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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Legado


Minha amiga chegou em mim na segunda-feira, me abraçou forte e disse:
-Lamento pela tua perda.
Levei uma fração de segundo pra entender. Mas assim que entendi, agradeci:
-Ah, tá. Obrigado, obrigado...
E passei a mão nas costas dela dando o sinal de quê podia parar de me abraçar.
Ela fez cara de escandalizada e me perguntou se eu não estava arrasado.
Disse que não. Que lamentava, mas arrasado eu não estava.
Ela fez uma expressão desapontada e recriminadora e estalou um "tsc" com a língua no céu da boca.
Minha amiga se referia ao Fernandão, cuja morte trágica e prematura na madrugada do último sábado pegou de supetão à toda a Nação Alvirrubra. Ela, assim como a imensa maioria da Nação Colorada, sentiu um gigantesco pesar com a passagem de Fernandão, que com apenas 36 anos e preparando-se para iniciar uma carreira como comentarista no canal pago SPORTV, teve sua vida abreviada por um acidente de helicóptero após um final de semana de pescaria com amigos no interior de Goiás.
Vou confessar que eu não tinha o Fernandão como um ídolo pessoal.
Respeito a História maiúscula que ele escreveu no Internacional, respeito e reconheço o papel de protagonista que ele exerceu nas grandes conquistas do Colorado nos anos 2000, respeito sua liderança e entendo a idolatria que milhões de colorados lhe devotam, mas, pessoalmente, não partilho de tal idolatria.
Fernandão foi, sim, um de meus favoritos no time do Internacional entre 2005 e 2008, assim como foram Iarley, Rafael Sóbis, Bolívar, Índio, Tinga e Fabiano Eller.
Na verdade, olhando em perspectiva, houveram passagens dos últimos anos que fizeram com que Fernandão perdesse um pouco do status de ídolo no que me concerne, e já repito, que essa é uma posição absolutamente pessoal de um colorado apaixonado com uma noção de idolatria extremamente séria e restritiva onde, posso, de supetão, arrolar um único nome: O de Paulo Roberto Falcão.
Não vou enumerar os episódios que geraram minhas restrições quanto a Fernandão, não como pessoa ou profissional, mas como ídolo colorado. Seria injusto, deselegante, até covarde, mas sei fazê-lo pois, em meu papel de torcedor Colorado, fiquei magoado com elas.
Na esteira da abrupta morte desse ex-jogador, dirigente e treinador do Inter, que se dizia abertamente um torcedor Colorado, tais pequenezas perderam a razão de ser.
Fernandão não se tornou meu ídolo após a morte, não sou hipócrita, mas é um baluarte de uma das décadas mais vencedoras do maior clube do Sul do Mundo, e agora, um dos astros que cintilam num céu sempre azul, olhando do alto pela torcida do clube do povo do Rio Grande do Sul.
Que os jogadores das gerações futuras respeitem seu legado, e se esforcem até a última gota de suor para repetir suas numerosas glórias.

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