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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Flagelo
Orlando era perdidamente apaixonado pela sua namorada, a Cândida, que de Cândida tinha apenas o nome. Era uma dessas mulheres fortes e decididas que sabem o que querem, até aí, sem problema, toda a mulher tem o direito de ser forte e decidida, mais que o direito, o dever. A Cândida era assim, lutadora, firme, poderosona. Gostava das coisas do seu jeito, não abria concessões, e nem gostava de pitacos nas suas decisões.
A questão é que não há relacionamento sem diálogo, e Cândida não parecia disposta a dialogar com Orlando na maior parte do tempo.Cândida passava por cima de Orlando como o D'alessandro passa por cima do Victor. Ela não levava as opiniões e gostos dele em consideração, e levava o namoro dos dois numa toada de "ou é assim ou não é de forma alguma.". O Orlando, apaixonado que era, acabava engolindo toda a espécie de batráquios para garantir sua proximidade com a mulher que amava desde a faculdade quando ela era mais, assim, Cândida.
Mesmo com seus amigos lhe dizendo que ele deveria se impôr, que deveria tomar uma atitude mais firme e mostrar que era o homem da relação, o Orlando não fazia isso. Provavelmente por uma combinação de fatores, ele havia sido criado quase que exclusivamente por mulheres, sempre fora manipulado por elas, de modo que parecia-lhe normal que Cândida controlasse a relação que partilhavam, mais ou menos. Também por uma questão de ambiente, afinal, vivemos em uma sociedade que está fazendo o possível pra mostrar a todo mundo que ser homem não é legal. Orlando era assim, perdido com relação ao seu lugar de homem no mundo, e o fato de a Cândida fazê-lo de gato e sapato obviamente não ajudava. Ainda assim, o Orlando suportava isso. Suportava pois, de alguma forma torta, aceitar os eventuais absos de uma pessoa que não o respeitava, fazia-o crêr que seu amor era mais profundo, mais verdadeiro, mais puro.
Os seres humanos, em sua maioria, têm tendência à auto-imolação. Por estranho que possa parecer, existe um certo prazer no sofrimento por parte das pessoas. Provavelmente essa necessiade de legitimar as coisas com dor e desconforto tinha origem na religiosidade, na crença torta de que sofrimento traz purificação. Como nos encontros religiosos de toda a estirpe onde fanáticos religiosos se açoitam com chibatas, simulam crucificações, ou envolvem a perna com cintas de cilício ou qualquer coisa que o valha.
A questão é que a humanidade encontra completude no sofrimento, mais ou menos como o agente Smith explicou pro Morpheus em Matrix. E o Orlando não era exceção. O Orlando meio que gostava de sofrer, igual todo mundo mais.
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