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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Resenha Cinema: Nocaute


Jake Gyllenhaal sempre foi um ator promissor, e um escolhedor de projetos corajoso. Intercalando produções independentes com filmes de estúdio, ficou claro que o irmão da Maggie Gyllenhaal leva mais jeito quando foge do mainstream.
Talvez por isso fosse estranho ver Gyllenhaal no trailer desse Nocaute (Southpaw, no original), um drama esportivo de boxe que tinha "convencional" escrito em cada frame da prévia que andava pelos cinemas recentemente.
O longa metragem sobre o boxeador que caía em desgraça e precisava lutar para reencontrar seu lugar ao sol tinha cara de filme duvidoso quando o projeto esteve ligado ao rapper Eminem, e era quase uma sequência de 8 Mile, foi sendo refinado. Ganhou roteiro de Kurt Sutter (De Sons of Anarchy), direção de Antoine Fuqua, e, com a saída de Eminem, Bradley Cooper, Ryan Gosling e Jeremy Renner chegaram a ser cogitados para o papel que acabou nas mãos de Gylllenhaal, que foi quem deu vida ao protagonista Billy Hope no longa.
Hope é um boxeador de mais de trinta anos. Campeão dos pesos médios, levando ao máximo o jargão norte-americano da Grande Esperança Branca (Great White Hope), Billy nasceu no sistema legal de Nova York. Cresceu em orfanatos, passou pela prisão, mas conseguiu se tornar um pugilista milionário com mais de 40 defesas de cinturão, uma linda esposa que conheceu no abrigo juvenil, Maureen (Uma surpreendentemente gostosa Rachel McAdams), e uma filha a quem ama, Leila (A estreante Oona Laurence). Mansões, carros, fama e fortuna.
Porém, Billy já alcançou uma certa idade. Quando o conhecemos ele está penando um pouco para vencer sua 43° defesa defesa do título.
Conhecido pelo estilo agressivo, por usar o rosto para bloquear os socos dos inimigos, Billy é o tipo de sujeito que, quanto mais apanha, mais forte bate, e vem funcionando. Ele vence a luta por nocaute no décimo assalto, mas o pesado castigo físico que ele sofre, leva Maureen a chamar-lhe a atenção, e dizer com todas as letras que se ele continuar naquele ritmo, vai acabar sofrendo com sequelas irreversíveis das surras sucessivas a que se submete.
Billy está disposto a seguir o conselho da esposa, mas um novo lutador quer sua chance no ringue contra Billy.
O colombiano Miguel "Mágico" Escobar (Miguel Gomez) está disposto a tudo para chegar ao cinturão, e isso inclui provocar Billy publicamente, invadir eventos e até mesmo ofender sua esposa.
Após um evento beneficente, Miguel e Billy têm uma altercação que escala para um tiroteio, e Maureen acaba assassinada.
A morte da esposa joga Billy em uma profunda depressão, com o dinheiro escasseando, ele é manipulado por seu empresário Jordan Mains (Curtis 50 Cent Jckson) a aceitar um contrato para três lutas contrariando a vontade de Maureen. Deprimido, ele é derrotado em uma luta contra um oponente fraco, agride o árbitro, e perde sua licença. Pra piorar, as multas e processos comem o dinheiro que ainda lhe resta, e prestes a perder até a casa onde vive, Billy começa a apresentar comportamento auto-destrutivo, culminando com uma tentativa de suicídio.
Diante de tal quadro, Billy é apartado de sua filha, que é recolhida a um abrigo juvenil, enquanto ele tenta lidar com o luto, e recolocar sua vida nos eixos.
O caminho para alcançar isso, pode ser o treinador Tick Wills (Forrest Whitaker), mas isso, apenas se Billy estiver disposto a trabalhar duro, se reencontrar e trilhar o árduo caminho da redenção.
Como eu disse lá em cima, Nocaute tem "convencional" escrito em cada frame. Não é preciso ser um gênio para perceber de antemão cada um dos detalhes do roteiro de Kurt Sutter, mas se existem milhares de dramas de boxe, não é à toa.
A fórmula é re-re-repetida porque funciona, e Nocaute não é diferente. Sempre há espaço no coração da audiência para mais uma história de redenção (Eu sei que há no meu), e Nocaute tem um trunfo que a maioria dos demais dramas de pugilismo não tem:
Jake Gyllenhaal.
O ator transforma o longa em um acessório para o seu talento, enchendo Billy Hope de nuances.
Das enfurecidas caretas para a câmera enquanto baba sangue no ringue, aos olhos baixos e voz hesitante quando conversa com a assistente social responsável por sua filha, ao jeito descontraído como comenta sobre o olho "nublado" de Tick no bar, Hope é um personagem extremamente profundo, uma pessoa de verdade muito além da caricatura do comportamento explosivo e do pai amoroso.
Se isso poderia ser um problema já que apenas Whitaker consegue alcançar o ritmo de Gyllenhaal, Fuqua tem a sorte de o roteiro ser inteiramente focado no pugilista, deixando o holofote sobre o cara que mais tem a oferecer, até porque, se a história de Billy é redondinha, as tramas paralelas são pouco menos que acessórios (A assistente social de Naomie Harris e o jovem com problemas em casa Hoppy de Skylan Brooks são tão superficiais que se fossem trocados por manequins a audiência provavelmente nem perceberia).
No final das contas, Nocaute poderia ser apenas mais um filme de pugilismo nota seis, mas graças ao talento de um protagonista extremamente corajoso, consegue alçar voos consideravelmente mais altos.
Assista no cinema.

"-Eu não posso perder minha filha. Eu vou te dar tudo o que eu tenho."

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