Pesquisar este blog

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Três Dias de Pavor


Ela entrou na loja. Coroa loira, seus cinquenta anos, mas muito bem vividos, obrigada.
Cabelão platinado escorrido até o meio das costas. Jaqueta de couro vermelha, blusa preta de gola rolê, bolsa daquela marca do D e do G um de cara pro outro, calças jeans mais justas que as vaias da torcida do Inter após o jogo com o Figueirense e botas de couro marrom de salto fino de quinze centímetros.
Ainda assim, ele era mais alto. Rá.
Parou perto dela após abrir a porta. "Posso ajudar?", "pode, procuro calça-bermuda.". Ele assentiu. A levou até o setor das calças-bermuda. Mostrou alguns modelos. Ela, rescindindo um perfume delicioso, olhou os modelos e escolheu dois. "Posso provar?", "claro que pode".
A conduziu até os provadores. Não pôde deixar de achar a situação surreal. Não fazia nenhum sentido aquela coroa obviamente endinheirada, uma tremenda burguesa, comprando calças-bermuda. "Eu sei que tu deve estar achando um sarro uma perua que nem eu comprando calça-bermuda." Ela disse. "Capaz" ele respondeu, temendo os possíveis poderes mentais latentes da mulher. Mostrou-lhe o provador. Ela entrou. "Qualquer coisa, só chamar".
Ele foi cuidar da vida.
Não deu dois minutos, "Moço! Moço?".
Foi até o provador.
A mulher, fechara a porta do provador e trancara por dentro. A umidade da semana de chuva incessante cobrava seu preço. A madeira, inchada, lacrara-se de tal forma nos batentes, que a porta não abria, deixando-a presa lá dentro.
"Minutinho", disse ele. "Afaste-se da porta". Já vira aquilo acontecer na porta do banheiro. Volta e meia a madeira estufada com a umidade impedia que a porta fosse aberta por dentro, e mesmo por fora, apenas com a força das mãos e o movimento da maçaneta. Saltaria a mulher com um golpe de ombro bem aplicado na porta, simples.
Agarrou a maçaneta, tomou um breve impulso, e bateu com o ombro na porta junto ao batente. O estalo de uma rolha sendo cuspida de uma garrafa de champanhe se fez ouvir quando a porta abriu.
Ele olhou para dentro sorrindo, preparando-se para explicar como aquilo era normal, mas deparou-se com algo anormal.
A mulher estava parada de pé no meio do provador usando apenas a sua blusa e calcinhas.
Calcinhas de renda vermelho-escuras.
Ele provavelmente ficou da cor das calcinhas da mulher, desculpou-se e fechou a porta com cuidado.
Após mais alguns minutos, a mulher o chamou novamente.
Mais cuidadoso, ele parou junto à porta.
"Pois não?", "Pode entrar, moço. Estou vestida".
Entrou.
A mulher estava parada usando uma das calças que ele entregara para ela experimentar. Uma calça bonita, modelo especificamente feminino, mais adequada às curvas do corpo de uma mulher.
"O zíper prendeu. É defeito?" ela perguntou. "Não" ele respondeu. "O cursor só deve ter pego na aba que protege o zíper.", ele explicou. Era uma ocorrência comum em calças daquele tipo e sacos de dormir. "É só puxar a aba de tecido de dentro do cursor." ele sugeriu. "Puxa pra mim." Ela disse, imperativa.
Ele ficou olhando pra ela brevemente, sem saber se tinha entendido. Deu um passo pra frente, e curvou-se levemente para alcançar o zíper no meio da coxa direita da mulher.
"Mais baixo." Ela disse. "Quê?" ele respondeu. "Mais baixo. Assim."
Ela o empurrou pela cabeça e pelo ombro para baixo, fazendo-o ajoelhar, o segurou pelo ombro com uma das mãos enquanto abria as calças com a outra. Baixou a peça até o meio do quadril, e então repetiu o gesto com a roupa de baixo, deixando o monte de Vênus diante dele, estarrecido, de joelhos no chão, incapaz de reagir. "Eu vi que tu queria" disse, maliciosa. Quase perversa.
Ela então, o agarrou pelo cabelo, e puxou seu rosto de encontro à própria penugem, e mexeu o quadril, fazendo com que seu púbis dançasse do queixo até o nariz dele, e então de volta, quando parou com suas partes íntimas junto aos lábios dele e rebolou um par de vezes. "Me lambe", disse como quem não dá margem à resposta senão obediência.
E ele obedeceu, tomado de excitação e desconcertamento.
A lambeu, a princípio de maneira incerta, hesitante, mas então com mais e mais ímpeto, até puxar-lhe a coxa musculosa sobre o próprio ombro de modo a poder acessá-la com mais facilidade, entreaberta e molhada, e agarrar-lhe com decisão, cravando-lhe os dedos nas nádegas firmes. Após apenas alguns minutos, dez, talvez doze, ele a sentiu enrijecer-se inteira, a perna sobre seu ombro espremer-lhe como um alicate enquanto suas unhas se cravaram em seu couro cabeludo desmanchando-lhe o penteado, e então suspirar profundamente.
Ele parou, olhando pra ela, que encarava o teto com um meio sorriso nos lábios vermelhos. Levantou-se em silêncio, e saiu do provador.
Após alguns momentos, ela também saiu. "Vou levar essa.", disse com naturalidade, mostrando-lhe a calça-bermuda verde-botânico.
Ele fez a nota fiscal, empacotou a peça, e entregou-lhe agradecendo pela preferência.
"Tu tem masculina, também?", perguntou. "Sim.", ele respondeu, ressabiado. "Agora eu não tô com tempo pra ver, mas sábado eu passo aqui com meu marido pra ele experimentar.".
Agradeceu e saiu.
Ele se despediu e voltou pra dentro da loja. Três dias de pavor se passaram, de pesadelos e falta de apetite, e ele está em pânico pensando o que diabos será que vai acontecer no sábado. Talvez ele falte o trabalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário