Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
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quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Mãe Não Entende Nada
Você imagina a cena:
O moleque entra lépido pela porta da frente. Joga a mochila no chão, perto do cabide e brada a plenos pulmões:
-Mãe, cheguei!
A mãe, tranquila, lê uma Nova enquanto sorve uma xícara de café em frente à TV ligada com o volume no mínimo, diz alto:
-Limpa os pés.
O moleque entra na sala, está suado, seus calções estão empoeirados, a mãe nem ergue os olhos da Nova:
-Oi, meu filho. Como foi na escola? Que sujeira é essa?
O moleque não consegue conter o sorriso em seu rosto.
-Joguei bola na educação física.
A mãe, sem expressão, comenta monocórdica:
-Que legal.
-E meu time ganhou! - Diz o fedelho, transpirando entusiasmo. E continua:
-Eu joguei na defesa, de zagueiro central, né? E era contra os guris da oitava, tudo uns monstros de grandes! Tem um que até barba tem, mãe! E o Vitinho disse pra mim que eu não ia conseguir marcar o Pereira, mas eu marquei, mãe, ele fez só dois gols, parece um monte, eu sei, mas ele sempre faz quatro, cinco! Eu marquei ele o tempo todo, fiquei todo sujo de me jogar no chão na frente da bola quando ele chutava, mas consegui, eu marquei ele o tempo inteiro, e ele só fez dois gols, e um foi de cabeça, por que ele, tipo, é muito mais alto que eu, né? Aí não deu pra marcar ele por cima. No final do jogo, tava seis a cinco pra nós, o Luciano fez quatro gols, mas também, só ficava parado lá na frente, tava todo mundo de cara com ele por que, tipo, ele nem ajudou na marcação, só ficava lá pescando, e aí qualquer um faz quatro gols. Mas então, tava seis a cinco pra nós, e o Pereira dominou a bola na entrada da área assim, tipo, dois passos fora da área, e ele chuta tri forte! Nossa, a bola assobia quando ele chuta, se ele chutasse, o nosso goleiro, o Marcelo Zurrilho, não ia nem ver a cor da bola, sabe? Então, quando ele levantou o pé pra chutar, eu me atirei no chão deslizando na areia, assim, e a bola pegou bem no meio das minhas costas, e subiu, subiu, subiu e saiu por cima do gol bem na hora em que a campainha da saída tocou. Eles ainda ficaram dizendo que tinha que bater o escanteio e não sei o quê, mas a professora Vera veio e recolheu a bola, aí, quando eu tava me levantando, o Pereira me deu a mão e disse "Que bola.". E o Zurrilho me deu um abraço e falou que se eu não fosse tão feio me dava um beijo!
O guri fala tudo isso sem lá muitas vírgulas, e termina seu orgulhoso relato levantando a camiseta e mostrando o vergão vermelho que a bola deixou nas suas costas como se fosse o Mel Gibson no Máquina Mortífera 3.
A mãe, ainda sem erguer os olhos da Nova bebe mais um gole de café e diz:
-Mas meu filhinho, tu não é feio.
-Pô, mãe, tu não entende nada, mesmo...
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Resenha Cinema: Planeta dos Macacos: A Origem
Sempre gostei de O Planeta dos Macacos. A sombria trama apocalíptica de um futuro distópico vislumbrado com terror pelo astronauta George Taylor me pegava sempre que passava nas Sessões da Tarde ou nos Corujões da infância. Quando moleque, eu adorava mesmo eram as impressionantes máscaras símias que transformaram Kim Hunter, Roddy McDowell e outros em chimpanzés, orangotangos e gorilas. Apenas anos mais tarde, já mais velho, pessimista, e misantrópico, percebi a crítica velada à guerra fria, à corrida nuclear, e ao próprio sentimento auto-destrutivo do homem enquanto espécie encerrados na magnífica cena final em que Taylor cai de joelhos amaldiçoando a humanidade diante dos destroços de uma milenar estátua da liberdade.
O longa de 1968 ainda tinha espaço pra críticas quanto ao tratamento dispensado aos animais, e à busca incessante da humanidade por conhecimento. O Planeta dos Macacos ainda daria origem à sequências em 70, com De Volta Ao Planeta dos Macacos, 71 (A Fuga do Planeta dos Macacos), 72 (A Conquista do Planeta dos Macacos) e em 73(A Batalha do Planeta dos Macacos) , além de uma série de TV live action em 1974, uma série em animação em 1975, em 1981, dois episódios da série de TV foram editados e transformados em um filme televisivo, Retorno ao Planeta dos Macacos, que culminou com o esquecimento dos macacos malucos.
Até 2001, quando Tim Burton resolveu contar uma "versão mais sombria da fábula pós-apocalíptica", cometendo Planeta dos Macacos, estrelado por um inexpressivo Mark Whalberg (substituto de Johnny Depp, que devia estar fazendo outra coisa na época?), Helena Bonham Carter (Inagurando uma parceria que nunca mais terminou...) e Tim Roth, o único que se salvou do fiasco interpretando um violento general Thade.
Como o remake-mais-sombrio-de-tim-burton não vingou no cinema, os macacos voltaram ao limbo, e lá permaneceram por dez anos.
Foi nesse final de semana que eles saíram de lá, quando Planeta dos Macacos: A Origem chegou aos cinemas do Brasil.
Jamais ouvira falar do diretor, Rupert Wyatt, mas o elenco principal, encabeçado por James Franco, John Lithgow e Freida Pinto valia uma conferida. Havia ainda a curiosidade de assistir o remake de um prequel, pra usar bastante expressões cinematográficas irritantes em inglês, e, claro, ver Andy Serkis voltar a interpretar em captura de movimento.
Se você não se liga muito nessas coisas, vale a dica: Andy Serkis é o ator britânico que intepretou Gollum, na trilogia O Senhor dos Anéis, e o King Kong no filme homônimo de 2005, e se transformou no papa desse tipo de atuação.
Ao filme, então. No longa metragem conhecemos Will Rodman (James Franco, sem arroubos.), geneticista que trabalha sem descanso na busca de uma cura para o mal de Alzheimer, moléstia que assola seu pai, Charles (John Lithgow, excelente.).
Uma cura em potencial, o vírus ALZ, é testado em chimpanzés com excelentes resultados, um acidente, no entanto, acaba custando a vida do animal mais promissor, e interrompendo a pesquisa.
Esse animal, a chimpanzé Olhos Brilhantes, deixa um filhote. O pequeno chimpanzé que é acolhido por Will e seu pai, que o batiza Cesar. O macaco herda da mãe a inteligência ampliada resultante do experimento com o ALZ, e a desenvolve enquanto cresce no lar dos Rodman. Um incidente envolvendo Charles acaba mudando diametralmente a vida de Cesar, que subitamente se vê afastado de tudo o que conhecia, e obrigado a escolher entre os humanos e os símios.
E o filme é bom. Muito bom. Ao lado de X-Men - Primeira Classe, é o melhor filme-pipoca de 2011, Rupert Wyatt não deixa a peteca cair, equilibrando drama, ação e suspense com competência. Não parece alarmado, também, com a quantidade de efeitos visuais do filme (E algumas cenas todos os personagens na tela são criado digitalmente...), nem em trabalhar com o elenco de peso que conta ainda com Brian Cox e Tom Felton, e, melhor de tudo, sabe onde apoiar a sua história:
Nos ombros peludos de Andy Serkis e seu impressionante Cesar.
O chimpanzé superinteligente criado com maestria pela WETA Digital de Peter Jackson impressiona pelo visual, sim, que pode deixar algumas pessoas até desconfortáveis, entretanto, é na interpretação de Serkis que o protagonista digital do longa encontra o equilíbrio entre inteligência e astúcia, força e selvageria. A partir do instante em que Cesar escolhe onde depositar sua lealdade, o personagem cresce geometricamente na tela, transformando-se no imperador e general evocado por seu nome.
Planeta dos Macacos: A Origem, mostra-se um produto extremamente competente, capaz de divertir e entreter, sim, mas evocando significados e críticas pra fazer pensar um pouco, como seu avô fez em 1968. Há ainda várias homenagens e referências ao filme original espertamente espalhados pela projeção, além de ganchos que vão de encontro ao que conhecemos da série original.
Peque um milk shake de banana e vá ao cinema, você não irá se arrepender.
"Cesar está em casa."
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Rapidinhas do Capita
É um tempo turvo esse em que vivemos. Um tempo sombrio de degradação, me perdoem por usar essa expressão, moral. Mesmo quem não se considera conservador, acaba percebendo, vez por outra, que a humanidade de modo geral encontrou um vórtice puxando pra baixo, mais ou menos como aquele quando vai se esvaziar a banheira. E, o mais engraçado, é que parece que a imensa maioria está se divertindo ás ganhas com isso tudo.
O mais engraçado é perceber como as pessoas apontam o dedo acusador umas pras outras sem se preocupar em olhar para si próprias.
Todos estão ultrajados com a corrupção que assola o Brasil (E o mundo, manolada. Corrupção não é coisa apenas nossa.), todo o dia estoura algum escândalo na política. Querem jogar todo o lixo do mundo em cima da classe política brasileira. Beleza. Não sou eu que vou erguer minha voz pra defender vagabundo, nem passar algum tempo catando milho diante do teclado do computador pra tentar convencer alguém que os políticos brasileiros não são tão ruins, pois eles são.
Mas eu não posso deixar de me perguntar se isso tudo, no final das contas, não émais senão questão de escala. Afinal, todos nós, com o nosso pouco, em algum momento, somos corruptos. Daquele que come uma uva Dedo de Dama no supermercado áquele que oferece suborno a um policial na estrada, e o síndico que dá uma forcinha à empresa que se dispõe a reformar seu apartamento em troca do contrato de pintura do condomínio, passando pelo playboyzinho que baixa seis mil e quatrocentas músicas no E-mule. Será que esses, estando frente á fartura de possibilidades de desonestidade que um grande cargo público, fariam diferente da corja que lá está?
Ás vezes, nossos representantes e seus atos são apenas reflexos de nós mesmos.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Rapidinhas do Capita
Imagens do set de Superman - Man Of Steel em Illinois, nos EUA, mostram que na aventura que reboota a franquia do pai dos super-heróis no cinema, o Superman esqueceu de algo quando saiu da Fortaleza da Solidão, ou então, a sunga "vem cá meu macho" usada por Brandon Routh no equivocado Superman - O Retorno, realmente marcou a abolição do calção vermelho no uniforme do herói, conforme mostrado na (mais recente) reformulação do universo DC.
Na foto o último filho de Krypton enfrenta a vilã Kryptoniana Faora (A última filha de Krypton?), e mais alguém que será gerado por computador sobre o cabra com o traje de captura de movimentos.
