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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Confusão


Estavam deitados na cama dela. Os dois atravessados, mas em sentido oposto, de modo que as cabeças de ambos ocupava mais ou menos o mesmo lugar no centro da cama enquanto as pernas dele estavam esticadas pra esquerda da cama, e as dela, pra direita.
Ouviam música, Sultans of Swing: The Very Best of Dire Straits rodando no DVD, Money for Nothing. Ele batia com os pés no chão no ritmo da música, ela cantarolava e dançava apenas mexendo com a cabeça no colchão enquanto cantarolava.
-We gotta move these refrigerators, we gotta move these color TV-eeeeeeeeeeeeeeeeeeeees...
Sem aviso, ela parou, e ele, que tinha os olhos fechados e beirava um cochilo, supôs que ela tivesse dormido, e abriu os olhos apenas para se deparar com ela o encarando, muito séria, enquanto continuava movendo os lábios na letra da música.
Ele sorriu pra ela, que lhe mandou um beijo. Ele correspondeu, mandando-lhe outro beijo, então voltou a encarar o teto.
Ela falou:
-E no mais? Tudo bem?
Ele, fechando os olhos, confirmou com um resmungo:
-Arram.
-Que bom. - Ela aquiesceu.
Mas ele se remexeu, deitado-se de lado sobre o própria flanco, e equilibrando o rosto sobre o punho.
-Me deixa te perguntar uma coisa...
-Deixo. - Ela concordou, olhando pra ele.
-Eu sou inacessível, né? - Ele perguntou como quem já sabe a resposta.
-Sim. - Ela concordou. -É uma das tuas características...
-Tá... E isso é meio desalentador, né? Pra quem tenta se aproximar de mim... - Ele conjecturou.
-Um pouco. - Ela disse.
-É... Eu sei...
Ele se deixou tombar sobre as costas novamente, voltou a encarar o teto. Juntou as mãos sobre o estômago, começou a tamborilar os dedos.
-Por que? - Ela quis saber.
-Por que o quê? - Ele tergiversou.
-Por que, de repente, essa preocupação? - Quis saber ela, incisiva.
-Não é preocupação... Só... Sei lá... Eu não tô entendendo algumas coisas. É tudo meio inconstante nesse momento da minha vida, e eu tenho essa sensação de que é minha culpa. - Ele confessou, ainda deitado de barriga pra cima.
Foi a vez de ela se mexer e se pôr de lado.
-Hmmm. E por "tudo" tu quer dizer...?
-É. Isso mesmo. - Ele confirmou.
-E por inconstante...? - Ela encorajou.
Ele riu.
-É como Eu Não Entendo, do Nenhum de Nós...
-Ah... - Ela entendeu. -Isso é ruim. Mas é isso, mesmo? Não é só uma...
-Uma percepção torta de minha parte? - Ele arriscou.
-Isso. - Ela confirmou.
-É possível. Por isso eu fico meio deslocado. Se eu tivesse certeza de uma coisa ou outra, não tinha problema. Era mais fácil lidar com o que quer que fosse. Mas do jeito que tá, eu fico sem saber o que fazer. Tem vezes em que a gente conversa, relembra o passado, fala de sexo, de cinema, de quadrinhos, da vida em geral, e é muito bacana, e eu fico ansioso pela próxima vez em que vamos conversar... E aí, a próxima vez não chega, e eu fico sem saber o que fazer, se eu faço um movimento, ou não, se vou estar sendo inconveniente, se vou estar atrapalhando... E ao mesmo tempo eu não sei se os intervalos são largos assim por minha causa, porque eu sou inacessível, ressabiado, cheio de não-me-toques, e eu demando esse tempo sem perceber por causa das minhas ações... Então... - Ele olhou pra ela e sorriu - É uma bosta. - Concluiu.
Ela continuou olhando pra ele.
-Pega teu celular. - Disse.
-Pra quê? - Ele perguntou.
-Manda uma mensagem. - Ela disse. -Manda e vê quanto tempo ela leva pra te responder.
Ele fechou um olho.
-Bah... Algum prazo que eu tenha que respeitar? Tipo, "se não responder em tanto tempo é por que..."?
Ela, com um meio sorriso triste disse:
-Isso é pra tu decidir.
Mandou a mensagem. Algo bobo, banal. Totalmente aleatório.
Conversou mais alguns minutos e disse que precisava ir embora.
-Vou pra casa. Tem jogo do Glorioso, hoje.
Ela o acompanhou até a porta, deu-lhe um beijo estalado na face barbada, e perguntou:
-E aí?
-Nada. - Ele respondeu.
-E...?
-Não sei, ainda. Não estabeleci nada.
-OK. Bom jogo pra ti.
-Obrigado.
Ele foi embora, chegou em casa, viu o jogo, e não chegou resposta. Tentou de novo. Um sinal de vida. Mas distante. Sem muito elã. Largou o telefone de lado, deitou-se, antes de dormir, assobiou uma melodia, e cantarolou:
-Por que você não disse que viria? Logo agora que eu tinha Me curado das feridas Que você abriu quando se foi... Por que chegou sem avisar? Eu queria tempo pra me preparar Com a roupa limpa, a casa em ordem E um sorriso falso pra enganar...
Dormiu cedo, acordou na manhã seguinte, e o mundo não havia parado de girar.

