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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Resenha DVD: A Recompensa


Quando conhecemos Dom Hemingway (Jude Law), ele está parado na cela da prisão completamente nu. Ele segura as grades enquanto encara a câmera com uma expressão de grande alegria que vai se transformando em fúria conforme declama um elaborado solilóquio em honras ao próprio pênis, que considera lindo, duro como aço e titânio, capaz de realizar prodígios e curar a fome na Somália, feito pelo qual seria vencedor do Prêmio Nobel da Paz (E seria a primeira vez que tal prêmio seria oferecido a um pau, ele frisa.).
Dom Hemingway é um notório arrombador de cofres. Um gângster de carreira. Ele passou os últimos doze anos preso após um golpe dar errado, e cumpriu a totalidade de sua pena pois se negou a delatar seu empregador, o senhor Ivan Anatoli Fontanovich (Demian Bichir), um dos homens mais perigosos da Europa.
A primeira coisa que Dom faz ao sair da prisão é procurar pelo homem que casou com sua esposa enquanto ele esteve encarcerado, e lhe dar uma surra violentíssima, a segunda, ir a um pub e encher a cara com seu amigo Dickie Black (Richard E. Grant), a terceira, ele espera, é receber a sua parte no golpe que resultou em sua prisão mais de uma década antes, mais juros, e um presente.
Com tudo isso, Dom acredita que poderá ter mais chances de fazer as pazes com sua filha Evelyn (Emilia Clarke, a Daenerys de Game of Thrones), a quem não vê desde criança, e que não tem exatamente as melhores lembranças do pai.
Mas, como tudo na vida do explosivo criminoso, as coisas talvez não saiam de maneira tão tranquila quanto o planejado.
É ótimo.
O filme do diretor/roteirista Richard Shepard, o mesmo de O Matador, é muito menos uma história, e mais um veículo para o personagem central, uma excepcional criação de um Jude Law que se despe da vaidade de galã (e das roupas em uma cena hilária) para dar vida, voz, barriga protuberante, uma barba cabulosa, pontes dentárias e um nariz deformado ao impagável criminoso, que mesmo sendo a epítome da grosseria operária britânica, ainda guarda uma pequena, e sempre notável, fagulha de doçura em meio a seus rompantes de ira, sua absoluta falta de decoro e suas orgias de sexo, álcool e drogas.
Ainda assim, há mais do que apenas comédia escrachada em A Recompensa. Shepard é um cineasta esperto, e não tenta construir um filhote do cinema de Guy Ritchie.
Ao lado de Law, ele trata de manter Dom um calhorda de temperamento explosivo, um camponês de coração, um servo mesquinho com ótimo cabelo e fígado forte, mas sem perder a fagulha de ternura mencionada antes, que é importante no terceiro ato do filme, quando abre-se espaço para algumas sequências capazes de emocionar.
Com um elenco esperto e o que talvez seja a grande atuação da carreira de um Jude Law à vontade até não mais poder, A Recompensa é uma divertida sessão de cinema, e, quem sabe, um futuro cult movie.
Alugue e divirta-se, vale demais a pena.

"-Eu não sei quem é esse homem.
-Oh, eu vou te dizer quem eu sou. Eu sou o fodido que vai arrancar teu nariz fora com os meus dentes. Eu sou o fodido que vai te eviscerar com uma faca de queijo cega e cantar Gilbert e Sullivan enquanto faz isso. Eu sou o fodido que vai desovar teu cadáver num lago congelado e olhar enquanto tu afundar que nem o teu peso em merda. Eu sou esse fodido. Esse é o fodido que eu sou."

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