Só eu achei que o Supertraje ficou esquisito pra diabo sem o calção vermelho?
Na foto o último filho de Krypton enfrenta a vilã Kryptoniana Faora (A última filha de Krypton?), e mais alguém que será gerado por computador sobre o cabra com o traje de captura de movimentos.
Só eu achei que o Supertraje ficou esquisito pra diabo sem o calção vermelho?
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Resenha Cinema: Lanterna Verde
Olhando em perspectiva, a DC sempre teve mais jeito pra transpôr seus heróis pra outras mídias do que a Marvel. Dos anos setenta até os anos 2000, a DC empilhava estrondosos sucessos de bilheteria como os Supermen de Richard Donner/Lester, e os Batmen de Tim Burton, conseguia sucesso razoável com séries de TV como The Flash, e marcos na história da animação como Batman - A Série Animada, de Paul Dini e Bruce Timm, que mais tarde daria origem à série animada do Superman e ao espetacular Liga da Justiça.
Durante todo esse período hegemônico da DC/Warner, a Marvel amargou sucessos razoáveis-e-só, como a série do Hulk de Bill Bixby e seus filmes derivados, o programa televisivo do Aranha, na mesma época, séries animadas aqui e ali, e pataquadas como o Quarteto Fantástico de Roger Corman. Só nos anos noventa, com as transposições bem sucedidas dos X-Men e do Homem-Aranha às animações, na esteira do Batman, é que a Marvel viu seus personagens como um produto com mais mercado do que apenas as páginas dos gibis.
Eu, particularmente, ajudei muito nisso, comprando todos os brinquedos que encontrava tanto de uma animação quanto da outra.
Claro, tudo mudou no ano 2000, com X-Men, e especialmente em 2002, com Homem-Aranha.
A Marvel se tornou uma fonte de ideias para estúdios como Fox, Columbia e outras gigantes do entretenimento.
Hoje, após onze anos, a Marvel parece ter suplantado sua arqui-rival no tocante à adaptações de seus personagens a outras mídias, em especial, ao cinema.
Enquanto a Casa das Ideias empilhou êxitos de bilheteria como as trilogias de Homem-Aranha e X-Men, a DC só não se viu como coadjuvante absoluta dos quadrinhos no cinema por conta dos Batmen de Christopher Nolan, em especial O Cavaleiro das Trevas, bem superior a Batman Begins.
O tom excessivamente reverente de Superman - O Retorno, de Bryan Singer, não agradou a platéia, e, enquanto a Marvel já tem o tabuleiro montado pro seu Os Vingadores, há quem siga sem saber que, na DC, existe um super grupo, também.
Provavelmente foi após Tony Stark/Homem-de-Ferro/Robert Downey Jr. se transformar em ícone pop que a Warner pensou que, se um herói do segundo escalão da Marvel podia bater de frente com o Batman na bilheteria e não fazer feio, a DC também podia começar a apostar em seus heróis menos mainstream.
Durante muito tempo se falou em um filme do Flash, a Mulher-Maravilha quase emprestou seu tomara-que-caia dourado e sua calcinha estrelada à alguma atriz de carne e osso em mais de uma ocasião, mas foi ao Lanterna Verde que coube a honra de mostrar à audiência que há mais do que órfãos vestidos de morcego e semi-deuses alienígenas de cueca sobre a calça nas fileiras da DC.
Sábado, eu fui conferir o Lanterna Verde em celulóide com as expectativas lá embaixo por conta da recepção morna do filme na gringolândia, tão morna que a continuação já marcada se viu ameaçada de jamais ver a luz do dia. Com o filme conferido, devo dizer que, de fato, os gringos tinham razão: Lanterna Verde não merece mais do que uma recepção morna, pois é um filme morno.
Na trama do filme, dirigido por um Martin Campbell (007 Cassino Royale) no piloto automático, conhecemos Hal Jordan (Ryan Reynolds... Sendo Ryan Reynolds), irresponsável e impetuoso piloto de testes que é escolhido pelo anel do moribundo Lanterna Verde Abin Sur (Temuera Morrison, o Jango Fett em pessoa) para sucedê-lo. Suceder Sur, no caso, significa se tornar o novo defensor do setor espacial 2814 à serviço da Tropa dos Lanternas Verdes, polícia espacial criada pela antiga raça de imortais chamados de Os Gurdiões.
Oa Gurdiões e a Tropa, sediados no planeta Oa, usam poderosos anéis que canalizam a energia esmeralda da Força de Vontade para combater o mal e garantir a ordem no universo.
Entretanto se a vida civil de Hal não era fácil por conta de seu temperamento, sua vida como Lanterna também não começa de maneira lá muito tranquila. Com sua humanidade sendo mal vista pelo aprendiz de Abin Sur, o poderoso Sinestro (Um subaproveitado Mark Strong), Hal nem mesmo completa seu treinamento e já se vê envolvido no combate entre a Tropa e Parallax, uma entidade espacial que se alimenta da energia amarela do medo e busca se vingar dos Guardiões.
Soma-se a esse cenário Carol Ferris (A gracinha Blake Lively), ex-namorada de Hal, e sua chefe na companhia aéro-espacial em que trabalham, os irmãos, sobrinhos e cunhados do herói, os lanternas Tamar-Re e Kilowog (Vozes de Geoffrey Rush e Michael Clarke Duncan), o senador Hammond (Tim Robbins) e seu filho, o xenobiólogo Hector Hammond (Peter Sarsgaard, outro baita ator escanteado) e pronto. Temos aí um filme cheio de potencial, de boas ideias e boas intenções que se perde na necessidade dos estúdios de pasteurizar em menos de duas horas (Aparentemente os estúdios não aprenderam NADA com Harry Potter, O Senhor dos Anéis e Batman - Cavaleiro das Trevas) toda a mitologia do personagem.
Sobram as caras de deboche de Reynolds (Que não é o maior problema do filme.), efeitos visuais e grandes tomadas da Tropa reunida em Oa, falta, porém, contar uma história de maneira decente. Não há tempo para se identificar com Jordan, nem para maturar sua relação com Carol Ferris, personagens ótimos como Sinestro, Tamar-Re e Kilowog são jogados na tela e então somem. O Hector Hammond de Peter Sarsgaard tinha tudo pra ser o grande vilão do filme, mas não consegue desenvolver o personagem pois não há tempo. Parece que Martin Campbell e o quarteto de roteiristas do longa queriam mostrar ao público todas as possibilidades disponíveis com o Lanterna, mas na ânsia de mostrar tanto, acabaram não mostrando nada direito, entregando um filme que não tem clímax e nem alma.
Lanterna Verde não é um filme horrível, é bem produzido e tem boas sacadas, entretanto sua irregularidade torna quase impossível aproveitar a experiência. Resta torcer para que o prejuízo da produtora com esse primeiro longa faça com que os executivos do estúdio pensem um pouco, e lembrem-se que, mais importante que efeitos visuais e referências nerdísticas, o cinema se faz com boas histórias, e histórias bem contadas.
"No dia mais claro, na noite mais densa, o mal sucumbirá ante a minha presença. Todo aquele que venera ao mal há de penar, quando o poder do Lanterna Verde enfrentar."
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terça-feira, 16 de agosto de 2011
Rapidinhas do Capita
Parabéns, torcida campeã de tudo, hoje, dezesseis de Agosto é o quinto aniversário da primeira conquista da América pelo Internacional. Nessa mesma data, em 2006, o Internacional empataria um jogo eletrizante com o São Paulo no Beira-Rio, incendiando metade de Porto Alegre e jogando a outra metade nas profundezas da depressão, e sagraria-se, pela primeira vez, Campeão da Copa Libertadores da América. Valeu Colorado.
O momento atual é ruim, mas bora entrar nos trilhos de novo pra, quem sabe, repetir a dose ano que vem?
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Gwen Stacy havia morrido. Ela fora assassinada pelo Duende-Verde, arremessada do alto da ponte George Washington pelo vilão. O Homem-Aranha tentou resgatá-la, mas falhou. Há quem diga que o impacto causado pela teia no pescoço da jovem a matou. De qualquer forma, corroído pela dor, o Homem-Aranha saiu à caça do bandido, e o encurralou em um armazém abandonado numa parte afastada de Nova York, onde o confrontou disposto à matá-lo ou ser morto.
Após um brutal confronto, o Homem-Aranha prestes a matar o Duende, refrea-se. E o deixa. Resolve que, matando seu inimigo, estaria rebaixando-se ao seu nível.
O Duende, enfurecido e humilhado, ativa um dispositivo de controle remoto, e lança seu planador-morcego contra o Homem-Aranha pelas costas.
Alertado pelo seu sentido de Aranha, o herói consegue se esquivar, e o Duende é que é trespassado pela arma, morrendo.
Mais tarde, ao chegar em casa já em sua identidade civil, Peter Parker depara-se com Mary Jane, que se diz arrasada pela notícia da morte da Gwen.
Amargurado, Peter responde sarcástico que Mary Jane não ficaria arrasada nem com a morte da mãe. Perguntando-lhe se ela não está atrasada pra alguma festa, a manda embora.
Mary Jane, chocada, abre a porta para ir. Mas detém-se por um instante. E então fica.
Essa, de algum modo, é a minha ideia de amor. Isso, ou algo parecido.
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TRADUÇÃO:
Ele disse:
-Ela é amigável, dada. Talvez um pouco ingênua, carente. Deve ser reflexo da criação, mas ela tem esse espírito livre que busca satisfação pessoal sem se preocupar com convenções, só isso.
Mas ele quis dizer:
-Maior piranha. Dá pra qualquer um que passar pela frente. Acha que calcinha é adereço de tornozelo.
A Lenda
O Hélcio tinha cabelos pretos ondulados que pareciam precisar de corte já a algum tempo. Alguns fios rebeldes escapavam-lhe sobre a testa e os olhos. Hélcio andava sempre com uma calça jeans surrada e clara, com os joelhos puídos, quase rasgando, e camisetas pretas muito justas, de mangas quase surecas, jaquetas envelhecidas por cima do corpo, geralmente encurvado. Tinha as pálpebras sempre baixas como se estivesse cansado. Andava olhando pro chão, e, ás vezes, usava pintura no olho. Sentava-se sozinho nos cantos de bares obscuros e encarava com expressão de incredulidade as meninas bonitas que, não raro, o olhavam intrigadas enquanto ele bebia uma ou duas doses de vodka que pagava com notas amassadas a cada passagem da garçonete.
Ninguém via o Hélcio de dia. Somente à noite, quando ele vagava pela Cidade Baixa com as mãos nos bolsos.
Havia uma mística entre as frequentadoras dos bares da região de que Hélcio era um poeta tristonho que publicava livretos de versos na Bamboletras sob pseudônimos femininos.
