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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tocar


Estava olhando pra ela lá do outro lado da pista de dança desde que chegara à danceteria. Escorou-se em uma pilastra de sustentação munido do seu suco de uva e ficou olhando em volta. Não queria parecer um tarado, mas a verdade é que era difícil não olhar pra ela.
Era linda. O cabelo preto bem comprido, as sobrancelhas bem desenhadas, as pernas de parar o trânsito... Era linda. Ele a observou por umas três, quatro horas. Viu ela distribuir foras em meia dúzia de playboyzinhos criados a leite com pera. Se em um primeiro momento aquilo o assustou, afinal, ela estava despachando sem dó aqueles meninos alinhas com franja, camisetas justas e calças de grife, o que iria querer com ele. Um sujeito feio e nem remotamente interessante?
Mas lembrou-se que a sorte só sorri a quem tenta. E achou que, pior do que estava não ficaria. Bebeu de um gole só o seu suco, e, respirando fundo, foi ao encontro da moça.
Parou ao lado dela, meio sem jeito, e, com uma das mãos no bolso, acenou com a outra:
-Oi.
-Oi, tudo bem? - Ela respondeu, educada.
-Tudo. - Ele assentiu com um aceno de cabeça.
O silêncio reinou, exceto, claro, pela música de bate-estaca que tocava em alto volume no ambiente.
-Hã... Meu nome é Leonel. - Ele disse estendendo a mão e pensando no quanto devia parecer um deficiente mental naquele momento.
-Ruth. - Ela respondeu, apertando-lhe a mão.
Novo silêncio.
Ele colocou as duas mãos no bolso. Olhou em volta de novo.
-E essa música, hein?
-Medonha. - Ela respondeu.
Os olhos dele brilharam, resolveu arriscar:
-Melhor se fosse...?
Ele ergueu os olhos e fazendo um biquinho com os lábios apertados. "Não seja sertanejo. Não seja sertanejo. Não seja sertanejo." Ele implorou em pensamento, mas ela abriu a boca e disse:
-Ah, eu gosto de samba, gosto de rock... Mas não sei... Dependendo, talvez... Acho que Beatles seria supimpa.
- Ok -ele disse.- A gente elimina o DJ, eu assumo a cabine de som e te ajudo a subir no palco. Tu canta, sei lá... All My Loving, enquanto eu te acompanho.
-Me acompanha fazendo o quê? Levando ovada?
-Não... Primeiro porque eu acho que ninguém traz ovos pra danceterias, e segundo porque, por pior que tu seja de canto, eu toco um pouco. Na pior das hipóteses eu abafava a tua voz com o som do instrumento.
-O que tu toca? - Ela perguntou.
-Banjo. E tu? Toca algo?
Ela riu olhando pro lado, e então, erguendo os olhos respondeu com um meio sorriso:
-Kazooie.
Era oficial, ele pensou. Estava irremediavelmente apaixonado.

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