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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: Pai em Dose Dupla


Eu já disse antes e repito aqui. Eu sou um grande fã de Will Ferrell. O egresso de Saturday Night Live é parte de uma trinca de atores que sempre me faz rir.
Will Ferrell, Steve Carell e Jim Carrey.
Coloque o nome de qualquer um dos três em um pôster, e eu verei esse filme no cinema, ou, sei lá... O alugarei no serviço on-demand da TV a cabo, já que Ferrell, Carell e ultimamente até Carrey, têm passado cada vez menos pelos cinemas, relegados, aqui no Brasil, às locadoras quase extintas e locações digitais enquanto Adam Sandler segue firme e forte com a sua cara de ovo nos cinplexes... Mas enfim, estou me alongando e já falei isso antes.
Ontem fui ao cinema curtir uma rara oportunidade de ver um filme de Will Ferrell no cinema.
Obviamente Pai em Dose Dupla só estreou nos cinemas brasileiros por causa de Mark Wahlberg, co-estrela do longa. Mas eu não reclamo.
Enquanto comediante, Wahlberg é muito melhor do que como ator dramático, e a prova cabal disso não foi o filme de urso de pelúcia Ted, mas sim seu papel em Os Outros Caras, filme que co-estrelou, ora vejam, com Will Ferrell em 2010.
Pai em Dose Dupla parte de uma premissa bem previsível. Ferrell é Brad Whitacker, um pacato executivo de rádio cujo sonho de vida era formar uma família. As aspirações de Brad quase se tornaram uma impossibilidade devido a um acidente no dentista que o deixou estéril, mas, ao conhecer Sara (Linda Cardellini), uma bela mãe solteira com dois filhos, a pequena Megan de sete anos, e Dylan, de oito, Brad percebeu que seu sonho ainda podia se realizar.
Após casar com Sara, Brad tornou sua missão de vida ser o melhor padrasto do mundo, e pavimentar, não importando a que custo, o caminho até o coração das crianças que educaria como se fossem suas.
Brad perseverou ante a óbvia aversão dos pequenos por meses, mas eventualmente, à custa de muito afeto e todos os livros de paternidade existentes, conseguiu se tornar uma figura paterna na vida dos dois. Tudo parecia bem, até que o pai das crianças ressurge.
Dusty Mayron (Mark Wahlberg) é o completo oposto de Brad. Um sujeito viril, durão e misterioso que veste jaqueta de couro e pilota uma potente motocicleta Indian. Ele tem uma vida agitada viajando pela África, pilotando helicópteros e viajando em submarinos nucleares, e ele chega disposto a ocupar o lugar de modelo masculino de que seus filhos tanto precisam.
Dusty se aproveita da hesitação de Brad e consegue permissão para ficar na casa dos Whitacker, e não tarda para ele escantear Brad nas afeições das crianças. Conforme aproveita todas as oportunidades para humilhar Brad e provar-se superior em todos os aspectos e arenas.
Mas Brad é um pai substituto devotado, e não vai entregar as crianças a Dusty sem luta.
É claro que é engraçado.
Há pelo menos quatro boas risadas altas em Pai em Dose Dupla, sem contar todas as risadas menores ao longo do filme, Will Ferrell e Mark Wahlberg têm um ótimo timming cômico juntos, e o filme todo é uma divertida bobagem. Pai em Dose Dupla só não é ainda melhor por conta do diretor.
Apesar de ser produzido por Adam McKay, o sujeito por trás dos dois O Âncora e de Os Outros Caras, todas ótimas comédias, engraçadas e com um espertíssimo senso de propósito por trás das piadas, esse Pai em Dose Dupla é dirigido por Sean Anders.
Anders não é um estranho no mundo das comédias. Seus trabalhos incluem filmes de relativo sucesso como Quero Matar Meu Chefe 2 (que de tão desnecessário eu confesso que ainda não assisti...) e Família do Bagulho (que, confesso, só vi quando passou na TV a cabo.).
Anders não tem medo do humor pastelão e da escatologia, mas parece ter a necessidade de se desculpar por isso com ternurinha logo depois, fazendo um morde e assopra no que tange às piadas.
Humor de verdade não tem que fazer concessões. Se tu quer fazer uma piada sobre crianças em cadeiras de rodas, vá em frente e faça, contanto que seja engraçada.
Anders falha aí. Em certos momentos o roteiro (do próprio Anders mais Brian Burns e John Morris) parece sentir a necessidade de fazer mais graça, uma piada mais pesada, um humor mais acessível, para logo em seguida retomar a trilha, e é justamente quando Pai em Dose Dupla falha.
Quando o foco se mantém na relação conflituosa dos dois adultos disputando de maneira absolutamente infantil seu lugar na família, as coisas andam nos eixos.
Além da divertida dinâmica entre Brad e Dusty, há de bom ainda as inserções de Thomas Haden Church no papel de Leo Holt, executivo da rádio onde Brad trabalha, sempre com uma ótima história/conselho repleto de profanidades e sem aplicação prática ou relação com o assunto onde ele os insere, e Hannibal Buress com Griff, o faz-tudo contratado, depois demitido e depois "adotado" por Brad por conta de uma guilty trip fomentada por Dusty.
As interações de Ferrell e Wahlberg, e dos dois com Haden Church e Buress são, de longe, o ponto alto de Pai em Dose Dupla, o momento em que o elenco (que ainda tem Bobby Cannavale, e pontas de John Cena e Alessandra Ambrósio) pode ir além das gags óbvias do roteiro e da direção de Anders, e é justamente esses momentos que fazem o longa valer a visita ao cinema.

"-Vai lá, amigão. Erga a sua cerca do amor."

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: A Grande Aposta


Na semana passada falei de Trumbo - Lista Negra, filme estrelado por Bryan Cranston e dirigido por Jay Roach. Me referi ao longa como um drama biográfico que tinha, em seu íntimo, uma insuspeita leveza designada tanto pela persona do biografado, quanto pela veia cômica de seu diretor, egresso de comédias.
Ora veja. Ontem assisti a A Grande Aposta, e, novamente, vi um filme potencialmente sério, onde havia um tema espinhoso sendo tratado de maneira leve, e até divertida, por um cineasta que tem comédias no currículo.
Adam McKay, o sujeito por trás dos dois O Âncora - A Lenda de Ron Burgundy (e sua sequência, no Brasil chamada Tudo Por Um Furo), Ricky Bobby - A Toda Velocidade, Quase Irmãos e Os Outros Caras (uma comédia que já brincava com o mau comportamento das grandes corporações financeiras dos EUA) foi quem adaptou o livro de Michael Lewis The Big Short: Inside The Doomsday Machine, sobre como a bolha imobiliária das hipotecas quase destruiu a economia dos EUA e por consequência do mundo entre 2007 e 2008.
No longa de McKay, acompanhamos três histórias paralelas e independentes sobre pessoas que anteviram a formação dessa bolha, e se movimentaram para lucrar com a irresponsabilidade dos grandes bancos dos Estados Unidos.
O primeiro, é Michael Burry (Christian Bale).
Burry é um médico com problemas de interação social que atribui a seu olho de vidro, resultado de uma doença na infância.
Se Burry tem problemas se relacionando com outras pessoas, sua capacidade analítica é coisa de Sherlock Holmes, e sua capacidade de esmiuçar números o tornou um bem sucedido administrador de fundo de investimentos à descoberto na Califórnia.
Em 2005, após se deparar com números assombrosos nas estruturas hipotecárias dos EUA nos últimos anos, Michael desenvolve um plano.
Ele tenciona criar uma espécie de seguro para títulos imobiliários, apostando contra eles. Michael aposta que a estrutura de hipotecas dos EUA, que os grandes bancos consideravam infalível, irá falhar.
Se ele estiver correto, ele ganha uma fortuna absurda, se estiver errado, ele paga uma fortuna em prêmios para os "segurados". Uma aposta de altíssimo risco em um mercado tido como o mais sólido do mercado financeiro desde a década de setenta.
A jogada de Burry chama a atenção de Jared Vennett (Ryan Gosling), um financista do Deutsche Bank que vê nas ações do ex-médico a possibilidade de fazer, ele próprio, uma pequena fortuna em comissões.
Jared passa a vender a ideia dos títulos de "short" hipotecários a possíveis interessados, mas dada a decantada solidez dos títulos, dá com a cara em uma porta após a outra. Isso muda quando ele encontra o fundo de investimento de Mark Baum (Steve Carell), um pessimista profeta do apocalipse financeiro de Wall Street, que, descrente no início, acaba percebendo o lastro das ideias de Burry após fazer, com sua equipe formada pelos analistas Danny Moses, Porter Collins e Vinnie Daniels (Rafe Spall, Hamish Linklater e Jeremy Strong) uma pequena e assustadora investigação no mercado imobiliário da Florida.
Ao mesmo tempo Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Wittrock), dois jovens financistas "baby", que trabalham com fundos à descoberto de garagem na ordem de "meros" trinta milhões de dólares, também esbarram com as teorias de Burry, e resolvem fazer dinheiro com elas. Entretanto, sem prestígio ou trânsito entre os grandes bancos, precisam apelar para Ben Rickert (Brad Pitt).
Rickert, vizinho de Shipley no Colorado, é um ex-papa dos investimentos que, enojado com o mundo do capital financeiro, passou a viver de maneira absolutamente sustentável, quase hippie, longe de toda a sujeira de Wall Street.
Resistente de início, Rickert acaba ajudando Charlie e Jamie a apostarem contra a economia norte-americana em nome do lucro.
O que nenhum dos jogadores antevia, era que o jogo no qual estavam embarcando era uma sombria sopa de corrupção, fraude, ganância e pura burrice, que envolvia os bancos, as maiores empresas de capital dos EUA, agências de risco e até mesmo ramos do governo federal norte-americano.
Como foi dito lá em cima. A Grande Aposta é uma comédia. E graças a Odin por isso. Nós já tivemos filmes sérios a respeito do tema, como o muito bom Grande Demais para Quebrar, mas a verdade é que A Grande Aposta se vale de sua própria leveza para garantir que o mote do filme, repleto de jargão financeiro e essencialmente trágico (milhões de pessoas perderam seus empregos e casas no mundo todo devido ao estouro da bolha imobiliária, ninguém foi punido, as regras financeiras do mercado dos EUA não mudaram uma vírgula, e as companhias que foram à bancarrota acabaram sendo resgatadas pelo governo dos EUA à custa do contribuinte, e seus CEOs continuaram nadando em rios de dinheiro de bonificações escandalosamente gordas.) consiga se manter um entretenimento atrativo, afinal, "A verdade é como poesia. E a maioria das pessoas odeia a porra da poesia.".
Brincando com a edição, com os personagens quebrando a quarta parede em momentos chave pra aliviar a tensão, usando um jogo de câmeras quase vertiginoso e até apelando para celebridades para ajudar a explicar os mecanismos mais obscuros do mercado financeiro (aparecem para ajudar nas explanações o chef Anthony Bourdain, a cantora Selena Gomez, o economista Richard Thaler, além da deliciosa Margot Robbie), Adam McKay mantém A Grande Aposta divertido durante toda a sua duração.
Contando com um elenco acima da média que ainda conta com Melissa Leo, Marisa Tomei, Max Greenfield e a gatinha Karen Gillian (destaque para Christian Bale, ótimo em um papel relativamente pequeno, e Steve Carell, equilibrando drama e comédia sem perder a mão), A Grande Aposta vai além de perucas e truques de edição para contar de maneira cômica uma história pessimista em seu âmago, amparada em atuações comprometidas e tendo como lastro fatos irrefutáveis.
Parabéns para McKay e seu co-roteirista Charles Randolph. Eles alcançaram um equilíbrio difícil de se ver no cinema de hoje em dia. Divertido e inteligente.
Assista no cinema. Vale demais o ingresso.

"-Eu não entendo... Por que eles estão confessando?
-Não estão confessando. Estão se gabando."

