Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Top 10 Negativo: 2011
Bons filmes surgiram nas salas de cinema desse ano, meus dez favoritos estão na lista da postagem anterior, mas, não há ano que acabe sem que haja a temida lista dos dez piores filmes dos últimos 365 dias.
Valem pra lista dos piores o mesmo critério que existe pra lista dos melhores, além disso, é preferível laurear filmes que tinham algum hype. As Crespusculetes podem ficar tranquilas, não vejo mais essas bombas, então, vampiremos, caipiras virgens e lassiesomens estão fora da lista.
Vejamos, pois, o pior das salas de cinema no ano que vai acabar:
10° - Transformers 3 - O lado oculto da Lua
Eu adoro a série Transformers, mesmo o contestado segundo longa me agradava. Lá estava tudo o que eu queria ver, ação descerebrada e Megan Fox entre piadinhas infames. Transformers é um tremendo guilty pleasure. Mesmo esse terceiro capítulo tem seu valor, entretanto não deu pra aliviar o lado do povo de Cybertron. A terceira inclusão dos comandados de Optimus Prime ao cinema é um samba do robô gigante doido repleto de equívocos e que só não é perda total por que os robôs gigantes são perfeitos e a pancadaria é extremamente qualificada.
Péssimo roteiro, clichês pró-militarização, grandes atores relegados a pontas de luxo, e SEM MEGAN FOX????!!!!!
Não, Michael Bay, aí já é forçar a amizade.
9° - As Viagens de Gulliver
Jack Black é um dos sujeitos mais engraçados do cinema contemporâneo, mas nem ele salva essa equivocada adaptação do romance de Jonathan Swift. Na modernização da história Lemuel Gulliver vira um jornalista frustrado que só quer saber de impressionar a chefe, ele viaja ao Triangulo das Bermudas e pronto, acorda na areia sendo amarrado pelos Lilliputianos.
Cheio de trocadilhos sem graça a respeito de tamanho, com efeitos visuais capengas e trama bobinha, As Viagens de Gulliver não vale nem o dinheiro da locação.
Você estava melhor em Os Muppets, Jack.
8° - Caça as Bruxas
Nicolas Cage está falido. Ele levou um golpe milionário do contador e a sua situação ficou tão apertada que ele teve até que vender parte de sua coleção de gibis. Quem coleciona gibis sabe o tipo de dor que Nick sentiu tendo que fazer isso.
Pior do que vender sua coleção de gibis foi ser obrigado a aceitar qualquer proposta de emprego. Só isso explica coisas como Caça as Bruxas. Medonha mistura de gêneros onde Cage é um cavaleiro cruzado desertor que junto com seu companheiro Felton (O Hellboy Ron Pearlman) é coagido a escoltar uma menina acusada de bruxaria até um mosteiro onde será julgada.
Efeitos especiais medonhos, trama xaropona, e bom elenco subaproveitado escorraçam esse filme pro rodapé da filmografia de Nick.
7° - Esposa de Mentirinha
O que há de errado com esse filme em uma palavra?
Adam.
Em duas?
Adam Sandler.
O comediante não aprendeu nada em Tá Rindo do Quê, segue caminhando no rastro do seu personagem no filme de Judd Appatow e fazendo pseudocomédias medonhas e entregando qualquer resquício de decência em troca de suas mansões, carrões e o que quer mais que seja onde Sandler gasta sua grana.
Esposa de Mentirinha tem um dos piores plots dos filmes de Sandler, e estamos falando do sujeito que protagonizou Little Nick e A Herança de Mr. Deeds.
Pra piorar?
Ele tem um público muito fiel.
6° - A Árvore da Vida
Quem gostou do filme disse que quem não gostou não entendeu a genialidade da obra. Quem gostou disse que é um filme sobre a transitoriedade da vida e a dificuldade de se compreender o ato de estar vivo. Que desde a cena com o Big Bang Terrence Mallick mostra toda a sua capacidade de filmar a narrativa à sua maneira, e que os personagens á deriva na tela estão sugerindo à audiência uma pergunta:
Qual o sentido da vida?
Bueno, eu garanto que não é ver essa bomba. A fita pretenciosa, arrastada e pedante do bissexto Malick dura pouco mais de duas horas, mas parecem ser seis.
Nada acontece. Brad Pitt faz cara de Marlon Brando, Sean Penn faz cara de coitado, e quando tu pensa que vai acontecer algo, não acontece nada.
Mallick faz um filme a cada duzentos anos pra garantir que a gente esqueça como o último foi chato e faça a bobagem de lhe dar mais uma chance.
5° - Fúria Sobre Rodas
Nicolas Cage está falido. Ele levou um golpe milionário do contador e a sua situação ficou tão apertada que ele teve até que vender parte de sua coleção de gibis. Quem coleciona gibis sabe o tipo de dor que Nick sentiu tendo que fazer isso.
Pior do que vender sua coleção de gibis foi ser obrigado a aceitar qualquer proposta de emprego. Só isso explica coisas como Fúria Sobre Rodas.
Esse horroroso filme de aventura na estrada misturado com terror não encontra o tom em momento algum, a ação é mal feita, os personagens rasos, e a trama completamente sem sentido.
De bom só as pernocas da Amber Heard e a trilha sonora, cheia de boas músicas.
Esse nem na TV a cabo.
4° - O Turista
Angelina Jolie é extremamente sexy e já provou ser talentosa em mais de uma oportunidade. Johnny Depp viu sua carreira dar uma guinada após Piratas do Caribe, e de ator cult amiguinho de Tim Burton se transformou (merecidamente, ou não)em astro de primeira grandeza de Hollywood.
A união dos dois na tela só podia dar em um bom filme, certo?
Errado.
O Turista é previsível, chato e implausível. É totalmente idiota, cheio de clichês xaropões e a Angelina Jolie tem mais química comigo do que tem com Depp.
3° - Sucker Punch - O Mundo Surreal
Zach Snyder tentou alguma coisa aqui que não deu certo... Não foi o elenco, o time de gracinhas vestidas de colegiais armaduradas encabeçado por Emily Browning e Abbie Cornish funciona. As sequências de ação idem. Os efeitos especiais estilo "previsão do tempo" estão OK. O que está errado...? Talvez o fato de que cada uma das sequências de ação do longa parece uma versão reciclada de algum outro sucesso do cinema?
Ou o fato de o elenco de apoio, com alguns nomes reconhecíveis não ser aprovetado de maneira apropriada?
Ah... Já sei... Que tal o fato de o filme não fazer o menor sentido, e nem sequer disfarçar?
É... Pode ser por aí.
2° - Cowboys & Aliens
Parecia sonho de nerd, James Bond, Indiana Jones, Olivia Wilde, uma história de ficção científica passada no velho oeste, com vaqueiros e índios enfrentando alienígenas, tudo isso na mão de Jon Favreau, que realizou os divertidos filmes do Homem-de-Ferro.
Mas, o que era uma premissa curiosa e com potencial acabou num filme que até começa interessante, mas que descamba justamente quando acrescenta os aliens ao coquetel de mocinhos e bandidos que se desenhava no início do longa.
Cheio de reviravoltas inúteis e prejudicado por algumas ideias cretinas, Cowboys $ Aliens prometeu muito, e cumpriu quase nada.
Tremendo desperdício de potencial.
