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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sinais.


O Lélis era um crente. Não que fosse evangélico, ou esses caras que usam camisa de manga curta com gravata, não. Ele era crente pois acreditava em tudo. Sério, tudo mesmo. Homem na Lua, profecias Maias, Incas e Aztecas, cristianismo, espiritismo, caçadores de fantasmas, alienígenas e teorias da conspiração. Acreditava em horóscopo, também, o Lélis. Acreditava de, ás vezes, acordar se sentindo mal, e abrir o jornal pra procurar no horóscopo a causa das suas moléstias.
O Lélis não ligava pra ausência de comprovação de qualquer uma dessas coisas, ele não ligava, mesmo, ele vivia sua vida de maneira completa com todas aquelas crenças fantasiosas, até absurdas e vendo sinais em tudo.
Essa era a faceta mais desagradável de Lélis. Quiçá sua única faceta desagradável. Lélis era gentil, cordato, prestativo e esforçado. As pessoas gostavam dele por ele possuir essas qualidades em abundância, entretanto, mesmo assim, com essas qualidades em abundância, algumas pessoas tinham reserva ao Lélis. Justamente por causa da mania dos sinais.
Se uma pessoa próxima ao Lélis derrubava algo e, ao se abaixar para apanhar, dava uma gemida colocando as mãos nas cadeiras o Lélis imediatamente olhava pra pessoa e dizia que ela precisava tomar um passe, pois aquela exaustão podia ser um encosto sugando-lhe a energia. Se uma pessoa de seu convívio estava com o humor prejudicado, fosse por não ter dormido bem à noite, fosse por ter visto seu time perder um jogo decisivo no dia anterior, o Lélis imediatamente aparecia com um endereço sugerindo que o mal-humorado visitasse o local em questão e tomasse uns florais. Se uma colega o convidasse pra almoçar pois o namorado dela não viria naquele dia, ele pousava a mão no ombro dela e virava a cabeça pro lado fazendo cara de "fica assim, não", e já dava o relacionamento como acabado.
O Lélis não conseguia evitar, ás vezes ele sabia que seria inconveniente, mas as coisas lhe saltavam aos olhos e ele se via obrigado a tentar ajudar. A pessoa cansada devia ter um encosto, a mal-humorada devia ter um sensível desequilíbrio químico no cérebro que poderia ser resolvido com florais, o namorado da colega só podia estar saindo com outra pra cancelar um almoço com uma menina tão legal. Os sinais lhe eram óbvios.
O problema do Lélis nem era ver sinais, quase todo mundo vê sinais em um momento ou outro, aqui ou acolá, o problema era a interpretação que o Lélis fazia desses sinais. Lélis via alhos e entendia bugalhos, e mesmo sendo uma pessoa adorável, mesmo com seu imenso leque de qualidades, por interpretar sinais de forma errônea acabava, por vezes, fechando portas . Ás vezes, definitivamente.

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