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: Trumbo - Lista Negra


Desde 2004, circula em Hollywood uma compilação dos melhores roteiros não filmados ao longo do ano. São histórias que os profissionais do cinema gostaram, mas que, por alguma razão, seja custo, dificuldade ou simplesmente o mercado, não se tornam filmes.
Essa galeria de grandes roteiros não filmados é chamada de Black List, ou, a Lista Negra.
O nome faz referência, entre outras coisas, à infame lista negra de roteiristas barrados em Hollywood durante a década de cinquenta quando, na aurora da Guerra Fria, os comunistas eram caçados como bruxas, e Hollywood estava na mira do Comitê Doméstico de Atividades Não-Americanas do congresso dos EUA.
Em Trumbo, nessa época, o próspero roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston) é um comunista vivendo nos EUA.
Trumbo foge do estereótipo comunista "tradicional". Uma contradição ambulante, o roteirista era homem de posses, conforme o lembra seu colega Arlen Hird (Louis CK.), um bon-vivant que ama seu trabalho e constantemente o realiza deitado em sua banheira enquanto bebe uísque fumando em uma estilosa piteira. Mora em uma ampla propriedade com um lago particular e participa de festas da alta sociedade. Ainda assim, ele toma parte em reuniões político-partidárias, piquetes de grevistas, e distribui panfletos sobre comunismo e liberdade de expressão em eventos de Hollywood, para desgosto da "Right Wing" de gente como John Wayne (David James Elliot) e (especialmente) a colunista Hedda Hopper (Helen Mirren), que chega a conseguir a demissão de Trumbo junto à MGM.
Não tarda para que as inclinações políticas do roteirista o coloquem, junto a vários de seus correligionários e colegas, na mira do congresso dos EUA.
Conclamando a primeira emenda da constituição norte-americana, ele se recusa a responder qualquer uma das perguntas que lhe são dirigidas durante seu interrogatório.
Trumbo sabe que o desacato ao congresso pode levá-lo à prisão, mas espera que, na Suprema Côrte, de maioria liberal, sua apelação o absolva. Não é o que acontece.
Com a substituição de dois dos juízes antes da audiência de Trumbo e seus colegas, a maioria liberal se perde, e o roteirista é encarcerado.
Após um breve período em uma prisão federal, Trumbo é libertado para descobrir que ser colocado na Lista Negra de Hollywood é particularmente complicado para aqueles que se recusam a renunciar a seus ideais políticos.
Jamais desmentindo suas ideologias, Trumbo não consegue trabalho.
Já que seu nome é amaldiçoado nos grandes estúdios, ele passa, então, a escrever roteiros descartáveis a baixos preços para produtores de filmes B, como os irmãos King (vividos por Stephen Root e um hilário John Goodman).
Empregando sua esposa, Cleo (Diane Lane), e seus filhos Christopher, Mitzi (Mattie Liptak, Becca Nocole Preston) e Nikki (Elle Fanning) como secretários, motoristas e entregadores, Trumbo produz roteiros de baixo custo em ritmo industrial para manter sua família, e não tarda para que ele traga vários de seus colegas ao esquema de pseudônimos, garantindo o trabalho para outros roteiristas da Lista.
Não bastasse a prolífica produção de lixo cinematográfico com alienígenas, gangsteres e piratas, Trumbo ainda acha tempo para escrever o roteiro de A Princesa e o Plebeu, repassado a seu amigo Ian McLellan Hunter (Alan Tudik), que ainda gozava de bom trânsito entre os estúdios, e que acabaria vencendo o Oscar de melhor roteiro em 1954, e, mais tarde, ele ainda escreveria Arenas Sangrentas, sob o pseudônimo de Robert Rich, e, adivinhe, ganharia outro Oscar de melhor roteiro em 1956, ambos prêmios que ele não pôde receber devido à exposição negativa junto à opinião pública.
Trumbo vislumbra uma possibilidade de sair do anonimato quando é procurado quase ao mesmo tempo por Kirk Douglas (Dean O'Gorman, o Fili da trilogia O Hobbit) para trabalhar no roteiro de Spartacus, e pelo diretor Otto Preminger (Cristian Berkel, de Operação Valkíria), para adaptar o romance Exodus em um filme a ser estrelado por Paul Newman.
Percebendo que ambos desejam o melhor de seu trabalho, Trumbo começa a fazer um joguete para que um dos dois aceite seu nome verdadeiro no poster do filme, o que colocaria fim à Lista Negra ao provar que mesmo escritores que estavam lá, seguiam trabalhando em Hollywood.
Ainda que classificado como um drama biográfico, e trilhando um caminho sombrio em meio à uma das páginas mais vergonhosas da história dos EUA, Trumbo é um filme leve.
Parte disso se deve à direção de Jay Roach. O cineasta é egresso de comédias como Entrando numa Fria e a série Austin Powers e ele consegue mesclar a seriedade de um filme com alma política (curiosamente seu único filme que não é uma comédia, é o longa Game Change, sobre os bastidores das eleições presidenciais americanas de 2008, tema que ele visitaria novamente na comédia rasgada Os Candidatos) à uma certa veia cômica inerente ao ego político, mas, se o background de Roach é metade da leveza de Trumbo, a outra metade é seu personagem central.
Trumbo é vivido com graça por Bryan Cranston, um ator que é acima da média até fazendo propaganda de pasta de dente.
Ele consegue manter o personagem central destacado sem jamais deixar o clima pesado demais por muito tempo. Mesmo seu momento mais problemático, quando ele se afasta da família em um frenesi workaholic regado a uísque e anfetaminas para garantir a entrada de dinheiro para si e seus pares, as eventuais explosões e destemperos logo encontram novamente uma faceta mais jovial, conciliatória e divertida de um homem que amava seu trabalho e a vida que levava.
Auxiliado por um ótimo elenco, destacando-se uma doce Diane Lane, uma energética Elle Fanning, além de um ótimo (e subestimado) Michael Stuhlbarg, vivendo Edward G. Robinson, icônico ator de Hollywood que, em um ato de auto-preservação, renunciou suas ideias políticas e delatou amigos ao congresso norte-americano, Cranston brilha justificando suas indicações ao Globo de Ouro, Oscar e outras premiações.
Obviamente, Trumbo - Lista Negra não passa sem falhas. O roteiro de John Macnamara, baseado na biografia de Trumbo por Bruce Cook deixa de mostrar momentos importantes da vida do protagonista, como o tempo em que ele viveu no México com sua família, ou o período em que, desiludido com o comunismo pelo mundo, renunciou à ideologia, momentos que são relegados à breves menções, além disso, eventualmente, o script coloca Trumbo em um pedestal de inocência absoluta como frequentemente ocorre com biografias.
Por sorte, a história é rica, divertida, pungente e bem atuada o suficiente para que esses pequenos deslizes passem despercebidos a qualquer um que não seja um membro do "Tea Party", e que entenda que, muito mais do que um filme pró-comunismo (não é o caso), ou pró-liberdade de expressão (também não é o caso, apesar de estar mais próximo da verdade), Trumbo é a história de um homem.
Um homem astuto, talentoso e teimoso, que lutou com as armas que tinha por aquilo que considerava certo.
A pena, nos final das contas, é mais forte que a espada.
Assista no cinema, vale a pena.

