de sua mãe, Sallinger.
Isso coloca a investigadora beberrona como a principal protetora de seu inimigo, não para salvá-lo, mas para salvar Trish, e impedir que sua irmã vá longe demais em sua sanha assassina.
A luta entre as duas no hospital tem bons momentos, e outros não tanto. Embora Trish tenha razão ao falar sobre como Jessica já matou gente (Kilgrave não seria o parâmetro ideal para Trish argumentar com a irmã, mas a morte do carcereiro da Balsa na temporada passada...), isso não justifica que ela queira se tornar um Frank Castle de colante e sair matando todos os criminosos do mundo, deixando claro que a loira está cada vez mais longe do ideal heroico que tanto almejou.
Eventualmente Jess entende que não conseguirá convencer Trish a esperar que Sallinger seja preso e punido de acordo com a lei, o que a força a improvisar.
As coisas terminam com Trish presa em casa com Malcolm, acorrentada à uma coluna e forçada a ter as mais aborrecidas conversas sobre relativismo moral com Malcolm, que, por sinal, tem alguns momentos ao longo do episódio para saber quão escroto ele tem sido, incluindo aí sua relação com Brianna e o fim de sua relação com Zaya. Trish, por sua vez, escolhe se abrir justamente com Malcolm, talvez porque ambos sofrem com vícios substitutos. Ele trocou as drogas por sexo, ela trocou as drogas por homicídio, e não é que Malcolm levou a melhor nessa?
Seja como for, eventualmente chegamos ao ponto alto do episódio, e ele é o confronto derradeiro entre Sallinger e Jessica.
A detetive se vê do lado errado da lente da câmera do assassino serial, amarrada à uma cadeira e tendo que ouvir o interminável discurso do vilão sobre como ele vê as pessoas como realmente são.
Não creio que chegue a ser um spoiler dizer que Jessica não morre, mas é bacana.
Usando muito pouco de seus poderes a detetive consegue superar o homicida em seu próprio jogo, e ainda arranja evidências para incriminá-lo, e trazer o detetive Costa de volta ao jogo no que poderia ter sido um final perfeito para a série se esse não fosse apenas o penúltimo capítulo da série.
É aos 45 do segundo tempo que Jessica descobre que, ás vezes, mesmo fazendo tudo certo, há batalhas que simplesmente não podem ser ganhas, e a batalha que ela realmente estava travando nessa temporada, foi irremediavelmente perdida.
Lotta Worms, com sorte encerra diversos arcos que vinham se arrastando ao longo da temporada (Malcolm... Céus, que personagem que ficou chato...) e prepara o terreno para o encerramento do seriado no décimo terceiro episódio de maneira satisfatória, competente, até...
Falta uma hora para o fim da Era dos Defensores na Netflix, e vamos torcer para que seja digno.
"Deve ser enlouquecedor ser tão previsível..."
Marcadores:
Nerd,
Quadrinhos,
Série,
Streaming,
super-heróis
Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 3, Episódio 11: Hellcat
E aqui vamos nós.
Eu vinha reclamando desde o primeiro episódio sobre a quantidade de episódios dessa última temporada de Jessica Jones. Mesmo as melhores séries da parceria Marvel\Netflix, nominalmente Demolidor e Justiceiro, se ressentiram do excesso de episódios, e Hellcat é a epítome da encheção de linguiça.
Se por um lado foi interessante termos um vislumbre de Dorothy como uma víbora manipuladora. As duas temporadas anteriores tinham trabalhado nesse sentido, e nos últimos episódios a série parecia estar fazendo um esforço oposto, com o que vimos ao longo de Hellcat, nós podemos montar um retrato da personagem como uma pessoa horrível e manipuladora, mas não um monstro.
