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segunda-feira, 23 de junho de 2014
Resenha Cinema: Como Treinar o Seu Dragão 2
Vou reiterar algo que já disse aqui várias vezes:
Não sou fã de animações.
Não sou, mesmo. Nunca fui. Sempre achei desenhos animados algo aborrecidos, em especial os de longa metragem. Entre um live action e uma animação, fico com a primeira opção sem pensar duas vezes. Nunca fui fã das animações épicas da Disney, por exemplo... Embora entendesse o hype por trás de longas como A Bela e a Fera e O Rei Leão, no geral, as animações me passavam batidas. Durante muito tempo, as únicas de que gostava eram Akira, e O Fantasma do Futuro (Argh, título nacional de Ghost in the Shell).
Mas as animações melhoraram muito com o passar dos anos. Vimos Shrek perverter as regras dos contos de fadas em dois filmes divertidíssimos e dois mais ou menos, conhecemos o improvável herói Po, em Kung Fu Panda, o ótimo faroeste camaleônico Rango, vimos cineastas consagrados como Robert Zemeckis se arriscar nas animações com captura de performance em O Expresso Polar, A Lenda de Beowulf e Os Fantasmas de Scrooge, e, claro, vimos a Pixar Animation chutar as portas do cinema de animação com pérolas como a trilogia Toy Story, Monstros S. A., Os Incríveis, Procurando Nemo, Wall-E e a melhor animação jamais lançada: Up - Altas Aventuras.
Mas a verdade é que, mesmo reconhecendo o valor de todos os filmes mencionados (e tendo me debulhado em lágrimas assistindo Up), eu já tinha escolhido meu favorito.
Como Treinar o Seu Dragão, da Dreamworks (mesmo estúdio de Shrek, Kung Fu Panda e Madagascar) é a animação de que eu mais gosto, de longe.
Talvez seja porque, essencialmente, eu sou um guri, e guris adoram dragões e vikings, ou talvez seja porque é difícil não se envolver com a história de Soluço e Banguela, os dois párias, o primeiro um adolescente tímido socialmente excluído, o segundo um dragão deficiente, que encontram um no outro a possibilidade de estarem completos (Banguela não pode voar sem Soluço, e o moleque vê nas asas do dragão sua chance de ir além das rochas de Berk, onde é incapaz de se encaixar) e precisam lutar unidos para parar uma guerra ancestral.
Sim... Como Treinar seu Dragão tinha coração, alma e bolas (ou vai me dizer que a sequência final, com a luta dos cavaleiros de dragões contra a tenebrosa rainha do ninho não é uma tremenda sequência de ação?), e se encerrava perfeitamente em si mesmo. Tinha um final conclusivo e absolutamente satisfatório que não requeria nenhuma continuação. Mas qual é?
Como a Dreamworks desperdiçaria o sucesso de Como Treinar o Seu Dragão, que colocou nomes como Fúria da Noite, Verme de Fogo, e Terror Terrível nos vocabulários de crianças pelo mundo afora?
Certo que não, então, 4 anos após o lançamento do primeiro filme, Soluço, Banguela, Astrid, Estoico e todos os demais estão de volta.
Como Treinar o Seu Dragão 2 mostra a nova Berk. Se antigamente o vilarejo era um pedaço de rocha no meio do mar sempre pronto para enfrentar os temíveis dragões que surgiam, hoje é uma idílica ilha escandinava onde cavaleiros de dragões passam seus dias disputando corridas e tentando encaçapar impassíveis ovelhas no novo esporte favorito dos vikings.
Enquanto Astrid, Perna-de-Peixe, Melequento, Cabeçaquente e Cabeçadura se divertem sob as vistas de Estoico, Bocão e o resto da tribo, Soluço viaja montado em seu fúria da noite, Banguela (O dragão mais amigável do cinema, unindo o estilo dos répteis mitológicos com a graça de um gato e a inteligência e lealdade de um cachorro), conhecendo e mapeando novos territórios, expandindo as fronteiras do conhecimento dos vikings e evitando a todo o custo fazer o que seu pai lhe pede:
Assumir o comando de Berk.
É num desses voos solitários que Soluço encontra o caçador de dragões Eret, e descobre que existe tanto um homem chamado Drago SangueBravo que planeja construir um exército de dragões, quanto um misterioso cavaleiro de dragões que liberta as criaturas.
Determinado a descobrir tudo a respeito desse protetor misterioso, e a fazer a paz com Drago, Soluço ignora os avisos de Estoico, e parte em uma viagem que o levará a descobrir coisas inéditas a respeito de seu passado, e o colocará em uma batalha para manter a paz.
É bacana.
Como Treinar o Seu Dragão 2 dá um passo adiante em todos os quesitos técnicos do longa anterior. A computação gráfica avançadíssima aliada ao design cartunesco dos personagens torna as sequências aéreas do longa um deleite visual. Existem cenas com centenas de dragões de cores e formas variadas tomando a tela voando uns pela frente dos outros em um banquete de cores e formas para ser saboreado com os olhos. Os personagens seguem divertidos e cativantes como eram no primeiro longa, e as adições de Valka, Eret e do vilão Drago são OK.
O filme acerta ao mostrar amadurecimento e evolução de todos os personagens, Soluço deixou de ser um adolescente retraído e se tornou um jovem rebelde e introspectivo, Estoico é mais compreensivo e terno, mas permanece um líder guerreiro viking, e até surge um "quadrilátero amoroso" entre Perna-de-peixe, Melequento e Cabeçaquente que só tem olhos para Aret.
As sequências de voo são impressionantes ora pela beleza, ora pela tensão e dinamismo, a trilha sonora é ótima, as sequências de ação continuam muito boas, os momentos ternos funcionam, e os engraçados, também.
Mas nem tudo são flores.
Obviamente o filme carece do impacto do primeiro, existem algumas soluções um tanto quanto discutíveis no roteiro, e o confronto final, no clímax do filme, se estende além do devido e não encosta na batalha que encerrava o primeiro longa em termos de arrebatamento visual e urgência.
Outra razão para queixa, é a incapacidade das salas de exibir o filme com som original em pelo menos um horário do dia.
Por mais que seja uma animação com público alvo majoritariamente infantil (a criançada, aliás, está de parabéns, todos os pequerruchos que estavam na sessão que eu assisti ficaram quietinhos o filme inteiro ao contrário de alguns boçais que são incapazes de calar a boca por duas horas) não faria mal poder conferir as vozes originais em inglês. Por mais que a dublagem em português seja boa, acima da média do padrão atual, bem inferior ao dos anos 80/90 eu me ressinto de não ter nenhuma sala exibindo o longa com as ótimas dublagens de Jay Baruchel, America Ferrera, Gerard Buttler, Kirsten Wiig, Craig Fergusson, Cate Blanchett, Kit Harrington e Djimon Hounsou).
Apesar dessas falhas, o filme funciona. É honesto para consigo mesmo, divertido, bonito e esperto, jogando várias alterações promissoras nos próximos (e inevitáveis) filmes da franquia.
Com personagens maneiros, sequências de ação divertidas, momentos de ternura genuína e gargalhadas autênticas, Como Treinar o Seu Dragão 2 vale demais a pena.
Assista no cinema, o 3-D não chega a empolgar.
"Esta é Berk. A vida aqui é incrível. Dragões costumavam ser um probleminha, mas agora todos eles vivem aqui."
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