1° - Lanterna Verde
Esse ano não teve pra ninguém, Ryan Reynolds e Martin Campbell conseguiram mostrar que a Warner só acerta, mesmo, é com o Batman, ao esculachar o Lanterna Verde. O longa até tem seus pontos positivos, Mark Strong no papel de Sinestro, Geoffrey Rush como Tomar-Re e Michael Clarke Duncan como Kilowog e todo o núcleo de Oa são interessantes e mereciam mais tempo em cena. O problema, mesmo, foi o elenco humano, perdido e subaproveitado em um roteiro que, na ânsia de mostrar tudo o que o Lanterna podia ser, não mostrou nada a contento, e transformou o herói esmeralda em um naufrágio de bilheteria.
Bem-feito.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Top 10 Cinema: 2011
Mais um ano se encaminha a passos largos rumo ao fim, e, como é de hábito, o cinema foi uma das boas coisas que aconteceram no ano. Não posso fechar mais um ciclo miserento de 365 dias sem publicar na Casa do Capita o infâme Top 10, com os melhores filmes de 2011.
Lembrando, mais uma vez, apenas filmes que tenham sido lançados no Brasil ao longo do ano em cinema, DVD, BR disc ou na TV a cabo, e, claro, que eu tenha assistido. Isso exclui potenciais estrelas como Amor a Toda a Prova e Um Conto Chinês, que, infelizmente, não deu pra eu assistir. Vamos, então, aos dez eleitos do ano:
10° - Missão Madrinha de Casamento
Confesso que relutei um pouco em colocar a comédia de Kirsten Wiig, Paul Feig e Judd Apatow na lista. Houveram bons filmes "sérios" que poderiam estar aqui, mas achei que a comédia que mais me arrancou risadas nesse ano merecia figurar na lista.
No filme vemos como Annie (Wiig) perde as estribeiras enquanto tenta conciliar o fracasso de sua vida afetiva e profissional com a missão de organizar a despedida de solteira e a festa de casamento da melhor amiga Lillian (Maya Rudolph), que está sendo seduzida pelo bom-gosto e graça de Helen (Rose Byrne), esposa do chefe do noivo que a adota como protegida e tenta puxar o tapete da protagonista.
Os momentos constrangedores (o chilique de Annie no Chá de Panela organizado por Helen é de deixar o espectador sem ar.), o elenco de apoio ótimo e a subversão de algumas das convenções mais chatas das comédias românticas garantem o espaço ds Damas de Honra na lista.
9° - Missão: Impossível - Protocolo Fantasma
Ethan Hunt (Tom Cruise) volta às telonas na quarta aventura da franquia para limpar o nome da MIF após sua equipe ser acusada de uma explosão no Kremlin.
Preso a uma equipe que não selecionou, Hunt precisa encontrar o verdadeiro autor do atentado e impedir que ele dispare uma ogiva nuclear contra os EUA dando início à Terceira Guerra Mundial, tudo isso sem o apoio financeiro logístico e técnico da IMF.
O diretor Brad Bird acaba com o show de um homem só de Tom Cruise, tornando todos os agentes da equipe essenciais ao sucesso da missão. Além disso, acrescenta um pouco de humor à franquia, garantindo que M:I não incorra no erro de se levar a sério demais, o que poderia ser trágico para um filme que transita no limiar do absurdo, e entrega um dos melhores exemplares do cinemão de ação do ano.
8° - Contra o Tempo
A ficção científica de Duncan Jones não chega a ser um filme acima de críticas, pelo contrário, pequenas incongruências no roteiro podem até incomodar físicos especialistas na teoria das super cordas e jogadores de Assassin's Creed, além de um ou outro furo que pode perturbar ao espectador mais atento. Porém não se pode fechar os olhos para as qualidades do longa, onde o capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) é forçado a reviver uma devastadora explosão de um trem de passageiros nos arredores de Chicago até descobrir uma pista que leve até o terrorista responsável pela tragédia.
Ao mesmo tempo Stevens tenta entender como chegou até a cápsula onde recebe as orientações da oficial Goodwin (Vera Farmiga), porém, a reposta pode ser terrível.
Evocando características de clássicos como O Feitiço do Tempo e RoboCop, Contra o Tempo é um thriller de ficção científica dos mais competentes, deixando a gente na ponta da cadeira e roendo as unhas em vários momentos.
7° - Um Novo Despertar
Jodie Foster e Mel Gibson se juntaram novamente após o divertido Maverick pra contar a desventura de Walter Black, executivo madíocre e homem em profunda depressão que, após uma tentativa frustrada de suicídio encontra uma nova forma de viver através do fantoche de castor que encontra numa lixeira.
Contando ainda com Anton Yelchin e Jennifer Lawrence o longa dirigido por Foster narra com leveza e tranquilidade o momento mais atribulado da vida dos personagens sem tomar partido, e usando o show de atuação de Gibson e Yelchin para contar uma bonita história de busca por redenção.
6° - Super 8
Foi como se eu entrasse em um De'Lorean e voltasse à década de 80, quando os filmes da Amblin enchiam meus olhos de espetáculo e minha mente infantil de ideias fabulosas para brincadeiras que durariam a semana inteira.
Foi essa a sensação que tive ao assistir a joint venture de J. J. Abrams e Steven Spielberg ressucitando os filmes de temática e elenco infanto-juvenil do porte de Os Goonies, Os Heróis Não Têm Idade e Conta Comigo.
Os piás de Super 8, que ao fazer um filme caseiro de zumbis esbarram com um visitante de outro mundo após um (espetacular)acidente de trem, tinha todos os elementos que me fizeram ser um guri sonhador na infância. A aventura, a tensão, a comédia e as descobertas do amor, do afeto e da coragem.
ótimo elenco infantil despertando o fedelho faceiro que vive dentro de cada um de nós.
5° - Meia-Noite em Paris
Difícil não se encantar com a fábula de Woddy Allen e seu Gil Pendler(Owen Wilson), que viaja à Cidade Luz dos anos vinte para conhecer seus ídolos e aprender que inadequação e insegurança não são fenômenos intrínsecos ao século XXI enquanto o diretor monta uma ode à toda a forma de arte.
O elencão de primeira, a história surreal de um homem que não se sentia confortável no seu próprio tempo, o cenário magnífico da capital francesa e a direção sempre competente de Allen se juntam e formam o filme mais doce do ano, e, melhor, que ainda tem suas pontadas de acidez pra evitar o coma diabético.
4° - Cisne Negro
Dareen Aronofsky e seu conto sombrio e perturbador sobre a bailarina Nina (Natalie Portman, ótima) e como ela vergou sob a pressão de agradar a todos que a cercavam.
Perfeita para ser o Cisne Branco, Nina é absorvida por um buraco negro de loucura conforme tenta, a qualquer custo, se tornar o Cisne Negro.
Sem pressa Aronofsky conduz a platéia pelo labirinto que transforma a doce Nina em uma mulher perturbada e á beira da loucura.
Não bastasse tudo isso, ainda há uma cena de sexo entre Portman e Mila Kunis. Tinha como ser melhor?
3° - Bravura Indômita
Eu sei, outro filme de 2010, verdade, mas só estreou por aqui em 2011, assisti em Janeiro, fazer o quê? Não posso deixar de listar o tremendo faroeste dos irmãos Cohen na lista de melhores. Na história da menina Mattie Ross (Hailee Steinfeld, excepcional) e seu contratado, o xerife federal Reuben 'Rooster' Cogburn(Jeff Briges, soberbo) em busca de Tom Chaney, assassino do pai da garota, encontramos um fabuloso encontro entre o que há de melhor na filmografia dos Cohen, o cinismo e a irreverência a serviço da narrativa, e o que de mais glorioso existe no cinemão de western, heróis bravos e destemidos, donzelas em apuros e duelos cheios de chumbo e pólvora.
