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segunda-feira, 25 de novembro de 2019
Resenha Série: O Mandaloriano, Temporada 1, Episódio 1: Capítulo Um
Acredito que tenha sido em 2012 ou 13 que a Disney concluiu a compra da Lucasfilm, colocando sob seu guarda-chuva corporativo Indiana Jones e Star Wars (ou 66% da carreira de Harrison Ford).
Se o arqueólogo mais famoso do cinema foi mantido em banho maria, imediatamente a Disney começou a maquinar formas de fazer dinheiro com aquela galáxia bem, bem distante, e em 2015 já estava sendo lançado O Despertar da Força.
Apesar de eu inicialmente ter gostado do Episódio VII, me lembro de ter deixado claro que aquele filme não acabava, mas se interrompia, e que seu verdadeiro potencial só poderia ser reconhecido após termos assistido aos episódios VIII e IX. Não preciso dizer que Os Últimos Jedi, não apenas destruiu O Despertar da Força, mas deixou claro que a Disney não sabia o que estava fazendo com a franquia. A trilogia que deveria encerrar a saga da família Skywalker é uma festa da uva onde cada diretor chega e faz o que quer (basta ver que Rian Johnson massacrou O Despertar e o episódio IX, já que o diretor original do longa, Colin Trevorow, implorou a Johnson que não matasse Luke, pedido que não foi atendido, deixando o diretor de Jurassic World em um mato sem cachorro tão violento que ele eventualmente seria afastado do filme, algo que também aconteceu com Phil Lord e Chris Miller em meio à filmagem de Solo, e com Gareth Edwards nos estágios finais de desenvolvimento de Rogue One), não há uma história definida, não existe jornada para os personagens e parece que a única preocupação da saga é garantir que os protagonistas da trilogia original deixem claro que suas vidas foram miseráveis e seus feitos inócuos antes de matá-los.
Foi por isso que eu não assisti Solo no cinema, é por isso que não assistirei A Ascensão Skywalker no cinema, e é por isso que eu estava pouco me lixando para O Mandaloriano, único produto novo da recém lançada plataforma de streaming digital do Mickey, a Disney+.
Mas eu adoro Star Wars.
Esse universo é importante pra mim, e fazer juízo prévio das coisas não é do meu feitio, de modo que após alguns trailers bem maneiros do seriado idealizado por Jon Favreau, o sujeito que lançou a pedra angular do MCU com Homem de Ferro em 2008, resolvi ver ao menos um episódio da série e ver se, por alguma eventualidade, ela não tinha atrativos que me mantivessem ligado.
No primeiro episódio, intitulado apenas Capítulo Um, conhecemos o mandaloriano do título (Pedro Pascal, o Oberyn Martel de Game of Thrones, que jamais tira a sua máscara). Ele entra em um bar repleto de pessoas terríveis acossando um alienígena azul, Mythrol (o ex-SNL Horatio Sanz), a quem querem matar por suas glândulas, que valem muito dinheiro.
O mandaloriano entra na briga, nocauteia os vagabundos, e, quando Mythrol se prepara para agradecer pelo resgate, descobre que o guerreiro não o salvou por nutrir nenhum sentimento fraterno, mas porque há uma bela recompensa pelo sujeito.
Tomando lugar sete anos após os eventos de O Retorno de Jedi, O Mandaloriano mostra a galáxia no período de transição entre o Império e a Nova República, um momento particularmente cinzento na Orla Exterior, quando o submundo está se rearranjando sob o novo prisma político com a entrada de ex-oficiais imperiais nas fileiras do crime organizado.
Movido unicamente pela pétrea vontade de manter os refugiados da tribo unidos e com uma perspectiva de futuro, o mandaloriano encaixa um trabalho no outro, sempre procurando o corretor de recompensas Greef Karga (Carl Weathers) em busca do próximo alvo.
Quando o seu caminho se cruza com o d'O Cliente, um elemento sombrio ligado ao Império (Werner Herzog, cujo mero sotaque torna tudo o que ele diz ameaçador) que lhe oferece um valiosíssimo carregamento de aço Beskar em troca de um fugitivo, o Mandaloriano não pensa duas vezes antes de aceitar o trabalho, que o leva até um planeta desértico onde o Ugnaught Kuiil (voz de Nick Nolte) o ajuda e ensina a montar um tipo de peixe-dinossauro bípede chamado Bluurgh, antes de levá-lo até o local para onde dezenas de caçadores de recompensa têm ido, tirando o sossego da vida idílica do velho eremita.
Mas encontrar o alvo é apenas metade do problema, a partir do momento que a oposição guardando o alvo do mandaloriano é feroz, e, pra piorar, ele tem concorrência pelo prêmio na forma do dróide caçador de recompensas IG-11 (voz de Taika Waititi).
Jon Favreau é o idealizador e showrunner de O Mandaloriano, e co-escreveu o roteiro da série, da qual este primeiro episódio é dirigido pelo veterano das séries animadas de Star Wars Dave Filoni, e Favreau parece ser o primeiro sujeito ligado à Disney a entender que Star Wars é, em essência, um faroeste.
Sim, ele se passa no espaço, em um tipo de futuro velho, e tem uns magos samurais com espadas laser, mas não se tira de Star Wars suas raízes de bangue-bangue.
Se esse prisma serviu à perfeição para contar a história da rebelião encabeçada por uma princesa, um salafrário e um garoto da fazenda, quando colocamos ela sobre a história de um caçador de recompensas em uma região sem lei, ela alcança píncaros de harmonia comoventes.
Some-se a isso o valor de produção que permite que o seriado tenha direção de arte, sets, efeitos visuais e práticos, e elenco dignos de cinema, mais uma trilha sonora fodelona de Ludwig Göransson, e um protagonista que se despe de qualquer vaidade se escondendo debaixo de um capacete o tempo todo, atuando apenas com a voz e expressão corporal, e O Mandaloriano precisa de apenas meia hora para se tornar a melhor coisa com Star Wars no título desde A Vingança dos Sith.
É muito tarde para apagar os últimos quatro filmes, cancelar o Episódio IX e começar de novo com Favreau no comando?
"-Caçar recompensas é um negócio complicado..."
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