Em mil novecentos e noventa e seis, com meus quatorze, quinze anos, eu respondi um questionário daqueles que as meninas faziam em cadernos, à pergunta "O que você espera de 1997?" da seguinte forma:
Que passe rápido, pois em 98 tem Copa do Mundo.
Engraçado como na adolescência a gente é imediatista. Olhando em perspectiva, a vida na adolescência era uma coleção de intervalos ao redor de momentos que nós considerávamos significativos. A Copa do Mundo, a estréia do filme de Mortal Kombat no cinema, as férias de verão... O engraçado é que, também olhando em perspectiva, esses momentos não foram assim tão significativos. Claro, era bacana ver a Copa do Mundo quando as duas únicas ocupações que se tinha eram ir à escola e jogar bola, mas continuaram acontecendo Copas do Mundo depois daquilo. Ir ao cinema com a gurizada pra ver Independence Day ou Mortal Kombat era divertidíssimo, mas aqueles filmes não chegaram a marcar de verdade, e as férias, hoje em dia, quando se trabalha todos os dias exceto domingo, tem muito mais valor do que tinham então, quando, na verdade, era até xarope passar um mês ou dois longe dos amigos.
Tudo na nossa cabeça. Tudo apenas uma forma de ver as coisas como se houvesse uma lente turva embaçando a nossa visão... O bom é que, com o tempo, temos a possibilidade de adquirir clareza e ver as coisas como eram de fato...
As férias na praia eram bacanas, OK, mas o bom, mesmo, era estar em Porto Alegre e saber que assim que depois da aula seria só almoçar e então encontrar a gurizada pra passar a tarde jogando bola, falando bobagem ou ir comprar Doritos nas Americanas. Ir ao cinema de galera era divertido, mas dormir pelo carpete da sala da casa da mãe do Antônio vendo um filme qualquer na sessão da tarde num dia de chuva também era bacana. E assistir à Copa do Mundo era ótimo, mas muito mais maneiro era organizar uma Copa do Mundo no Superstar Soccer e jogar entre amigos no final de semana.
O que parecia intervalo, sim, foi significativo, foi marcante e indelével. Tirando, as idas ao cinema pra ver os episódios IV, V e VI de Star Wars em versão remasterizada, que ficaram, sim, marcadas, o resto é que foi acessório. Ou, quando muito, formas de dividir os períodos de um tempo em que era possível viver entre amigos e se divertir as ganhas sem precisar de grana ou planejamento em excesso.
Talvez, na ânsia de aproveitar a vida, na ânsia de ter as próprias efemérides marcadas em calendário, a gente aprontasse dessas, emprestando significado à momentos que tinham muito pouco em detrimento de momentos repletos de valor. O tempo passou e aquela clareza que mencionei surgiu, não só clareza. Mas também um pouco de pessimismo, niilismo, misantropia aguda, até... De modo que hoje é mais difícil sair apontando pra algo como se fosse algo pra guardar na memória, pra guardar no coração, e pra lembrar pra sempre como um ponto de partida ou ruptura, como um momento pra ganhar status de AC e DC na sua história pessoal.
E ainda assim, há alguns episódios com tanto significado, que fazem a vida inteira parecer ensaio.
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