Rapidinhas do Capita


Mãos crispadas, dor nas pernas de sentar na ponta do sofá. Abdômen em chamas pela contrição da musculatura durante quase duas horas. Dor de garganta pelo gritedo que levou à queixa dos vizinhos amargurados e à segunda de três advertências antes da multa.
Valeu a pena.
Inter classificado à semi-final da Copa Libertadores da América 2015 após um par de partidas que o próprio Colorado tornou mais difíceis do que deveriam ser contra o Independiente Santa Fe, da Colômbia.
Depois de perder por 1 x 0 um jogo na casa dos colombianos que poderia ter vencido até com alguma folga, o Inter precisou de apenas dois minutos pra deixar tudo igual num Beira-Rio com mais de 40 mil Colorados, mas de outros oitenta e oito minutos para deixar o torcedor mais nervoso (eu) relaxar e ver o que havia sobrado das unhas.
Agora, quase cinquanta dias de folga até o jogo da semi contra o Tigres do México, primeiro, no Beira Rio, depois, em Sán Nicolás de los Garza.
Jogo encardido, contra adversário forte, mas com totais chances de classificação à grande final.

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Dizem que a sorte protege os bêbados, as criancinhas e os apaixonados.
Preciso descobrir em que categoria se enquadra o treinador colorado Diego Aguirre. O uruguaio parecia estar fazendo todo o possível pra não classificar quando resolveu escalar Lizandro Lopes e Nilmar no time principal.
A ausência de um terceiro meia na linha de três do meio de campo ofensivo aventava uma sobrecarga violenta aos laterais e aos volantes (como, aliás, havia acontecido na Colômbia, quando Nilmar entrou na vaga do extenuado e surrado Sacha), e um déficit na qualidade da transição entre meio e ataque.
Mas lá se foi Sacha, não extenuado, mas surrado além da conta pelos truculentos colombianos, e Valdívia entrou, dando velocidade e criatividade ao meio, jogando em cima dos laterais adversários, e garantindo que não existisse blitz sobre Géferson.
Mais sorte que isso?
Rafael Moura, o mito da matemática, entrou em campo e me arrancou um suspiro de desânimo.
Percebi que, naquele momento, o Inter havia desistido de tentar fazer um gol tocando a bola e lutaria para fazê-lo apenas levantando bola na área, e julguei, pessimista que sou, que assim, não o faria.
Ledo e Ivo engano.
Dizem que a sorte protege os bêbados, as criancinhas e os apaixonados.
Talvez também proteja os pernas de pau, os pessimistas e os colorados.

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Impressão minha ou os cinco primeiros meses da gestão Vitório Píffero são anos-luz mais produtivos do que os quatro anos da gestão Giovanni Luigi?}

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Cachorro-Quente


Ele terminou de comer o cachorro quente e, ato contínuo, segurou o saquinho plástico que embalava o lanche por uma ponta, deixando a outra na altura da boca, e chupou, quase sem ruído, o conteúdo. Satisfeito, e ainda mastigando a papa de queijo ralado, molho de tomate, ervilhas maionese e milho, limpou a boca a barba e o bigode com o guardanapo de papel.
Ao terminar o ritual, olhou pro lado e percebeu a cara de reprovação dela, olhando pra ele.
-Que foi, alemoa? - Ele perguntou.
-Sério... - Ela disse, como que tomando forças pra continuar - Isso é muito nojento...
-O quê? - Ele quis saber, já começando a rir. -Chupar o plástico do cachorro-quente?
-É! - Ela confirmou, ainda enojada.
Ele continuava rindo.
-Capaz, guria. Chupar o saco plástico do cachorro-quente é... Nem sei. É o padrão. O habitual. É um gesto espontâneo de repulsa ao desperdício... Tu já viu a quantidade de coisas boas que ficam no fundo desse plástico?
-Eu concordo com a parte de ser um "gesto espontâneo de repulsa", mas pára por aí. Que nojo...
Ele deixou ela comer mais um pouco, enquanto tomava um gole da sua Fanta. Assim que engoliu o refrigerante disse:
-Quando tu terminar de comer me dá o teu plástico...
-Ai, que nojo! Não dou, mesmo!
Ele riu tanto que ela não aguentou e começou a rir, também.
-Que coisa mais nojenta, isso... - Ela assomou, ainda rindo um pouco. -Que mais tu faz de nojento assim que eu não sabia?
-A gente devia ter ido ao Subway, mesmo... Se eu soubesse que tu ia ficar tão chocada por causa do plástico do cachorro-quente... - Desconversou ele.
-Não, sério... - Ela protestou. -Eu não cheguei a pegar essa fase de perceber teus hábitos nojentos enquanto a gente namorava... Agora fiquei curiosa...
-Eu não acho que eu tenha hábitos nojentos...
-Tu acha que não tem, mas eles são nojentos, chupar o plástico do cachorro-quente é muito nojento... Tu lambe tampa?
Ele riu. Não havia entendido.
-Como assim "lambe tampa"? Isso parece nome de líder tribal. Poderoso chefe Lambetampa.
-Tipo, tampa de iogurte, de flã, tu lambe a tampa depois que tu abre?
Ele percebeu que era uma pergunta capciosa, mas resolveu responder.
-Só se estiver suja do que tem dentro...
-Ai, Ned, que horror!
-Mas o quê, criatura? Tu quer que eu desperdice o negócio que eu comprei? Eu, não.
-Mas isso é asqueroso! Imagina se a gente mora junto, compramos um iogurte, antes de tomar eu vou agitar a garrafa e lá vai o iogurte bater na tampa cheia da tua baba! Fica tudo contaminado com a tua saliva.
Ele ficou olhando sério pra ela. Que sustentou o olhar dele por alguns instantes, até não aguentar e perguntar:
-Que foi...?
Ele, ainda sério, ergueu a sobrancelha esquerda bem alto e respondeu:
-Se nós chegássemos a morar juntos, suponho que tu não teria tantas reservas com relação à minha saliva.
Ela enrubesceu.
-Ah... Mas... Ah. Ah, tu me entendeu.
Ela, ainda vermelha, continuou comendo seu lanche e bebendo sua Coca-Cola, quando terminou, começou a amassar o embrulho, mas ele a deteve com um gesto.
-Sério, me dá o plástico, olha só, tem quase outro cachorro-quente, aí, e ao contrário de ti, eu não sou cheio de melindres.
-Que melindres? Eu só sou limpinha, não vou te deixar chupar o meu plástico.
Ele começou a rir, ela, ao dar-se conta de porque ele estava rindo, começou, também.
-Ah, quer saber, chupa meu plástico, vai. Chupa ele todo. - Rendeu-se.
Ele, apanhando o embrulho, a repreendeu:
-Não seja agressiva, que assim eu não curto. Sou um cara delicado.
Sorveu a maionese o molho, o queijo ralado, o milho e a ervilha do plástico do lanche dela, em muito menos quantidade do que havia no dele. Ela era mais cuidadosa, jeitosa para comer. Limpou-se com o guardanapo de papel e jogou todo o lixo no cesto próximo.
-Satisfeito? - Ela quis saber.
-Sim. - Ele respondeu. -E tu? Comida?
Ela deu um suspiro de insatisfação como quem diz "nhé". Os dois riram.
Ele ofereceu o braço pra ela, que aceitou, ele abriu seu guarda-chuva gigante, apelidado de Batman, e se pôs a andar com ela colada a si. Ela perguntou, maliciosa:
-Que outras coisas tu fica lambendo por aí?
-Nem te conto. - Ele respondeu, também malicioso.
Para então concluir:
-Sabe o achocolatado Brown Cow? Toda a vez que eu sirvo aquilo, eu dou uma lambida generosa no bico dosador.
-Que inveja desse bico dosador. - Ela respondeu ao pé do seu ouvido, mordiscando-lhe o lóbulo da orelha.
Ele, arrepiado e enrubescido, a olhou de esguelha, sorrindo vencedora.
Não adiantava.
Ainda estava pra ser inventado um jogo no qual ela não fosse irremediavelmente melhor do que ele.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O Vô


