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sábado, 9 de janeiro de 2016

Resenha Cinema: Spotlight - Segredos Revelados


A imensa maioria das pessoas deixou de ler jornais. Nós, que eventualmente o fazemos, somos uma minoria. Claro, o fato de os jornais impressos no Rio Grande do Sul, e no Brasil em geral hoje, serem coloridos embrulhos de peixe não ajuda.
Mas a verdade é que dois outros fatores são primordiais para esculhambar o mundo dos jornais impressos:
Primeiro, há o rádio, a TV, a internet, onde a notícia é atualizada minuto a minuto em diversos veículos, todos geradores de informação muito mais rápidos do que o jornal deixado na porta pela manhã...
Segundo, cada nova geração lê menos do que a anterior. Livros, revistas, jornais, até legendas de filmes... Os mais jovens não gostam de ler. Já ouvi gente dizendo, com orgulho, que estava lendo As Crônicas do Gelo e Fogo, mas lia um capítulo por mês.
Um mês foi o tempo que levei pra ver A Fúria dos Reis, A Tormenta de Espadas e O Festim dos Corvos, e olha que conheço gente que lê mais e mais rápido do que eu...
Considerando esses dois fatores, mais a quantidade crescente de apedeutas à cada nova geração e a glamourização da ignorância no nosso país e no mundo, não chega a ser surpreendente que a imprensa escrita esteja respirando por aparelhos.
O que é uma pena.
Nós podemos ver em Spotlight - Segredos Revelados, o quanto a imprensa escrita pode ser decisiva de diversas formas e em diversas situações.
O longa de Tom McCarthy (do excelente O Visitante) mostra a equipe Spotlight do Boston Globe, uma equipe de três jornalistas sob o comando do editor Walter "Robby" Robinson que trabalham em matérias investigativas mais esmiuçadas para o jornal.
Quando o novo editor-chefe Marty Baron (Liev Schreiber) chega ao Globe, ele resolve pedir que a equipe Spotlight coloque uma matéria sobre policiais corruptos na geladeira, e se concentre em um caso de abuso sexual contra crianças envolvendo um padre.
Se inicialmente Robby e o chefe de redação Ben Bradlee Jr. (John Slattery) não parecem muito seguros com relação à história, não tarda para que Baron os convença a lançar um olhar mais aprofundado sobre o caso, e os repórteres Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sasha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matty Carroll (Brian D'arcy James) comecem a cavocar em volta das alegações de que um certo padre Geoghan teria molestado diversas crianças, e que o arcebispo de Boston, o cardeal Law, teria conhecimento do comportamento do religioso em questão há anos, mas preferia abafar o caso.
Mas Baron não quer apenas o caso de um padre pedófilo. Ele não entra na conversa de 'uma maçã podre". Baron quer que o Globe exponha um sistema de acobertamento institucionalizado, e pra isso, a equipe Spotlight precisa trabalhar muito, investigando profundamente uma poderosa instituição afeita a segredos em uma cidade predominantemente católica (mesmo os repórteres da equipe têm criação apostólica romana, o que os faz se dirigir à instituição apenas como "a igreja".).
Enquanto passam meses construindo a matéria, os repórteres são expostos aos danos causados nas vítimas, ao sistema de acobertamento criado pela igreja e que se entranha no governo e no sistema judicial em uma série de descobertas que revelam que o trauma dos abusos se estende além das vítimas, entranhando-se em todos os católicos que, horrorizados, questionam a própria fé ao descobrirem as atrocidades que a instituição é capaz de cometer.
Excelente filme.
O diretor e co-roteirista (ao lado de Josh Singer) Tom McCarthy faz um ótimo trabalho, ele e sua equipe, criam uma Boston extremamente palpável, com muito mais cara de cidade de verdade do que a Boston que geralmente vemos em longas sobre tiras corruptos e mafiosos na cidade.
Mais do que isso, ele dá aos personagens vidas além do trabalho, mesmo deixando claro que eles passam mais tempo trabalhando juntos do que com suas famílias.
Ainda assim, sabemos que a personagem de Rachel McAdams é casada com um sujeito compreensivo, que entende a importância do trabalho dela. Que ela visita muito a avó, com quem vai à missa uma vez por semana. Sabemos que Mike Rezendes tem um casamento problemático indo pro vinagre, que Matt é um sujeito de família, e que Robby gosta de apostar com seus amigos.
Os personagens são muito bem erigidos, todos parecem pessoas de verdade que conhecem seus ofícios. Quando Baron lê um tratamento de matéria circulando palavras com a caneta, isso é um jornalista. Quando Matty cola um adesivo na geladeira pedindo que seus filhos se afastem de determinada casa da sua rua, isso é um pai.
Liev Schreiber está ótimo, por sinal. Sua atuação é extremamente contida, exalando um profissionalismo jornalístico tão autêntico que a qualidade de seu trabalho pode passar despercebida.
Mark Ruffalo é outro destaque. Conforme havia feito em Foxcatcher, quando roubava todas as suas cenas, o dr. Banner/Hulk de Os Vingadores tem outra atuação particularmente acima da média. Ele demonstra o quanto a história afeta Mike Rezendes indo de uma empolgação quase juvenil com a possibilidade de investigar a história no início do filme, a angústia e amargura enquanto acompanha, de longe, crianças cantando Noite Feliz no altar da igreja durante a missa de Natal.
Outro tremendo ladrão de cenas é Stanley Tucci. O ator que interpreta o advogado Mitchell Garabedian, representante de várias vítimas que se opõe ao personagem de Billy Crudup, está ótimo, mas não apenas eles. Michael Keaton manda muito bem, e é bom vê-lo fazer um bom filme após todo o incenso do superestimado Birdman. A gracinha Rachel McAdams também segura a peteca, e John Slattery está muito bem.
Contando, de maneira esperta, comedida, visceral, por vezes empolgante ou repelente uma história espinhosa sobre quebra de confiança e a perda da fé, Spotlight é um baita de um filme, com parte técnica e artística acima da média, e vale demais a ida ao cinema.
Assista.

"Nós temos duas histórias aqui: A história sobre a degeneração do clero, e a história sobre um bando de advogados que transformaram abuso infantil em uma indústria rentável. Qual história você quer que escrevamos? Porque nós vamos escrever uma delas."

Um comentário:

  1. Adorei esse filem. O Spotlight filme é um filme muito bom, onde os atores fazem um ótimo trabalho os atores trazem seus personagens a uma interpretação real e convincente, por exemplo, podemos ver Liev Schreiber jogando um editor recém-nomeado que vimos anteriormente em a série Ray Donovan obras de limpeza cenas de crime. Uma grande performance neste filme e, claro, um grande trabalho na série.

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