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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Resenha Série: O Mandaloriano, Temporada 1, Episódio 3: Capítulo 3: O Pecado


Atenção! Há spoilers abaixo.
Os dois primeiros episódios de O Mandaloriano eram, ao mesmo tempo, tudo o que um fã de Star Wars poderia esperar de uma série, e nada do que um fã de Star Wars esperava da série.
Eu digo isso porque, em um primeiro momento, imaginei que o seriado seria um tipo de aventura espacial procedural, no formato tradicional de episódios tendo começo, meio e fim, cada um tratando de uma recompensa do protagonista em algum canto obscuro da orla exterior.
Mas não.
Uma grata surpresa, o seriado é como um grande longa metragem dividido em capítulos de meia hora, e a cada capítulo ele desenvolve um pouco mais sua trama e seu protagonista.
O terceiro capítulo de O Mandaloriano, intitulado O Pecado, já começa com um elemento brilhante em sua execução: Nós realmente não sabemos o que Mando irá fazer com a criança ao chegar de volta ao planeta onde é aguardado pel'O Cliente.
À essa altura do programa, nós ainda não sabemos o bastante a respeito do protagonista para antever qual será seu comportamento com relação a seu mais recente prêmio.
Mas a verdade é que Mando segue (quase) todas as regras da guilda dos caçadores de recompensas, entrega o contrato, recebe seu riquíssimo pagamento em lingotes de aço Beskar, e retorna ao esconderijo dos mandalorianos local para transformar todo aquele tesouro em utilidade a exemplo do que fizera no primeiro capítulo ao receber sua comissão.
Claro, trabalhar para clientes ligados ao Império, o indiscutível responsável pelo grande expurgo que reduziu os mandalorianos a um pequeno grupo de caçadores de recompensas escondidos nos subterrâneos de antros de escória e vilania não deixa Mando na melhor das posições com seus colegas de clã, e uma altercação acaba acontecendo entre Mando e outro guerreiro (sejamos francos, os demais mandalorianos também podiam estar apenas com inveja da inestimável fortuna em aço Beskar que o protagonista carregava em sua sorveteira). Uma altercação que logo é encerrada calmamente pela Armeira (Emily Swallow) apenas com algumas palavras lembrando aos brigões sua situação, e que a força dos mandalorianos é sua sobrevivência.
É justamente quando a armeira oferece a Mando o mudhorn, o rinoceronte felpudo (cuidado, morena) que lhe deu uma surra no episódio passado, como seu símbolo, ao que ele nega, confessando que não pode aceitar porque não foi uma vitória honrosa, que nosso anti-herói é tomado por uma onda de remorso.
"Eu tive ajuda de um inimigo.", ele diz. "Por que um inimigo o ajudou?" questiona a Armeira. "Ele não sabia que era meu inimigo, então.".
Os constantes flashbacks que remontam à infância de Mando no que parece ser o grande expurgo de Mandalore mostram que ele é um dos enjeitados que foram acolhidos pela ordem guerreira, e aparentemente Mando não consegue evitar de pensar que a criança é um enjeitado a quem ele virou as costas, e essa percepção não está deixando o caçador de recompensas sossegar a cabeça dentro de seu elmo de viseira estreita.
De posse de sua gloriosa armadura (que o deixou com um visual meio Jango Fett, meio Phasma, mas com mais personalidade e ginga do que os dois combinados), Mando volta à cantina para obter novos trabalhos com Greef.
Ele apanha todos os que consegue carregar, ansioso por sair logo do planeta, mas assim que chega à Razor Crest, nós sabemos que Mando não vai à parte alguma.
O que se segue é uma sucessão de sequências de ação que estão entre as melhores da série até aqui, e o ponto em que Mando deixa de ser apenas o protagonista de O Mandaloriano, para se tornar o herói da série, além de dar ao programa seu mote:
A partir de agora, Mando deixa de ser o caçador para se tornar a recompensa, o que certamente colocará todo um parsec de caça-prêmios impiedosos em seu encalço pelos cinco capítulos vindouros.
Capítulo 3: O Pecado foi, disparado, o melhor episódio de O Mandaloriano até o momento. Finalmente o seriado nos deu insights sobre o herói da série (aliás, palmas para Pedro Pascal, que consegue a proeza de lançar olhares hesitantes de dentro de um elmo de viseira fechada, e demonstrar emoções conflitantes apenas com a voz e movimento do pescoço e das mãos), lançar alguma luz sobre o que o restolho do Império deseja com A Criança, que segundo o doutor Pershing (Omid Abtahi, de Deuses Americanos) é um menino. Aparentemente extrair algo dele, midi-chlorians, talvez? Material genético para iniciar uma sanha clonadora em Kamino? Mas com que fins?
Isso descobriremos mais adiante, o importante é que o capítulo dirigido por Deborah Chow (que tem episódios de Better Call Saul, Punho de Ferro e O Homem no Castelo Alto em seu currículo e será a showrunner da vindoura série de Obi-Wan Kenobi) deu um tremendo passo na direção certa, não apenas mantendo a qualidade que tornou O Mandaloriano um oásis de qualidade em meio ao deserto de mediocridade de Star Wars pós-Disney, mas ampliando o lore da série e nos mostrando, mais ou menos, para onde iremos a partir daqui.
Que venham os próximos capítulos.

"-Esse é o caminho."




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