"-Você tem razão. Eu não estou disposto a perder tudo. Mas estou disposto a arriscar tudo em nome de um bem maior. Você percebe, aí está a diferença. Um radical vai lutar com a pureza de Jesus Cristo, e será derrotado. Um homem rico, vai lutar com a astúcia de satanás, e vencerá."

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Novo Trailer de Esquadrão Suicida

E saiu o noivo trailer de Esquadrão Suicida, filme que levará à telona o super-grupo formado por vilões que encaram missões com mínimas chances de sucesso em troca do perdão de seus crimes.
A prévia de pouco mais de dois minutos, embalada ao som de Bohemian Rhapsody, do Queen, apresenta novamente o conceito, unir os piores entre os piores e enviá-los em missões suicidas, e os personagens principais.
Confira:



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Mais empolgante do que a primeira prévia, que diga-se de passagem, também era muito boa, o segundo trailer deixa claro que apesar de Will Smith e Jared Leto interpretando o Pistoleiro e o Coringa respectivamente, é Margot Robbie e sua Arlequina que vai roubar a cena, com destaque, também, para o Capitão Bumerangue de Jay Courtney, que, pelo trailer, surge para ser um alívio cômico interessante.
Podemos ver, também, vislumbres rápidos do vilão do longa, a criatura cheia de tentáculos que destrói o trem por volta de um minuto e quarenta e sete.

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Escrito e dirigido por David Ayer, Esquadrão Suicida, que tem no elenco ainda Karen Fukuhara (Katana), Joel Kinnaman (Rick Flag), Jay Hernandez (El Diablo), Adam Beach (Amarra), Cara Delevingne (Magia), Adewale Akinnuoye-Agbaje (Crocodilo), Viola Davis (uma magra Amanda Waller) e Scott Eastwood.
O longa, rodado em Toronto, estréia em 5 de agosto.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: Creed - Nascido para Lutar


Lá se vão quarenta anos, desde 1976, quando fomos apresentados a Rocky Balboa, o boxeador fracassado da Filadélfia que tem a chance de uma vida ao ser convidado para lutar contra o campeão mundial dos pesados Apollo "Doutrinador" Creed (Isso é engraçado. O sobrenome de Apollo, é uma palavra em inglês que significa "credo", ou "doutrina", o que por um equívoco dos tradutores o transformou, nas versões dubladas do longa, em Apollo "Doutrinador", facilmente o melhor apelido que um lutador já recebeu).
De lá pra cá, Rocky subiria aos ringues novamente para enfrentar uma revanche contra Apollo (Carl Weathers), além de Clubber Lang (Mr. T), Ivan Drago (Dolph Lundgren), Tommy Gunn (Tommy Morrison) e Mason Dixon (Antonio Tarver), quando finalmente lutou o último round de sua vida e pendurou as luvas.
Rocky Balboa, filme de 2006 era um fecho digno e mais do que apropriado para a carreira do boxeador mais querido do cinema. Foi por isso que, quando ouvi as primeiras notícias a respeito de Creed, o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi "caça-niqueis".
A ideia, mostrar o filho de Apollo Creed, seguindo as pegadas do pai com Rocky como treinador não parecia lá muito promissora, e isso vindo de um sujeito que, após Rocky Balboa, disse que gostaria de ver um filme com um Rocky treinador e foi apedrejado no antigo Orkut.
De qualquer forma, o filme aconteceu. O diretor Ryan Coogler e seu co-roteirista Aaron Covington criaram, juntos, a história de Adonis Johnson (Michael B. Jordan).
Estamos em 1998.
Adonis é um jovem problemático e briguento que, após a morte da mãe, passa por orfanatos e famílias adotivas sem parar em parte alguma devido ao seu temperamento.
Eventualmente, Adonis é encontrado por Mary Anne Creed (Philicia Rashad), que lhe conta que, a despeito do que ele imaginava, ele tem um pai.
Adonis é filho de Apollo Creed, que morreu antes do nascimento do rapaz. Mary Ann adota o menino, e o leva pra casa.
Corta para o presente.
Em Tijuana, no México, Adonis se prepara para enfrentar um boxeador. Ele vence a luta com certa facilidade, e coleta a premiação. Doze horas mais tarde, ele está em Los Angeles, de paletó e gravata, em seu emprego numa companhia que acaba de lhe oferecer uma promoção. E se demite.
Adonis cede ao desejo de seguir os passos do pai, o que pode ser particularmente difícil quando se cresceu cercado de privilégios e se anda à sombra de Apollo. Incapaz de encontrar um treinador em Los Angeles, Adonis parte, à revelia da vontade de Mary Anne, para a Filadélfia.
Lá, ele procura por Rocky Balboa (Stallone, vencedor do Globo de Ouro), e lhe pede que o Garanhão Italiano seja seu treinador.
Rocky recusa. Mas Adonis persiste. Ele aluga um apartamento e passa a treinar no antigo ginásio de Mickey Goldmill, sob a supervisão algo distante de Pete Sporino (Ritchie Coster).
Adonis continua treinando, continua assediando Rocky para que o treine, e eventualmente conhece sua vizinha do andar de baixo, Bianca (Tessa Thompson). Uma jovem cantora que sofre de uma doença degenerativa que a faz gradualmente perder a audição.
Eventualmente, Adonis vence a resistência de Rocky, e conforme o velho boxeador se torna o mentor do jovem, surge uma oportunidade para enfrentar o campeão mundial "Pretty" Ricky Conlan (o boxeador de verdade Tony Bellew).
Creed - Nascido para Lutar é extremamente eficiente ao revisitar a cartilha da série Rocky usando os expedientes obrigatórios de sua mitologia enquanto brinca com distorções daqui e dali.
Se o alicerce do longa é o mesmo do filme de 76 (e, praticamente de todas as sequências), Coogler e Covington sucedem em acrescentar elementos que o diferenciem o suficiente para que ele se sustente sozinho.
Ao invés do proletário pobretão que vê no boxe sua única saída, e que não encontra respeito em parte alguma exceto no ringue, temos um jovem privilegiado que poderia ser respeitável, mas precisa, em seu íntimo, do respeito do ringue, que ele ainda não fez por merecer, e sua busca por ele.
O diretor e o roteirista sabem que história desejam contar, e contam com um ótimo Michael B. Jordan, uma doce Tessa Thompson, uma enérgica Philicia Rashad, e, acreditem, um soberbo Sylvester Stallone.
Sob a direção de Coogler, o astro de Os Mercenários mostra que mesmo com a cara paralisada de tanta cirurgia plástica, ainda tem cartuchos pra queimar.
Creed acerta a mão tanto na hora de fazer comédia brincando com a tradicional faceta simplória de Rocky (a cena da nuvem é muito engraçada). Seja encarnando o tiozão italiano que acorda dançando às cinco da madrugada, seja na hora de fazer drama (a cena em que ele recebe uma má notícia, e reage a ela lentamente tirando seu chapéu, ou o discurso subsequente que ele faz, onde, naturalmente, sem arroubos, seus olhos transbordam enquanto ele dimensiona perdas, são lindas.), o filme funciona. E eu, que cresci assistindo aos outros seis filmes da série Rocky, pela primeira vez derramei lágrimas junto com o filho preferido da Filadélfia.
Muito da grande atuação de Sly se deve, claro, a Ryan Coogler.
O diretor de Fruitvale Station sabe montar uma cena, construir uma atmosfera, e dirigir seu elenco.
Suas cenas são bem filmadas, deixando os atores frente a frente, fazendo a audiência se sentir, de fato, bisbilhotando uma conversa alheia. Isso fica claro nas cenas envolvendo Donnie (como Adonis se apresenta) e Bianca. Repletas de uma qualidade casta e doce tremendamente honesta.
Na hora do arroubo, porém, o diretor não se esconde. Suas lutas frequentemente são precedidas por telas congeladas onde o cartel dos competidores surge escrito na tela, e quando o pau canta, a câmera está dentro do ringue, por vezes tão próxima da ação, que perdemos os lutadores em uma esquiva mais exaltada, e onde socos deixam cortes instantâneos que imediatamente começam a sangrar.
Até mesmo as (obrigatórias) montagens de treinamento são mais divertidas sob a ótica de Coogler, que dá a Adonis Creed tanto sua cena da corrida pelas ruas de south Philly, aqui ganhando seu próprio arranjo em Gonna Fly Now enquanto a câmera se torna progressivamente mais lenta e Adonis corre cercado por motocicletas sob o sorriso de Rocky em uma janela próxima (sacou o lance da construção de cenas?) quanto a cena da subida das escadarias do museu da Filadélfia, transformado em outro momento intimista de trazer lágrimas aos olhos.
Assinando uma linda e assumida carta de amor à série Rocky, Ryan Coogler, Michael B. Jordan e Sylvester Stallone mostram que mesmo a mais batida e re-re-repetida das imagens pode ganhar uma nova roupagem, e ainda emocionar.
Creed - Nascido para Lutar, é um filme empolgante, divertido, emocionante e lindo, e merece a deferência da visita ao cinema.
Obrigatório para fãs da série e de bons filmes.

