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sexta-feira, 6 de julho de 2012

Resenha Cinema: O Espetacular Homem-Aranha

Ontem enfrentei a chuva inclemente que castigava Porto Alegre e finalmente assisti a O Espetacular Homem-Aranha, filme dirigido por Mark Webb que reinicia a franquia do herói aracnídeo nos cinemas sob um novo enfoque, ignorando os três filmes concebidos por Sam Raimi em 2002, 2004 e 2007.
Com minha camiseta de Aranha, sentado na penúltima fileira do cinema, numa posição bem centralizada, escondi minha carranca sob os óculos 3-D e esperei que, mesmo com as expectativas lá na estratosfera, o filme funcionasse pra mim.
E voilá, ele funciona.
O Espetacular Homem-Aranha mostra Peter Parker (Andrew Garfield), jovem nerd, estudante do secundário que vive sob uma sombra. Treze anos antes, seu pai e sua mãe, o deixaram com seus tios e saíram para nunca mais voltar.
A despeito de ter sido criado em um lar de amor e compreensão, Peter jamais superou o desaparecimento de sua mãe Mary (Embeth Davidtz) e seu pai Richard (Campbell Scott) Parker, e é justamente essa inconformidade com o fato de não saber que faz com que o caminho de Peter se cruze com o do doutor Curtis Connors (Rhys Ifans), renomado cientista que trabalha nas indústrias Oscorp e busca de maneira incessante uma forma de misturar o genoma de espécies diferentes de modo a suprir as deficiências humanas, em especial a sua própria: A amputação do braço direito.
É na Oscorp, procurando por seu passado que Peter é exposto à aranha geneticamente alterada que o pica e altera seu corpo dando-lhe poderes aracnídeos. Preocupado com as possíveis consequências da exposição, Peter se aproxima gradativamente de Connors, e o trabalho conjunto dos dois somado às anotações de Richard pode ser a chave para o sucesso da empreitada de Connors.
A aproximação de Peter e Connors, porém, causa transtornos no lar dos Parker. Os recém adquiridos segredos de Peter o colocam em rota de colisão com os tios Ben e May (Martin Sheen e Sally Field), e é justamente após uma discussão com seu tio que Peter deixa um assaltante que poderia segurar facilmente escapar.
O mesmo assaltante que atira em Ben, matando-o.
É aí que começa, de fato, o filme. Peter Parker, inicialmente um vigilante vingativo, vai aprender que grandes poderes trazem grandes responsabilidades, ao mesmo tempo em que precisa aprender a conviver com suas novas habilidades, e lidar com a perda do tio Ben, Peter se aproxima de sua colega, Gwen Stacy (Emma Stone), e continua na busca por sua origem e sua identidade enquanto Connors toma uma decisão extrema com relação à sua experiência que pode acabar em desastre na forma do Lagarto.
É um ótimo filme.
O Espetacular Homem-Aranha é honesto, divertido e bem estruturado, nada acontece ao acaso na trama que pode, sim, desagradar a alguns puristas. Eu senti falta de elementos que considero seminais pro personagem dos quadrinhos, mas isso não tira o brilho do filme nem o prejudica em demasia pra plateia em geral. A despeito de ter um roteiro redondinho, o filme por vezes parece dar uma corrida, obviamente já que, em cerca de duas horas e dez minutos, precisa-se contar duas origens (Herói e vilão), apresentar personagens e situações e preparar o terreno para o alavancamento da história, ainda assim, não é nada que estrague a experiência.
Mark Webb tem mão firme, mas não pesada, e manda bem na condução do roteiro (iniciado por James Vanderbilt e mexido por Alvin Sargeant e Steve Kloves), a trilha sonora de James Horner é muito boa, e o elenco, ótimo. Martin Sheen interpreta o tio Ben que todo o fã do Aranha sempre imaginou, aquele amigão bonachão que sabe cobrar quando acha justo, Rhys Ifans é o doutor Connors dos gibis, um homem bom e brilhante que acaba vergando sob uma aura de tormento e necessidade de auto-afirmação, Sally Field, mesmo aparecendo pouco como a tia May, dá seu recado nas suas poucas participações, ás vezes sem precisar dizer nada. Emma Stone é um achado no papel de Gwen Stacy, além de parecer uma versão em carne e osso da personagem desenhada por John Romita Sr. ela convence como a tímida e brilhante aspirante a cientista que estagia na Oscorp, o que dá a personagem mais função na trama do que ser apenas o interesse romântico do herói ou a donzela em perigo. Ainda há Dennis Leary, ótimo no papel de George Stacy, pai da mocinha e policial obstinado, mas não tem outra:
O filme pertence a Andrew Garfield.
O ator É Peter Parker e É o Homem-Aranha. Ele é um moleque apaixonado, ele é um adolescente rebelde, ele se arrepende de suas más decisões, e se apavora com o modo como as coisas mudam a seu redor sempre parecendo crível, sempre honesto, sempre convincente. Quando enverga a fantasia de super-herói (Aliás, parabéns ao departamento de figurino do filme, o uniforme, em movimento, é excelente. Tem uma mobilidade que não era visível nas fotos do filme e com a luz correta funciona à perfeição) ele se transforma, soltando seu lado mais sarcástico sob o anonimato que a máscara oferece e o poder que o uniforme evoca, sem contar que é a efígie cuspida e escarrada do Peter Parker desenhado por Steve Ditko.
Não, O Espetacular Homem-Aranha não é um filme perfeito. Entrando na inevitável comparação com o longa de 2002, provavelmente, enquanto filme, O Espetacular Homem-Aranha é inferior a Homem-Aranha, inclusive porque carece do impacto do filme de Sam Raimi, afinal, Mark Webb reconta uma história que mal completou dez anos nas telonas. Porém, na caracterização dos personagens, especialmente do protagonista, a versão 2012 do herói dá uma surra de relho no filme estrelado por Tobey Maguire.
E eu tenho certeza de que, com o desenvolvimento da história no inevitável O Espetacular Homem-Aranha 2, esse filme vai ganhar um espaço no coração da audiência, talvez, tão grande quanto o espaço que têm os filmes de Sam Raimi.

"-Não faça promessas que não pode cumprir, senhor Parker.
-Mas são o melhor tipo..."

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