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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Missão Cumprida


Ele vinha andando pela praça com o cão correndo solto à sua frente.
O animal peludo vinha faceiro pelo relvado, cheirando a tudo que se punha ao alcance de seu focinho, e refestelando-se no capim de quando em quando, desfilando sua curiosidade canina pelos quatro cantos do parque.
Súbito, deu uma leve corrida, assomando junto a um banco afastado dos caminhos de pedra e terra. No banco, viu o dono do cão, um casal de jovens se beijava, enamorados.
Eram adolescentes, os dois.
Dezesseis, dezessete anos, no máximo.
Ele, como todos os fedelhos de hoje em dia, se vestindo como um rapper. Boné com a aba reta virada pra frente quase flutuando sobre a cabeça, jaquetão azul-piscina com nome de time de beisebol ou basquete norte-americano na frente, correntão dourado no pescoço, relógio com tamanho de relógio de parede no pulso, calças skinny roxas e coloridos tênis importados de cano alto.
Ela, mais discreta, jaqueta de gomos azul-marinho, calça leggign preta, botas de camurça marrom, cabelos esticados numa duvidosa chapinha.
Ambos agasalhados demais para a temperatura amena de 18 pra dezenove graus. Aninhados um no outro, beijando-se sofregamente enquanto trocavam sussurros que pareciam-se como que juras de amor eterno tão sinceras como vazias, aquele tipo que só a adolescência é capaz de edificar.
Pois ali, no banco do casal, assomou o amarelo canzarrão, e, grande e felpudo que era, chamou a atenção de ambos, que se puseram a chamá-lo estalando os dedos e assobiando.
Eis que, para surpresa do dono, que olhava o casal com alguma invejosa melancolia e flagrante peso no peito, o cão, um rematado anti-social dado a rosnados e dentes à mostra diante dos afagos e chamamentos de qualquer estranho, mostrou-se disposto a receber um afago dos pombinhos, chegando a colocar as patolas dianteiras sobre o banco, facilitando para que o casal pudesse afagá-lo.
Surpreso, o dono ficou olhando enquanto seu amigo canino demonstrava aquele comportamento inédito por alguns momentos, para, rapidamente, descer do banco, e voltar à exploração das imediações.
Retomando sua caminhada atrás de seu cachorro, ouviu quando o menino falou para a menina:
-Bah... O pelo dele é mais bonito e macio que o teu cabelo.
A moça, ofendida, removeu o braço do rapaz que envolvia a parte de trás do seu pescoço, e disse:
-Vai te foder.
Cruzando os braços, e virando pro outro lado.
O cão, virou-se para o dono, olhar cúmplice, quase um sorriso maquiavélico, como quem diz "Missão cumprida, chefe.".
E ainda há quem duvide que o cachorro é o melhor amigo do homem.

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