"Um passo, um soco, um round por vez."

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: Steve Jobs


Jobs, filme de 2013 estrelado por Ashton Kutcher, é uma das piores cinebiografias que eu assisti em tela grande na minha vida, pegando parelho com as "biopics" chapa-branca que quase todo o ano aparecem no cinema nacional endeusando alguma personalidade como se o biografado fosse perfeito, magnânimo e glorioso além da mortalidade. O filme de Joshua Michael Stern parecia um capítulo da Bíblia da Igreja de Jobs funcionando como veículo para Kutcher, produtor do filme, tentar se provar como ator sério, e obviamente, não funcionou.
O longa era chato, aborrecido, equivocado e o protagonista simplesmente não tinha bala na agulha pra retratar o biografado.
O grande trabalho feito pelo filme Jobs, foi deixar a audiência interessada no que seria conhecido por algum tempo como "a outra biografia".
O longa que adaptaria a biografia oficial de Steve Jobs escrita por Walter Isaacson teria roteiro de Aaron Sorkin (A Rede Social) e, inicialmente, direção de David Fincher.
Fincher, inclusive, teria pedido ao estúdio que conseguisse Christian Bale para protagonizar o longa, no que se avizinhava como um dream team para levar Jobs à telona com a pompa e circunstância merecidas.
Eventualmente, as exigências de controle de marketing e alto salário de Fincher o levaram a deixar a produção, que ficou com Danny Boyle.
O diretor de Quem Quer Ser um Milionário queria Leonardo DiCaprio para o papel, mas o astro preferiu gravar O Regresso com Alejandro Gonzales Iñarritu, e após flertar com Matt Damon e Bradley Cooper, Boyle e o estúdio fecharam com Michael Fassbender, um ótimo ator que não se parece em absolutamente nada com o verdadeiro Steve Jobs (ao contrário, por exemplo, de Ashton Kutcher, que era a cara do CEO da Apple, e de Christian Bale que provavelmente faria até uma cirurgia plástica para se parecer com o biografado...).
Após assistir ao filme, fica fácil dizer que a falta de semelhança física não fez absolutamente nenhuma falta para Fassbender.
O ator de Doze Anos de Escravidão e Macbeth toma o papel para si e o devora com contida voracidade.
Ao contrário do modelo berço ao túmulo usado por Matt Whiteley para o longa de 2013, Aaron Sorkin escreveu uma história em três atos, cada um passado nos bastidores do lançamento de um produto da Apple ao longo de 14 anos.
O primeiro, o lançamento do Macintosh, em 1984, mostra a minúcia com que Jobs gerenciava cada mínimo aspecto de suas criações.
Da cor da camisa que usaria, que deveria combinar com a cor do console Macintosh, dos disquetes e da sua própria (O disquete é azul, o Macintosh é bege, eu sou bege, a camisa precisa ser branca) à tentativa de desligar as luzes de saída para criar a atmosfera ideal de mistério dentro do auditório, Jobs queria ter controle total sobre o ambiente.
A mesma busca desesperada por controle e perfeição se repete em 1988, durante a apresentação de sua nova companhia, NeXT, e seu cubo que precisa ser perfeito o suficiente para estar no Guggenheim, e em 1998, para a apresentação do IMac.
Nas três apresentações, porém, a busca por controle de Jobs é desafiada pela presença de pessoas que faziam parte de sua vida, e que, de uma maneira ou de outra, tinham poder para tirá-lo de seu mundo particular.
Em 1984 é a ex-namorada Chrisann (Katherine Waterston) e a filha de cinco anos Lisa (Makenzie Moss) que Steve se recusa a reconhecer como sua, fazendo exigências financeiras enquanto o programador Andy Hertzfeld (Michael Stuhlbarg) luta contra o relógio para fazer o Macintosh dizer "Olá" sob as ameaças abertas do chefe e Steve Wozniak (um comedido Seth Rogen, fazendo um ótimo trabalho), pede que Jobs reconheça o trabalho da equipe responsável pelo Apple II, grande sucesso comercial da empresa.
Em 88, enquanto se prepara para lançar um "dicionário falante de treze mil dólares" sem sistema operacional, Steve novamente precisa lidar com Lisa (agora interpretada por Ripley Sobo) e Woz, com quem trocara farpas publicamente pela imprensa, e com John Sculley (Jeff Daniels), seu ex-CEO, e figura paterna que caiu em desgraça após demitir Jobs da Apple, e finalmente em 1998, quando, devolvido à presidência da Apple, se prepara para apresentar o IMac, e lida com Lisa (dessa vez vivida por Perla Haney-Jardine) e sua matrícula na universidade, Woz, novamente clamando reconhecimento para a equipe do Apple II, revelações a respeito do desgosto de alguns associados, e reconciliações, sempre amparado por sua fiel escudeira Joanna Hoffman (Kate Winslet, sempre excelente).
É fácil imaginar que Steve Jobs poderia ser um filme chato. Praticamente todo rodado em interiores, dividido em três atos relativamente curtos onde a ação se resume a andar e falar, o longa não é exatamente um tipo excitante de filme, porém, a direção de Danny Boyle e a edição de Bernard Bellew garantem que absolutamente nada em Steve Jobs seja aborrecido. Toda a vez que uma conversa recheada de jargão tecnológico começa a se alongar, um fragmento do passado surge na tela na forma de um flashback, constantemente sobrepondo-se à ação que acompanhávamos, dando-lhe uma nova nuance. A fotografia de Alwin Kuchler é esperta, e enche os corredores e bastidores com movimento e vida ao situar sequências inteiras diante de telões invertidos, ou criar atmosferas de tensão com o burburinho e os flashes de multidões indo ao delírio diante de um novo produto.
Os diálogos de Aaron Sorkin que transformaram Jesse Eisenberg em um Exterminador do Futuro verborrágico em A Rede Social estão aqui, na boca de um grupo de personagens menos monocórdicos e sarcásticos, e com atores que sabem o que estão fazendo.
Fassbender esmerilha como Steve Jobs, deixando claro que não está interessado em interpretar um messias tecnológico, mas sim um homem "mal construído" e repleto de falhas de caráter e personalidade, mas ainda assim, incansável, direcionado e magnético.
Kate Winslet está ótima como a voz da razão de Jobs, oferecendo um pouco de coração e consciência ao Darth Vader corporativo que é todo cérebro.
Além deles, e do já mencionado Seth Rogen, Michael Stuhlbarg manda bem em seu tempo de tela, e Jeff Daniels não fica devendo nada a Fassbender ou Winslet mesmo funcionando em uma nota absolutamente diferente.
Ao retratar um homem brilhante, sem tentar elevá-lo a um pedestal, nem tentar redimi-lo de suas falhas, mantedo-o fascinante, Boyle, Sorkin e Fassbender alcançaram um tremendo triunfo, e deram uma aula de cinebiografia que deveria ser seguida com mais frequência.
Assista no cinema, vale demais a pena.