Outras diziam que ele tivera uma namorada rica anos atrás, mas que o pai dela, sabendo que ele era pobre, proibiu o romance, e ela, desiludida por não poder dividir a vida com Hélcio, suicidou-se, o que jogou o pobre rapaz na sarjeta.
Havia ainda quem dissesse que ele era o herdeiro de um rico industrial do centro do país, ou de um magnata do soja no centro-oeste, e que fugira da obrigação de seguir os passos do pai após a mãe morrer e uma madrasta quase da sua idade ser acolhida ao espaço que fora de sua genitora.
As mulheres suspiravam à simples passagem do Hélcio, relembrando essas histórias e criando outras novas a cada detalhe que percebiam dele.
Algumas, ás vezes, tomavam coragem e se aproximavam, essas passavam noites sôfregas de sexo selvagem, onde, não raro, as perguntas feitas com olhos brilhantes pelas moças após o ato, encontravam nenhuma resposta além de um olhar distante e um doloroso sussurro de "Eu prefiro não falar a esse respeito...". Arrancando lágrimas das moçoilas que se punham a acariciar os cabelos desalinhados de Hélcio até que ele encontrasse o sono.
Essas, passavam a espalhar a lenda de que algo no passado magoara aquele homem além de qualquer conserto, e seguiam com suas vidas confortadas e satisfeitas por terem dado a ele uma fagulha de alívio e afeto em meio à tempestade de depressão e melancolia onde ele trafegava só.
O que ninguém sabia é que Hélcio trabalhava numa revenda de carros em Cachoeirinha, passava o dia de cabelo bem penteado e cheio de gel, calça de prega, camisa de mangas curtas e gravata, era vendedor, bom de papo, divorciado e tinha uma filha com quem passava finais de semana alternados. A produção de roqueiro/poeta era apenas um chamariz pra arrastar mulher pra motéis de Porto Alegre sem precisar se preocupar em ligar no dia seguinte. Como nenhuma das incautas de Hélcio descobria isso, a lenda do jovem magoado seguia crescendo e funcionando, e no sábado, churrasqueando depois da pelada com o pessoal da firma, ele contava entre linguiças e costelas como se dera bem naquela semana com um artifício que era mais falso que crocodilos no esgoto.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
O sorriso, sempre ele.
Não foi, de modo algum, uma surpresa para o Thales quando a Janaína o encontrou na rua após longos dias sem se falarem e, após uma breve conversa, despediu-se dizendo um "Tudo de bom.".
Tudo de bom, como todos sabem, é despedida de bêbado, que bêbados têm sua própria língua, que inclui particularidades como se despedir com "Tudo de bom", iniciar reminiscências e confissões com "Eu sou um merda", e dizer "Aê", ao invés de "ai", quando se machucam...
Afora isso, "tudo de bom.", assim, com ponto final, é algo que se diz quando se está fazendo uma despedida definitiva de alguém.
É quando a pessoa te diz, com todas as letras, inapelavelmente, que te quer bem, mas que não te quer por perto, da forma mais educada, polida, delicada e gentil possível.
Foi apenas alguns segundos após a Jana se despedir com o "tudo de bom.", quando o Thales olhou pra trás com a apreensão de um adolescente, querendo saber se ela estaria, também, olhando pra trás, que ele se deu conta do "tudo de bom." e de seu peso.
Foi quase vergando sob o peso daquela despedida que ele alcançou sua casa pensando, honestamente, se ouvira certo.
Não chegava a ser chocante, porém. Nunca fora, afinal de contas, um relacionamento fácil aquele entre a Jana e ele.
Haviam tantas e tão substanciais barreiras entre os dois, físicas ou não, que ele muitas vezes se perguntou se era justo para com ela insistir naquilo.
Acabava sempre afastando tais pensamentos ao lembrar do que sentia por Janaína. De como a possibilidade da presença dela fazia-o sentir. E do que a presença dela, de fato, fazia com ele.
Thales gostava demais de Janaína. E supunha ser correspondido. Tinha, ás vezes, quase certeza de sê-lo, em outros momentos, não conseguia imaginar o que uma mulher como ela veria um um arremedo de pessoa como ele. Mas não sabia se afastar. Não totalmente. Não de alguém que tinha o dom mágico de derrubar-lhe os mecanismos de defesa e de amainar-lhe o niilismo e a misantropia quase patológicos que o corroíam desde sempre.
Entretanto, seus defeitos, amainados que estivessem, ainda eram defeitos e, como tal, ainda gerariam desconforto a quem quer que tentasse se aproximar de Thales.
Mesmo alguém especial como Janaína eventualmente acabaria encontrando seu limite.
E ela encontrou.
Thales não sentiu susrpresa. Não se sentiu traído ou enraivecido. Sentiu pesar, sim. Sentiria ainda por muito tempo enquanto juntasse seus cacos. De toda a sorte, sobreviveria. Viveria um dia de cada vez como fazia sempre. E lembraria dela em todos. De suas sombrancelhas. De seus olhos. Dos cabelos, da voz e mesmo das lágrimas, sim. Mas especialmente do sorriso.
Aquele sorriso. Sempre ele.
Sorrisos como o dela iluminavam até o mais sombrio dos pesares. E traziam reticências até ao mais duro dos pontos finais.
Resenha Cinema: Super 8
Eu sou cria dos anos oitenta. Já disse isso antes, e continuo dizendo. Eu fui criança nos anos oitenta e em parte dos noventa, e muito dos valores que hoje tenho como adulto, bem como muitas das minhas mais cálidas memórias vêm desse tempo colorido e misterioso cheio de ombreiras, mullets, solos de sax e... Bom... E a Amblin.
A produtora criada por Steven Spielberg, Kathleen Kennedy e Frank Marshall no distante ano de 1981 e que foi responsável "apenas" por coisas como De Volta Para O Futuro, Os Goonies, E.T. O Extraterrestre, Gremlins, O Milagre Veio do Espaço e O Enigma da Pirâmide. Não é necessário dizer que a produtora que transformou Spielberg em bilionário deu um empurrão a diversos cineastas que hoje são milionários e diretores respeitados na indústria, como Chris Columbus, Joe Dante, Joe Johnston e Robert Zemeckis. Também não é necessário dizer que muitos dos filmes que foram lançados e que tinham, antes dos créditos de abertura, o logo com o guri voando de bicicleta contra a lua cheia marcaram a infância de muito moleque que cresceu na frente da TV vendo filmes da companhia.
Moleques como eu fui, e, aparentemente, como foi J. J. Abrams, o homem por trás de Lost (eca) e do novo Jornada nas Estrelas, que criou Super 8 pra ser uma homenagem aos filmes oitentistas da Amblin.
Foi no sábado, já sentindo os primeiros sintomas de um resfriado (Eu moro em Porto Alegre, uma terra linda com as quatro estações do ano bem definidas e acontecendo na mesma semana.), que eu me sentei em uma sala de cinema cheia de gente cretina que não calava a boca e conferi o trabalho conjunto de Abrams (diretor e roteirista) e Spielberg (produtor). O resultado... Bom...
O ano é 1979, na pequena cidade de Lillian, Ohio, se passaram quatro meses desde que a mãe de Joe Lamb (Joel Courtney) morreu, ele e seu pai (Kyle Chandler) têm se afastado sistematicamente desde então. O pai de Joe, o delegado Jackson Lamb, se vê tão distante do filho que com a chegada das férias de verão planeja mandar o menino a um acampamento de esportes. Joe, porém, tem outros interesses. Ele e seus amigos Charles (Riley Griffiths), Cary (Ryan Lee), Martin (Gabriel Basso) e Preston (Zach Mills) estão rodando um curta metragem de zumbis, e pretendem terminar durante o verão.
Charles, apaixonado pela ideia de acrescer qualidade à produção, convida Alice Dainard (Elle Fanning, irmã da Dakota), filha de Louis Dainard, desafeto do pai de Joe, para atuar no projeto, e, para alegria dos fedelhos, ela aceita.
Durante uma cena gravada junto à uma antiga estação de trem, as crianças presenciam e registram um violento descarrilamento de onde alguma coisa medonha escapa.
Ao desastre segue-se a chegada do exército à pequena cidade, os desaparecimentos misteriosos de membros da comunidade e a tensão crescente entre Joe e seu pai conforme o caso se torna uma sucessão de eventos inexplicáveis.
É com prazer que se vê a estética setenta/oitentista sendo explorada na tela com maestria e devoção por Abrams. O diretor consegue com Super 8 o que Bryan Singer queria em Superman - O Retorno, render homenagem não apenas a um filme, mas a uma ideia de cinema que abarca mais de uma década e ainda encontra tempo para homenagear também aos zumbis de George Romero, sem deixar de contar uma história que equilibra tensão, suspense, comédia e drama sem errar a mão em nenhum momento.
É difícil não pensar em Os Heróis Não Têm Idade, Conta Comigo, Viagem ao Mundo dos Sonhos e Corrida Contra o Tempo quando vemos o (excelente!) elenco infantil sendo tão dono das suas cenas sem deixar a peteca cair em nenhum momento, contando uma história sobre a necessidade das crianças, no limiar da adolescência, de encontrar sua expressão mesmo à revelia da autoridade, paterna ou não..
Há, sim, os efeitos visuais obrigatórios para se contar uma história como a proposta por Super 8, há o barulho, as explosões, e o CGI, claro. Se a primeira parte do longa é um delicioso suspense infanto-juvenil, a segunda é praticamente um longa de ação, ainda assim, ele jamais esquece do que queria. Contar a história de amadurecimento de Joe e de seus amigos, e também de Jackson e Louis para entender seus rebentos, e faz isso através de um elenco talentoso que funciona à perfeição.
O final, fazendo alusões a E.T., Contatos Imediatos de Terceiro Grau e até a Os Goonies só não arranca mais lágrimas pois á ele segue-se o curta de zumbis O Caso.
Fique, assista e dê boas risadas. Depois vá pra casa, e tente não se lembrar com alguma nostalgia da época em que você queria ser amigo de Jack Flack, procurar o navio de Willie Caolho, e não alimentar o Guizmo depois da meia-noite.
"Ela costumava olhar pra mim... Desse jeito, olhando, de verdade... E eu simplesmente sabia que eu estava lá... Que eu existia."
sábado, 13 de agosto de 2011
Rapidinhas do Capita
Nessa semana vi nos jornais notícias dizendo que bandidos mataram assalariados, estudantes, empresários, policiais, jornalistas, juízes... Uma verdadeira grande matança de deixar o Dwight McCarthy de Frank Miller orgulhoso.
O que todas as vítimas têm em comum? Eram, ou queriam ser, trabalhadores.
Não vi bandido matando nenhum político. E vocês?