2° - X-Men - A Primeira Classe
2011 foi um ano de apostas em remakes que deram estranhamente certo. OK, X-Men - Primeira Classe não chega a ser um remake, é mais um retcon, ainda assim, está lá, sendo (re)contada a origem dos filhos do átomo da Marvel em celulóide.
Matthew Vaughn e Bryan Singer contaram como surgiu a amizade entre Charles Xavier (James MacAvoy) e Eric Lehnsherr (Michael Fassbender), e como essa amizade levou à criação dos X-Men, antes de ruir e colocar os dois mutantes mais poderosos da Terra em lados opostos na guerra de raças nos papéis de Professor X e Magneto.
Bom elenco, trama sólida, efeitos especiais competentes, e um sopro de vida pra franquia Mutante que capengou com X-3 e X-Men Origens - Wolverine.
Quando começam as aulas da Segunda Classe?
1° - Planeta dos Macacos - A Origem
Quem poderia imaginar que o melhor filme do ano seria justamente o remake de um filme que, apesar de cult e das múltiplas sequências, nem chegava a ser unanimidade?
Pois é, o diretor Rupert Wyatt contou a história de como os símios mascarados dos anos sessenta se tornaram o que eram quando Taylor pousou na Terra através de César (Andy Serkis, espetacular), o chimpanzé super inteligente que iniciou uma revolução movida a produtos químicos e fúria. Uma trama repleta de detalhes assustadoramente familiares que nos faz pensar no que acontece nos laboratórios farmacêuticos ao redor do mundo e o grande filme da temporada.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Resenha DVD: Meia-Noite em Paris
Woody Allen deu uma pausa em sua (excelente) aventura européia e retornou a sua Nova York para fazer o ótimo Tudo Pode dar Certo, depois disso, o diretor retornou ao velho continente, mais precisamente à Cidade Luz, para produzir mais uma pequena jóia em sua filmografia.
Meia-Noite em Paris narra a história de Gil Pendler (Owen Wilson), roteirista hollywoodiano tentando migrar para a literatura que esbarra na falta de confiança no próprio talento. Gil é fascinado pelo passado, mais especificamente pela Paris da década de 20, lar de grandes escritores, artistas e músicos a quem venera.
Em uma viagem à Cidade Luz com a noiva Inez (Rachel McAdams) e os futuros sogros, Gil, tentando evitar os amigos chatos da noiva, Paul (Um insuportável Michael Sheen) e Carol (Nina Arianda), resolve caminhar pela capital francesa, é quando soam as doze badaladas da meia-noite e Gil é convidado a tomar uma carona em um Peugeot antigo, sendo levado até uma festa onde encontra Cole Porter, Zelda e Scott Fitzgerald (Alisson Pill e Tom Hiddleston), e é apresentado a Ernest Hemingway (Corey Stoll, impagável.).
Nessas incursões ao passado Gil se apaixona pela bela Adriana (Marion Cotillard), oferece ideias e recebe dicas, dividindo seu tempo na cidade entre evitar os programas da noiva e dos sogros e comparecer aos eventos de seus ídolos.
É embalado pela boa trilha sonora de Stephane Wrembel e sob a bela fotografia de Darius Khondji que Gil vai aprender que seus anseios e inadequações não são problemas exclusivos do século XXI, nem tampouco males insolúveis, contanto que ele encontre as respostas para suas dúvidas e resolva o que quer fazer de sua vida.
Meia-Noite em Paris é ótimo, uma ode à arte e a cultura como eles devem ser: Bens ao alcance de todos, e não um santo Graal sobre um pedestal inatingível.
Isso fica claro na diferença que o roteiro de Allen cria entre o pedante "pseudointelectual" vivido por Sheen, arrogante e cheio de si, desfilando sua cultura de enciclopédia em qualquer oportunidade, e os gênios autênticos que criaram as obras de que ele fala, todos acessíveis, afáveis, divertidos e calorosos.
O elenco tem além de Owen Wilson (Bem, fugindo do seu papel de sempre), Adrien Brody (Um hilário Salvador Dalí), Kathy Bates, Carla Bruni e Léa Seydoux.
Tratando alguns dos maiores artistas, escritores e dramaturgos da história com leveza, sem levar nada a sério demais, Woody Allen cria um adorável "feel good movie" onde há espaço pra o romance, a arte, e o impossível. Não poderia haver melhor cenário pra esses elementos do que Paris.
"Você pode enganar a mim, mas não pode enganar Ernest Hemingway!"
sábado, 24 de dezembro de 2011
Mais um Natal
O Leonel chegou a pensar em comprar uma caixa de presente bem bonita, um papel de presente bem maneiro, e encher ela com tudo o que ele prometera dar a ela durante todo aquele tempo.
Pensou em colocar gibis, filmes, camisetas com estampas maneiraças, livros divertidos e outros nem tanto, jogos de video game... Mas conforme materializava a ideia, foi dando-se conta das coisas com que queria presenteá-la e não conseguiria colocar lá.
Uma serenata matutina cantando Brown eyed girl, do Van Morrison, aprendida ao longo de exaustivas semanas escondido com o violão do irmão. Todos os beijos de bom dia e de boa noite que pretendia dar nela ao longo de anos. Uma caminhada de mãos dadas pela praia com água até as canelas. As coisas dela e as dele se tornando "as nossas". O último gole de milhões de Coca-Colas. O controle remoto pra ela escolher o que ver na TV. Brigas, reconciliações, choros e sorrisos, na proporção de mil sorrisos pra cada choro, incluídos aí choros de alegria. O privilégio de batizar o cachorro. O privilégio de escolher o filme que veriam na sexta-feira. Resmungos rabugentos por ser um filme dinamarquês em preto e branco. Suspiros apaixonados. Gritos exasperados. Gargalhadas expontâneas. Sorrisos falsos pra aquela amiga dela que ele não suportava...
Coisas demais. Coisas demais pra uma caixa. Pra dividir espaço com as coisas que ele podia materializar.
Leonel abandonou a ideia. Sentiu-se mal, ao imaginar que podia estar sonegando um sorriso dela. O sorriso dela era dessas coisas que não se sonegava.
Mas acreditou, de verdade, que talvez, estivesse facilitando muitos sorrisos futuros ao ficar na dele.
Colocou seu fone de ouvido e foi trabalhar.
Hey where did we go,
Days when the rains came
Down in the hollow,
Playin' a new game,
Laughing and a running hey, hey
Skipping and a jumping
In the misty morning fog with
Our hearts a thumpin' and you
My brown eyed girl,
You my brown eyed girl...
Feliz Natal, gurizada.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Teoria...
Uma grande rede de super mercados aqui do RS tem por hábito fazer grandes comerciais de TV na época das festas de fim de ano. Nesse 2011 não foi diferente, lá no final de novembro já começara a espocar pela TV a propaganda de Natal do Zaffari versão 2011.
Na trama do comercial, embalado por No Dia Em Que Eu Saí De Casa, de Zezé di Camargo e Luciano, um jovem vai morar fora do Brasil, trabalhando como auxiliar de cozinha em um restaurante. Pelo filme, parece ser na Europa, digamos que seja na França. Sua mãe lhe pergunta se ele vai voltar a Porto Alegre no Natal, mas ele, sem dinheiro nem liberação do chefe, diz que só por milagre ele conseguirá. Veja por si próprio no endereço abaixo.
http://www.youtube.com/watch?v=TkXgJi6PAOc
OK, aqui vai a minha teoria:
O colega dele, que parece ser o responsável pela vaquinha, é o vilão da trama, vamos chamá-lo de Louis. Ele viu que o jovem que é o herói da história, vamos chamá-lo de Gumercindo, era o primeiro na preferência do chef para assumir a função de sous chef no restaurante.