Enquanto crescia, Alan passou muito tempo na casa dos avós. Como filho mais velho de uma família relativamente pobre, era até natural que ele, de quando em quado, fosse o escolhido para ser "dispensado" de casa, especialmente após o nascimento de seu irmão caçula, quase dez anos mais novo, já que bebês custam muito dinheiro, e tempo.
Alan não chegava a se importar. Na verdade, Alan gostava de ficar na casa da avó. Um apartamento amplo, com grandes sacadas e janelas, perto da escola onde estudava e onde, claro, ficava embaixo da asa da avó, aquele tipo de mãe açucarada que fazia todas as vontades.
Entretanto, se a avó era aquele livro aberto de mulher sem disposições para tarefas domésticas que compensava no excesso de mimos por vezes inconsequente, o avô era outra história.
O Vô era um homem misterioso. Velho calvo, com restolho de cabelos ainda nas têmporas já bastante encanecidos, era alto e tinha a compleição física quadrada de uma bigorna. Se alguém dissesse a Alan que o Vô não tinha órgãos internos, ele acreditaria.
O Vô realmente parecia maciço. Sólido.
Tinha sempre uma expressão séria no rosto, que mantinha mesmo quando contava piadas, o que, geralmente, apenas as deixava mais engraçadas.
Tinha mãos grossas e nodosas, um apetite voraz por comida de qualquer tipo, que por vezes constrangia Alan nos restaurantes.
Era tão forte quanto parecia, e era impossível não se sentir seguro quando ele estava por perto, o que apenas tornava sua falta mais latente quando ele partia em uma de suas misteriosas viagens regulares.
Os quatro, cinco dias que o Vô passava fora eram sempre aqueles em que os barulhos do apartamento amplo pareciam mais assustadores, e até mesmo a iluminação que entrava pelas sacadas se tornava assombrada.
Mesmo no final, quando já estava enfermo e com mais de oitenta anos, o Vô sustentava a velha força. Era capaz de dobrar o pulso de um rapagão com um terço de sua idade sem grande esforço, e ainda que tivesse dificuldade para caminhar, a família temia lhe dar uma bengala por medo de que ele a brandisse como arma.
Quando ele morreu, Alan sentiu um grande vazio. Uma tristeza, não pelo Vô, que finalmente descansaria de uma vida de intenso labor, mas por si mesmo. Pela saudade que sentiria dos raros mas bonachões sorrisos do velho bruto.
Alan não sabia muita coisa dessa vida, mas sabia que tipo de homem gostaria de ser.
Um que oferecesse àqueles que ama metade da segurança que seu avô proporcionava sem esforço.
Essa faculdade, a de oferecer guarida aos seus entes queridos, era, para Alan, uma preciosidade.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Resenha Cinema: Mad Max - Estrada da Fúria