Pra não dizer que não houve nada que não se aproveitasse nos intermináveis flashbacks mostrando a infância de Trish para se tornar Patsy, a estrela infantil, ao menos pudemos ver Rebecca de Mornay com o penteado de A Mão que Balança o Berço, afora isso, revisitar os traumas da criação abusiva de Trish e seu ponto de vista sobre eventos que já havíamos visto nos episódios passados foi terrivelmente entediante e simplesmente matou o ritmo da temporada.
Pra piorar, fez um tremendo desserviço a Erik.
Quer dizer, porque diabos do inferno o sujeito foi ajudar Trish pelas costas de Jessica?
Por mais que ele se sentisse culpado pela morte de Dorothy, não faria mais sentido ajudar Jess a prender Sallinger do que encontrar criminosos para Trish matar? Ele havia literalmente acabado de ajudar Jessica a destruir evidências contra Sallinger porque Trish era descuidada e imprevisível...
Extremamente desapontador, especialmente porque a relação de Erik e Jessica é a melhor que a personagem já teve, e que me desculpem Oscar e Luke Cage, mas também porque os dois funcionam muito bem juntos graças à química dos atores.
Falando em Sallinger, o psicopata teve um dos bons momentos desse episódio medonho.
Sua participação no hospital, amarrado à uma cama, sem matade da cara, falando com a pessoa que quase o assassinou, mas extremamente calmo e seguro, foi um momento maneiro para o personagem. Ele certamente não é Kilgrave, mas é um antagonista decente.
Outra com um momento que não foi redundante, óbvio ou irritante, foi Hogarth.
Após onze episódios de pura enrolação ela finalmente arrumou alguma coisa pra fazer que parecia vagamente inteirada à história da temporada ao aparecer na casa de Trish se oferecendo para manter a identidade da vigilante mascarada em segredo em troca de ajuda da loira para conseguir evidências contra o sujeito que está importunando Kith.
É algo bastante coerente para com a natureza da personagem. Hogarth é uma personagem que até quando tenta fazer as coisas direito as faz de forma egoísta e meio vil, e seu amor por Kith não é exceção.
Redundante, irritante e repetitivo, Hellcat é uma demonstração clara de como a Netflix fez besteira com os personagens da Marvel que conseguiu ter sob seu guarda-chuva (novamente, excetuando-se Demolidor e Justiceiro), pra piorar, as poucas sequências de ação que temos são gravadas na penumbra.
Será possível que a Netflix não tem orçamento pra contratar pelo menos um coreógrafo de luta pra essa série?
Enfim, o pior episódio de uma temporada que vinha sendo boa até aqui, resta torcer para que a obviedade que permeou Hellcat seja o tomar de fôlego de que a série precisa para entregar um final digno nos seus dois episódios restantes.
"Eu cuido disso."
Marcadores:
Nerd,
Quadrinhos,
Série,
Streaming,
super-heróis
quinta-feira, 4 de julho de 2019
Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 3, Episódio 10: Hero Pants
Enquanto lida com os preparativos do funeral de Dorothy, que estava preparada para a própria partida e deixou uma extensa lista de tarefas para Trish, passando pelas músicas que deveriam tocar durante o velório (mais alguém pensou em I Want Your Cray-Cray quando foi mencionado "várias canções" de Patsy?) até o caixão escolhido para seu enterro.
Todo o serviço funerário acaba sendo a porção mais leve do capítulo, com Jessica e Trish lidando com os absurdos das exigências mais extravagantes da falecida, e alguns momentos de fofura, como Jess ter sido contemplada, no testamento, com a cadeira Eduardiana onde costumava ouvir música na infância, ou o fato de que Dorothy, a despeito de todas as suas falhas de caráter, ter ajudado a carreira de muitas pessoas que não foram emocionalmente arruinadas por ela, como Trish.
Bem menos leve é o fato de que Jessica é a principal suspeita do assassinato de um policial, e o alvo primário da investigação que tenta descobrir quem surrou Nussbaumer até a morte e tem detetives em as cola dia e noite. Se Malcolm está bastante tranquilo como fato de ser interrogado por tiras tentando descobrir se Jessica matou alguém, ou não, Trish, por sua vez, não encara a coisa toda tão bem, e parece estar à beira de um ataque de nervos.