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-Eu não sinto saudades da novela Roque Santeiro. Não sinto saudades do Cid Moreira no Jornal Nacional. Não sinto saudades de Friends nem de Seinfeld. Não sinto saudades do Kurt Cobain, nem do Renato Russo, nem do Johnny Cash, e certamente não sinto saudades dos Mamonas Assassinas, nem do time do grêmio. Não sinto saudades do Quik de morango. Não sinto saudades da bala Xaxá, nem do chocolate Lolo, ou do picolé de Sundae da Kibon. Eu não sinto saudade do Pogobol, dos bogs, do rouba-queijo ou dos Lango-Lango. Algumas coisas passam. Acabam. Morrem. Tudo tem seu tempo, e eu sei lidar com isso, guardo minhas saudades só pra coisas que realmente me importam.
-E do que tu tens saudades?
-Do meu vô, dos Trapalhões, de Armação Ilimitada, do meu Porco-da-Índia.
-Só?
-No momento, sim.
-Hm.
Ele era assim, meio tosco, mal-arrematado e tímido. E não comentou que toda a vez em que não estavam próximos, ele sentia saudades dela.
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TRADUÇÃO
Ele disse:
-Não, meu amor, o casamento, pra mim, é o assassino silente do amor, uma instituição falida que transforma casais apaixonados em estranhos que se detestam, não passa de uma imposição doentia de uma sociedade falida que ainda se apega a valores retrógrados em vista de manter um status quo que serve apenas aos interesses do patriarcado sórdido que comanda esse país a mais de quinhentos anos.
Mas na verdade ele quis dizer:
-Casar? Eu, na flor da idade, casar contigo? Tá louca?
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Inveja
Jorge estava deitado na cama de seu quarto olhando para Ludmilla, sua esposa, que dormia a seu lado. Jorge a olhava procurando algo de bonito na esposa, mas não era capaz de encontrar nada que agradasse aos olhos. Ludmilla era uma mulher feia. Muito feia. Olhando em perspectiva, Jorge, que não era nenhum mister universo, poderia, sem grandes dificuldades ter encontrado coisa melhor. Na verdade, quem olhasse para Ludmilla perceberia que ela era tão feia que praticamente qualquer coisa seria melhor.
De toda sorte Jorge não casou com Ludmilla procurando beleza. Nem personalidade. Tampouco inteligência. Ludmilla não tinha em profusão nenhum dos três predicados. Jorge casou com Ludmilla por que ela era fiel. Muito fiel. Fiel como um perdigueiro. Se uma coisa sempre povoara os pesadelos de Jorge, essa coisa era a possibilidade de ser traído. Jorge, por alguma razão, morria de medo da simples ideia do desgosto de ser traído.
Quando alguém lhe contava piadas de corno, ele se enfurecia, não achava graça, tinha empatia excessiva pelo marido traído e era incapaz de rir da anedota. Quando alguém lhe confidenciava fofocando que a mulher de fulano estava saindo às escondidas com beltrano, ficava mortificado de ira e desgosto como se a esposa traidora fosse a sua própria, e assim que ficava sabendo de qualquer incidente, punha-se a olhar de forma reprovadora à infiel, e tratá-la com distância e frieza.
Jorge estava pronto a passar sozinho pela vida, sem jamais conhecer os encantos femininos, a calidez e a graça dos carinhos de uma mulher. Tudo pelo pavor que sentia de ser traído.
Acabou que conheceu Ludmilla. Não eram moços, nem ela nem ele quando se conheceram. Jorge foi reticente com ela como era com todas as mulheres, a quem julgava traidoras em potencial, não apenas por ela ser mulher, e não apenas por ser pouco-dotada em atrativos, mas também por que eram estranhos com gostos totalmente distintos um do outro. Ludmilla, no entanto, sentiu-se, sim, atraída por Jorge, até por sua postura séria e distinta.
Acabou que, a despeito da resistência de Jorge, Ludmilla pavimentou com insistência o caminho até as afeições de Jorge, que, mesmo desconfiadíssimo, acabou pensando que deveria tentar se relacionar, nem que fosse apenas por curiosidade mórbida. Supôs que Ludmilla poderia, sim, traí-lo de algum modo, mas estaria preparado.
Aconteceu, então, a última coisa que Jorge esperaria:
Ludmilla foi fiel. Muito fiel. Fidelíssima.
Jorge tinha certeza da fidelidade da esposa pois a paranóia que sentia em relação à traições era tamanha que ele dedicou-se, de fato, a espionar a namorada para ter certeza do comportamento dela. Jorge não sabia se Ludmilla não o traía por prezá-lo ou por não ser equipada para tanto, ainda assim, a sensação se segurança, a certeza de que não fora traído levaram Jorge, um sujeito tradicional, a dar o importante passo de pedir Ludmilla em casamento. Proposta que ela, prontamente aceitou.
Jorge e Ludmilla formaram um lar, uma família, e dividiram suas vidas. Ele, sempre desconfiado, volta e meia certificando-se a seu modo da fidelidade da esposa. Ela, medonha, e fiel como Jorge jamais imaginou que uma mulher poderia ser.
Foi já com três filhos criados que Jorge, uma noite, observando Ludmilla roncando feito uma usina hidrelétrica a seu lado, e tentando encontrar um vestígio que fosse de beleza na esposa, percebeu que era incapaz de encontrar qualquer coisa nela que o atraísse.
Qualquer vestígio de beleza, qualquer atrativo físico por tênue que fosse. Deu-se conta, então, que dedicara tudo o que tinha de melhor, todas as suas qualidades, sua vida, enfim, à uma pessoa por quem não sentia nada. Uma pessoa que jamais o atraiu de qualquer maneira. Com quem não tinha nada em comum.
Enquanto batia no travesseiro e deitava a cabeça, não pode deixar de imaginar como eram afortunadas as pessoas capazes de confiar em outrem. De se deixar levar. Não conseguiu conter uma fagulha de inveja daqueles que encontram alguém que os complementa, que os acalenta. E teve, por um instante antes de dormir, o arrependimento por jamais ter sido capaz de dar um salto de fé.
Resenha Cinema: Quero Matar Meu Chefe
Entre as pessoas que tem ou já tiveram um emprego, é bastante considerável a possibilidade de que tenham, ou já tenham tido um chefe em algum momento da vida. Aquela figura de autoridade que, inevitavelmente, por se tatar de um ser humano, erra a medida e acaba se tornando desagaradável, arbitrário, ou chato.
Quem nunca ficou bravo com o empregador? Quem nunca teve vontade de mandar o patrão longe? Quem nunca quis matar o chefe?
O trio de protagonistas de Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses no original), Jason Bateman, Jason Sudeikis e Charlie Day leva a possibilidade tremendamente a sério, e após encararem silenciosos os abusos de seus patrões por todo tempo que suportam, eles encontram seus limites e finalmente resolvem se vingar matando o trio, composto pelo executivo psicopata vivido por Kevin Spacey (ótimo como sempre), a dentista ninfomaníaca interpretada por Jennifer Aniston (Finalmente mostrando que é capaz de fazer algo além da Rachel, de Friends...) e o herdeiro cocainômano de um irreconhecível e hilário Colin Farrel.
Como os personagens centrais não são matadores, eles recorrem a um profissional, Ferra-Mães Jones (Péssima tradução do original "Motherfucker" Jones, um Jamie Foxx se divertindo às ganhas), que se torna seu "consultor de homicídio", e lhes sugere que matem as vítimas uns dos outros, ao melhor estilo Pacto Sinistro, de Hitchcock, de modo a evitar que as motivações os denunciem.
A premissa mesmo sem ser original, valia uma olhada, especialmente se levarmos em conta que se trata de uma comédia adulta, gênero que ressucitou com Penetras Bons de Bico e principalmente O Virgem de 40 Anos, aliada ao elenco de primeira, especialmente do lado do mal, leva a crêr que o filme seguirá muito bem, obrigado, até o final da projeção. Não é, porém, o que acontece.
Apesar de contar com dois núcleos de elenco bastante interessantes, o diretor Seth Gordon não tem lá mão muito leve pra coisa, e parece ter sentido alguma insegurança em explorar, de fato, a maldade dos três chefes, o que fica particularmente nítido com o subaproveitamento de Farrell, que mal tem chance de fazer a audiência rir com sua postura de pançudo metido a artista marcial e combover constrangedor.
Ao invés disso, Gordon escolhe a saída mais fácil, apostar em Sudeikis sendo o chauvinista pegador, em Day como o bom-moço histérico, e em Bateman, bom... sendo Bateman.
Outro problema é a tradução do filme, aparentemente o estúdio quis reduzir a censura ao não traduzir literalmente os palavrões, de modo que muitas das piadas verbais do longa, e mesmo algumas das piadas de situação baseadas em desconforto no segmento do personagem de Charlie Day simplesmente se perdem na tradução por conta da tentativa de amainar o linguajar. Quem entende um pouco de inglês, porém, não se sentirá particularmente lesado por isso.
Apesar dos problemas o filme ainda rende boas risadas (A aparição relâmpago de Ioan Gruffud, Reed Richards em pessoa, é particularmente inesperada e hilária)e tem algumas sequências muito boas, mas fica a sensação de que com um Judd Apatow envolvido na produção, o resultado podria ter sido bem melhor.
"Não se ganha uma maratona sem uns band-aids nos mamilos."
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Top 10 Cinema: Uniformes de Personagens de Quadrinhos
Foi após a celeuma em cima do uniforme da Mulher-Gato de Anne Hathaway em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, que causou a ira de fãs (E não fãs) do morcego ao mostrar uma Mulher-Gato sem as indefectíveis orelhas e com óculos ao invés de máscara, que eu me pus a pensar nos uniformes de super-heroínas e vilãs em adaptações cinematográficas de HQs.
Isso, claro, só podia dar origem a mais um infâme Top 10 Casa do Capita, este dedicado a super-heroínas e super-vilãs e seus uniformes traduzidos à telona ou, em alguns casos, à telinha:
10 - Supergirl - Supergirl (1984)
A gracinha Helen Slater recheou com graça o collant e a micro saia da Supermoça nesse filme medonho que foi expelido das profundezas do Inferno em 1984. Se alguma coisa se salvou em meio ao festival de canastrice do elenco de apoio e á direção e roteiro totalmente perdidos, foram as coxas de Kara Zor-El.
9 - Tempestade - X-Men - O Filme
O Cabelo pode não ter acertado de primeira, mas a roupa de couro preto envergada por (Uh, tererê) Halle Barry em X-Men, X-2, e X-Men 3 sempre foi bacana em celulóide. Diferente dos trajes de Jean Gray, Vampira e Lince Negra, Ororo Munroe ganhou uma capa com fundo prateado que evocava de forma elegante o traje dos quadrinhos.