"-Computadores não deveriam ter falhas humanas. Eu não vou estragar esse dando-lhe as suas."

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Rapidinhas do Capita


Parece que eu conduzo uma coluna funerária, mas enfim, semaninha de merda. Depois do ícone do rock, David Bowie, um dos meus atores favoritos.
Alan Rickman, ator londrino de 69 anos, morreu vítima de câncer. A morte foi confirmada pela família do ator ao jornal inglês The Guardian.
Alan Sidney Patrick Rickman, nascido em Acton, oeste de Londres a 21 de fevereiro de 1946 era um habitual vilão em filmes de Hollywood, entre seus papéis mais icônicos de antagonista estão o clássico absoluto Hans Grüber em Duro de Matar, de 1989 e sua excelente encarnação do xerife de Nottingham em Robin Hood, de 1991.
Seu papel mais famoso certamente foi o professor Severo Snape, da série Harry Potter, mas além disso ele foi o anjo Metatron em Dogma, o dublê de Spock, Dr. Lazarus em Heróis Fora de Órbita, além de papéis de destaque em Simplesmente Amor, Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, O Mordomo da Casa Branca, CBGB - O Berço do Punk Rock, entre outros.

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Dono de uma voz profunda e facilmente reconhecível, Rickman também trabalhou diversas vezes como dublador e narrador.
Uma de suas dublagens mais maneiras é a do robô deprimido Marvin em O Guia do Mochileiro da Galáxia, a Lagarta de Alice no País das Maravilhas, além de Mamãe Virei um Peixe além dos curtas Sonnet Number 12 e Boy in the Bubble.
É justamente uma dublagem o único trabalho póstumo do ator, que será novamente a voz da Lagarta em Alice Através do Espelho, que estréia esse ano.

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Rickman também era um diretor, com dois trabalhos de cinema no currículo, o recente Um Pouco de Caos, estrelado por Kate Winslet, e o longa Momento de Afeto, com Emma Thompson, de 1997, indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza.
Em 97, aliás, Rickman venceu o Globo de Ouro de Melhor Ator em Filme para a TV com o longa Rasputin, papel que também lhe rendeu o Emmy e o SAG.
Rickman também venceu o BAFTA, equivalente inglês do Oscar, por sua atuação em Robin Hood.
Que descanse em paz.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Rapidinhas do Capita


Deu-se, nessa madrugada, a passagem de David Bowie. Um dos maiores ícones do rock em todos os tempos, o britânico de 69 anos de idade morreu após lutar dezoito meses contra um câncer.
Nascido em 8 de janeiro de 1947, em Brixton, bairro popular de Londres, alcançaria o sucesso em 1969 com a legendária balada Space Oddity, que contava a história do astronauta major Tom, que se perdia no espaço.
O camaleão do rock se despede da vida após uma longeva carreira que incluiu filmes, séries de TV, teatro, e culminou com o álbum Blackstar, lançado há apenas quatro dias e deixando claro que Bowie ainda manjava muito do riscado.
O homem das mil faces, por trás de hits absolutos como Heores e Starman, se despede da vida para se tornar uma lenda.
Boa viagem de volta às estrelas.

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E por falar em coroas que manjam do riscado, ontem, no Globo de Ouro, Sylvester Stallone, também 69 anos, foi agraciado com a estatueta de melhor ator coadjuvante por Creed - Nascido para Lutar, que estréia no Brasil no final de semana.
No longa, Stallone interpreta Rocky Balboa, personagem que já havia vivido em seis outras oportunidades, e que lhe rendera sua última, e até então única, indicação ao prêmio.

