Quando de seu lançamento, no agora distante ano de 2017, Deuses Americanos me pegou de surpresa por diversas razões. A principal, talvez, tenha sido a qualidade do piloto, provavelmente um dos melhores primeiros episódios que eu já assisti em uma série.
The Bone Orchard era uma aula de criação de expectativa que, de maneira geral, a primeira temporada da série atendeu bem pra mais de metro.
Mas então veio a segunda temporada, em 2019. Amaldiçoada pela saída dos showrunners Bryan Fuller e Michael Green, de peças importantes do elenco (Gillian Anderson e Kristin Chenoweth), e brigas internas dos produtores com o canal Starz, que financia a bagunça toda, Deuses Americanos se tornou uma sombra do que havia sido, uma série que teve severos problemas narrativos e de desenvolvimento e que viveu de lampejos (como o ótimo Treasure of the Sun) e da excepcional química entre Emily Browning e Pablo Schreiber, e Deuses Americanos se tornou a série que mais havia decaído da primeira para a segunda temporada. Um tombo tão violento que eu francamente não sabia se valia a pena assistir ao terceiro ano da história sobre deuses do mundo levados até os Estados Unidos por seus fiéis...
Mas ei, é janeiro. Há poucas opções de entretenimento nos serviços de streaming, e eu resolvi dar uma nova chance à adaptação em nome do autor do material-fonte e agora showrunner Neil Gaiman.
Um cara que escreveu Sandman merece essa deferência, não é?
A Winter"s Tale começa três meses após os eventos de Moon Shadow, o capítulo que encerrou a segunda temporada. Shadow (Ricky Witthle) agora é Mike Ansel, ele se desvencilhou de Quarta-Feira (Ian McShane) e trabalha em um metalúrgica em uma cidadezinha no interior de Milwaukee onde as coisas estão indo surpreendentemente bem para o ex-condenado.
Ele tem uma oportunidade de promoção no emprego, tem amigos e até um interesse amoroso em potencial na colega Sadie (Zarrin Darnell Martin). Mas aparentemente três meses é mais tempo do que Quarta-Feira pode dispor para seu homem de confiança, e o Pai de Todos ressurge no caminho de Shadow exatamente no instante em que tudo começa a dar errado para "Mike" e os dois voltam à estrada na nova versão de Betty, agora um motorhome.
Enquanto isso, Laura (Emily Browning) está na Louisiana tentando fazer com que Mad Sweeney volte à vida através das artes do Barão Samedi, mas descobre que ressuscitar um deus não é tarefa fácil, e que, para trazer o leprechau de volta, ela talvez precise abrir mão de algo que possui...
Do lado dos vilões, Sr. Mundo resolve que "caras brancos não estão com nada", e troca a cara de Crispin Glover pela de Dominique Jackson e vira a Sra. Mundo, e a Sra. Mundo não está satisfeita com a modorrice de seu complexo tecnológico-industrial, e nem com a lerdeza de Quantum (Quantum? Tecnical?) Boy (Bruce Langley) em trazer Bilquis (Yetide Badaki) para o lado dos Novos Deuses.
Se há um grande acerto em A Winter's Tale foi retomar a estrutura de road movie da primeira temporada com Shadow e Quarta-Feira viajando pelos EUA e conhecendo velhos deuses como Whiskey Jack (o sumidão Graham Greene) enquanto Odin oferece algumas poucas e evasivas respostas sobre a verdadeira origem de Shadow e seu papel na Guerra que se avizinha.
Outra das boas sacadas é devolver a Shadow o protagonismo da série. Na primeira temporada o senso de assombro e estranheza justificavam a perene cara de confuso de Ricky Witthle, e na segunda ele foi relegado à uma dolorosa posição de acessório durante quase que a integralidade dos oito capítulos. Nesse primeiro episódio do novo ano, porém, ele parece mais decidido a agir por si próprio, e mesmo quando vê seus planos serem melados por Quarta-Feira, ainda parece estar disposto a tentar andar com as próprias pernas.
Fora isso, há muito pouco o que realmente avaliar nesses primeiros 56 minutos da temporada (além de uma ponta de Marilyn Manson e uma trilha sonora excelente), mas na semana que vem eu provavelmente vou acessar o Prime Video para descobrir se Deuses Americanos reencontrou seu passo, ou está fadada ao esquecimento.
"-Eu preciso de você, Shadow."
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