8 - Viúva-Negra - Homem de Ferro 2
Deus é justo, mas o uniforme da Viúva-Negra... Os generosos atributos físicos de uma ruivíssima Scarlett Johansson espremidos em um apertado traje preto que ainda tinha os braceletes e o cinto dos quadrinhos por si só já valia um filme inteiro.
7 - Mulher-Gato (Michelle Pfeiffer) - Batman O Retorno
Se existisse uma enciclopédia maneira de verdade, a foto de Michelle Pfeiffer trajada de Mulher-Gato em Batman - O Retorno estaria ilustrando o verbete "sensualidade". Apesar do estilo excessivamente feitichista, era uma adaptação maneira e hardcore do traje dos quadrinhos, especialmente do de Batman - Ano 1.
6 - Batgirl - Birds Of Prey
Engraçado como as mulheres do universo do Batman se dão bem em celulose. Dina Meyer interpretava a Oráculo Barbara Gordon em Birds Of Prey, série nada saudosa e de curta duração que tentou aproveitar o embalo de Smallville em 2002. Se a série era muito chata, durante um episódio, Dina apareceu em flashback usando um fiel e apetitoso uniforme de Batmoça.
5 - Zatanna - Smallville
Eu nunca soube ao certo o que me atraía no uniforme da Zatanna dos quadrinhos. Provavelmente eram as meias arrastão, pois eu também era fã do traje e das côxas da Canário Negro. Foi numa das últimas temporadas de Smallville que a personagem ganhou uma versão em carne (de primeira) e osso. O traje era idêntico ao dos quadrinhos, e ficava particularmente bem na Serinda Swan, atriz que viveu a heroína.
4 - Elektra - Elektra
Jennifer Garner já tinha feito bonito em Alias e em Demolidor, mas foi no horroroso filme de 2005, usando o tradicionalíssimo traje vermelho que ela, de fato, ganhou o imaginário de dez em dez nerds solitários. Apesar de não ser o maiô e as faixas escarlates do quadrinho, a roupa era funcional, fiel e reveladora na medida (Tá, podia ser um pouquinho mais reveladora, vá...).
3 - Mulher-Gato Lee Marywether/Julie Newmar
O tempo nos prega peças, mesmo. Me lembro de voltar correndo pra casa depois da aula na segunda série pra assistir Batman no SBT. Batman, com Adam West, mesmo. Era divertido quando eu tinha oito anos. Hoje, falando da Anne Hathaway, me lembrei da Julie Newmar, que era linda demais, e do traje que ficava bem a beça nela, e que ficou ainda melhor na Lee Marywether, atriz que substituiu a titular da série no longa metragem do herói. Era um traje ridiculamente simples, mas que, com a pessoa certa no interior, funcionava que era uma beleza.
2 - Mística - X-Men - O Filme
OK, o que Rebbeca Romjin usou na cinessérie dos mutantes nem sequer era uma roupa, a mulher andava praticamente pelada coberta de tinta spray e próteses de silicone estratégicamente coladas aqui e ali. Ainda assim, graças à belíssima estampa da atriz/modelo, ninguém reparou que não havia uniforme (ou ninguém ligou), e ficou muito maneiro na telona.
1 - Mulher Invisível - Quarteto Fantástico
Jessica Alba usou o uniforme mais bacana de quadrinhos no cinema no filme meia-boca de Tim Story. A peça única colada ao corpaço da atriz (Que no mesmo ano dançou vestida (Rá) de vaqueira em Sin City, de Robert Rodriguez) era fiel aos trajes usados por Susan Storm nos quadrinhos, ficava legal em movimento, e, se tinha algum defeito, era não ter ficado invisível mais vezes durante a projeção.
Isso, claro, só podia dar origem a mais um infâme Top 10 Casa do Capita, este dedicado a super-heroínas e super-vilãs e seus uniformes traduzidos à telona ou, em alguns casos, à telinha:
10 - Supergirl - Supergirl (1984)
A gracinha Helen Slater recheou com graça o collant e a micro saia da Supermoça nesse filme medonho que foi expelido das profundezas do Inferno em 1984. Se alguma coisa se salvou em meio ao festival de canastrice do elenco de apoio e á direção e roteiro totalmente perdidos, foram as coxas de Kara Zor-El.
9 - Tempestade - X-Men - O Filme
O Cabelo pode não ter acertado de primeira, mas a roupa de couro preto envergada por (Uh, tererê) Halle Barry em X-Men, X-2, e X-Men 3 sempre foi bacana em celulóide. Diferente dos trajes de Jean Gray, Vampira e Lince Negra, Ororo Munroe ganhou uma capa com fundo prateado que evocava de forma elegante o traje dos quadrinhos.
8 - Viúva-Negra - Homem de Ferro 2
Deus é justo, mas o uniforme da Viúva-Negra... Os generosos atributos físicos de uma ruivíssima Scarlett Johansson espremidos em um apertado traje preto que ainda tinha os braceletes e o cinto dos quadrinhos por si só já valia um filme inteiro.
7 - Mulher-Gato (Michelle Pfeiffer) - Batman O Retorno
Se existisse uma enciclopédia maneira de verdade, a foto de Michelle Pfeiffer trajada de Mulher-Gato em Batman - O Retorno estaria ilustrando o verbete "sensualidade". Apesar do estilo excessivamente feitichista, era uma adaptação maneira e hardcore do traje dos quadrinhos, especialmente do de Batman - Ano 1.
6 - Batgirl - Birds Of Prey
Engraçado como as mulheres do universo do Batman se dão bem em celulose. Dina Meyer interpretava a Oráculo Barbara Gordon em Birds Of Prey, série nada saudosa e de curta duração que tentou aproveitar o embalo de Smallville em 2002. Se a série era muito chata, durante um episódio, Dina apareceu em flashback usando um fiel e apetitoso uniforme de Batmoça.
5 - Zatanna - Smallville
Eu nunca soube ao certo o que me atraía no uniforme da Zatanna dos quadrinhos. Provavelmente eram as meias arrastão, pois eu também era fã do traje e das côxas da Canário Negro. Foi numa das últimas temporadas de Smallville que a personagem ganhou uma versão em carne (de primeira) e osso. O traje era idêntico ao dos quadrinhos, e ficava particularmente bem na Serinda Swan, atriz que viveu a heroína.
4 - Elektra - Elektra
Jennifer Garner já tinha feito bonito em Alias e em Demolidor, mas foi no horroroso filme de 2005, usando o tradicionalíssimo traje vermelho que ela, de fato, ganhou o imaginário de dez em dez nerds solitários. Apesar de não ser o maiô e as faixas escarlates do quadrinho, a roupa era funcional, fiel e reveladora na medida (Tá, podia ser um pouquinho mais reveladora, vá...).
3 - Mulher-Gato Lee Marywether/Julie Newmar
O tempo nos prega peças, mesmo. Me lembro de voltar correndo pra casa depois da aula na segunda série pra assistir Batman no SBT. Batman, com Adam West, mesmo. Era divertido quando eu tinha oito anos. Hoje, falando da Anne Hathaway, me lembrei da Julie Newmar, que era linda demais, e do traje que ficava bem a beça nela, e que ficou ainda melhor na Lee Marywether, atriz que substituiu a titular da série no longa metragem do herói. Era um traje ridiculamente simples, mas que, com a pessoa certa no interior, funcionava que era uma beleza.
2 - Mística - X-Men - O Filme
OK, o que Rebbeca Romjin usou na cinessérie dos mutantes nem sequer era uma roupa, a mulher andava praticamente pelada coberta de tinta spray e próteses de silicone estratégicamente coladas aqui e ali. Ainda assim, graças à belíssima estampa da atriz/modelo, ninguém reparou que não havia uniforme (ou ninguém ligou), e ficou muito maneiro na telona.
1 - Mulher Invisível - Quarteto Fantástico
Jessica Alba usou o uniforme mais bacana de quadrinhos no cinema no filme meia-boca de Tim Story. A peça única colada ao corpaço da atriz (Que no mesmo ano dançou vestida (Rá) de vaqueira em Sin City, de Robert Rodriguez) era fiel aos trajes usados por Susan Storm nos quadrinhos, ficava legal em movimento, e, se tinha algum defeito, era não ter ficado invisível mais vezes durante a projeção.
Chance
Não foi sem uma ponta de sarcasmo que o Manoel, que não era português, embora tivesse descendência lusa, nem burro, embora houvesse feito algumas burradas na vida, deu-se por conta de como andavam as coisas naquelas últimas semanas. E não foi sem uma ponta de sarcasmo (Manoel, ás vezes, achava que sarcasmo era uma importante ferramenta na manutenção da sanidade) que Manoel percebeu como, de vez em quando, um evento relativamente pequeno, era capaz de alterar tanto o curso dos fatos na vida de alguém.
Nesse caso, ele próprio.
Pouco mais de um mês antes, Manoel estava feliz, fazendo planos, trabalhando, estudando e cuidando de sua vida da melhor forma possível, o que não era lá com muito cuidado, mas enfim, garantia um espaço naquele largo patamar do que é "funcional".
Manoel não era muito de se entregar a sentimentos, pois os considerava perigosos. Fora provavelmente na novelização de um dos episódios de Star Wars que Obi-Wan Kenobi dissera a Anakin Skywalker que seus sentimentos em relação à Padmé Amidála eram perigosos. Manoel não era besta de fazer ouvidos moucos aos conselhos de um mestre jedi. Especialmente um descolado como Obi-Wan Kenobi. Tentava, então, manter seus sentimentos sob controle. Ou, ao menos, livres apenas até certo ponto.
Recentemente encontrara alguém que lhe fazia dar mais e mais liberdade ao que sentia. Como nós fazemos com o nosso cachorro em um parque ao perceber que não há perigo próximo.
Não chegava a admitir que estava feliz, o Manoel, mas a verdade é que, no fundo, ele estava, sim. Chegava até a se pegar fazendo planos que envolviam flores, chocolates e Let My Love Open The Door, de Pete Townshend. Mais cafona impossível.
Há, porém, sempre uma ameaça no caminho dos incautos como Manoel, e o que ontem parecia sorte, hoje, pode ser azar, dependendo apenas de acaso.
Quando pequeno, Manoel foi acolhido por uma tia em um momento difícil da infância em que seus pais se puseram a repensar o relacionamento que tinham e as escolhas que haviam feito. Foi sorte que a tia de Manoel fosse viúva e não tivesse filhos, de outro modo, talvez jamais houvesse acolhido Manoel de bom grado como fez.
Era uma feliz coincidência que o pai e a tia de Manoel não se falassem devido a uma briga de alguns anos ntes, ou ele certamente teria ido até lá buscar o menino, ofendido com a ideia de deixar a criação e os cuidados de seu filho nas mãos da irmã.