Claro, o guri não tinha família nem amigos no país, então podia se dedicar inteiramente ao trabalho, Louis não, Louis, com uma esposa alcoólatra e um filho asmático precisava daquele emprego, ainda tinha que acompanhar a esposa às reuniões do AA, e trabalhava à noite como segurança pra que o filho pudesse fazer aulas de natação, ele não podia fazer como aquele brasileiro imundo e passar o dia todo na cozinha penteando os pêlos do saco do Chef.
Vendo que o jovem conseguiria a vaga que ele tanto almejava, e dominado pela frustração, Louis armou seu plano em uma epifânia.
Organizou a vaquinha para "ajudar" o colega brasileiro a voltar pra casa e ver a mãe. Inclusive foi falar com o patrão, dizendo-lhe como o "amigo" estava abatido, e que talvez fosse bom ele receber uma folga no fim do ano. Com isso, Gumercindo ganha de presente essa viagem à terra natal, e reencontra a mãe e a irmã caçula. Tudo parece bem.
Rá.
Quando ele volta, pouco antes do ano novo, Loui foi promovido a sous chef do restaurante em regime emergencial por causa do movimento de final de ano. Gumercindo, inebriado pelo tempo que passou sob a asa da mãe e no seio familiar é relapso com seus afazeres, o fato de Louis fazer o possível para atrapalhar não ajuda, e ele logo é demitido pelo chef.
Procura emprego em outros restaurantes da região, mas não consegue nada, acaba trabalhando como chapista em uma lanchonete McDonald's. O dinheiro minguado o faz viver em condições degradantes, e deseperado, tanto pelo fracasso profissional quanto pela saudade da família, Gumercindo sucumbe às drogas.
No momento de maior desespero ele se prostitui no Bois de Bolougne, onde faz coisas inomináveis em troca de uma pedra de crack. Após três anos e quatro overdoses ele é preso ao furtar a carteira de um comerciante marroquino que o contratara para um programa e extraditado ao Brasil.
Aqui, faz o tratamento de desintoxicação, tem duas recaídas até se recuperar totalmente.
Hoje ele leva uma vida normal, vai aos jogos do grêmio, corre no gasômetro, trabalha no Subway próximo à Redenção e namora um rapaz chamado Jorge, que caiu no gosto de sua mãe. Está feliz o Gumercindo.
Mas não deixa de se perguntar, de vez em quando, como as coisas teriam sido se ele não tivesse voltado pra casa naquele Natal.
Ah, o Louis virou Chef principal de uma filial do restaurante em que trabalhou com Gumercindo, se divorciou da pinguça e está brigando pela guarda do filho na justiça, deve ganhar.
Resenha Cinema: Missão: Impossível - Protocolo Fantasma
Foi lá em 1996 que Ethan Hunt ganhou, pela primeira vez, a cara de Tom Cruise. No filmão (Que apesar de superestimado é muito bom) de Brian de Palma o agente Hunt era traído e incriminado por seu mentor, Jim Phelps (Jon Voight) e precisava improvisar um grupo para limpar o próprio nome.
Era um ótimo filme de espionagem/ação. Me lembro da sequência, talvez uma das mais famosas do cinema moderno, em que Ethan entrava pelo teto em uma sala selada da CIA para apanhar os arquivos NOC suspenso por cabos, maneiríssimo.
Em 2000 Cruise voltaria à pele de Hunt na sequência óbvia do sucesso de 96. Dessa vez nas mãos de John Woo, Hunt trabalhava com Luther (Ving Rhames, reprisando o papel do filme anterior), Billy Baird (John Polson) e Niah Nordoff (Thandie Newton) para recuperar um vírus roubado por Sean Ambrose (Dougray Scott) um agente renegado da MIF. Esse Missão: Impossível 2, mais centrado na pancadaria do que o predecessor não foi lá uma grande obra cinematográfica. Tinha algumas ótimas sequências, mas, de alguma forma, o estilo Woo e suas assinaturas, os pombos e os impasses armados, não casaram bem com a franquia, e, embora seja uma fita de ação bastante competente, tem como maior mérito ter tirado o péssimo Scott, então escalado para o papel de Wolverine, em X-Men, do longa mutante após ele se lesionar em uma cena com Cruise.
Foi apenas em 2006 que Hunt retornou aos cinemas para Missão: Impossível III. Dessa vez nas mãos de J. J. Abrams, criador de Felicity e Lost (eca).
O diretor não fez feio, e entregou um filme superior ao anterior em todos os aspectos, a começar pelo vilão, saía o Ambrose afetado de Scott, e entrava o frio vendedor de armas Owen Davian de Phillip Seymour-Hoffman. Na equipe de Hunt havia o retorno de Luther, novamente Rhames, e a adição da delicinha Maggie Q como Zhen Lei e de Jonathan Rhys-Meyers como Declan Gormey. O elencão ainda tinha Lawrence Fishburne, Billy Crudup, Simon Pegg, Keri Russel (A Felicity em pessoa), e Michelle Monaghan como a futura esposa de Hunt, Julia.
Estava tudo lá, as sequências de ação improváveis, as engenhocas malucas, os lugares exóticos e a obrigatória música tema de Lalo Schifrin.
Missão: Impossível III tinha tudo o que um filme de ação precisa ter, e funcionou perfeitamente. Claro, haviam os quase obrigatórios arroubos interpretativos de Cruise, que chorou, caiu, correu e se desbragalou, mas isso nem chega a incomodar quando vemos o astro sendo arremessado em um carro pela explosão de um míssil alguns metros atrás dele.
Foi com empolgação de fã, então, que ontem fui ao cinema assistir ao quarto longa da franquia, Missão: Impossível - Protocolo Fantasma.
Dessa vez a direção da aventura de Ethan Hunt ficou a cargo de Brad Bird, egresso das animações (O Gignte de Ferro, Os Incríveis, Rattatouille), fazendo o seu debut em filmes de live action. Cruise obviamente retorna ao papel de Ethan Hunt. Na produção, saiu Paula Wagner, parceira de longa data de Cruise, e entrou J. J. Abrams, que, ao lado de Bird tem pinta de ser um dos maiores responsáveis pelo que dá certo no longa, aliás, vamos a ele:
Ethan Hunt está preso em uma cadeia russa. Ele é libertado pela agente Jane Carter (Paula
Cabe então ao grupo de agentes encontrar o verdadeiro culpado, e evitar um conflito nuclear enquanto limpa seus nomes, tudo isso sem o apoio logístico, técnico e financeiro da IMF.
Além disso, Hunt não pode escolher sua equipe, sendo obrigado a permanecer com Benji e Jane, mais o agente Brandt (Jeremy Renner), que se tornara analista e acaba caindo de para-quedas na missão. Agora os quatro espiões precisam realizar uma corrida contra o tempo que vai da Rússia a Dubai e à Índia planejando e improvisando enquanto tentam evitar um holocausto atômico.
É um filmão dos mais divertidos, inclusive, "divertido" é uma palavra que poucas vezes caiu tão bem em um filme da franquia, o roteiro abre espaço pra diversos momentos cômicos que não soam forçados ou gratuitos, apenas mostram que os personagens sabem rir de si mesmos e da situação em que se encontram mesmo quando a coisa degringola. Não se preocupe, porém, Missão: Impossível não virou uma comédia, todos os gadgets, explosões e uma pequena dose de drama continuam lá, garantindo que nós não nos esqueçamos de que estamos vendo um filme de espião da melhor qualidade.