Eu era um moleque de meus sete, oito anos, e tinha a prerrogativa de assistir filmes bem além da minha faixa etária. Se hoje eu converso com mães que não deixam seus filhos assistirem nem sequer clássicos de Looney Tunes porque o Hortelino atira na cara do Patolino com um rifle, eu me pergunto o que essas mães diriam se soubessem que que eu tinha permissão para assistir Mad Max no SBT, e Mad Max II na Tela Quente, e que esses filmes exerciam tanto efeito sobre mim, que eu arranquei o capô de um dos meus carrinhos de fricção (Um pontiac Trans Am Firebird) para que, na minha visão infantil, ele ficasse mais parecido com o Interceptor V-8 de Max Rockatanski (então Mel Gibson), e brincava com eles e bonecos feitos por mim mesmo com massa de modelar, pois eles podiam ser partidos e esmagados de maneira mais "realista" quando eu brincava de Mad Max...
De qualquer forma, é estranho pensar que eu não assisto a um filme da série desde aquela época.
Acho que só vi o primeiro Mad Max uma vez, talvez duas. A mesma coisa com Além da Cúpula do Trovão, mas o segundo, esse eu assisti diversas vezes, e se, quando criança, eu era jovem demais pra entender a importância da série Max para os filmes de ação pós-apocalípticos, ora, o importante é que os filmes exerceram efeitos suficiente em mim, para continuarem sendo lembrados hoje, trinta anos após o lançamento da terceira parte da série, numa admiração genuína como a das crianças que riem vendo filmes de Carlitos, não por causa da importância e do gênio de Chaplin, mas apenas por acharem-no engraçado.
Mas hoje eu reconheço a importância dos filmes de George Miller para o cinema de ação pós-apocalíptico. Prova disso é que ontem estava na primeira sessão de Mad Max: Estrada da Fúria para a qual consegui ingresso.
Mad Max: Estrada da Fúria, abre com Max Rockatanski (agora Tom Hardy) sendo capturado por uma tribo de nômades do infindável deserto onde a ação toma lugar, e sendo usado como "bolsa de sangue" para os bestiais Garotos de Guerra da Cidadela, uma comunidade dominada com mão de ferro pelo maníaco Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne, o Toecutter do Mad Max original).
Miller não dá tempo ao espectador para se ambientar ao cenário. Não dá explicações demais a respeito do que está acontecendo. O filme situa o espectador apenas o suficiente para que ele não se sinta absolutamente perdido, e começa, em alta octanagem, a contar sua história de maneira ligeira, com edição hiperativa e troca de quadros acelerada.
Enquanto Max e seu precioso combustível O- são ligados ao Garoto de Guerra Nux (Nicholas Hoult, o Fera de X-Men), Imperator Furiosa (Charlize Theron), uma capacitada guerreira a serviço de Immortan Joe, lidera um comboio para apanhar combustível na refinaria de Cidade da Gasolina, e munição na Fazenda da Bala, mas desvia-se de seu caminho, saindo da estrada em direção ao inclemente deserto que cerca tudo e todos.
Furiosa leva consigo as parideiras de Joe. Cinco belas jovens que o vilão mantém aprisionadas na tentativa de ter filhos homens perfeitos que levem seu legado adiante. O esforço de Imperator Furiosa é para levar as garotas consigo para um vale seguro chamado Lugar Verde, onde ela própria nasceu.
Obviamente Immortan Joe envia sua máquina de guerra no encalço de Furiosa, entre eles, Nux, que, debilitado, se vê na obrigação de arrastar Max consigo para continuar recebendo sangue do cativo.
Essa é a premissa, e é tudo o que importa. Daí pra frente, tudo vai pro inferno, e Mad Max: Estrada da Fúria se torna uma longa e implacável perseguição pelo deserto.
E é sensacional.
George Miller dá um passo a frente. Se o futuro distópico da série antes encerrava uma luta por combustível, as coisas foram além no quarto filme. A luta é por combustível, sim, mas também por "Aqcua Cola", por Leite de Mãe, por herdeiros, por liberdade, enfim, por sobrevivência.
O mundo devastado imaginado por Miller reduz as pessoas a seus instintos mais básicos, conforme Max nos conta em seu breve monólogo no início do filme. Max deseja apenas sobreviver, da maneira que for necessário. Ele é reimaginado como uma máquina de lutar, que faz tudo o que faz, em nome da manutenção da própria pele, enquanto é assombrado por fantasmas que o levaram à beira do abismo da insanidade.