Se Jess é a principal suspeita da polícia, o principal suspeito de Jessica, é Erik.
O detector de malvados não apenas foi identificado pelo tira sujo, mas também sabia que ele havia se tornado pior desde a última vez em que eles haviam se visto, chegando a se descontrolar na presença do sujeito.
Enquanto é perseguida pela polícia, Jessica faz sua própria investigação privada, e, mais e mais as coisas apontam para Erik como o culpado óbvio pelo homicídio, talvez, óbvio demais...
Enquanto esse segmento investigativo é bastante satisfatório, o mesmo não pode ser dito das tramas paralelas.
Malcolm continua muito chato, e, Brianna retornou e quer ficar na casa dele? Sério? Depois de um boquete eles já estão nesse patamar de intimidade?
Não só isso, mas o papel da personagem já não havia sido cumprido na trama? Porque trazê-la de volta?
Resta torcer para que essa linha narrativa seja beneficiada pelo seu retorno, porque se piorar o ritmo da parte da trama que cabe a Malcolm, francamente, eu fico feliz que a série esteja pra acabar.
Falando em linhas narrativas ruins, eu começo a me perguntar se a série ter conseguido uma atriz do calibre de Carrie Anne-Moss para o papel de Jeri Hogarth não foi um tiro no pé.
Se na primeira temporada a trama da advogada estava bastante entranhada na ação principal, na segunda as coisas já estavam menos funcionais, e, nessa terceira, as tentativas de aproximá-la do centro da história parecem extremamente desastradas.
Sim, sim, ela estava trabalhando para Sallinger, mas isso durou o que? Uns dois episódios, se tanto, e ela logo largou o osso, agora ela está com Trish na alça de mira por ter descoberto que a loira é a vigilante mascarada que estava roubando seus arquivos e agredindo seus clientes. Entre idas e vindas, me parece que se Jeri fosse interpretada por uma atriz sem o estofo e notoriedade da eterna Trinity, já teria sido solenemente escanteada, e eu nem sei se não teria sido melhor pra série.
Mais um episódio relativamente lento no geral, Hero Pants teve alguns bons momentos, em especial os momentos mais leves que envolviam Dorothy.
Mesmo assim, o plot envolvendo o assassinato de Nussbaumer foi OK, embora a verdadeira identidade do assassino estivesse meio óbvia desde o início, com três episódios para encerrar a temporada já entramos em contagem regressiva para ver como se resoverão todas as tramas paralelas que estão se empilhando.
"Você sabe que está morrendo. O que está fazendo?"
Marcadores:
Nerd,
Quadrinhos,
Série,
Streaming,
super-heróis
Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 3, Episódio 9: I Did Something Today
Após os devastadores eventos de Camera Friendly, Jessica conseguiu impedir Trish de degolar Sallinger, e leva-la para um lugar seguro. As coisas porém, não estão tranquilas de forma alguma.
Sallinger estava esperando que Jessica surgisse para atacá-lo após o assassinato de Dorothy, e, ainda que Trish não fosse quem ele esperava, Jessica precisa descobrir se o assassino foi capaz de identificar a loira.
Após uma bela cena onde Jessica limpa e acalenta sua irmã adotiva, ela vai ao encontro de Sallinger para descobrir que si, ele sabe exatamente quem foi que lhe deu uma surra e arrancou metade de sua cara à unha, e que ele está disposto a manter seu segredo em troca de uma coisa:
As evidências que Jessica encontrou para incriminá-lo em sua cidade natal.
Jessica, apesar dos pesares, segue se preocupando profundamente com sua irmã adotiva, e aceita o acordo, mas entrar numa delegacia e meter a mão em evidências não é algo que seja tão fácil de fazer, ao menos não sem ajuda.