Outro ponto fortuito do roteiro de Josh Appelbaum e André Nemec é que finalmente Missão: Impossível não é um show de Cruise sendo levemente auxiliado por uma equipe. Todos os agentes do Longa desempenham papéis importantes no filme, tanto sendo bem desenvolvidos quanto ganhando seus momentos de brilho, Jeremy Renner inclusive tem uma cena a lá Cruise, suspenso no ar e fazendo malabarismos (OK, não é como Hunt escalando o Burj Khalifa, de quase um quilômetro de altura pelo lado de fora, mas é maneiro.), enquanto Paula (ohmygod) Patton cai na porrada em mais de uma ocasião e até o técnico Benji dispara seus tiros.
O bom elenco tem ainda Anil Kapoor (Tava esperando ele perguntar quem queria ser um milionário...), Léa Seydoux, Josh Holloway, Tom Wilkinson, além de Ving Rhames e Michele Monaghan, em pontas.
Óbvio, não é um filme que se sustente na plausibilidade, em várias ocasiões nós sabemos que o que está acontecendo no filme é impossível, mas... OK, não me obrigue a fazer esse trocadilho, nem Anthony Hopkins conseguiu dar dignidade a piadinhas com o nome do longa.
Missão: Impossível - Protocolo Fantasma não faz feio, é mais um ótimo capítulo da franquia de Ethan Hunt e se sustenta sozinho, sem precisar dos demais, entretenimento de primeiríssima linha.
"-Nós temos que acessar o servidor pelo lado de fora.
-Nós?
-Hã... Bom... Eu cuido dos computadores."
sábado, 17 de dezembro de 2011
Grande Tubarão Branco
O grande tubarão branco não evolui mais. Ele chegou ao seu ápice. É a síntese da perfeição da forma em nome da função. Do olfato apuradíssimo às arcadas dentárias múltiplas, o grande tubarão branco é tudo o que ele precisa ser para ser o senhor do seu domínio. A mais perfeita máquina de caça sub-aquática que existe nos sete mares.
Alguém poderia supor que o megalodon, o parente pré-histórico gigante dos tubarões, o branco entre eles, seria mais eficaz.
Engana-se.
Poderia meter mais medo. Especialmente em criaturas que tem noção de tamanho como as cobras e nós. Mas não seria mais eficiente. Certamente precisaria comer mais de modo a alimentar o corpanzil gigantesco e fazê-lo funcionar a contento, ou seja: Pouco prático.
Não.
O grande tubarão branco é o cara. Nós podemos simpatizar mais com outros animais, mas quem alcançou o píncaro da evolução da espécie foi ele.
Nesses dias doentes em que fiquei acamado de manhã à noite vi, sim, muitos documentários do Discovery HD Theater. E foi justamente assistindo a um sobre o tubarão que não pude deixar de me perguntar se a evolução, forma, função, etc, etc... Não eram apenas parte da coisa toda... Quer dizer, será que, além disso tudo, não há algo mais?
O meu palpite é que há, sim, um item que passa batido pra todo mundo... O grande tubarão branco não tem noção de que alcançou o apogeu da evolução... O grande tubarão branco não sabe que não tem mais no que evoluir. Ele nem sequer toma conhecimento disso quando come a perna de um surfista, ou um leão marinho ou um pneu... Ele não faz a mais remota ideia de que é o máximo que um peixe carnívoro poderia ser.
Talvez por isso o grande tubarão branco seja tão casca grossa. Ele não se deixa levar por essa fanfarronice de "zênite da evolução"... Não. Ele continua lá, com contrição de monge budista, concentração de jedi, e frieza psicopata na sua tarefa diária de comer tudo o que se mexe e sangra dentro d'água.
Se o grande tubarão branco soubesse que é o máximo, talvez ele se tornasse relapso. Talvez ele se deixasse levar pelos elogios. Talvez ele deixasse coisas importantes passarem...
Mais ou menos como o Homem.
O ser humano fez isso. Ele viu que chegou a um ponto em que pode tudo, em que acha que sabe tudo, e que o que não sabe vai descobrir, nem que seja colidindo hádrons.
O ser humano pode até ter alcançado o seu ápice, sei lá. Eu acho brabo que tenha, considerando coisas como nossas políticas econômicas, os conflitos sem sentido, o Pânico na TV, a Maria Gadú, e a matriz energética burra, mas quem sou eu pra afirmar qualquer coisa?
De qualquer forma, se o Homem chegou a seu máximo em termos de evolução, e ele teve suficiente consciência (e uma boa dose de soberba) pra, ao sacar tudo isso batizar a própria espécie de homo sapiens sapiens, ou, homem que sabe que sabe... Puxa... Eu não posso deixar de cogitar a hipótese de que, o quê estragou tudo, foi essa consciência, verdadeira, ou não, de ser o zênite, ápice, apogeu e tudo mais da evolução da espécie.
Talvez, se nós tivéssemos a impressão de que vai vir coisa melhor mais tarde, nós tentássemos parecer menos escrotos pra posteridade, talvez tentássemos ampliar o escopo das coisas boas que a humanidade é capaz de fazer ao invés de perpetuar o que fazemos de errado e doente, talvez, se não fôssemos donos de tanta sapiência, ou ao menos se não fôssemos capazes de saber que sabemos, nós poderíamos estar sendo menos cretinos uns com os outros e com o lugar onde vivemos... Ou, na pior das hipóteses, estaríamos apenas tentando comer a perna dos surfistas no nordeste...
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
No banco
Geraldo entrou no banco desanimado. Desanimado com tudo. Com a vida, com a morte, com o amor e com o esporte. Só não estava mais desanimado porque estava com pressa, assoberbado que vivia naqueles últimos tempos pelo peso de suas obrigações e das obrigações de outrem. Caminhou até a entrada exígua do banco, e sacou o relógio do pulso e o celular com os fones de ouvido grandes e laranjas dos bolsos. Largou tudo naquela pequena gaveta de objetos metálicos na entrada do banco e andou com decisão até a porta giratória que se tornou quase obrigatória em agências bancárias. Deu um passo, dois, três, e bateu com a testa na porta quando ela trancou, de súbito.
Trancou na porta giratória mesmo tendo deixado o relógio o celular e o fone de ouvido na cesta.
Voltou, largou a carteira, cheia de moedas, e o cinto. Tentou entrar novamente, e a porta novamente travou. Deu-se conta do quê era. Uma embalagem de papel metálico de comprimidos e um jogo de talheres de camping que sempre carregava na mochila. A mochila cheia de livros e revistas e algumas peças de roupa suja o desencorajaram de entrar no banco. Apanhava suas coisas na cesta de pertences quando a segurança, uma moça simpática do lado de dentro da parede transparente se aproximou da janelinha e bateu duas vezes, fazendo sinal para que entrasse. Ainda sinalizando, mostrou a Geraldo o movimento que devia fazer se quisesse ultrapassar a porta giratória.
Geraldo seguiu a instrução muda da moça, e adentrou a sala de auto-atendimento do banco enquanto sacava dois cartões bancários e meia dúzia de boletos de dentro dos bolsos das calças jeans largas e, enquanto apanhava seus pertences de cima do balcão, sorriu, sinceramente, e agradeceu à moça da segurança, que sorriu de volta dando-lhe uma piscadela.
Após recompôr-se com o cinto, o relógio, o telefone e a carteira, andou agência adentro, passando ao lado da moça de uniforme, sentiu um cheiro agradável, vindo dela. Chegou a diminuir o passo pra identificar o aroma.