"Quem estava mais louco? Eu, ou todo o resto?", ele se pergunta.
O mundo de Miller certamente é habitado por tipos nefastos. Vilões que atendem por nomes como "Comedor de Gente", "Rictus Erectus", e "Mecânico Orgânico", garotas chamadas de Esplêndida Angharad (A esplêndida Rosie Huntington-Whiteley), Toast a Sabedora, Capaz, Cheedo, a Frágil, e Capangas bitolados que acreditam que após se sacrificarem em nome de Immortan Joe, farão uma visita ao Valhalla, onde comerão um McBanquete e então voltarão à vida cromados e tunados por todo o sempre.
Obviamente Max é convencido a unir forças com Furiosa e se tornar o herói do filme (e nós sabemos tudo o que Hardy pode fazer como um herói de poucas palavras), mas a verdadeira protagonista, é Furiosa.
Talvez, não Furiosa em si, mas a sua enfurecida luta maternal para proteger a vida, não a vida podre dos homens loucos que a cercam, não a vida de um homem meio criatura como Immortan Joe, preso a tubos de respiração e falando com voz abafada através de uma máscara, com seu corpo velho e apodrecido dentro de uma armadura de músculos de plástico transparente cercado por anomalias deformadas.
Mas a vida da próxima geração, a inocência dos que estão por vir, e a esperança de um mundo melhor por e para eles.
Colocar o peso dessa linha narrativa nos ombros de uma Charlize Theron mutilada e poderosa é uma ideia brilhante de Miller.
A loiraça linda é uma tremenda atriz, e alcança em Estrada da Fúria o mesmo nível de atuação de longas como Monster e Terra Fria. Sua expressão for vezes vazia diz tudo o que se precisa saber sobre o mundo em que ela vive e o que ela está disposta a fazer para salvar a quem ela ama deste mundo.
Desolada e Obstinada, mas esperançosa como apenas uma mãe pode ser.
Não pense, porém, que essa mensagem que ri da cara do bravado machista que alicerça os blockbusters de verão corriqueiros tire alguma coisa do peso da ação de Mad Max: Estrada da Fúria.
Muito antes pelo contrário.
George Miller constrói um espetáculo visual embalado por direção de arte, design de som, música e fotografia impecáveis, e tornam cada momento mais definitivo do que o anterior, construindo um espetáculo de tensão tão bem estruturado que chega a ser difícil acreditar, por exemplo, que a inacreditável sequência dentro da tempestade de areia, é a primeira grande cena de ação do filme, e que logo ali adiante, outra melhor surge(!!!!), num crescendo tão magnífico que é difícil que digerir, e com um diferencial importantíssimo:
A geografia da ação.
Enquanto cineastas medíocres ficariam picotando a edição e aproximando a câmera para mascarar o CGI e construir uma atmosfera de tensão artificial, Miller e sua equipe técnica sempre têm uma panorâmica na mão para que a audiência entenda exatamente o que está acontecendo, e onde estão cada um dos protagonistas por quem nós estamos torcendo antes de explodir a porra toda.
Há tanta destruição, batidas, explosões e corpos sendo arremessados no longa que é difícil acreditar que, a certa altura, isso simplesmente não fique repetitivo. Mas não fica. Não fica porque as cenas de ação são espetacularmente elaboradas e a história dos personagens se torna mais urgente a cada nova sessão da perseguição, pois quando a coisa está acelerada demais, Miller nos dá um vislumbre mais humano de algum dos personagens, aprofunda alguma relação, e quando o filme enfia o pé no acelerador novamente, se tornou mais difícil para a audiência perder alguém.
De um ponto de vista meramente técnico, Mad Max: Estrada da Fúria já valeria um par de idas ao cinema, com um visual arquitetado de maneira brilhante e um design de produção único, dando a sequências inteiras uma cara de pintura impressionista, espetáculo do Cirque du Soleil, ou desfile de carnaval do Rio de Janeiro, edição surtada (no bom sentido), um som espetacular e uma trilha sonora genial (por vezes "ao vivo", com capangas de Immortan Joe tocando tambores e guitarra durante as perseguições), cuspindo na cara de filmes de automóveis cheios de computação gráfica, o longa sobe dez degraus com relação a qualquer outro exemplar do gênero.
Mas Miller vai além do mero apuro técnico ou visual. Ele dá a Mad Max: Estrada da Fúria alma, e dá coração e dá cérebro.
Dá uma mensagem, e um desafio:
Testemunhe-me.

