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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Resenha Cinema: Guardiões da Galáxia


A essas alturas todo mundo sabia que, mesmo se Guardiões da Galáxia fosse um filme ruim, ao menos ainda seria um filme ruim dos estúdios Marvel, o que garantiria algum lucro modesto pro estúdio (que já fez dinheiro suficiente com seus super-heróis pra obrigar a DC/Warner a se coçar e parar de fazer filmes apenas com Superman e Batman), e, mais importante, garantiria ao menos alguns bons momentos durante as prováveis duas horas de projeção. Entre os maus filmes da Marvel, afinal de contas, estão Homem de Ferro 2, O Incrível Hulk, e Thor. Nenhum deles é um filme de triste memória pra quem foi ver no cinema, e, de uma forma ou de outra, foram filmes que ajudaram a pavimentar o caminho até Os Vingadores, maior êxito de bilheteria super-heroica da história do cinema.
Mais do que isso, Guardiões da Galáxia seria um teste para o estúdio, que, pela primeira vez, tentaria levar gente ao cinema apenas com o nome Marvel, ao invés do nome de algum super-herói encravado no inconsciente da audiência.
O super grupo do título, afinal de contas, por mais antigo que seja (a primeira formação do grupo remonta a 1969, Groot, a 1960, e Rocket Racoon a 1976...), não é exatamente popular, passando a uma distância considerável do prestígio de gente como Hulk, Thor e Capitão América, então, com um orçamento estimado de 170 milhões de dólares, Guardiões da Galáxia não deixava de ser uma aposta considerável do estúdio.
Por sorte, a aposta caiu em boas mãos.
O diretor James Gunn (do ótimo e ignorado Super) se juntou à roteirista Nicole Perlman para contar a história de Peter Quill (Chris Pratt), que, quando criança, logo após a morte de sua mãe, foi abduzido da Terra e levado aos confins do espaço por saqueadores espaciais, tornando-se, ele próprio, um saqueador, vagando por setores afastados da galáxia em busca de riquezas.
Em um de seus "trabalhos", Quill toma posse de um misterioso orbe que o coloca na mira de Ronan, o Acusador (Lee Pace, de O Hobbit).
Ronan, um conhecido fanático da raça Kree, deseja fazer o que considera justiça, e dizimar os Xandarianos, inimigos históricos dos Kree, com quem mantém uma frágil trégua idealizada pela tropa Nova.
Para recuperar o orbe, Ronan envia no encalço de Quill a assassina Gamora (Zoe Saldaña), uma das filhas adotivas de Thanos (Josh Brolin), que a exemplo de sua irmã, Nebula (a gatinha Karen Gillan, de Doctor Who), foi aprimorada pelo titã insano para se tornar uma exímia matadora.
Infelizmente para Quill, seu ex-companheiro de saque, Yondu (Michael Rooker, ator fetiche de Gunn, maneiro no papel), colocou sua cabeça a prêmio após não ser incluído na transação do orbe, o que o deixa na mira dos criminosos Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper), um guaxinim geneticamente alterado, e Groot (voz de Vin Diesel) um tolkeniano homem-árvore de poucas palavras.
Quando o caminho dos quatro se cruza em Xandar, eles acabam presos pela Tropa Nova.
Encarcerados, eles conhecem Drax, o destruidor (Dave Bautista), um poderoso e eloquente guerreiro cuja vingança contra Ronan é a única razão de viver.
Ao descobrirem a verdadeira origem do orbe, e o que Ronan planeja fazer com ele, Quill, Gamora, Rocket, Drax e Groot precisam deixar as diferenças de lado e formar uma aliança pouco confortável na esperança de impedir a destruição de toda uma raça, mas será que esse bando de bundões está à altura da tarefa?
É notório o salto de qualidade dos filmes da Marvel após a união à Disney.
Todos os filmes da fase 2 do universo cinemático da casa das ideias são consideravelmente superiores aos filmes de origem, e esse Guardiões da Galáxia se perfila a Thor - O Mundo Sombrio e Capitão América - O Soldado Invernal como um dos triunfos do estúdio.
