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terça-feira, 12 de novembro de 2019
Resenha Filme: Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw
Eu não me lembro de nenhuma outra série de filmes que tenha transitado tanto entre gêneros quanto Velozes & Furiosos.
A muitíssimo bem-sucedida galinha dos ovos de ouro da Universal começou como uma descarada cópia de Caçadores de Emoção, eventualmente se transformou numa série de filmes de assalto, e, então começou a se esfregar na ficção científica.
Sob a pena do roteirista Chris Morgan desde o terceiro longa da série, Velozes & Furiosos foi paulatinamente se tornando mais excessivo, canastrão e engraçado (ás vezes de propósito), mas a verdade é que com todos os seus defeitos a franquia de filmes jamais deixou de ser divertida e entregar o mesmo tipo de entretenimento que a série Transformers entrega, por exemplo. As bilionárias bilheterias da franquia atestam seu sucesso em alcançar um determinado público que anseia por um determinado tipo de filme, e por mais que a ação de Velozes & Furiosos seja um pastiche quando comparada a filmes de ação menos genéricos, a verdade é que a franquia se encaminha para dez filmes em sua série principal, e já pariu um spin-of, no caso, esse Hobbs & Shaw.
Estrelado por Dwayne The Rock Johnson, que foi meio que escorraçado do elenco principal de V&F após brigar com Vin Diesel e Tyrese Gibson, e por Jason Statham, que surgiu em Velozes & Furiosos 6 como vilão, matou Han, e logo depois foi incorporado à "família" como se nada tivesse acontecido em Velozes & Furiosos 8, Hobbs & Shaw era o produto ideal para testar a sobrevida da franquia após o décimo filme (que teoricamente deve encerrar a série, mas vá saber. Não é como se Diesel e companhia estivessem nadando em grandes projetos, então...), e manter Johnson atrelado à série sem precisar fazer malabarismo para que ele e o intérprete de Dom Toretto não precisassem contracenar e aproveitando a ótima química que ele e Statham haviam mostrado em Velozes & Furiosos 8.
Em Velozes & Furiosos Hobbs & Shaw nós vemos uma equipe do MI-6 ser interceptada durante uma operação de captura de um vírus tecno-orgânico de altíssima geração chamado Floco de Neve. O algoz da equipe de militares altamente treinados é Brixton (Idris Elba), um operativo da organização terrorista Eteon, que pretende usar o vírus para forçar a evolução humana a qualquer custo (ou algo assim).
Brixton é quase um ciborgue, cheio de implantes cibernéticos que o tornam super-humano, aumentando sua força, velocidade e capacidade de reação. Com tais habilidades ele não tem nenhum problema para limpar o chão com a equipe de militares e forçar a única agente ainda viva, Hattie Shaw (a bela Vanessa Kirby), a injetar o vírus em si própria e fugir.
Brixton, para garantir que Hattie não tenha para onde fugir, altera a cena do crime para fazer parecer que ela se virou contra a própria equipe e roubou o Floco de Neve, o que leva a CIA a convocar o melhor rastreador do mundo, Luke Hobbs (Johnson) e o ex-agente da MI-6 e irmão de Hattie, Deckard Shaw (Statham) no caso.
Sem nenhuma vontade de trabalharem juntos, Hobbs e Shaw precisam colocar suas diferenças para salvar Hattie e o mundo, uma tarefa que pode ser impossível à medida em que os dois descobrem que não são páreo para Brixton e os recursos quase infinitos da Eteon.
Não é necessário ir muito além dessa premissa para perceber o quão requentada é a trama do longa. O vírus injetado na protagonista feminina logo de cara grita Missão: Impossível 2, o agente inimigo que passou por ampliações cibernéticas e despirocou poderia ser parte dos operativos de Soldado Universal, e os dois protagonistas que não se gostam e têm estilos totalmente diferentes mas são forçados a trabalhar juntos é a premissa de quase todos os filmes estilo buddy cop desde Máquina Mortífera, não bastasse a natureza derivativa do roteiro, a trama é mais cheia de furos do que o céu atrás do Capitão América no clímax de Vingadores: Ultimato, mas a verdade é que ninguém vai ao cinema ou, no meu caso, aluga o filme na Google Play Store, esperando um grande filme, mas sim um par de horas de diversão escapista e ação descerebrada, e nesse quesito, Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw é bastante satisfatório.
A química de Statham e Johnson realmente é boa. O festival de falação de bobagem de um pro outro é engraçadinho, e ainda que nenhum dos dois esteja nem perto das melhores atuações de suas carreiras, eles são dois heróis de ação convincentes.
O diretor David Leitch faz um trabalho decente considerando o que lhe é dado, mas eu francamente senti falta de coreografias de luta melhores do sujeito que fez John Wick e Atômica, tudo em Hobbs & Shaw é excessivo demais, megalômano demais, e convincente de menos, o que, eu suponho, não seja um problema se tu não te importar com a aplicação prática das leis da física.
Em termos de elenco, há uma infinidade de participações especiais. Ryan Reynolds aparece como o agente da CIA Locke (que é o Deadpool disfarçado, certo...), Helen Mirren como Queenie, a mãe de Deckard e Hattie, Eiza González como Madame M, Cliff Curtis e o lutador da WWE Joe "Roman Reigns" Anoa'i como irmãos de Hobbs, e Eddie Marsan como o cientista que criou o Floco de Neve, mas a verdade é que ninguém sai de Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw com a cabeça mais erguida do que Idris Elba, que literalmente se apresenta como o vilão do filme em sua primeira cena e convence durante todo o longa conforme surra os protagonistas outra e outra vez, e especialmente Vanessa Kirby.
A britânica corre, salta, escala, faz piadas, tem presença, sabe brigar jamais se torna uma mocinha em perigo e ainda é uma belezura. Se mais alguém for ganhar sua própria franquia em Velozes & Furiosos, Hattie Shaw seria a minha primeira escolha, fácil.
Com uma duração ligeiramente mais longa do que o necessário com duas horas e dezessete minutos, a principal qualidade de Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw é não se levar excessivamente a sério, o que seria a morte para um filme tão bobo.
Consciente de suas limitações, o longa-metragem está longe de ser um grande filme, não é nem sequer um grande filme de ação (ainda que, talvez, seja o melhor Velozes & Furiosos em um bom tempo), mas sucede em seu intento de distrair durante a maior parte de sua duração. Um bom programa para uma tarde chuvosa de domingo.
"-Esse trabalho demanda furtividade. Olha só pra você.
-Eu estou tentando salvar o mundo, e, pra constar, será a minha quarta vez. Porque eu sou bom mesmo nisso."
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