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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Resenha Cinema: O Lobisomem


Queria ver O Lobisomem.
Saí de casa nessa quarta-feira de cinzas e me dirigi ao cinema mais próximo para conferir um filme que, confesso, só queria ver por causa do elenco. Vendo o que se andou fazendo em matéria de monstros cinematográficos nos últimos anos, é difícil pra mim ir ao cinema ver um filme desse gênero com uma expectativa alta.
Desde que Hugh Jackman colocou o chapelão de Van Helsing e enfrentou Drácula, o lobisomem e o monstro de Frankenstein eu pensava nas desculpas que eram devidas á Peter Cushing, Christopher Lee, Lon Chaney e Boris Karloff.
Quando os vampiros e os lobisomens deixaram de ser criaturas assustadoras que povoam os pesadelos das pessoas e se tornaram rapazes saradinhos e com cara de boneca que se declaram vegetarianos, eu imaginei que estávamos, de fato, diante de um caminho que se estenderia inexoravelmente em direção á uma geração sem monstros no cinema.
Ficaríamos presos ao (bom) Cloverfield como única criatura cinematográfica capaz de arrancar mais do que risos da audiência, como fazem Freddy, Jason e Michael Mayers, que á muito tempo não metem medo em ninguém, ou, pior ainda, capaz apenas de arrancar gritinhos histéricos e lágrimas de coração partido de adolescentes microcéfalas como os meninos delicados da Saga Crepúsculo.
As notícias antes do lançamento do filme não serviram em nada para aumentar as minhas expectativas, o diretor originalmente contratado para o trabalho, Mark Romanek, saltou do barco com duas semanas de pré-produção, deixando o trabalho nas mãos de Joe Johnston, cujo currículo não chega á ser animador (Mar de Fogo, Jurassic Park 3, Jumanji, Rocketeer...).
O compositor Danny Elfman, responsável pela música do filme, também saiu antes da conclusão do trabalho, após a conclusão das filmagens o elenco foi chamado de volta para refazer cenas, o que adiou mais de uma vez a data de estréia, além das brigas da equipe de produção com o estúdio na ilha de edição (Rumores dizem que o filme chegou á ter cinco editores diferentes picotando o filme, entre eles Walter Murch, de Apocalypse Now.), dá pra imaginar que, de modo geral, esse tipo de problemas não resulta em grandes filmes, vide o sofrível O Exorcista - O Início.
Dito isso, fui ao cinema ver O Lobisomem como alguém que não gosta de filmes de terror, que não tem paciência pra "slashers" formulaicos, mas adora cinema, e é um fã declarado de Benicio Del Toro, Hugo Weaving e, claro, Sir Anthony Hopkins.
Sentado na escuridão de uma sala parcialmente vazia (Não devia haver mais do que quinze pessoas no cinema, se tanto, reflexos do carnaval.), abri minhas balas de morango, minha soda limonada e relaxei.
O ano é 1891, Lawrence Talbot (Benicio Del Toro, emprestando nuances e mais nuances ao personagem.), bem sucedido ator de teatro nos Estados Unidos retorna á Inglaterra para uma turnê em Londres.
Ele recebe uma carta de Gwen (Emily Blunt, um acessório, bonita mas sem nenhuma relevância para o filme.), sua futura cunhada, informando o desaparecimento de seu irmão e pedindo sua ajuda.
Ao chegar na mansão de seu pai, sir John Talbot (Anthony Hopkins, brilhantemente macabro.), Lawrence descobre que seu irmão morreu, e decide investigar as circunstâncias misteriosas e sua morte.
Ao tentar obter informações de ciganos na região, Lawrence testemunha o violento ataque de uma terrível criatura, e acaba sendo atacado pelo monstro, e amaldiçoado.
Ele próprio torna-se um lobisomem, além de alvo principal da investigação da Scotland Yard, que envia o inspetor Francis Aberline (Hugo Weaving, bacana como de costume.) á Blackmoore para descobrir o que está acontecendo.
É um filme muito bacana, se eu fosse de dar notas á filmes daria, sem medo de estar sendo excesivamente generoso, um 7,5 ou 8. Muito da qualidade do filme está no elenco, claro, tanto Benicio Del Toro, que carrega Talbot com uma nobreza arruinada e algo relutante durante todas as suas cenas, quanto Hugo Weaving que enche Aberline com uma obstinação fria, mostrando que aquele é o mesmo personagem que não conseguiu capturar Jack O Estripador, anos antes e, especialmente Anthony Hopkins, cuja interpretação de John Talbot flutua entre uma ternura distante e uma malevolência cruel seriam suficientes pra segurar qualquer filme nas costas, mas há ainda um bom roteiro, que presta um tributo ao filme da década de 40 sem esquecer que há uma nova geração de frequentadores de cinema na frente da tela, misturando um pouco do banho de sangue carniceiro que algumas audiências preferem com referências fidelíssimas ao mito da licantropia (Lua cheia, acônito, balas de prata, está tudo lá, nada de adulterações fantasiadas de liberdade poética.), alguns sustos gratuitos, sem jamais deixar desvanecer a tensão entre os personagens principais.
Claro, todas essas qualidades não seriam de grande valia sem um monstro convincente, e, com mil demônios, o monstro criado com maquigem prática pelo mago Ricky Baker (Homens de Preto, O Grynch.) é muito convincente, mais que isso, é genial.
O visual do lobisomem evoca a aparência da criatura dos anos quarenta com focinho achatado e presas inferiores saltando para fora da boca, mas lhe confere mais agilidade e força, o monstro corre sobre quatro patas, como um animal, mas caminha e luta sobre duas, como um homem. Ele joga os braços pra trás e estufa o peito para uivar vestindo os farrapos dos trajes de Talbot, vamos combinar, a criatura esfarrapada se lamentando ou regozijando contra a lua é sempre uma imagem maneiraça.
O filme é perfeito? Não, claro, tem seus defeitos, como a personagem de Emily Blunt, que jamais diz á que veio, ou o final algo aberto, sugerindo uma continuação (Hollywood anda em uma fase criativa tão negra que tudo pode virar franquia...), mas são defeitinhos, pormenores que não tiram o brilho e muito menos a diversão que a experiência de O Lobisomem pode proporcionar. Vá ao cinema e divirta-se. Eu, que não gosto de filmes de terror me diverti muito.

"Coisas terríveis. Você fez coisas terríveis, Lawrence."

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