É quando Erik volta à cena.
O apostador compulsivo tem um policial corrupto que pode servir aos propósitos de Jessica.
O plano todo corria de maneira tranquila até o tira começar a ameaçar Jessica durante o encontro clandestino da dupla. Nesse momento Erik surge, por alguma razão revelando sua identidade e quase mela a coisa toda.
Erik, aliás, têm um momento para contar um pouco de sua história. Não sabemos como ele obteve seus poderes, mas sabemos que eles já afetam a vida do sujeito há um bom tempo.
Sua narrativa é triste e sombria, e explica por que sua irmã acabou como acabou, e porque ele usa seus poderes da forma que usa.
Seja como for, o plano de Jess e Erik dá certo, e, com o apoio logístico do policial Nussbaumer, Jessica consegue se desfazer das evidências de Sallinger.
Trish, obviamente não fica feliz. Ao descobrir que ela perdeu sua mãe, e ainda assim, sua vitória pessoal de ter o assassino preso lhe foi tirada para proteger sua liberdade. As irmãs são assaltadas por suas emoções, e as pessoas ao redor das duas são atingidas de uma forma, ou outra. Erik, esmurrado na cara por Trsih, e o detetive Costa, suspenso após a perda das provas contra Sallinger somada à sua leniência para com a investigadora.
E, meio a tudo isso, ainda houve tempo para Malcolm assumir que sabe quem é a vigilante mascarada a quem Jeri vem caçando, e para a advogada se agarrar com unhas e dentes à uma nova chance de ter Kith em sua vida.
E, para fechar a conta, quando parecia que já estava tudo resolvido, duas detetives surgem no escritório de Jessica com um mandato de busca porque a morena é suspeita de assassinato...
Do policial Nussbaumer.
Além de servir como um cliffhanger respeitável para o próximo episódio, e dar um sopro de vida a um capítulo justificavelmente lento em termos de ritmo, esse desdobramento pode significar uma mudança de rumo na reta final da temporada. Se Jessica Jones fosse seguir o exemplo de Demolidor e Punho de Ferro e ter apenas dez episódios nessa temporada, as coisas poderiam apenas se encaminhas para o desfecho no próximo capítulo, mas com cerca de quatro horas por vir, é bom que haja algo além de Sallinger e dos caprichos de Hogarth no horizonte de Jess.
"Eu posso aceitar um golpe, se for justo."
Marcadores:
Nerd,
Quadrinhos,
Série,
Streaming,
super-heróis
Resenha Cinema: Homem-Aranha: Longe de Casa
Assistir aos filmes do Homem-Aranha da parceria Sony/Disney é um ato de desapego para os fãs de longa data do cabeça de teia.
São filmes que, quem cresceu lendo os quadrinhos, precisa ver entoando um mantra sobre adaptações... Não é o gibi.
E eu digo isso do lugar de alguém que realmente gostou da apresentação do personagem em Guerra Civil, mas que acha que o Homem-Aranha do MCU é muito melhor nos filmes dos Vingadores do que nos filmes solo (Markus e McFeely, já mencionei que sou fã do trabalho da dupla?).
Eu realmente não gosto da exclusão do elenco de apoio tradicional do Homem-Aranha, da maneira como personagens consagrados dos gibis foram excluídos do cinema tornando o herói que carregou a Marvel nas costas nos anos mais negros da editora um coadjuvante do Homem de Ferro.
Porque, sem precisar fazer uma análise muito profunda, é isso que o Homem-Aranha do MCU é:
Peter Parker é um side-kick de Tony Stark rompendo com o que, talvez, seja um dos principais elementos de ruptura do personagem nos quadrinhos já que, nas páginas, o Aranha foi o primeiro herói adolescente que não era um parceiro-mirim.
Seja como for, não adianta chorar sobre o leite derramado.