Foi quando, em um baque, percebeu que se tratava do perfume que Luana, uma das responsáveis pelo seu desânimo atual sempre usava. O cheiro que Geraldo aprendera a encontrar no pescoço e por baixo dos cabelos dela. O cheiro que preenchia cada milímetro dos espaços que dividiam, pois sempre que ela e ele estavam juntos era fugaz e ele queria que fosse pleno, então, ia contra todos os seus instintos e ficava perto dela. O mais perto possível, Sempre que lhe era possível. Fossem dois minutos, fossem duas horas ou duas noites, ao lado dela sempre lhe eram momentos preciosos.
Agora, só o que ele tinha eram memórias. Igualmente preciosas, mas muito distantes... Distantes como nunca antes, e um calhamaço de contas para pagar.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Resenha Game: Assassin's Creed Revelations
Em 2007 nós conhecemos Desmond Miles, a Abstergo, e o credo dos Assassinos, que combatiam os Templários em uma guerra milenar lutada nas sombras da história.
Nós conhecemos Altaïr Ibn La Ahad, o Pomo do Éden, o Animus, e, mais importante, conhecemos o game Assassin's Creed.
O jogo que misturava ação em estilo sandbox com ação furtiva e movimentos em estilo parkour. Era um ótimo game, embora a repetição de tarefas "Espione, furte, espanque, interrogue" por nove (!) vezes prejudicasse o fator replay e desencorajasse alguns players de repetir a experiência. De minha parte, terminei Assassin's Creed quatro vezes. O prazer que eu sentia sobrepujando soldados em Acre, Damasco e Jerusalém não pode ser medido em palavras, tampouco a alegria de ver um templário guardador de baú caindo no chão feito um saco de batatas ficando à mercê da minha espada vingativa.
Sim, encontrei o prazer de matar um para salvar mil. E o fiz. Várias vezes.
Aliás, joguei tanto e com tanto gosto Assassin's Creed (Que durante um bom tempo foi o único game de PS3 que eu tinha junto com FIFA 2008) e me afeiçoei tanto ao Altaïr, que quando a sequência, Assassin's Creed II foi lançada, eu não fui muito com a cara do novo personagem.
Ezio Auditore, o nobre italiano renascentista que brigava com famílias rivais e invadia o quarto das gatinhas na calada da noite, na verdade me foi bastante antipático de imediato. Ainda assim, Assassin's Creed II tinha tantas e tão boas inovações que, mesmo não indo muito com a cara do protagonista, o game te forçava a jogar, tanto para conhecer a história de Ezio e sua rixa com Rodrigo Bórgia, quanto para continuar a história de Desmond.
Assassin's Creed Brotherhood, entregue pela Ubisoft ano passado dava sequência ás aventuras de Ezio, que, como grão-mestre do credo dos assassinos se tornava um personagem tão carismático e interessante que já se tornava difícil não gostar dele, especialmente porque era um personagem que nós tínhamos a oportunidade de acompanhar desde o seu início como pitboy até ele se tornar o responsável pela manutenção da ordem dos assassinos, recrutando e treinando novos recrutas para suplantar o domínio templário na Europa.
Ao final, as coisas pareciam bastante definidas para Ezio, e muito complicadas para Desmond, sua contraparte no presente, de modo que, pelo menos eu, supunha que daríamos adeus ao galante assassino italiano e conheceríamos algum outro ancestral do personagem contemporâneo.
Foi, então, com alguma surpresa e uma fagulha de desapontamento que descobri que na nova aventura, Assassin's Creed Revelations nós, não só continuaríamos com Ezio, mas também iríamos nos aprofundar na história de Altaïr (Que pra mim ficara bastante bem fechada com os eventos do primeiro game.).
As surpresas se seguiram com o cenário do novo game, a cidade de Istambul em 1511, a metrópole que era a fronteira entre Europa e Ásia é incrivelmente colorida e viva, um dos mais belos cenários de todos os games da série. Agora, vamos ao que interessa...
No game Ezio, agora um maduro homem de cinquenta e dois anos de idade (maduro nos dias de hoje, no século XVI ele era um ancião perturbado pelas acrobacias que faz,) viaja até Masyaf, procurando pela bibliotéca de Altaïr. Lá ele descobre que os templários estão um passo à sua frente, e que a porta da biblioteca está selada por cinco chaves espalhadas pelos irmãos Polo em locais de Istambul.
Ezio viaja então até a Turquia e lá encontra os representantes locais da ordem, e se junta a eles ajudando-os a manter o equilíbrio político na região enquanto atende à sua própria busca.
Assassin's Creed Revelations inicialmente vai agradar apenas aos fãs fiéis da franquia, como eu. O game não traz grandes inovações com relação ao segundo e terceiro capítulos da série, e as que agrega não chegam a empolgar. Há um interessante adendo de bombas variadas ao arsenal à disposição de Ezio, que são bastante divertidas, um mini game de estratégia onde Ezio comanda a defesa de uma das sedes dos assassinos ante um ataque dos templários bizantinos que é tremendamente chata, e fases onde a consciência de Desmond, presa ao Animus, vaga por partições fantasmas do disco-rígido do engenho enquanto reencontra o seu passado.
Essas fases são pequenos desafios em primeira pessoa que me lembraram uma versão 3-D o game de Atari Bobby's Going Home, e que quase nada acrescem ao game.
Ainda assim, Assassin's Creed Revelations segura a onda, mantendo o interesse da franquia intocado, especialmente conforme se avança na história rumo às revelações do título.
Ezio, Altaïr e Desmond seguem firmes na briga pelo título de melhor franquia da geração atual de games com aventuras repletas de embasamento histórico, ótimas teorias da conspiração e ação extremamente competente. Resta torcer para que a Ubisoft não sente em cima da fórmula que deu certo e não permita que Assassin's Creed fique estagnado enquanto outras séries menos interessantes evoluem a cada game.
"Nada é verdadeiro, tudo é permitido."
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Sinais.
O Lélis era um crente. Não que fosse evangélico, ou esses caras que usam camisa de manga curta com gravata, não. Ele era crente pois acreditava em tudo. Sério, tudo mesmo. Homem na Lua, profecias Maias, Incas e Aztecas, cristianismo, espiritismo, caçadores de fantasmas, alienígenas e teorias da conspiração. Acreditava em horóscopo, também, o Lélis. Acreditava de, ás vezes, acordar se sentindo mal, e abrir o jornal pra procurar no horóscopo a causa das suas moléstias.
O Lélis não ligava pra ausência de comprovação de qualquer uma dessas coisas, ele não ligava, mesmo, ele vivia sua vida de maneira completa com todas aquelas crenças fantasiosas, até absurdas e vendo sinais em tudo.
Essa era a faceta mais desagradável de Lélis. Quiçá sua única faceta desagradável. Lélis era gentil, cordato, prestativo e esforçado. As pessoas gostavam dele por ele possuir essas qualidades em abundância, entretanto, mesmo assim, com essas qualidades em abundância, algumas pessoas tinham reserva ao Lélis. Justamente por causa da mania dos sinais.
Se uma pessoa próxima ao Lélis derrubava algo e, ao se abaixar para apanhar, dava uma gemida colocando as mãos nas cadeiras o Lélis imediatamente olhava pra pessoa e dizia que ela precisava tomar um passe, pois aquela exaustão podia ser um encosto sugando-lhe a energia. Se uma pessoa de seu convívio estava com o humor prejudicado, fosse por não ter dormido bem à noite, fosse por ter visto seu time perder um jogo decisivo no dia anterior, o Lélis imediatamente aparecia com um endereço sugerindo que o mal-humorado visitasse o local em questão e tomasse uns florais. Se uma colega o convidasse pra almoçar pois o namorado dela não viria naquele dia, ele pousava a mão no ombro dela e virava a cabeça pro lado fazendo cara de "fica assim, não", e já dava o relacionamento como acabado.