Sua mãe ficou eternamente grata à cunhada quando, após alguns meses, com tudo já acertado entre ela e o marido, pôde ir buscar o filho são e salvo e dar seguimento à sua vida.
Tudo pareceu sorte à época. Todavia, as coisas ás vezes podem virar à menor das oscilações.
Não foi mais senão acaso que fez com que a tia de Manoel, que praticamente o criara naquele conturbado momento da infância, escorregasse no chuveiro durante o banho e sofresse uma grave lesão cervical, ficando incapacitada de se movimentar.
Não foi nada além de azar que fez com que a tia de Manoel estivesse viúva, e não tivesse tido filhos.
Não foi nada além de chance que fez com que o único irmão da tia de Manoel, seu pai, estivesse brigado com ela a anos e os dois não se falassem, tampouco que a mãe de Manoel, condoída com toda a situação, se dispusesse a cuidar da cunhada em necessidade.
Não foi nada além do senso de responsabilidade nascido dos gibis e livros presenteados pela tia que fez com que Manoel se visse na obrigação de ajudar sua mãe e sua tia não importava o custo.
Manoel sabia, claro, que a situação não era definitiva. Sua tia tinha plenas condições e vontade de se recuperar. A dureza, a aspereza e a persistência teimosa eram características bastante vivas na sua família. Na verdade, Manoel ás vezes se pegava envergonhado ao pensar se teria abraçado as responsabilidades recém surgidas com tanto estoicismo se a situação não fosse claramente passageira. Tão envergonhado que até evitava pensar nisso., Não era lá um grande desafio. Naqueles dias Manoel andava cansado como não se sentia em muito tempo.
Viu-se obrigado a se afastar de uma porção de coisas que prezava. Andava vendo pouco seus amigos. Perdera várias das partidas de futebol que tanto prezava. Estava vendo menos filmes e se afastara dela. Aquela pessoa que significava tanto pra ele. Ele sentia a falta dela, das conversas risos e lágrimas que partilharam. Mas lembrava-se de um trecho de uma história que lera uma vez:
As pessoas permanecem conosco enquanto são lembradas.
E ela estava sempre em seus pensamentos.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Sombrio, só, não basta
Não me lembro ao certo da ordem dos fatos, se foi antes, ou depois de ver a primeira foto de Henry Cavill vestido de Superman (o ex-super-homem, cujo nome a DC não quer mais que se traduza pra fortalecer a marca, como se aquele S estilizado vermelho sobre o fundo amarelo não fosse uma marca mais forte que as fundações da terra...), que li a declaração de Jeff Robinov, o presidente da divisão de cinema da Warner, conglomerado empresarial do entretenimento que é proprietário da DC Comics, editora de quadrinhos do Lanterna, do Batman, do Superman e etc., dizendo que, apesar do fiasco do Lanterna-Verde nas bilheterias estadunidenses, a empresa mantinha a convicção de fazer do longa uma franquia.
Até aí, beleza. Sou nerd, fã de cinema e de quadrinhos, e partidário do pensamento de que todo o super-herói e todo o gibi merece seu dia de tapete vermelho nos cinemas (minha adaptação de Planetary estrelada por Russel Crowe, Salma Hayeck e Ben Foster ainda procura por financiadores, alô, Hollywood!). Então, que bom que o resultado fraco nas bilheterias não assustou a Demoníaca Companhia, e que bom que eles seguem interessados em traduzir seus heróis ao celulóide, certo?
X-Men - Primeira Classe foi o melhor filme de super-heróis desse ano e não foi estupendo no box office gringo e eu espero que a Fox mantenha a ideia de fazer uma sequência, por que desejaria destino diferente a Hal Jordan?
Bom, a minha preocupação, na verdade, veio na declaração seguinte do executivo, que disse que o argumento que a empresa já tinha em mãos para a sequência dofilme do Lanterna sofreria mudanças de tom, para se tornar mais "ousado, sombrio e focado na ação".
OK... Eu não vi Lanterna Verde, que estréia esse mês aqui no Brasil. Eu não sei que tipo de tom o filme tem, e embora tenha ouvido quase todo mundo que já assistiu dizendo que o filme é ruim, não sei se é ruim como Quarteto Fantástico & o Surfista Prateado, que quase todo mundo concorda que é horrível, se é ruim como O Incrível Hulk, que o públco em geral não curtiu mas oito em dez fãs de quadrinhos adoraram, ou se é ruim como Watchmen, que deixou oito em dez fãs da HQ fulos, mas agradou ao público em geral. Eu não sei, não faço nem a mais remota ideia. Tendo Ryan Reynolds em mente, eu diria que é o primeiro caso. Mantenho minha suspeita, nascida do primeiro trailer do filme, que Lanterna Verde foi gerado querendo ser o Homem-de-Ferro, mas nasceu Quarteto Fantástico. Posso, claro, estar enganado. Achava que Chris Evans seria um Capitão-América bocó em um filme murrinha, e Capitão-América é muito divertido e tem uma atuação respeitosa de um Evans sob controle.
De uma forma ou de outra, enquanto Robinov declarava que queria um Lanterna mais sombrio, a própria Warner e sua parceira Legendary Pictures mostravam a primeira imagem de Superman - O Homem-de-Aço, filme que recauchuta o primeiro dos Super-heróis, com um Henry Cavill vestindo um traje azul-escuro/quase preto, com uma capa que vai até os tornozelos, e que encara a câmera com uma expressão que, de tão furiosa, deixava o herói com pinta de vilão.
Enquanto isso, via nos fóruns da internet, as pessoas elogiando o trailer do reboot das aventuras do Homem-Aranha no cinema, O Espetacular Homem-Aranha, por ser "mais sombrio e realista" do que a incursão prévia do herói nas três fitas de Sam Raimi, ao mesmo tempo em que Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (título medonho pro terceiro longa do morcego sob o comando de Christopher Nolan) era alçado a píncaros de glória por ser "sinistro", "pé-no-chão", "realista" e "cru".
Em que se pese que os Batmen de Nolan vá lá, são mesmo, tudo isso, além de serem ótimos filmes, há que se ter em mente que nem todo o super-herói casa com esse tipo de caracterização e atmosfera.
O Batman pode se dar ao luxo de ser "realista" extrapolando um pouquinho as regras e flutuando no limite do possível, embora bem além do provável ou do plausível. O personagem Batman é sombrio. É um herói nascido da tragédia, do medo, e da revolta, que abraça uma persona sinistra para mostrar aos criminosos que eles não são as criaturas mais assustadoras da noite.
Esse herói pode transitar em um espaço obscuro e cru, e aí encontrar sua melhor encarnação até aqui. Beleza. É o Batman.
Isso não vai, necessariamente funcionar com o Homem-Aranha. E nem precisa. O Homem-Aranha já mostrou em três longas metragens, sendo um ótimo, outro quase perfeito, e um terceiro meia-boca, vá, que não precisa ser sombrio. Aliás, se faltou alguma coisa aos filmes anteriores do Aranha, jamais foi sombra, jamais foi crueza, ou pés-no-chão. O Aranha de Tobey Maguire ressentia-se, sim, de um pouco mais de profundidade sem a máscara, e de tagarelice e galhofa quando trajando seu uniforme. Afora isso, e meia dúzia de detalhes técnicos que só os fãs mais chatos e exigentes cobrariam (Gwen Stacy antes de Mary Jane, lançadores de teia-mecânicos), os filmes de Raimi fncionavam sendo luminosos e carregando uma ponta de melancolia otimista. Essa atmosfera pode continuar nos filmes. O Aranha pode e deve ser uma pessoa de verdade sob a máscara, e, como uma pessoa de verdade, pode ter momentos sombrios, mas não é um personagem sombrio, muito pelo contrário.
Quem conhece sabe.
Por outro lado, esperar que o Superman seja realista é dose, um personagem que nasce em um planeta fisicamente impossível (o campo gravitacional de Krypton, uma das explicações para a gama de prodígios físicos do herói, seria de 10000 metros por segundo ao quadrado em um planeta mil vezes maior do que a terra. A gravidade, mil vezes maior que a da terra torna o planeta fisicamente impossível...), é lançado à Terra por seu pai biológico para se salvar, aqui, é adotado por um casal de fazendeiros de bom-coração que o tratam como um filho, ensinando-o o valor do sacrifício, da moral, e dos bons costumes e cresce para se tornar o inspirador guardião super-poderoso do planeta que o acolheu, defendendo-o de toda a ameaça, doméstica ou externa não tem como nem porquê ser "realista".
Impossível, todos sabemos. Não existe por quê tentar deixar isso mais realista do que já havia feito Richard Donner em Superman - O Filme, no distante ano de 1978. O Superman não precisa de mais do que aquilo exceto em excelência técnica e eventuais modernizações.
Aquele é o tom correto, é o máximo de verossimilhança (pra usar um termo cunhado por Donner) que o Superman precisa. Coisas como Lois & Clark, Superman - O Retorno e Smallville serviram apenas pra mostrar que ainda hoje, não há nada de errado com o filme de Donner. O Superman não precisa de outra origem, em Grandes Astros - Superman, Grant Morrison contou a origem de Superman em quatro quadrinhos.
Quatro!
E seguiu isso com uma das melhores histórias do personagem em todos os tempos.
O Superman também não precisa ser "mais sombrio". Ele é um personagem diferente do Batman, que funciona em uma sintonia distinta. Ele se veste com cores primárias, é azul, vermelho e amarelo, opera de dia e de noite, esconde sua identidade secreta com um par de óculos e impede que mísseis atinjam a costa oeste e salva gatos em árvores sem se despentear.
Querem mais ação em um filme do Superman? Beleza, eu também quero.
Coloquem Darkseid ou Mongul a invadir a terra. Um Metallo movido a Kryptonita em seu caminho, ressucitem Zod, Ursa e Non, ou transformem um engenheiro incauto no Parasita. Mas não queiram que o Superman seja outro personagem. Ele passou setenta anos nas HQs sem precisar disso.
O êxito do Batman parece ter criado, na mente estreita dos executivos dos estúdios, a ideia de que ser "sombrio", é ser realista e qualificado. Não é. Não necessariamente. Que o digam as trocentas encarnações de O Corvo, todas extremamente sombrias e de onde se salva apenas o primeiro filme, de Alex Proyas com Brendon Lee.
Ser sombrio, só, não basta. Um filme, pra conquistar público, e sucesso além do financeiro, precisa de coração e cérebro, e lembrar que, antes de mostrar sequências de ação ou apresentar personagens, precisa contar uma história. Se não houver uma história a ser contada, pra quê ir ao cinema, ler um livro, um quadrinho ou o quê quer que seja?
