Eu estava andando pela rua e olhei pra um homem que vinha na direção oposta. Um sujeito modesto, de meia idade, cabelos escuros, bigode, vinha descendo a rua Borges de Medeiros e enfiou a mão no bolso da jaqueta cinza que vestia sobre uma camisa bege. Ao tirar a mão do bolso, ele, inadvertidamente jogou algumas moedas pelo chão.
Dava pra ver bem que moedas eram, já que essas moedas novas são todas diferentes umas das outras. Eram duas moedas de dez centavos, uma de cinco, e uma de cinquenta centavos.
As duas moedas de dez, caíram no chão, picaram um par de vezes e repousaram à uma distância razoável uma da outra e do homem.
A de cinco centavos e a de cinquenta caíram fazendo alarido, e começaram a rolar pela calçada, impelidas tanto pelo impacto da queda quanto pela inclinação da rua, as duas zunindo velozes em direção à Demétrio Ribeiro, quase uma quadra inteira abaixo.
O homem correu rapidamente atrás das moedas, sua expressão era um misto de surpresa e aflição. Uma senhora gorda de cabelos tingidos de loiro mate, e usando um casacão preto e calças de licra estampadas de rosa se moveu lépida, gingando sob seu guarda-chuva prateado e espichou o pé direito dentro de um tênis branco, interceptando com um pisão uma das moedas. A moeda de cinco centavos.
O sujeito continuou correndo atrás da moeda de cinquenta, mas ela rolou sobre o meio-fio da calçada e foi engolida pelo bueiro boca de lobo rente à calçada.
O sujeito deu um tapa estalado na perna, e estalou a língua no céu da boca.
A mulher gorda, que olhava pra ele, agachou-se e apanhou a moeda de cinco, e, quando o sujeito voltou, a estendeu pra ele:
-Ó, consegui salvar uma.
Ele agradeceu um "obrigado" suspirado, apanhou a moeda, carrancudo, e seguiu seu caminho.
A mulher deu mais uma olhada nele, como quem não entende, e então, virou-se pra um rapaz na porta da farmácia que acompanhara toda a cena, e deu de ombros com os cantos da boca virados pra baixo enquanto retomava, também, sua caminhada.
A vida, talvez, seja um pouco como a situação daquele homem de bigodes e suas moedas.
As coisas a que mais damos valor são também aquelas mais fugidias.
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