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sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Fonte do Oriente
Ela ficou o encarando brevemente como se não houvesse entendido exatamente o que ele havia dito:
-Sério, isso? - Inquiriu, com a sombrancelha bem erguida.
-Sério. - Ele confirmou, tranquilo.
Ela balançou a cabeça, incrédula.
-Eu não acredito...
Ele sorriu sem dizer nada.
-Mas tipo... - Ela começou, mas deteve-se. Pensou um segundo, respirou fundo, e retomou:
-Tu sabe que isso não tem nenhum fundamento, né?
-Eu sei... - Ele disse olhando pro outro lado. Mas então a encarou e completou:
-É igual religião.
-Ah, não - Ela disse. - Eu não vou entrar nessa discussão contigo. Isso é muito particular. Mas esse lance... Quer dizer...
A discussão toda era porque ele comprava sempre a água mineral São Lourenço. E, quando ela perguntou se aquela era a preferida dele, ele respondeu que só comprava sempre aquela por causa do lance da Fonte Oriente, escrito no rótulo. Quando ela perguntou se a água da tal da fonte do oriente era particularmente boa, ele disse que não sabia, mas "Admirava a ideia de que essa água saciava a sede dos beduínos que cruzavam o deserto levando especiarias do Oriente Médio à Europa através da África.", ela quis então, saber onde ficava a fonte, e ele respondeu que preferia não saber pra manter a ilusão.
Imagine, só, logo ele, o maior entre os incréus, o destruidor de ilusões, o assassino de esperanças, o cara que, se morresse, e no paraíso fosse recepcionado por São Pedro, diria "Karl Marx, você por aqui?", querendo manter a ilusão? Ah, não. Mas não, mesmo. Não senhor.
Ela prosseguiu:
-Tu não pode escolher a água mineral pelo nome... Especialmente por um nome que tu só escolheu aí, porque acha que mais ou menos parece com alguma coisa que tu inventou...
Imediatamente ela sacou o telefone celular da bolsa e se pôs a mexer nas teclas em busca do sinal à internet e do arauto mágico de todo o conhecimento de nosso tempo, o Google. Antes que ela terminasse de digitar o nome da água e da fonte, ele a interrompeu:
-Para, guria... A fonte oriente fica em Minas Gerais. Na cidade de São Lourenço... Por isso o nome da água.
Ela desligou o acesso à internet e ficou olhando pra ele com o cenho franzido, muito séria.
-Por que essa bobagem, então, homem de Deus? Só pra me incomodar?
Ele deu de ombros e improvisou um sorriso:
-Tava brincando, só...
Ele não disse que, ás vezes tinha muita dificuldade pra lidar e aceitar tudo o que ela era. E, inconscientemente, de vez em quando, ele, mesmo que brincando, inventava uma bobagem pra tentar se colocar no lugar dela. E ver se conseguia entendê-la melhor, e entender porque gostava tanto dela.
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