Andrew Garfield é apenas uma lembrança agora, e já faz muito tempo desde que Tobey Maguire se espremeu pra dentro do colante azul e vermelho. Tom Holland é o Homem-Aranha da vez, e Longe de Casa é o filme que os fãs do personagem têm pra assistir gostem, ou não.
O filme começa com Maria Hill (Cobbie Smulders) e Nick Fury (Samuel L. Jackson) chegando ao México para investigar um tornado misterioso.
Ao chegar lá, eles são surpreendidos por um evento climático com um rosto, e pela chegada de um combatente de armadura.
Corta pro Queens.
O noticiário interno do colégio Midtown explica os eventos do Snap de Thanos e do subsequente Blip (o estalo de Banner), que trouxe todas as pessoas pulverizadas pelo titã de volta após cinco anos de ausência (junto com uma homenagem aos heróis tombados em combate).
É o fim do ano letivo e Peter (Holland) se prepara para uma viagem de ciências pela Europa com o colégio.
Ele tem se esquivado de quaisquer responsabilidades heróicas exceto participar de eventos beneficentes organizados pela tia May (Marisa Tomei) pelas pessoas desabrigadas pelo Blip.
Ele só tem olhos para Michelle (Zendaya) por quem está apaixonado, e a quem planeja se declarar durante a viagem. Tanto que ignora os avisos de Happy (Jon Favreau) de que Nick Fury está tentando contatá-lo.
Na Europa, porém, após o ataque de uma criatura feita de água ser debelado pelo homem misterioso do México, Peter finalmente é encontrado por Fury, e apresentado a Quentin Beck (Jake Gyllenhaal), um soldado interdimensional cuja Terra paralela foi devastada por criaturas elementais que foram transportadas à nossa realidade pelo estalo de Thanos. Beck está colaborando com Fury para garantir que o destino de seu mundo não se repita no nosso, e os planos românticos de Peter irão ter que esperar já que o Homem-Aranha é o único super-herói disponível para dar suporte a Beck, nomeado Mysterio pelas crianças do colégio Midtown.
Homem-Aranha: Longe de Casa é um filme divertido.
A primeira metade é bastante lenta, às vezes irritante como millenials tendem a ser. Os dramas românticos adolescentes são tratados de maneira leve e galhofeira, e nada é levado muito a sério numa troca de marcha que faz o filme destoar um pouco da gravidade de Ultimato, mas o deixa no mesmo nível de Capitã Marvel.
A segunda metade é superior, com algumas grandes sequências de ação, em especial a que envolve Peter e Beck na Alemanha, que parece arrancada das páginas dos quadrinhos, e o grande confronto final em Londres.
Tom Holland é um Peter Parker bacana.
Poderia ser ótimo se fosse melhor escrito, e sua química com Zendaya melhorou bastante do primeiro filme pra cá. O Ned de Jacob Batallon segue sendo extremamente irritante, e Angurie Rice como Betty Brant segue sendo um desperdício de talento. O grande acerto do longa é mesmo Gyllenhaal como Mysterio.
O personagem é provavelmente o melhor em sua categoria em um filme solo da Marvel em muito, muito tempo, e o testemunho de que a parceria Sony/Disney sabe adaptar personagens de maneira inspirada, infelizmente resolveu não fazê-lo com o personagem título.
Entre mortos e feridos, porém, dá pra se dizer que todos se salvaram.
Longe de Casa não é um filme memorável, mas está na média dos segundos filmes solo da Marvel, todos nota seis, no máximo (exceto Soldado Invernal), e é um encerramento morno para a fase 3 do MCU, mas, depois de Ultimato, sejamos francos, todos sabíamos que tudo pareceria morno dali pra frente.
O longa tem duas cenas pós-créditos, a primeira com uma participação especialíssima e o que deveria ser um evento bombástico que, francamente, não faz nenhuma diferença considerando o status quo do personagem nos filmes até aqui, e a segunda aludindo à verdadeira natureza de um personagem do longa.