"Pelo menos naquela direção nós seremos capazes de... Juntos... Encontrar alguma forma de redenção."

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Academia


Suava feito um cavalo, sentado à bicicleta ergométrica no segundo andar da academia ouvindo o enjoado som do trance music que enchia o ambiente mesmo através do próprio fone de ouvido, sintonizado estrategicamente em uma rádio de notícias AM.
Perguntou-se o que estava fazendo lá.
Era um notório detrator da musculação. Desprezava aparelhos de ginástica. Odiava de maneira quase orgânica o exercício físico enclausurado. Criara-se correndo na beira do Guaíba e em parques, jogando bola em canchas de concreto públicas a céu aberto. Toda a sua noção de exercícios e esportes estava intimamente ligada a estar na rua.
Volta e meia tinha ímpetos e voltava a correr na rua, provavelmente seu exercício preferido, a vida moderna, porém, ia tomando-lhe o tempo.
Entre todas as suas obrigações, minguavam os momentos em que podia dispôr de intervalos extensos o bastante para, de fato, aproveitar uma corrida, especialmente nos horários de que gostava, no final da tarde, ou no início absoluto da manhã.
Em ambos havia impeditivos:
O final da tarde tornava quase impossível transitar sossegado na orla. O espaço fervilhava de gente, o que ele detetava.
Nas horas jovens do dia, tudo era mais agradável, entretanto, esbarrava-se no trabalho, na insegurança, e, especialmente, na cama, que insistia em agarrá-lo e não deixá-lo sair do calor das cobertas, especialmente no inverno.
A academia parecia, então, a saída mais adequada.
Pagaria uma mensalidade e poderia desfrutar do espaço para se exercitar por uma hora e meia sem maiores percalços.
Mas, minha nossa, como ele odiava.
Todos os seus sentidos ficavam lhe dizendo tudo o que estava errado a cada chegada à academia. E se, a princípio, ele achou que aquela sensação se desvaneceria com o tempo, logo percebeu que estava errado, pois três meses haviam se passado sem que ele houvesse sentido qualquer diferença em suas disposições para com o lugar.
Ainda assim, não tardou um mês para que sentisse os benefícios em seu corpo, perdeu peso, viu seus músculos se tonificarem e aumentarem de volume, de modo que não viu motivo para parar de frequentar a academia.
Mas ainda a odiava.
Odiava os marombeiros que se sentavam alegremente ao redor dos halteres mais pesados para trocar dicas sobre malhação e nutrição, e ideias a respeito de shakes proteicos concentrados entre cada série de repetições com pesos imensos.
Odiava os magricelas que, entre cada série, sentavam na tábua do supino e passavam dez minutos mexendo no telefone celular.
Os neo-malhados tirando foto de si próprios diante dos espelhos quando sentiam que o inchaço dos músculos alcançara seu pico.
As gostosonas que chegavam à academia com um treinador pessoal e se punham a malhar feito alucinadas numa clara tentativa de se transformarem em panicats.
As mulheres de meia-idade erguendo pesinhos de meio quilo e puxando barras horizontais numa desesperada tentativa de transparecer uns anos a menos.
Odiava o cheiro de borracha e suor na academia, e o cheiro de saco suado no vestiário. As camisetas regatas e as bermudas até as canelas, as luvas sem dedos e as munhequeiras.
Odiava o instrutor que só foi de apresentar a ele após um mês de academia, casualmente num dia em que não havia nenhuma beldade fazendo agachamento no térreo.
Mas o que realmente odiava eram as repetições. As séries de vinte com pesos que aumentavam assim que deixavam de ser doloridos. Os quarenta minutos de bicicleta, o suor, e os abdominais. Ah, como odiava os abdominais. Os frontais superiores, sim, mas especialmente os inferiores. E os oblíquos?
Ah, tinha que matar o desgraçado que inventou os abdominais oblíquo.
Aliás, chegara à conclusão de que era o ódio à academia o combustível para continuar indo. Ao entrar no "templo ao corpo", sentia a fúria ferver, e extravasava na bicicleta, na esteira, nos pesos e fazendo abdominais. Retos superiores, inferiores e os malditos oblíquos.
Foi nesse espírito que o César, camarada boa praça, de sorriso largo e músculos definidos, aproximou-se amigável e puxou conversa:
-Bah, tu é encarnado, hein, velho? Te vejo todo o dia, aqui.
-É... Tem que ser. - Disse o outro, sem muita disposição pra conversa.
-Tu sua pra caramba. Isso é bom. Te puxa... Se tu precisar de umas dicas, cara, só perguntar. - Concluiu César, com a autoridade de um sujeito nos seus quarenta e tantos anos que obviamente passara boa parte dos últimos vinte dentro de academias.
O outro olhou pro César, ergueu uma sobrancelha e disse:
-Tu sabe algum jeito de eu colher os benefícios da academia sem precisar vir aqui?
O César não entendeu.
-Como assim?
O outro reformulou e desenvolveu:
-Tu tem alguma dica de como perder peso, ficar saudável, um pouco mais forte e dar uma tonificada nos músculos sem precisar vir à academia, nem malhar em lugar nenhum?
O César riu:
-Não...
-Então, meu amigo, tu não tem nenhuma dica útil pra mim. Mas obrigado.
O César saiu, sem entender, e o outro ficou lá. Odiando cada segundo que passava dentro da academia.
Mas, enfim, colhendo os frutos.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Inimigo Íntimo


Saiu no Uol Esportes, hoje.
O Sport Club Internacional, resolveu abandonar o padrão FIFA, e remover, de trás de uma das goleiras, as cadeiras vermelhas presentes em todo o estádio.
Infelizmente, a ação da diretoria não é fruto de convicção, mas sim uma ação prática, reflexo de problemas com depredações causadas pela própria "torcida" que ocupa o espaço. Uma torcida organizada que se posiciona no local, causa dezenas de milhares de reais de prejuízo ao clube para o qual alegam torcer ao destruir as cadeiras porque gostam de ver o jogo de pé.
A despeito de as cadeiras possuírem um sistema de rebatimento automático que torna perfeitamente possível assistir ao jogo em pé na frente da cadeira, o vandalismo se tornou regra no setor.
Para se ter uma ideia do tipo de ser humano que frequenta o espaço em questão, no clássico gre-Nal realizado em agosto do ano passado, pseudo-torcedores do Inter quebraram mais cadeiras que os gremistas. Os vândalos adversários quebraram 35 cadeiras, enquanto os acéfalos de trás das goleiras quebraram 45, isso em um jogo que o Internacional venceu por 2 x 0. Nesta temporada novos registros de assentos quebrados ocorreram e motivaram uma atitude, que resultou na remoção de, até agora, 500 cadeiras atrás da goleira do placar eletrônico.
O que se dizer desse episódio?
Eu, que sou um sujeito que, historicamente, prefiro assistir aos jogos em pé, e que cheguei a comprar ingresso para a extinta "coréia" por um real nos jogos de gauchão dos anos noventa, que desprezo solenemente o que a FIFA considera padrão, e que me encontro na contramão de todos os teóricos que defendem a elitização dos estádios de futebol, só posso lamentar.
A remoção das cadeiras não atende a um pedido feito de maneira organizada e consciente por um grupo de torcedores tendo em vista algum motivo prático, mas sim ao achaque covarde de um grupo de marginais. Vândalos imbecis e desprovidos de qualquer noção de consciência que causam vultuoso prejuízo ao clube para o qual alegam torcer em nome de um desejo esdrúxulo e injustificado de auto-afirmação.
Ao remover quinhentas cadeiras de trás dos gols, a diretoria do Inter se rendeu à ação dos vândalos, cedeu vitória aos vagabundos, e escolheu os imbecis em detrimento das pessoas civilizadas.
Quem pode pensar em trazer as famílias de volta ao estádio quando o clube se curva à vontade dos idiotas? Ter um grupo de imbecis saltando atrás do gol não ganha títulos, há vizinhos para comprovar isso, que há quinze anos não levantam um caneco e sempre tem um bando correndo de encontro à mureta num espaço, ora vejam, sem cadeiras e com ingresso mais barato.
Não se deve adequar o espaço de pessoas civilizadas aos vândalos e aos imbecis, deve-se excluir os vândalos, os bandalhos, os imbecis e os idiotas do convívio das pessoas de bem. Nesse sentido, o Internacional vai na contramão da evolução do futebol.