Mas, claro, não sou eu que vou enfiar isso na cabeça desses tacanhos. Quem vai fazer isso é a bilheteria dos cinemas, quando algo como uma versão mais sombria de Lanterna-Verde fizer um fiasco ainda mais retumbante que o modelo sessão da tarde.
Como diria Stan "The Man" Lee, um tremendo contador de histórias:
Nuff said.
Bolo de Laranja
Gervásio abriu a porta do escritório e sentiu um cheiro fresco e adocicado. Levou uma fração de segundo, enquanto acendia a luz, para achar um símile para aquele cheiro:
Bolo de laranja.
Não era cheiro de bolo de laranja, de fato, mas era o cheiro mais próximo que Gervásio encontrou para contar à ela, mais tarde, que cheiro sentira ao abrir a porta do escritório naquela manhã. Gervásio fazia sempre essas duas coisas: Ele digeria rapidamente as coisas, no momento em que aconteciam, como forma de narrá-las depois. E sempre fazia isso procurando formas de contá-las, mais tarde, à ela. Ela estava sempre em seus pensamentos. Nas hoas boas e ruins. Quando aquele cheiro fresco e adocicado lhe encheu as narinas, ele, de imediato, pensou em si próprio falando com ela, sorrindo, dizendo-lhe "Coisa mais estranha do mundo, guria! Um cheiro adocicado de bolo de laranja, sabe? Dentro do escritório!". Pensou no que ela diria, talvez lhe perguntasse se ele comera bolo de laranja na semana passada, ao que ele responderia, fazendo cara de pouco caso que claro que não, senão o tal cheiro não seria estranho, seria apenas indício de um pouco de relaxamento. Ou, quem sabe ela virasse a cabeça pro lado, e arqueasse as sombrancelhas dizendo "Parece coisa de macumba!", sabendo que ele não acreditava em nenhuma espécie de maldição ou benção, apenas para provocá-lo a dizer que nada daquilo existia, e ela começaria uma discussão que culminaria com ele, muito maior, agarrando-a com firmeza pelas costas e parte de trás das coxas bem torneadas e a deitando no sofá enquanto a beijava em todo o rosto e pescoço de maneira sucessiva e inclemente, até ela começar a rir e perder o ar, e dizer que desistia.
Ele sorriu enquanto antevia toda a cena. Ele sorriu enquanto a imaginara dizendo as falas que imaginara pra ela com seu jeito de falar e sua voz. Sorriu enquanto imaginava seu nariz se perdendo no cabelo cheiroso dela. Enquanto imaginava os lábios dela e os seus se encontrando. Sorriu enquanto imaginava o quão piegas estava sendo, e como era interessante a sensação de não ter vergonha.
Sorriu enquanto pensava que, alguns meses antes, quiçá um ano, tudo aquilo, toda aquela calidez, ter toda aquela expectativa de melhora e de felicidade parecia, se não impossível, tão distante. Tão inacessível, tão... Tão o oposto de tudo o que ele estava acostumado a sentir, a experimentar, e a esperar receber.
E agora, ali estava ele, enquanto largava sua mochila do lado da escrivaninha, pensando em como contar à ela, com as palavras corretas, com um símile que fizesse justiça ao que sentira, uma coisa que lhe aconteceu ao chegar ao trabalho.
Pensou em não esperar até que a visse. Pensou em não esperar que ela cruzasse a distância. Apanhou o telefone e chegou a começar a escrever a mensagem onde contaria o estranho caso do cheiro de bolo de laranja no escritório. Pensou em contar, também, que a primeira coisa em que pensara naquela manhã, fora nela, quando deu de cara com um gibi que tinham em comum, Apenas uma das coisas que tinham em comum... E como, casualmente, não fora ela a última coisa na qual ele pensara na noite anterior, mas sim em um sushi de salmão que ele, que nem gosta de sushi, havia experimentado e gostado. Peças que a mente nos prega, decerto.
Mas deteve-se. Deteve-se como fazia quase sempre. Deteve-se por tantos motivos que nem sequer sabia por onde começar a listá-los. Insegurança, certamente. Ele era inseguro. Muito. Tão desgraçadamente inseguro que chegava a ser engraçado. Insegurança, incerteza, medo... Tantas coisas que ele havia decidido que deixaria de lado... Tanta coisa que Gervásio supôs poder deixar pra trás tomando apenas meia dúzia de cuidados. Gervásio, não sabia onde ela estava. Não sabia o que ela estava fazendo. Como ela se sentia. Não sabia se ela estava feliz ou triste. Não sabia se ela estava se divertindo ou cumprindo alguma obrigação chata. Não sabia se ela ainda pensava nele, ou se eliminara-o de si como se faz com uma gripe renitente. E se ela já houvesse deixado-o de lado? E se ela já estivesse fazendo o que era, afinal de contas, natural que fizesse? Vivendo sua vida, tratando de suas coisas, sendo quem devia ser, gostando do que devia gostar, e divertindo-se como precisava divertir-se, jovem e cheia de vida que era?
Que direitro tinha ele, quase um troglodita, de reclamar que ela não era capaz de ler os sinais com os quais ele acenava, quando tais sinais eram quase nulos e ininteligíveis? Ele era o culpado. Não ela.
O que restaria a fazer, pensou Gervásio, enquanto guardava o telefone no bolso interno do casaco. Como alguém, que como ele, não acreditava em amor eterno, poderia colocar as coisas nas mãos do acaso, e esperar que tudo fosse seguir seu caminho até dar certo?
Ele não sabia. Sacou o telefone de dentro do casaco de novo, e olhou a foto dela que tinha ali. Lembrou-se, então, que até bem pouco tempo atrás, nem sequer acreditava muito em amor. Quem sabe, talvez, ela o ensinasse, também, a crêr em amor eterno?
Era difícil, mas eles já haviam feito tantas coisas difíceis juntos...
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Negação
O Getúlio acordou um dia e disse "Basta". OK, não foi exatamente assim. O Getúlio acordou um dia, levantou da cama coçando o flanco direito, espremeu uma espinha no queixo enquanto fazia xixi, lavou as mãos, o rosto, escovou os dentes, se vestiu enquanto comia uma maçã e saiu pra trabalhar. Foi apenas na rua que ele disse "basta". E nem disse, mesmo, de verdade. Ele apenas decidiu que havia chegado a algum tipo de limite. O Getúlio resolveu que, daquele dia em diante, dedicação plena, mesmo, ele teria apenas para com o seu cachorro, que sempre o recebia bem quando chegava em casa, sempre tinha um abraço e um pouco de atenção para ele, e demandava em troca apenas a mesma coisa. Um afago e um pouco de atenção.
OK, comida e água, e um banho semanal fora as vacinas. Enfim, ele não se ateria a esses pequenos detalhes.
Getúlio trabalhou naquele dia com o peito estufado. Falou pouco, e com quas ninguém, ciente de que tomara a melhor das decisões, e escolhera o mais acertado dos cursos de ação. Não abriu o seu e-mail a cada dez minutos. Não ficou verificando se o celular recebera uma chamada ou um SMS a cada ida ao banheiro. Estava sereno como a muito tempo não se sentia.
Era, sem sombra de dúvida uma sensação nova aquela para o Getúlio. A serenidade da certeza lhe encheu de esperanças, e preencheu seu peito com a calidez da certeza.
"Sim, com mil demônios", bradou Getúlio, "Eu estou fazendo tudo certo agora, e estive fazendo tudo errado antes!".
Novamente vale destacar que foi um brado metafísico, Getúlio não parou no meio dos corredores da firma bredando "com mil demônios", pois podia pegar mal, e, sei lá, até dar justa-causa, vai saber.
Getúlio almoçou sushi, naquele dia, imagine só. O Getúlio, que não gostava nem de olhar pra peixe em aquário, que não gostava nem de nugget de peixe, comendo peixe cru envolto em arroz e alga marinha! E ele comeu. Comeu sushi de super mercado com molho Shoyu em garrafinha plástica.
Um nojo, mas ele comeu assim, mesmo. Achou que era um dia para estréias.
Trabalhou serenamente o resto do dia, cuidou de seus afazeres com zelo, e ao sair, saiu ouvindo música. Nem sequer virou o pescoço pra ver a bunda da Maria de Lourdes, moça de curvas fartas que cuidava da limpeza e a quem Getúlio sempre reservava um olhar guloso quando ia embora. Não. Getúlio não precisava mais disso. Agora seriam apenas ele e seu cachorro.
Passou pelo mercado, novamente. Comprou bananas e um abacaxi. Sabonete, desodorante e um gel de cabelo. Comprou um sanduíche de atum para si, e uma peça de courino digerível para cães em forma de osso para o seu companheiro.
No elevador do prédio ele chegou a estremecer de antecipação imaginando o momento em que abriria a porta de casa e se depararia com aquele grande monte macio de pêlos amigáveis, e ganharia um abraço apertado, quiçá alguns babados beijos caninos...
Andou sentindo uma ponta de entusiasmo em direção à porta de casa, e já sorrindo, girou a chave na fechadura.
Abriu a porta e...
Lembrou-se: Não tinha um cachorro.
Naquela noite comeu seu sanduíche de atum e viu a novela das oito sofrendo cada vez que olhava para o brinquedo em forma de osso sobre a mesinha de centro. Mas enfim, melhor sofrer de saudades do cão que jamais teve do que sentindo saudades dela. De seu carinho e presença. Que já tivera e não voltaria a ter. A negação era, afinal, uma arte na qual Getúlio aprendera a ser mestre ao longo dos anos.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Resenha Cinema: Harry Potter
Eu não sou fã de Harry Potter. Nunca fui. Pra falar bem a verdade, olhava com antipatia pro bruxo de óculos, a quem via como um descarado plágio da J. K. Rowling ao Tim Hunter de Os Livros da Magia, de Neil Gaiman.
Passei longe dos livros e assisti com tremenda má vontade ao primeiro filme, A Pedra Filosofal, dirigido pelo xarope, careta e mala Chris Columbus, de filmes infanto-juvenis que aprontavam as maiores confusões na Sessão da Tarde. E A Pedra Filosofal era isso, mesmo. Um filme caretinha e sem graça, com a marca de Chris Columbus, que se tinha alguma coisa de bom a oferecer eram os bons nomes do elenco secundário, como Maggie Smith e Alan Rickman, e a boa trilha sonora do mago John Williams.