O 3D é absolutamente dispensável, mas Mysterio e as grandes sequências de ação valem a ida ao cinema.
"Você não é o Homem de Ferro."
Marcadores:
Cinema,
Nerd,
Quadrinhos,
super-heróis
terça-feira, 2 de julho de 2019
Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 3, Episódio 8: Camera Friendly
E, conforme nós todos havíamos imaginado, a ideia de Jessica de humilhar publicamente o assassino serial, não ficaria impune.
Jessica recebe uma mensagem informando que Sallinger matará novamente. Ao contrário de suas últimas sessões de fotos assassinas, a vítima da vez parece ser uma mulher. Mais do que isso, uma morena de cabelos lisos vestida de preto: Uma substituta de Jessica.
Sallinger deixa vídeos instantâneos em redes sociais atiçando a detetive e a envolvendo em uma caçada humana com hora para acabar; Jess e Trish têm até o fim do dia para encontrar a vítima em potencial e salvá-la.
Entra em cena a expertise de Dorothy no uso de mídias e redes sociais. A agente de talentos não apenas introduz Jessica ao mundo dos "InstaYelps", mas também convoca a coletiva de imprensa onde Jessica alerta todas as morenas de Nova York a se apresentarem na delegacia do pobre detetive Costa, que passa grande parte do episódio jurando de pés juntos que Sallinger está em casa sob vigilância.
Seja como for, grande parte do episódio se dedica a trabalho de detetive de Jess e Trish.
Não há, de fato, nenhum momento particularmente inspirado da dupla nesse capítulo, a coisa toda é bem lenta.
Vemos também que a descoberta de Zaia de que Malcolm e a vigilante mascarada são BFFs, ou pareciam no vídeo da sala de arquivos, não chega à Hogarth.
Ao menos, não completa; Zaia, uma maga secreta da edição de vídeos, cortou a participação do investigador da gravação, deixando todo o ódio de Jeryn para o alter ego de Trish, chegando a declarar sua própria guerra aos vigilantes nova-yorkinos, ou, ao menos aos vigilantes da Cozinha do Inferno, vá lá...
Aqui cabe reforçar como a linha narrativa de Hogarth está emaranhada. O que começou de maneira até interessante, com a advogada lidando com sua doença e tentando se reconectar ao amor de sua vida, está se transformando num puta carretel de decisões estúpidas cobrando seu preço, e, ao invés de Jeri se aprumar e parar de fazer cagada, ela continua comprando brigas que não vão a parte alguma, ela continua comprando briga com moinhos de vento.
Falando em caçadas infrutíferas, após um dia de tensão tentando impedir que Sallinger cometa um assassinato, Jessica descobre que pode ter feito exatamente o que seu inimigo queria, e as consequências de sua última altercação com o psicopata pode ser trágicas, não apenas para a verdadeira vítima do vilão, mas para ela e Trish, também.
Em Camera Friendly tivemos um bom vislumbre da verdadeira natureza da inteligência de Sallinger conforme ele manipula Jessica a tomar parte em uma caçada durante o episódio inteiro, apenas para, aos quarenta e cinco do segundo tempo, relevar seu objetivo real.
A despeito de eu seguir achando que a temporada está um tanto vagarosa, e que Erik faz falta, esse episódio foi bastante interessante, deixando claro que, por mais que o vilão da vez seja absolutamente vulnerável quando enfrentando Jessica diretamente, ele é ardiloso o suficiente para explorar o desejo heroico de Jess de agir tão dentro da lei quanto possível e fazer a coisa certa,
Vamos ver o tamanho da chacoalhada que esse episódio dará, ao menos na linha narrativa principal, já que as secundárias seguem bastante aborrecidas.
"Felizmente eu tô cagando pra o que as pessoas pensam de mim."
Marcadores:
Nerd,
Quadrinhos,
Série,
Streaming,
super-heróis
Assinar:
Postagens (Atom)