sábado, 9 de maio de 2015

Rapidinhas do Capita


A Marvel divulgou um novo poster de Homem Formiga. Na arte grandona, podemos ver membros do elenco de apoio que não deram as caras nos trailers, como Bobby Cannavale e Michael Peña, além de Corey Stoll, Evangelyne Lilly, Michael Douglas e Paul Rudd.


Dirigido por Adam McKay, Homem Formiga estréia em julho.

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E a última imagem de X-Men - Apocalypse, revelada pelo diretor Bryan Singer mostra que finalmente James McAvoy vai se parecer com o professor X das HQs.


X-Men: Apocalypse, dirigido por Singer, será a continução do ótimo X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido. Ambientado em 1983, o longa estréia em maio de 2016.

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E com os X-Men novatos prontos pra assumir o manto, os veteranos podem se dedicar à diversão na certeza do dever cumprido:

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Missão Cumprida


Ele vinha andando pela praça com o cão correndo solto à sua frente.
O animal peludo vinha faceiro pelo relvado, cheirando a tudo que se punha ao alcance de seu focinho, e refestelando-se no capim de quando em quando, desfilando sua curiosidade canina pelos quatro cantos do parque.
Súbito, deu uma leve corrida, assomando junto a um banco afastado dos caminhos de pedra e terra. No banco, viu o dono do cão, um casal de jovens se beijava, enamorados.
Eram adolescentes, os dois.
Dezesseis, dezessete anos, no máximo.
Ele, como todos os fedelhos de hoje em dia, se vestindo como um rapper. Boné com a aba reta virada pra frente quase flutuando sobre a cabeça, jaquetão azul-piscina com nome de time de beisebol ou basquete norte-americano na frente, correntão dourado no pescoço, relógio com tamanho de relógio de parede no pulso, calças skinny roxas e coloridos tênis importados de cano alto.
Ela, mais discreta, jaqueta de gomos azul-marinho, calça leggign preta, botas de camurça marrom, cabelos esticados numa duvidosa chapinha.
Ambos agasalhados demais para a temperatura amena de 18 pra dezenove graus. Aninhados um no outro, beijando-se sofregamente enquanto trocavam sussurros que pareciam-se como que juras de amor eterno tão sinceras como vazias, aquele tipo que só a adolescência é capaz de edificar.
Pois ali, no banco do casal, assomou o amarelo canzarrão, e, grande e felpudo que era, chamou a atenção de ambos, que se puseram a chamá-lo estalando os dedos e assobiando.
Eis que, para surpresa do dono, que olhava o casal com alguma invejosa melancolia e flagrante peso no peito, o cão, um rematado anti-social dado a rosnados e dentes à mostra diante dos afagos e chamamentos de qualquer estranho, mostrou-se disposto a receber um afago dos pombinhos, chegando a colocar as patolas dianteiras sobre o banco, facilitando para que o casal pudesse afagá-lo.
Surpreso, o dono ficou olhando enquanto seu amigo canino demonstrava aquele comportamento inédito por alguns momentos, para, rapidamente, descer do banco, e voltar à exploração das imediações.
Retomando sua caminhada atrás de seu cachorro, ouviu quando o menino falou para a menina:
-Bah... O pelo dele é mais bonito e macio que o teu cabelo.
A moça, ofendida, removeu o braço do rapaz que envolvia a parte de trás do seu pescoço, e disse:
-Vai te foder.
Cruzando os braços, e virando pro outro lado.
O cão, virou-se para o dono, olhar cúmplice, quase um sorriso maquiavélico, como quem diz "Missão cumprida, chefe.".
E ainda há quem duvide que o cachorro é o melhor amigo do homem.

