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terça-feira, 17 de maio de 2011
Ignorância.
-Existem três coisas - Disse Al-Hassan, de olhos fechados, sentado em posição de lótus dentro do tempo perdido de Bath-Saad, no alto de uma montanha na fronteira do Nepal com a Índia, vestindo uma túnica muito branca e um turbante escarlate, iluminado por tochas. Al-Hassan raramente falava enquanto meditava, então, suas palavras atrairam imediatamente a atenção de todos os discípulos que haviam se juntado a ele para beber de sua sabedoria e experimentar a paz interna oferecida pelos seus rituais de meditação silenciosa que, por vezes duravam anos. Assim que todos abriram os olhos e pararam de entoar seus mantras, ele prosseguiu com os lábios se mexendo pouco sob a barba grisalha e espetada:
-As coisas que queremos. As coisas que podemos ter. E as coisas que merecemos. Raramente merecemos as coisas que queremos, não há vergonha nisso. Existe vergonha, sim, em não merecer as coisas que podemos ter.
Enquanto isso, em Dom Pedrito, o Tavinho recebia um SMS da Adélia, loirinha coisa mais querida que trabalhava na loja Canto do Bebê, ali no calçadão, e sorria. Quando Joseane, a morena voluptuosa de olhos cor de café que estava deitada à seu lado na cama vestindo apenas o lençol cor-de-rosa que cobria ambos perguntou o que era, ele disse que ia ter que trabalhar até tarde na quinta-feira e deu-lhe um beijo estalado no ombro nu enquanto apagava a mensagem.
O Tavinho, se conhecesse Al-Hassan e seus ensinamentos, iria se envergonhar. Como não era o caso, foi encontrar Adélia na quinta depois que ela saiu do trabalho, voltou a ver Joseane na sexta, e no sábado jantou na casa da sogra, dona Martha, mãe da Fernandinha, tudo isso com a consciência tranquila, tranquila...
Pro Tavinho, a ignorância era uma benção.
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