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terça-feira, 6 de março de 2012

Resenha Cinema: Drive


Conforme vão surgindo na tela os créditos com uma letra emendada em pink, de imediato nós sabemos que estamos diante de um filme galgado, mais do que no visual, na referência.
Desde o início Drive deixa claro que as referências são uma parte importante da identidade do filme, e se estendem muito além dos créditos de abertura, oitentista até a raíz da alma, essas referências vão se sobrepondo conforme a trama anda.
O herói sem nome (Outra referência, que serve para lembrar um mundaréu de faroestes...) vivido por Ryan Gosling existe apenas no momento. O personagem, conforme conta seu amigo Shannon (Bryan Cranston) surge de lugar nenhum pedindo emprego, e, ao final do filme, fica nebuloso também o seu futuro, o que importa é o que ele faz entre uma coisa e a outra, no agora.
E, como bom herói sem nome que é, o personagem faz o que for necessário, seja trabalhar em uma oficina, realizar trabalhos de dublê em cenas perigosas com automóveis, ou pilotar carros de fuga, contanto que isso não macule o seu código de honra.
Confesso que, ao começar a ver o filme, fiquei com muito medo da sequência inicial, excessivamente parecida com o começo de Carga Explosiva, a série de filmes descerebrados de Jason Statham e Luc Besson. Ledo engano.
Quando eu achei que a ação degringolaria pra uma perseguição desenfreada chupada de um dos filmes da série Bourne, fui surpreendido pela sequência tensa e comedida que se seguiu nas mãos do diretor Nicolas Winding Refn.
Esse espaço inicial do comedimento vai sendo ocupado apenas pela tensão conforme o protagonista se envolve com a vizinha Irene (Carrey Mulligan, uma gracinha.), uma garçonete que cuida sozinha do filho Benício (dois clichês.) enquanto o marido está na prisão (Ops, três.).
É justamente quando o marido, Standard Gabriel (Oscar Isaac) sai da penitenciária que o herói se vê obrigado a agir. Para pagar uma dívida de Gabriel com gângsters, topa fazer um trabalho em um assalto. Quando tudo dá errado, o mocinho precisa lidar com os problemas e se abster de suas regras, fazendo o que for necessário pra permanecer vivo e proteger Irene e Benício.
O festival de situações e personagens recorrentes e quase caricatos misturados à estética oitentista do longa lhe dão todo um charme kitsch. A despeito dos exageros visuais, e da teatralidade de certas situações, o filme embala, e os personagens unidimensionais a ponto de praticamente usarem uniformes (Jaqueta de escorpião e palito de dentes pro mocinho, agasalho esportivo pro mafioso), mas bem interpretados, acabam gerando a simpatia ou a repulsa que exigem.
Os mafiosos judeus vividos por Ron Perlman e um surpreendentemente convincente Albert Brooks são tão malvados quanto requer a cartilha dos vilões que geram grandes heróis, e algumas das sequências, como a visita mascarada à pizzaria, ou a cena do beijo no elevador, são lindas, sem contar um par de boas cenas de perseguição que um filme com esse título obviamente demanda.
No fim das contas, não achei que Drive seja "o grande esquecido do Oscar", essa, pra mim, foi Tilda Swinton, mas certamente é um filme que reúne qualidade mais do que suficiente pra merecer ser assistido.

"Existem três mil ruas nessa cidade. Você não precisa conhecer a rota. Você me dá uma hora e um local, eu te dou uma janela de cinco minutos. Qualquer coisa que aconteça nesse período, e eu sou seu. Não importa o quê. Qualquer coisa que aconteça um minuto antes ou depois disso, e você está por conta própria. Eu não participo do trabalho, eu não carrego armas. Eu só dirijo. Você entendeu?"

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