Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
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terça-feira, 11 de outubro de 2011
Só um susto
O Sávio vinha voltando pra casa do trabalho como fazia todos os dias por volta das seis e meia. Andando no seu passo tranquilo pelas ruas abarrotadas de gente morrendo de pressa. Carregava consigo a sacola do super mercado com a garrafa de suco de uva, o mix de castanhas e os ingredientes pra fazer um sanduíche decente mais tarde. Carregava também o gibi do Homem-Aranha daquele mês, a Superinteressante e um encadernado da Liga Extraordinária que ele não tinha muita certeza se era o capítulo imediatamente posterior ao último que havia comprado ou se a editora brasileira ferrara a sua cronologia da obra de Alan Moore.
O Sávio caminhava meio alheio a tudo, até que passou em frente à uma dessas barraquinhas improvisadas que vendem churrasquinhos e resolveu comprar um para fazer um agrado ao seu cachorro depois de levá-lo pra passear. Após pedir um espetinho de carne que certamente agradaria ao seu fiel amigo canino, Sávio comprou uma Fanta e sentou-se a folhear uma das revistas que trazia consigo, enquanto a velhinha aquecia a carne que seria dada ao cão.
Foi enquanto Sávio folheava a revista que sua visão periférica percebeu a saia curta, esvoaçante e colorida com um estampado floral de uma moça particularmente atraente que passava, e ergueu os olhos para contemplar a visão em todo o seu esplendor. E foi após acompanhar brevemente o gingado gracioso da moça em questão que o Sávio percebeu, do outro lado da rua, a Janaína conversando com um sujeito.
Janaína não era namorada de Sávio, que fique bem claro. Ela jamais dissera ou fizera qualquer coisa que pudesse levar Sávio a pensar nesse sentido.
... Bom... Talvez ela tenha feito uma coisa ou duas pra levar Sávio a crêr nessa possibilidade remota. Mas jamais confirmara nada. Sávio, também, jamais perguntara nada. Ele nem sabia de quê tinha mais medo de ouvir seguindo-se à pergunta "Nós estamos namorando?".
Uma resposta negativa não seria apenas humilhante, seria trágica, pois de certo modo mostraria à Janaína o quanto ela estava no comando daquela relação indefinida, mas também quão superior ao Sávio ela era em termos de maturidade. Era a última coisa que o Sávio precisava, mostrar a Janaína que ela era superior a ele em mais um aspecto, como se já não bastasse o físico, intelectual, sexual e financeiro.
Uma resposta positiva apavorava Sávio igualmente, pois o que um sujeito como ele, um bobalhão, looser que usava cueca de super-herói aos trinta anos de idade e que comprava gibi na banca ansioso que nem piá tinha a oferecer à uma mulher como a Janaína? Sua coleção de DVDs e encadernados da Marvel? Seus brinquedos de Star Wars? Oh, não. Se Janaína chegasse a dizer ao Sávio que sim, era sua namorada, ele passaria a conviver com a sombra agourenta da ameaça de um homem melhor e mais interessante do que ele, ou seja, quase todos, surgir e roubar-lhe a dona de suas afeições. Aliás, nem roubar-lhe, pois ele não se sentia nem um pouco dono dela.
Agora, ali estava ele, camiseta da Aliança Rebelde, sentado no cordão da calçada, com um gibi do Homem-Aranha na mão, olhando com a cara de alguém que teve as entranhas arrancadas de dentro de si, enquanto a Jana, do outro lado da rua conversava com um mocorongo de cabelo estiloso e camisa polo da Mark Ecko sem poder dizer ou fazer nada.
Sávio chegou a pensar em se levantar decidido, jogar os gibis, as castanhas e o suco no chão, caminhar até lá, esmigalhar o crânio do mauricinho à porrada, catar a janaína pela cintura, tirando os pés dela do chão e tascar-lhe um beijo cinematográfico.
Mas aí, lembrou-se que ia estragar os gibis, que adorava o suco, que estava louco de vontade de comer os pistaches, que o curto período que dispendera aprendendo artes marciais provavelmente não seria o suficiente pra esmagar a cabeça de ninguém, e que não tinha nenhum direito de se intrometer na vida da Janaína, que era livre e desimpedida pra fazer o que quisesse.
Sávio ficou olhando a conversa dos dois com o rabo dos olhos, e quando ela tocou no braço dele e sorriu, ele não pôde deixar de desejar que o rinoceronte da marca da camisa do sujeito saltasse do cretino e sapateasse em cima dele e depois perseguisse a Janaína por uns quatro quarteirões.
Só pra assustar ela um pouco, mais nada.
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Dá próxima vez que você for postar coisa nova, independente do que seja, e for colocar uma foto de rinoceronte na ilustração, faz um favorzin ?
ResponderExcluirMe manda uma mensagem, no celular : ''Laís, não entre no meu blog hoje, se você entrar, vai dar de cara com uma foto de ''vocêsabeoque'', espere uns 8 dias, que a foto já vai estar lá embaixo, dessa forma, poderás dormir tranquila. Beijos,Rodrigo''
Ficarei agradecida.
Ahahahahahahahahahahaha, tá bem, vou manter isso em mente, menina Laís.
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