Pesquisar este blog

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Resenha Filme: Meu Nome é Dolemite


Um dos maiores (senão o maior) celeiro de comediantes da televisão norte-americana é, sem sombra de dúvidas o Saturday Night Live. Programa de esquetes ao vivo que desde 1975 lançou as carreiras de comediantes que se tornariam alguns dos maiores do cinema americano, e que inclusive esnobou gente do quilate de Steve Carell e Jim Carrey quando eles estavam no começo de suas carreiras. Ao longo de sua longeva existência, o SNL viu seu elenco ser reformulado inúmeras vezes, em diversas ocasiões lançando novos grandes nomes que vão de Mike Myers a Will Ferrell, de Chris Rock a Tina Fey. Apesar de ter havido um sem-número de elencos excelentes ao longo da história do SNL (o do início dos anos 2000 é meu favorito pessoal), há que se dizer que o elenco dos primeiros anos, com gente do calibre de Dan Aykroyd, Bill Murray, John Belushi, Gilda Radner e Chevi Chase foi provavelmente a maior reunião de comediantes da história da TV.
Quando todos esses brilhantes comediantes fizeram a transição do SNL para o cinema, o vácuo deixado por eles foi gigantesco. E quem carregou o programa nas costas durante o mais sombrio período de sua existência foi um jovem comediante do Brooklyn:
Eddie Murphy.
Do SNL Murphy fez a natural transição para o cinema intercalando comédias como Trocando as Bolas e Um Príncipe em Nova York e filmes de ação como 48 Horas e Um Tira da Pesada, tornando-se um dos maiores astros de cinema dos anos 80. Eventualmente, após o ótimo Os Picaretas, o comediante entraria em uma tenebrosa série de escolhas equivocadas que incluiria o então maior fracasso financeiro da história de Hollywood, As Aventuras de Pluto Nash, além de bombas como Norbit, Mansão Mal-Assombrada e Grande Dave, além de ter entrado em uma tremenda zona de conforto com as dublagens de Shrek, onde dá voz ao Burro, num período onde só se salva, mesmo, sua excelente participação em Dreamgirls: Em Busca de um Sonho. Após essa longa série de maus filmes, Murphy deixou de dar as caras nos cinemas anualmente. Entre 2012 e 2019 ele lançou apenas dois projetos, um, o piloto de uma série derivada de Um Tira da Pesada que jamais viu a luz do dia, e outro fracasso de público e crítica, Mr. Church.
Enquanto fã da comédia de Eddie Murphy (alguns meses atrás assisti um especial de stand-up antigo do homem no Paramount Chanell e é ótimo) confesso que me sentia triste por ver os rumos que sua carreira haviam tomado.
Então foi uma alegria pra mim ver o trailer de Meu Nome é Dolemite no YouTube meses atrás. A prévia parecia ser um retorno de Muprhy à sua antiga forma e imediatamente eu fiquei com vontade de assistir ao longa metragem o que acabei fazendo, com algum atraso, apenas ontem.
No longa conhecemos Rudy Ray Moore (Eddie Murphy), um obstinado showman que já tentou de tudo para conseguir seu lugar na ribalta, mas que tem dado com a cara na porta do sucesso por anos a fio.
É a década de 1970, e trabalhando em uma loja de discos no sul de Los Angeles, Rudy sonha em ser uma estrela, mas o mais perto disso que consegue chegar é servindo de mestre de cerimônias para os seus amigos cantores no clube noturno onde faz um bico eventual.
As coisas mudam para Rudy no dia em que o bêbado local Ricco (Ron Cephas Jones, roubando a cena) entra na loja de discos para pedir uns trocados aos clientes e começa a entoar rimas a respeito de um sujeito chamado Dolemite, cujos absurdos prodígios sexuais arrancam algumas risadas dos presentes.
Tomado por uma epifania, Rudy percebe o potencial comercial das rimas de Ricco, e eventualmente paga a ele e outros sem-teto por uma batelada de histórias às quais ele eventualmente dá polimento criando um número cômico totalmente novo e absolutamente obsceno.
Adotando no palco a persona do libertino cafetão Dolemite, cujo negócio é "foder filhos da puta", Rudy encontra um sucesso que jamais havia experimentado. Ele grava seu próprio disco, e após ser rechaçado por algumas gravadoras que não compram seu humor desbocado, Ruby eventualmente é acolhido por um selo que o percebe após ele fazer uma boa grana vendendo seus discos por conta própria.
Durante uma turnê pelo sul dos EUA, ele eventualmente conhece Lady Reed (Da'Vine Joy Randolph) uma mãe solteira em quem vê potencial e que integra a seu número. Dolemite entra na lista de mais vendidos da Billboard, grava mais discos, e é provável que qualquer outra pessoa estivesse satisfeita com esse grau de sucesso, mas não Rudy Ray Moore.
Ao levar seus amigos ao cinema para assistir a comédia A Primeira Página no cinema, Rudy percebe o mercado definitivo. Seus shows ao vivo e discos não são páreo para a magia da telona. Um filme é palavras e imagens ao mesmo tempo, e Dolemite é um personagem com uma base de fãs para quem A Primeira Página não tem graça nenhuma, e que está ansiosa por vê-lo em ação.
Um empreendedor nato, Rudy resolve que a tela prateada é a fronteira final, e que o segredo do sucesso é chegar à sala escura com um filme que tenha tetinhas e kung-fu.
Pra levar a cabo sua visão, Rudy tem seus amigos Ben (Craig Robinson), Jimmy (Mike Epps) e Toney (Tituss Burgess), mas precisa de profissionais. Ele contrata o produtor e roteirista de teatro Jerry Jones (Keegan-Michael Key), e, num golpe de sorte, o ator profissional D'Urville Martin (Wesley Snipes, hilário), uma prima-donna convencido a participar da empreitada com o papel de vilão e a direção do filme, além de um grupo de estudantes de cinema da UCLA liderados por Nick (Kodi Smit-McPhee) para cuidar da parte prática da produção na qual Rudy aposta literalmente tudo o que tem, na tentativa de se tornar o astro que sempre sonhou ser.
Como essa premissa deixa claro, Meu Nome é Dolemite bate bastante na tecla do homem e seu sonho. O sujeito que faz o próprio destino apostando tudo em si próprio, mas os roteiristas Scott Alexander e Larry Karaszewski, dois cobras em cinebiografias com um cartel que inclui O Povo contra Larry Flynt, O Mundo de Andy, Grandes Olhos e Ed Wood sabem construir um roteiro que dê espaço para seu protagonista brilhar, e é exatamente o que Eddie Murphy faz.
O astro enche Rudy de uma ingenuidade e otimismo que contrastam com a natureza libidinosa de seu ato cômico, e isso aproxima a audiência do personagem central. Mais do que isso, Murphy, um ator reconhecidamente difícil e dado a estrelismos parece mais generoso do que o habitual, dando espaço para todos os seus coadjuvantes brilharem em algum momento.
A direção de Craig Brewer é correta, e a recriação de época caprichada, resultando num longa que, sem arroubos e nem excessos, conta sua história de maneira macia, divertida e competente, oferecendo a Eddie Murphy a possibilidade de voltar a ser relevante e engraçado como há muito tempo não fazia, e isso, por si só, já faria valer uma espiada.
Meu Nome é Dolemite está disponível na Netflix.

"-Na hora de contar uma história, é sempre melhor escrever sobre o que você conhece.
-Eu não quero falar sobre a minha vida pessoal. Eu quero lidar com clubes noturnos, donos de boate, mafiosos, cafetões e kung-fu. "

Nenhum comentário:

Postar um comentário