O segundo longa da série, A CÂâmara Secreta, eu vi no cinema. Não por que eu estivesse muito ansioso em ver a segunda incursão do mago mirim, mas sim por que queria ver o trailer de O Senhor dos Anéis - As Duas Torres, atrelado ao filme infantil (Não me julguem, eu fiz muito isso, assisti O Confronto só pra ver o trailer de Homem-Aranha). A Câmara Secreta foi, no final das contas, mais uma aventura infanto-juvenil xarope com o selo do Chris Columbus garantindo a temperatura morna do longa. Era, enfim, um filme pra fãs que eram crianças, logo, não havia nenhuma razão pra correr riscos, afinal, mesmo se fosse Uwe Boll o diretor das adaptações, rios de dinheiro entrariam nos cofres da Warner.
Estranhamente a Warner resolveu dar uma de audaciosa no terceiro longa, O Prisioneiro de Azkaban, e chamou ninguém menos que Alfonso Cuarón pra dirigir o filme. O cineasta mexicano que havia dirigido o queridinho Grandes Esperanças, e o polêmico E Sua Mãe Também, e que mais tarde faria o excelente Filhos da Esperança. O diretor fez o que talvez tenha sido o filme menos amados pelos fãs da série literária (eu sei pois meu irmão e seus colegas, todos ávidos leitores de Harry Potter e na casa dos 12, 13 anos na época do filme o detestaram), mas, quem sabe, o que levou os "trouxas" como eu a ver a série como algo além de uma máquina de fazer dinheiro pra Rowling e a Warner.
Eu assisti ao quarto filme, O Cálice de Fogo, dirigido por Mike Newell com gosto. Não era um filme espetacular, tinha lá seus furos, mas os dragões eram maneiríssimos, e a adição de Brendan Gleeson ao elenco valia uma espiada por si só. Apesar dos momentos a lá Malhação, como a ciumeira de Ronny com relação à participação de Harry no torneio Tribruxo, o filme funcionava, vá lá, e não me fez dormir.
O quinto longa, porém, mudou um pouco as coisas, pra mim. O filme de David Yates, A Ordem da Fênix, colocava a magia e o encantamento dos filmes anteriores em um segundo plano, pra contar uma história que me era muito mais interessante sobre amadurecimento e desafio à autoridade. Imelda Staunton surgiu como uma nova e detestável diretora de Hogwarts, e Helena Bohan-Carter como uma exagerada Belatrix Lastrange, tudo trabalhando como acessório para que a história fosse bem contada. A Ordem da Fênix não era um filme perfeito, como não fora nenhum dos anteriores, mas era bacana, o mais sombrio até então, e tinha uma luta maneiríssima entre Dumbledore (Michael Gambon) e Voldemort (Ralph Fiennes) no final.
O sexto filme, confesso, não fui assistir após ouvir súplicas lamuriosas. Bastou um convite pra me tirar de casa. Harry Potter e o Enigma do Príncipe foi novamente dirigido por David Yates, e uma vez mais, era uma fita sombria e interessante onde as relações entre os personagens centrais foram bem exploradas e que contou com mais uma ótima adição à série (Jim Broadbent) e outra ótima atuação de Alan Rickman, como Severo Snape. Era um filme cheio de lacunas, que demandava conhecimento prévio dos filmes, dos livros, ou acesso a um adolescente fã da franquia, por sorte eu tinha o meu irmão, fã declarado da série literária e cinematográfica, pra preencher os buracos no roteiro de Steve Kloves, e acabei me satisfazendo bastante com o longa sem fim, que era, a bem da verdade, o primeiro passo de três que acabariam com os longas de Potter.
Chegou, então, As Relíquias da Morte - Parte 1. O único filme da série que eu assisti duas vezes, uma no cinema, outra em DVD, novamente dirigido por Yates, era mais um fragmento de história, As Relíquias da Morte continuava os eventos, não apenas do longa anterior, O Enigma do Príncipe, mas também trazia trocentos pormenores de todos os filmes da franquia e dos livros, uma vez que era um longa de duas horas e meia pra cobrir, sei lá, metade de um livro. Acabou caindo no gosto dos fãs, mas deixando muita gente com cara de "como assim?" com reaparições surpresa pro público em geral, como a do elfo (ex-doméstico, agora livre) dobby, desaparecido desde o segundo longa metragem, e retornando neste em uma participação recheada de importância e drama. Ainda assim, era um ótimo filme, atrevo-me a dizer, mantendo a tendência iniciada com O Prisioneiro de Azkaban, de sempre oferecer ao público um filme melhor em todos os aspectos do que o entecessor.
E, finalmente, após bons dez anos de idas ao cinema pra toda uma geração, quase dez bilhões de dólares de bilheterias, e guriazinhas de terceira série transformadas em gostosudas, Harry Potter chegou ao fim com As Relíquias da Morte - Parte 2.
Harold, Hermione e Ronald continuam procurando Horcruxes, artefatos mágicos carregados com fragmentos da alma de Voldemort, para destruir as quinquilharias e deixar o malvadão vulnerável o suficiente pra ser destruído.
Se o filme anterior teve um desenrolar lento que muita gente considerou prejudicial (eu particularmente achei maneiro, pois reforçava a relação do trio protagonista, que foi crescendo e mostrando que Daniel Radcliffe, apesar do carisma, é o piorzinho da trinca), esse pode começar lento, com os esforços do grupo direcionados a localizar e destruir horcruxes, mas mesmo a primeira metade tem a tensão da invasão disfarçada ao banco, que culmina com uma maneiríssima sequência envolvendo um dragão polonês.
A segunda metade do longa, porém, é até corrida demais. O pau canta em alto e bom som em Hogwarts, com personagens do lado do bem e do mal de todos os outros filmes trocando varinhaços. É bacana ver atores como Maggie Smith, a Minerva McGonagall, que apareceu, mesmo, só nos dois primeiros filmes e depois virou extra de luxo decorando alguns cenários ali parada com seus olhos esbugalhados e chapéu pontudo tendo, novamente um papel de destaque na trama como líder das defesas mágicas da escola. E aí, o filme, conforme avança rumo ao final, vai trazendo de volta em pontas praticamente todos os personagens que já apareceram em algum momento da série, incluindo, aí, gente que já morreu. Nessa correria, personagens importantes e a quem o público aprendera a chamar pelo nome (Eu, pelo menis havia...) não tem o fim que merecem, aparecendo mortos de maneira rápida em contagens de corpos aqui e ali. A mesma coisa vale pra grandes vilões da franquia, que os não-iniciados como eu poderiam querer ver morrer de maneira mais apoteótica, o que não ocorre.
Ainda assim, o filme se desenrola até o desfecho de maneira satisfatória, oferecendo aquela maturação e aumento de escopo com relação ao filme anterior que virou marca. Há o inescapável duelo final Harry x Voldemort, arestas são aparadas, pontas soltas, amarradas, e até temos um vislumbre do futuro. E com o tema de John Willians em um arranjo mais imponente e épico, a mais rentável franquia da história do cinema termina, deixando pra trás uma legião de ex-adolescentes, adolescentes e crianças órfãs da franquia que as ensinou a ler calhamaços em tempo recorde sem resmungar, a esperar por filmes-evento uma vez por ano, e a chamar os adultos de trouxas sem se preocuparem com puxões de orelha. Deixa também oito filmes, dos quais pelo menos quatro são bons, e onde, vá lá, quase todos são bastante divertidos. E uma lacuna que dificilmente um Percy Jackson da vida vai conseguir preencher.
Não vai pra minha estante. Pelo menos, não agora, mas, quem sabe quando eu tiver filhos?
"-O 'garoto que viveu', chega para morrer..."
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Detalhezinho
A Agnes era assim, uma solitária boa moça. Muito boa moça. Era gentil, educada, estudiosa, dedicada. Cozinhava bem, limpava com esmero, era asseada, e prendada. Sabia cerzir meia. Sabia tirar mancha de mostarda escura de roupa branca sem usar esses removedores de manchas industrializados, tinha a própria mistura que incluia limonada, água com gás e pinho-sol. A Agnes também era boa de matemática, ajudava a vizinha, dona Cenira, a ajustar as contas do mês, sempre sobrava um dinheirinho pra dona Cenira comprar uma roupinha nova graças à ajuda da Agnes. A Agnes era extremamente controlada. Trabalhava na biblioteca local, e era uma apreciadora do silêncio. Não gostava de música alta, ou barulhenta, gostava de clássicas, e de MPB. Não gostava de filmes de ação, preferia romances ou dramas mais contidos. Se vestia com discrição, cabelos loiros e lisos sempre presos sob um chapéu nos dias de frio, pois o calor do corpo, já lhe dizia sua avó, se perde quase todo pela cabeça, os olhos castanho-claros sempre ocultos sob os óculos de descanso prescritos pelo oftalmologista, doutor Azeredo.
Ela se exercitava com frequência, fazia caminhadas, corridas, e praticava Pilates. Fazia musculação de baixo impacto na academia e se alimentava direito. Não era afeita a refrigerantes, nem frituras, ou chocolates e doces em geral.
Na faculdade Agnes entregava os trabalhos sempre no prazo, caprichosamente acomodados dentro de pastas plásticas com canaletas que seguravam as folhas justamente na margem recomendada pela ABNT. Estudava com afinco para as provas e nos livros, lia sempre um capítulo além do recomendado pelos professores.
Raramente aceitava o convite dos colegas e das colegas para reuniões ou confraternizações da turma. Não fazia trabalhos em grupo, exceto se fosse condição imposta pelo professor. Não que a Agnes não gostasse de gente, ela gostava, gostava tanto que era voluntária em um par de ONGs, e inclusive lia para cegos no Instituto Santa Luzia. Era um doce de menina.
Pode-se imaginar que uma moça com tantos predicados não fosse ser atraente. Pode-se pensar que uma menina tão rica em prendas quanto Agnes seria inversamente afortunada em termos de predicados físicos. Não era, porém, o caso.
Agnes era uma menina bonita. Não era linda. Não. Mas era bonita. Bem ajeitada, com maquiagem e roupas que valorizassem as suas formas bem feitas moldadas com exercício, certamente seria até mais do que bonita. E eram todos capazes de ver isso sob a imagem fria que ela deixava visível ao mundo.
Há de se pensar, então, que Agnes fosse solitária por opção.
Não era, exatamente o caso.
Agnes sonhava em ter alguém com quem dividir o tempo. Alguém para fazer a contabilidade do lar com ela ao final de cada mês. Alguém que a pegasse pela mão e a levasse ao show do Djavan, ou para ver o último filme do Lars Von Trier no cinema. Alguém que pudesse aninhá-la junto ao peito e a aconchegasse até que o sono viesse.
Agnes sonhava com isso. Chegara a ter um ou dois pretendentes que achou que seriam essa pessoa especial. Tudo, porém, esbarrava em uma verdade inabalável. Um detalhe inescapável que sepultava todas as chances da doce Agnes de encontrar alguém que a amasse:
A Agnes era chata pra cacete!
Fica a dica, Agnes, se me ver na rua, me erra.
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