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Outro veterano que também ganhou um prêmio inédito foi Ennio Morricone. O Mozart das trilhas sonoras de faroestes espaghetti venceu seu segundo Globo de Ouro (ao contrário do que disse o empolgadíssimo Quentin Tarantino, Morricone venceu o prêmio em 1987, pela trilha de A Missão e em 2000 pela trilha de La Leggenda del Pianista Sull'oceano).
De qualquer forma, aos 87 anos de idade, Morricone mostra que ainda domina a rte de fazer belas partituras.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: Spotlight - Segredos Revelados


A imensa maioria das pessoas deixou de ler jornais. Nós, que eventualmente o fazemos, somos uma minoria. Claro, o fato de os jornais impressos no Rio Grande do Sul, e no Brasil em geral hoje, serem coloridos embrulhos de peixe não ajuda.
Mas a verdade é que dois outros fatores são primordiais para esculhambar o mundo dos jornais impressos:
Primeiro, há o rádio, a TV, a internet, onde a notícia é atualizada minuto a minuto em diversos veículos, todos geradores de informação muito mais rápidos do que o jornal deixado na porta pela manhã...
Segundo, cada nova geração lê menos do que a anterior. Livros, revistas, jornais, até legendas de filmes... Os mais jovens não gostam de ler. Já ouvi gente dizendo, com orgulho, que estava lendo As Crônicas do Gelo e Fogo, mas lia um capítulo por mês.
Um mês foi o tempo que levei pra ver A Fúria dos Reis, A Tormenta de Espadas e O Festim dos Corvos, e olha que conheço gente que lê mais e mais rápido do que eu...
Considerando esses dois fatores, mais a quantidade crescente de apedeutas à cada nova geração e a glamourização da ignorância no nosso país e no mundo, não chega a ser surpreendente que a imprensa escrita esteja respirando por aparelhos.
O que é uma pena.
Nós podemos ver em Spotlight - Segredos Revelados, o quanto a imprensa escrita pode ser decisiva de diversas formas e em diversas situações.
O longa de Tom McCarthy (do excelente O Visitante) mostra a equipe Spotlight do Boston Globe, uma equipe de três jornalistas sob o comando do editor Walter "Robby" Robinson que trabalham em matérias investigativas mais esmiuçadas para o jornal.
Quando o novo editor-chefe Marty Baron (Liev Schreiber) chega ao Globe, ele resolve pedir que a equipe Spotlight coloque uma matéria sobre policiais corruptos na geladeira, e se concentre em um caso de abuso sexual contra crianças envolvendo um padre.
Se inicialmente Robby e o chefe de redação Ben Bradlee Jr. (John Slattery) não parecem muito seguros com relação à história, não tarda para que Baron os convença a lançar um olhar mais aprofundado sobre o caso, e os repórteres Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sasha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matty Carroll (Brian D'arcy James) comecem a cavocar em volta das alegações de que um certo padre Geoghan teria molestado diversas crianças, e que o arcebispo de Boston, o cardeal Law, teria conhecimento do comportamento do religioso em questão há anos, mas preferia abafar o caso.
Mas Baron não quer apenas o caso de um padre pedófilo. Ele não entra na conversa de 'uma maçã podre". Baron quer que o Globe exponha um sistema de acobertamento institucionalizado, e pra isso, a equipe Spotlight precisa trabalhar muito, investigando profundamente uma poderosa instituição afeita a segredos em uma cidade predominantemente católica (mesmo os repórteres da equipe têm criação apostólica romana, o que os faz se dirigir à instituição apenas como "a igreja".).
Enquanto passam meses construindo a matéria, os repórteres são expostos aos danos causados nas vítimas, ao sistema de acobertamento criado pela igreja e que se entranha no governo e no sistema judicial em uma série de descobertas que revelam que o trauma dos abusos se estende além das vítimas, entranhando-se em todos os católicos que, horrorizados, questionam a própria fé ao descobrirem as atrocidades que a instituição é capaz de cometer.
Excelente filme.
O diretor e co-roteirista (ao lado de Josh Singer) Tom McCarthy faz um ótimo trabalho, ele e sua equipe, criam uma Boston extremamente palpável, com muito mais cara de cidade de verdade do que a Boston que geralmente vemos em longas sobre tiras corruptos e mafiosos na cidade.
Mais do que isso, ele dá aos personagens vidas além do trabalho, mesmo deixando claro que eles passam mais tempo trabalhando juntos do que com suas famílias.
Ainda assim, sabemos que a personagem de Rachel McAdams é casada com um sujeito compreensivo, que entende a importância do trabalho dela. Que ela visita muito a avó, com quem vai à missa uma vez por semana. Sabemos que Mike Rezendes tem um casamento problemático indo pro vinagre, que Matt é um sujeito de família, e que Robby gosta de apostar com seus amigos.
Os personagens são muito bem erigidos, todos parecem pessoas de verdade que conhecem seus ofícios. Quando Baron lê um tratamento de matéria circulando palavras com a caneta, isso é um jornalista. Quando Matty cola um adesivo na geladeira pedindo que seus filhos se afastem de determinada casa da sua rua, isso é um pai.
Liev Schreiber está ótimo, por sinal. Sua atuação é extremamente contida, exalando um profissionalismo jornalístico tão autêntico que a qualidade de seu trabalho pode passar despercebida.
Mark Ruffalo é outro destaque. Conforme havia feito em Foxcatcher, quando roubava todas as suas cenas, o dr. Banner/Hulk de Os Vingadores tem outra atuação particularmente acima da média. Ele demonstra o quanto a história afeta Mike Rezendes indo de uma empolgação quase juvenil com a possibilidade de investigar a história no início do filme, a angústia e amargura enquanto acompanha, de longe, crianças cantando Noite Feliz no altar da igreja durante a missa de Natal.
Outro tremendo ladrão de cenas é Stanley Tucci. O ator que interpreta o advogado Mitchell Garabedian, representante de várias vítimas que se opõe ao personagem de Billy Crudup, está ótimo, mas não apenas eles. Michael Keaton manda muito bem, e é bom vê-lo fazer um bom filme após todo o incenso do superestimado Birdman. A gracinha Rachel McAdams também segura a peteca, e John Slattery está muito bem.
Contando, de maneira esperta, comedida, visceral, por vezes empolgante ou repelente uma história espinhosa sobre quebra de confiança e a perda da fé, Spotlight é um baita de um filme, com parte técnica e artística acima da média, e vale demais a ida ao cinema.
Assista.

"Nós temos duas histórias aqui: A história sobre a degeneração do clero, e a história sobre um bando de advogados que transformaram abuso infantil em uma indústria rentável. Qual história você quer que escrevamos? Porque nós vamos escrever uma delas."

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: Os Oito Odiados


Começou 2016, gurizada, e nada melhor pra começar um ano novo do que uma boa ida ao cinema.
Foi o que fiz ontem, quando fui ver o novo trabalho de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados (que no original são "odiosos", o que, aliás, faz mais sentido para com a história).
O oitavo filme do diretor de Pulp Fiction, Cães de Aluguel e Bastardos Inglórios, que colocou os fãs do cineasta em contagem regressiva, já que ele prometeu que vai se aposentar da carreira de diretor com seu décimo longa metragem, é, a exemplo de Django Livre, um faroeste.
No longa, passado em um período indistinto de tempo após a guerra civil norte-americana, encontramos uma diligência cortando a paisagem nevada do Wyoming. O condutor, O.B. Jackson (James Parks) é parado na estrada pelo caçador de recompensas major Marquis Warren (Samuel L. Jackson).
Warren perdeu seu cavalo por conta da intempérie e está preso na neve com três cadáveres, ou, oito mil dólares em recompensas. Sua única esperança de não congelar até a morte é conseguir uma carona até a cidade de Red Rock, mas para isso, ele deverá receber a permissão do contratante da diligência:
John "O Enforcador" Ruth (Kurt Russell).
John está levando sua própria recompensa, a assassina Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que, sozinha, vale dez mil dólares. Após um breve impasse, Huth permite que Warren se junte a eles e siga viagem. As surpresas no caminho, porém, não acabam por aí.
Após uma pequena altercação a respeito de uma carta, Ruth, Warren, Domergue e OB. são interpelados por outro viajante que perdeu seu cavalo.
Ele é Chris Mannix (Walton Goggins), um ex-militar confederado a quem tanto Ruth como Warren odeiam, e que clama ser o novo xerife de Red Rock.
Com uma violenta nevasca em seu encalço, o grupo sabe que não será capaz de chegar a Red Rock antes que a tormenta os engolfe. Eles rumam, então, para o armarinho da Minnie, uma pequena cabana onde terão abrigo e comida por um dia ou dois antes de concluir sua viagem.
Ao chegar lá, mais surpresas.
Minnie e seu marido não estão no lugar. Ao invés deles, um mexicano chamado Bob (Demián Bichir) está tomando conta do lugar porque Minnie precisou visitar a mãe.
Hospedados no armarinho estão Oswaldo Mobray (Tim Roth, em modo Christoph Waltz), um afetado inglês rumando para Little Rock para desempenhar o papel de carrasco em um vindouro enforcamento, o general confederado Sandy Smithers (Bruce Dern) e o vaqueiro Joe Gage (Michael Madsen).
Assim que chegam ao armarinho, a tensão e a desconfiança começam a tomar forma. Enquanto Warren não acredita que Minnie deixaria seu ganha-pão nas mãos de Bob, Ruth tem certeza absoluta de que um dos hóspedes é um comparsa de Daisy. Não bastasse isso, há ainda os ressentimentos de guerra entre Smithers e Mannix e Warren, de modo que, conforme a noite avança, e o Armarinho da Minnie é engolido pela nevasca, a tensão e a desconfiança entre essas pessoas cresce num ritmo alarmante, num festim de falatório regado à tortura, estupro, pólvora, balas e litros de sangue.
É Tarantino em estado puro, seguro, consciente do que deseja mostrar e da história que quer contar, mas não é Tarantino em seu melhor.
Os Oito Odiados é um ótimo filme. Tem uma estética belíssima, boa edição, a tradicional divisão em capítulos, trilha sonora orquestrada de Ennio Morricone, o Beethoven das trilhas sonoras em geral (John Williams que me desculpe, mas o tema principal de Os Intocáveis ainda é a mais bela trilha sonora que eu já ouvi em um filme), dos westerns em particular, do bom elenco (que ainda conta com a feia-atraente Zoe Bell e Channing Tatum), mas algumas coisas simplesmente não são tão boas quanto em outros trabalhos do cineasta.
O binômio falatório/violência que é a marca registrada do diretor está presente em cada milímetro do filme, infelizmente os diálogos não são tão bons quanto foram em outros longas. A violência, por sua vez, parece, vez que outra, deslocada.
Daisy Domergue, a personagem de Jennifer Jason Leigh é espancada o tempo inteiro por John Ruth, e eventualmente por Warren, também. Socos na cara, no estômago, cotoveladas e chutes estão no indigesto cardápio de agressões que a personagem sofre.
Tudo bem, os personagens, conforme sugere o título original, são odiosos, mesmo (e não odiados...), mas há um certo limite para misoginia, e olha que eu sou a pessoa menos politicamente correta que eu conheço, e por vezes defendi Tarantino de acusações desse tipo em rodas de amigos.
O roteiro usa e abusa de expedientes tradicionais da filmografia tarantinesca, os insultos, os palavrões e as ofensas raciais (casualmente, talvez por estar muito frio, Daisy Domergue não chega a aparecer descalça) para falar a respeito de justiça da fronteira, capitalismo, política e a Guerra de Secessão mas, ao contrário do que aconteceu em filmes anteriores, esses longos diálogos parecem menos estar ali para nos dar vislumbres mais aproximados dos personagens do que para justificar o próximo banho de sangue.
Não me entenda errado, sou um fã antigo de Tarantino, e sei admirar um bom banho de sangue, mas após tanta celeuma a respeito de Os Oito Odiados, com a ameaça de Tarantino de não realizar o longa após o vazamento do roteiro e tudo mais, eu confesso que esperava um pouco mais.
A despeito de tiradas muito boas, momentos genuinamente tensos e um trabalho de atuação acima da média de Jennifer Jason Leigh, Samuel L. Jackson e um surpreendente Walton Goggins, Os Oito Odiados é um filme muito bom, mas menor do que a pompa do que "O Oitavo Filme de Quentin Tarantino" sugeria.
Ainda assim, estamos em contagem regressiva, faltam só dois, e Tarantino ainda é um cineasta que merece a deferência da ida ao cinema.
Certamente vale o ingresso.

"Quando o cartaz de procura-se diz 'vivo ou morto', o resto de nós te dá um tiro nas costas de algum lugar alto e te traz morto em cima de uma sela. Mas quando John Ruth , o Enforcador te pega... Você é enforcado."