O Lélis não conseguia evitar, ás vezes ele sabia que seria inconveniente, mas as coisas lhe saltavam aos olhos e ele se via obrigado a tentar ajudar. A pessoa cansada devia ter um encosto, a mal-humorada devia ter um sensível desequilíbrio químico no cérebro que poderia ser resolvido com florais, o namorado da colega só podia estar saindo com outra pra cancelar um almoço com uma menina tão legal. Os sinais lhe eram óbvios.
O problema do Lélis nem era ver sinais, quase todo mundo vê sinais em um momento ou outro, aqui ou acolá, o problema era a interpretação que o Lélis fazia desses sinais. Lélis via alhos e entendia bugalhos, e mesmo sendo uma pessoa adorável, mesmo com seu imenso leque de qualidades, por interpretar sinais de forma errônea acabava, por vezes, fechando portas . Ás vezes, definitivamente.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Flagelo
Orlando era perdidamente apaixonado pela sua namorada, a Cândida, que de Cândida tinha apenas o nome. Era uma dessas mulheres fortes e decididas que sabem o que querem, até aí, sem problema, toda a mulher tem o direito de ser forte e decidida, mais que o direito, o dever. A Cândida era assim, lutadora, firme, poderosona. Gostava das coisas do seu jeito, não abria concessões, e nem gostava de pitacos nas suas decisões.
A questão é que não há relacionamento sem diálogo, e Cândida não parecia disposta a dialogar com Orlando na maior parte do tempo.Cândida passava por cima de Orlando como o D'alessandro passa por cima do Victor. Ela não levava as opiniões e gostos dele em consideração, e levava o namoro dos dois numa toada de "ou é assim ou não é de forma alguma.". O Orlando, apaixonado que era, acabava engolindo toda a espécie de batráquios para garantir sua proximidade com a mulher que amava desde a faculdade quando ela era mais, assim, Cândida.
Mesmo com seus amigos lhe dizendo que ele deveria se impôr, que deveria tomar uma atitude mais firme e mostrar que era o homem da relação, o Orlando não fazia isso. Provavelmente por uma combinação de fatores, ele havia sido criado quase que exclusivamente por mulheres, sempre fora manipulado por elas, de modo que parecia-lhe normal que Cândida controlasse a relação que partilhavam, mais ou menos. Também por uma questão de ambiente, afinal, vivemos em uma sociedade que está fazendo o possível pra mostrar a todo mundo que ser homem não é legal. Orlando era assim, perdido com relação ao seu lugar de homem no mundo, e o fato de a Cândida fazê-lo de gato e sapato obviamente não ajudava. Ainda assim, o Orlando suportava isso. Suportava pois, de alguma forma torta, aceitar os eventuais absos de uma pessoa que não o respeitava, fazia-o crêr que seu amor era mais profundo, mais verdadeiro, mais puro.
Os seres humanos, em sua maioria, têm tendência à auto-imolação. Por estranho que possa parecer, existe um certo prazer no sofrimento por parte das pessoas. Provavelmente essa necessiade de legitimar as coisas com dor e desconforto tinha origem na religiosidade, na crença torta de que sofrimento traz purificação. Como nos encontros religiosos de toda a estirpe onde fanáticos religiosos se açoitam com chibatas, simulam crucificações, ou envolvem a perna com cintas de cilício ou qualquer coisa que o valha.
A questão é que a humanidade encontra completude no sofrimento, mais ou menos como o agente Smith explicou pro Morpheus em Matrix. E o Orlando não era exceção. O Orlando meio que gostava de sofrer, igual todo mundo mais.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Rapidinhas do Capita
Contundência é tudo. Tudo nessa vida. Há coisas que não se resolvem de forma alguma, mas a maioria dos ocasos da vida poder-se-iam evitar com contundência. Não há mal-entendido quando existe contundência. Não há espaço pra interpretação equivocada quando há contundência. A contundência é o bálsamo pro mal da má interpretação, que, diga-se de passagem, assola esse nosso país de analfabetos funcionais.
Um adeus, por exemplo... Um adeus dado com contundência não deixa margem pra um "olá" futuro.
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E o que se faz?
Não muito, eu acho. Se faz o que se pode fazer, Abraça-se um certo senso de normalidade. Vai-se seguindo, fazendo-se o que se pode, sendo-se o mais normal possível, afinal de contas, alguém virá te bater no ombro e dizer "A vida continua.". Claro que continua, imbecil. Mesmo que tu morra, ela segue ao redor, pra todos os outros. Não é o ponto.
O ponto é qualidade de vida, certo? Lembra do Dustin Hoffman em Mais Estranho que a Ficção? Quando ele diz pro Will Ferrell que, não importa o que ele faça, ele vai morrer, e fala "Diabos, Harold, você pode se alimentar só de panquecas se quiser.". E o personagem do Ferrell responde "Qual é o seu problema? Ei, eu não quero comer só panquecas, eu quero viver! Quer dizer, quem, em seu estado mental normal, escolheria panquecas entre panquecas e vida?", e o Hoffman responde "Harold, se você parar pra pensar, vai perceber que essa escolha está intrínsecamente ligada ao tipo de vida em questão... E, claro, à qualidade das panquecas.".
Bueno... Melhor começar a procurar por essas ótimas panquecas.
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Morreu o Sócrates. Infelizmente não me lembro dele jogando futebol. Que descanse em paz, e que a sua doença sirva de exemplo pra outros.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Resenha Cinema: Os Muppets
Na agradável noite de sábado, resolvi fazer uma coisa que eu não tive paciência pra fazer nem quando era criança. Encarei, sentadinho no cinema, os pouco mais de noventa e oito minutos de Os Muppets, retorno à telona da trupe de fantoches malucos criados por Jim Henson em meados de 1954 e que já estiveram em dezenas de filmes e especiais pra TV.
Os Muppets estavam afastados do cinema desde 1999, quando foi lançado Muppets do Espaço, e provavelmente continuariam afastados das telonas se o ator Jason Segel, aquele de "Ressaca de Amor", "Eu Te Amo, Cara", e da série "How I Met Your Mother", não fosse um fã de marionetes. Segel escreveu o roteiro e produziu o longa, dirigido por Alex Bobin, egresso de The Flight of The Conchords, que conta a história dos irmãos Gary (Segel) e Walter.
Gary é um rapaz normal, enquanto Walter é um fantoche. A despeito dos eventuais problemas que surgiam dessas diferenças, os dois sempre se deram bem e foram muito unidos. Walter cresceu (?) sendo um fã incondicional dos Muppets, com quem sempre se identificou, sem ligar para as gozações das outras crianças, que riam de seus ídolos.
Quando Gary resolve viajar a Los Angeles nas férias com sua namorada Mary (Amy Adams, engraçadinha como pede o filme), para celebrar o seu aniversário de dez anos de namoro, Walter se junta ao casal, e surge a oportunidade de ele conhecer o Teatro Muppet, Meca dos fantoches famosos.
Ao chegar lá, porém, Walter descobre não apenas que o Teatro Muppet está abandonado e decrépito, mas também que o perverso magnata do petróleo Tex Richman (O ótimo Chris Cooper, se divertindo demais) pretende comprar o teatro e derrubá-lo para explorar o petróleo que existe em um poço sob o Teatro.
Walter e Gary recorrem, então, a Kermitt, o sapo (o ex-Caco, mais uma dessas alterações de nome pra "reforçar a marca".), deprimido líder dos agora separados Muppets, para reunir a antiga turma e realizar um último show de modo a arrecadar dez milhões de dólares e salvar a casa dos bonecos.
Não é um roteiro dos mais inovadores, toda essa história de reunir a velha turma e fazer um show pra arrecadar dinheiro já não era nova na época d'Os Irmãos Cara de Pau, o dilema de Walter, que deve crescer e se descobrir de modo a ajudar os novos amigos, idem, e o mesmo vale pro romance de Gary e Mary, e pras novas carreiras dos Muppets debandados (Fozzie em um "cover dos Muppets originais, os Moopets, Gonzo um magnata do ramo dos banheiros, Animal passando por um programa de controle de raiva, e Piggy como editora da Vogue em Paris), ainda assim, o filme funciona e agrada às crianças, o principal e óbvio público alvo, mas também aos adultos. Muitas das piadas passam batidas pros pequenos, e fazem rir aos mais velhos, o gráfico de popularidade, a analogia a O Diabo Veste Prada, e as piadas com o modesto orçamento do longa, por exemplo, são todas piadas pra adultos. Não faltam os números musicais, obrigatórios na filmografia das criações de Henson (inclusive com um rap pra um dançante Chris Cooper), e nem as participações especiais, aliás, uma das diversões do filme é identificar todo mundo que faz uma ponta, Alan Arkin, Zach Galifianakis, Ken Jeong, John Krazinsky, Bill Cobbs, Sarah Silverman, Jim Parsons, Emily Blunt e inúmeros outros, todos rendendo homenagem às famosas marionetes, junto com Jack Black, a hilária celebridade escalada pelos Muppets para apresentar seu Telethon, e Rashida Jones, a executiva da TV que viabiliza a exibição do espetáculo.
Apesar de um anacronismo quase palpável em se assistir a um longa estrelado por bonecos de feltro e pelúcia movidos por arames, ainda assim, pra quem, como eu, cresceu acompanhando tanto as versões fantoches quanto as animadas da turma do Jim Henson, há um certo prazer pueril em dar risada das inocentes, ainda que boas, piadas do longa. Jim Henson estaria sorrindo.
"-Você não é uma daquelas Tartarugas Ninja?
-Sim, sim, eu sou."
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Funcional...
-E aí? O que tu vai fazer, agora? - Perguntou-lhe, sem palavras, o seu cachorro.
-O que eu vou fazer? -Ele respondeu em voz alta enquanto afagava os pêlos fartos do pescoço do cão. -... Bom... Vou me manter funcional, meu camarada amarelo. Vou continuar trabalhando, participando de discussões, escrevendo, jogando, vendo filmes... Vou fazer o que posso fazer. Vou fazer aquilo que sei fazer. Vou erguer muros de sarcasmo e ironia. Vou selá-lo com chapas de distanciamento e cobrir tudo com frieza. Vou criar um novo perímetro defensivo que ninguém terá permissão pra atravessar e de vez em quando irei até uma janela metafísica acenar apenas pra que todos saibam que eu não morri, assim, ninguém irá aparecer pra perguntar como eu estou. Ninguém nunca vai saber como eu estou me sentindo. E, mesmo que tenham uma pista, eu não confirmarei sequer sob tortura. Pois é assim que eu sempre fiz desde a adolescência. Eu mantenho as coisas funcionando e me mantenho funcionando e tem funcionado desde então.
-Tem, mesmo? - Perguntou-lhe o cachorro, silente.
-O quê? - Ele perguntou, mais em um jab verbal do que por não ter entendido.
-Funcionado? - Quis saber o cão, bocejando.
-...
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Resenha Game: Assassin's Creed Brotherhood
Comecei ontem a jogar Assassin's Creed - Revelations, quarto game da franquia dos assasinos mais maneiros da história dos games, e me dei conta, até envergonhado, que pulei o terceiro capítulo da franquia. O ótimo Assassin's Creed - Brotherhhod nas resenhas do blog. É com uma vergonha ímpar estampada na minha carranca barbuda que eu peço desculpas e tento remediar isso mostrando aqui, com pouco menos de um ano de atraso, que Assassin's Creed é a melhor franquia dos consoles atuais, e que me desculpem o Batman, os criminosos de GTA e os milicos de Call of Duty, Halo e Battlefield.
Em Assassin's Creed Brotherhood seguimos acompanhando Desmond Milles e sua busca pelas memórias de seu antepassado Ezio Auditore da Firenze, grão mestre da ordem dos assassinos durante a renascença. Se em Brotherhood eu ainda achava que o Altair era meu personagem favorito, em Brotherhood Ezio ganha mais e mais profundidade. É um personagem que acompanhamos desde antes de se tornar um assassino e cujo crescimento e amadurecimento acompanhamos durante décadas.
Nesse terceiro capítulo da Franquia, enquanto Desmond e Lucy Stillman, acompanhados de Rebeca Crane e Shaun Hastings, fogem para a Montireggioni de 2012 tentando se manter fora do radar da Abstergo, braço atual da ordem Templária inimiga do Creed desde tempos imemoriais. Na cidade onde Ezio e sua família viveram após sua fuga de Florença no século XV, eles montam uma base móvel, e Desmond volta ao Annimus para dar sequência à sua busca pelo Pomo do Éden, que pode ser a chave para derrotar os templários, na vida de Ezio.
O jogo com Ezio retoma de onde o anterior terminou. Numa sala secreta oculta sob o Vaticano, onde Ezio chegou após derrotar Rodrigo Bórgia, agora o Papa Alexandre VI. Ele e seu tio, Mario, fogem de Roma e retornam à Montireggioni, onde Ezio expões suas descobertas ao conselho do Creed, e pensa em abandonar a vida de Assassino.
Entretanto, é surpreendido pelo ataque de Cezare Borgia à cidadela. O filho de Rodrigo mata Mario, e rouba o Pomo, obrigando Ezio a lutar para escapar com vida e manter sua mãe e irmã a salvo dos invasores.
Ferido, Ezio cai desacordado, apenas para recuperar a consciência dias mais tarde em Roma. Capital do domínio templário na Europa, onde ele deve abraçar suas obrigações como grão mestre do Creed, e recrutar novos membros para a ordem de modo a encarar o domínio dos Bórgia e recuperar o Pomo.
Assassin's Creed Britherhood seguiu á risca tudo o que funcionara em Assassin's Creed II. Ezio, aqui, já não tem mais pra onde amadurecer, afinal, era um assassino altamente treinado que já havia vencido seu maior inimigo e conquistado sua vingança. Entretanto, a possibilidade de convocar novos recrutas e ver seu progresso enquanto os enviava em missões Europa áfora era sensacional. Por mais bem treinado que Ezio fosse, o player ainda poderia passar horas se divertindo nos puzzles cada vez mais desafiadores espalhados pela Roma decadente do game, realizando as missões paralelas, e até mesmo brincando no multiplayer bastante satisfatório. Porém, que conheceu qualquer um dos capítulos anteriores, ainda iria curtir o jogo apenas pela possibilidade de descobrir o que diabos Minerva queria dizer a Desmond no final do game anterior, e como terminava a saga do ex-nobre transformado em grão-mestre assassino. Soma-se a tudo isso o final "What a fuck?" do modo history, e eu tenho certeza de que até uma semana atrás ainda tinha neguinho roendo as unhas pra descobrir como a coisa toda seguiria.
E que venha Revelations!
"-Nada é verdadeiro. Tudo é permitido!"
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