Sem Posse, Amor


Não quero ser teu dono, amor. A posse não me seduz. Tu bem me conhece. Sabe que eu sou um sujeito modesto, calmo, até frio, nem morno, nem quente. Não quero saber de ouro, nem prata nem da crise do ocidente.
Apenas bons filmes, boa leitura, distrações e um bom jantar. De superlativo na minha vida, amor, só tu, e o que tu me proporcionar.
De genial, o tempo que tu me cedes. De excelente, só o que tu me faz sentir. De excepcional, só o que nós fazemos entre quatro paredes. De grandiloquente, só o amor que eu sinto por ti.
Não quero ser teu dono, amor. A escravidão já era. Servitude voluntária, talvez. Só quando tu me pedir pra te beijar lá embaixo... Uma vez por noite. Ou duas, ou três...
Com recíprocas verdadeiras, e re-repetidas, escandalizando nossos lençóis, ruborizando nosso colchão, matando de inveja nossas cadeiras e se espraiando do teto ao chão.
Não quero ser teu dono, amor. Tu já deve saber que com muito menos já me contento. Não tenho paciência pra grande clamor. Propriedade não é meu intento.
Não há necessidade de ser solene, amor. O que eu quero é usufruto das benesses do teu corpo e da tua mente e da tua presença, a saber: Nada perene. O efeito deve ser imediato, e com valência enquanto eu viver.



Articulações Básicas


Se descobre muito a respeito de uma pessoa, de sua visão de mundo e da forma como as outras pessoas as afetam através de bobagens que a gente nem imaginava que fossem tão significativas.
Tome o Diego, por exemplo.
O Diego, que não era um humanista, mas de modo geral era considerado um sujeito bem quisto e até generoso por aqueles que o conheciam de soslaio, quando não entendia o que as pessoas falavam, tinha duas reações básicas:
Ou ele ria, ou se irritava.
Não havia meio termo, com o Diego, nem variação.
Quando alguém lhe dirigia a palavra, e ele não entendia de pronto o que havia sido dito, ou abrandava a feição num sorriso contido, mas claro, ou fechava a cara numa carranca que não deixava espaço para interpretações que não fossem a óbvia.
Se perguntassem ao Diego o porquê daquilo, ele possivelmente não saberia explicar.
Muito provavelmente tergiversaria dizendo que sua reação estava relacionada ao tom de quem lhe falasse, pois, se as palavras nem sempre eram inteligíveis, o tom dificilmente mentia, de forma que ele respondia sendo amigável ou fechado como um espelho do que lhe era oferecido...
Mas seria mera especulação de parte dele.
O próprio Diego não saberia dizer por que reagia sempre de uma dessas duas formas ao não entender o que lhe era dito.
A verdade era simples, mas ia um pouco além do tom que lhe era dirigido:
Diego não gostava de gente.
Pra ser cem por cento honesto, o Diego odiava quase todo mundo, salvo raras exceções.
Suas reações básicas de rir ou fechar a cara quando não era capaz de compreender o que lhe fora dito, era reflexo disso. Diego dividia sua relação com o mundo entre condescendente, e hostil, pois eram as reações básicas que as pessoas lhe causavam.
Em um mundo habitado por gente sem educação, sem conhecimento, sem compaixão e sem semancol, hostilidade e condescendência eram tudo o que ele sabia articular.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Rapidinhas do Capita


E ontem saiu a primeira foto do Esquadrão Suicida completo com todos os personagens devidamente caracterizados (exceto o Coringa do Leto).
Confira abaixo o grupo formado por Amarra (Adam Beach), Capitão Bumerangue (Jay Courtney), Magia (Cara Delevigne), Katana (Karen Fukuhara), Rick Flagg (Joel Kinnaman), Arlequina (Margot Robbie), Will Smith (Pistoleiro), o impronunciável Adewale Akinnuoye-Agbaje (Crocodilo) e Jay Hernandez (El Diablo).


E aí? Gostei da abordagem visual do Crocodilo. O agasalho e a jaqueta, as faixas nas mãos... Ainda assim, ele deveria ser consideravelmente maior, e ter mais dentes... Também podemos ver Smith com o uniforme de Pistoleiro, e a interessante caracterização de Courtney como Capitão Bumerangue, mas não tem jeito...
O ponto alto da foto e das caracterizações é mesmo Margot Robbie. A deliciosa atriz inglesa caracterizada como Arlequina conseguiu a proeza de ficar ainda mais gostosa do que já é.

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Aqui podemos ver Smith com o uniforme completo de Pistoleiro, incluindo a máscara:


Conforme havia sido comentado, o traje tem a máscara com monóculo de alça de mira, e as pistolas de punho. Além de um estiloso rifle vermelho onde se lê "Eu sou a Luz, o caminho", mesmos dizeres na gola da blusa.

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E, pra ninguém ficar triste, mais uma olhada na deliciosa Arlequina de Robbie:


Esquadrão Suicida, dirigido por David Ayer, de Sabotagem e Corações de Ferro, estréia em Agosto de 2016.

Rapidinhas do Capita


Feliz Star Wars Day, nerdalhada, "May the Fourth be With You".
Comemorando o dia mais santo do dogma nerd (ombro a ombro com o nascimento de Stan Lee), a Vanity Fair publicou uma edição recheada de imagens de Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força, incluindo Han Solo, Chewbacca, Rey, Fynn, Poe Dameron e o vilão Kylo Ren:






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J. J. Abrams, diretor do longa, confirmou que Fynn (John Boyega), Dameron (Oscar Isaac) e Rey (Daisy Ridley) são os protagonistas do longa. Os teasers levam a crer que Fynn é um storptrooper renegado, Dameron um piloto fodelão, e Rey, uma jedi.

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Não seria épico se a trilogia envolvesse a ameaça do Novo Império sendo abordada por esses personagens novos e que, à certa altura, quando tudo fosse pra cucuia, a velha guarda surgisse pra salvar o dia?
Enfim, divagações de um amante de Star Wars que morre de medo de ver uma repetição dos episódios I, II e III.