Nas mãos de Gunn, o longa deixa de ser uma fita de super-herói típica para se aproximar muito mais das aventuras especiais oitentistas que fizeram a alegria da minha geração. Se o eco mais óbvio é Star Wars (Quill obviamente queria ser Han Solo, Gamora tem um quê de princesa Leia, Groot é algo Chewbacca e a relação Ronan/Thanos traz ecos de Vader/Palpatine) o filme também tem uma aura de Viagem ao Mundo dos Sonhos, Os Caçadores da Arca Perdida, Caravana da Coragem e, mais impressionante, todas essas influências e inspirações funcionam no filme graças à sábia decisão de torná-lo uma comédia.
Sim.
Guardiões da Galáxia é uma comédia de aventura espacial, e muito boa.
As piadas são variadas e praticamente incessantes, mas não roubam do filme os momentos que deveriam ser tocantes ou tensos, pois eles estão lá e funcionam.
Se a direção de Gunn e o roteiro esperto de Nicole Perlman respondem por parte do êxito de Guardiões, o amplo e heterogêneo (sério, quem esperaria Glenn Close, Vin Diesel, Bradley Cooper, Djimon Hounsou e John C. Riley no mesmo filme?) elenco não fica atrás.
Chris Pratt vai bem com seu primeiro (que eu me lembre) protagonista, Zoe Saldaña acrescenta humor ao seu tradicional coquetel "girl power" e se dá bem. Dave Bautista é outro que se beneficia da comicidade do filme, dando a Drax vários bons momentos.
Surpreendente é ver Vin Diesel encher Groot de sentimento (embora seja difícil saber quanto do personagem é atuação do dublador e quanto é um ótimo trabalho do departamento de efeitos visuais), e Rocket roubar a cena de maneira tão inapelável.
A escolha de Bradley Cooper para o papel, diga-se de passagem, é inspiradíssima. Num primeiro momento, eu diria que é tão boa quanto as de Robert Downey Jr. como Homem de Ferro e Tom Hiddleston como Loki.
Se o grupo principal funciona que é uma beleza, infelizmente o mesmo não pode ser dito dos vilões.
Thanos aparece brevemente, apenas para deixar claro pra audiência que ele é mau pra caralho e que todo mundo tem medo dele.
As motivações de Ronan são algo confusas. Ele é um reconhecido genocida espacial trabalhando para Thanos com o intuito de receber ajuda do titã para cometer um... Genocídio...? Ainda assim, o visual do personagem é maneiro, e Lee Pace se esforça para torná-lo assustador tanto na expressão corporal quanto na voz empostada.
Nebula, por sua vez, tem motivações mais críveis e interessantes, entretanto, pouco aparece.
Não tema, porém. Essa falta de profundidade dos vilões é meio que a regra do cinema da Marvel, e não tira o brilho de Guardiões da Galáxia.
Com belo desenho de produção (o design das espaçonaves em particular, é muito maneiro), trilha sonora de deixar nascidos nos anos oitenta de olhos marejados, personagens coloridos (literalmente), belas sequências de ação, uma coleção de piadas que varia do absolutamente grosseiro ao inofensivo passando pelo auto-depreciativo (Na tomada definitiva do grupo, quando eles estão uniformizados e andam em câmera lenta em direção à tela, Gamora boceja e Rocket ajeita o saco dentro da calça justa), repleto de referências aos quadrinhos Marvel e à cultura pop em geral, Guardiões da Galáxia abre o leque de possibilidades da Casa das Ideias no cinema e entrega uma das melhores matinés do ano enquanto deixa parte da audiência babando de antecipação com a possibilidade de ver um encontro entre os Guardiões e os Vingadores.
Obrigatório para fãs, absolutamente recomendado para amantes de cinema que viveram os anos oitenta.
Assista no cinema, dispense o 3D.

"-Nós somos como Kevin Bacon!"

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