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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Resenha Cinema: Os Oito Odiados
Começou 2016, gurizada, e nada melhor pra começar um ano novo do que uma boa ida ao cinema.
Foi o que fiz ontem, quando fui ver o novo trabalho de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados (que no original são "odiosos", o que, aliás, faz mais sentido para com a história).
O oitavo filme do diretor de Pulp Fiction, Cães de Aluguel e Bastardos Inglórios, que colocou os fãs do cineasta em contagem regressiva, já que ele prometeu que vai se aposentar da carreira de diretor com seu décimo longa metragem, é, a exemplo de Django Livre, um faroeste.
No longa, passado em um período indistinto de tempo após a guerra civil norte-americana, encontramos uma diligência cortando a paisagem nevada do Wyoming. O condutor, O.B. Jackson (James Parks) é parado na estrada pelo caçador de recompensas major Marquis Warren (Samuel L. Jackson).
Warren perdeu seu cavalo por conta da intempérie e está preso na neve com três cadáveres, ou, oito mil dólares em recompensas. Sua única esperança de não congelar até a morte é conseguir uma carona até a cidade de Red Rock, mas para isso, ele deverá receber a permissão do contratante da diligência:
John "O Enforcador" Ruth (Kurt Russell).
John está levando sua própria recompensa, a assassina Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que, sozinha, vale dez mil dólares. Após um breve impasse, Huth permite que Warren se junte a eles e siga viagem. As surpresas no caminho, porém, não acabam por aí.
Após uma pequena altercação a respeito de uma carta, Ruth, Warren, Domergue e OB. são interpelados por outro viajante que perdeu seu cavalo.
Ele é Chris Mannix (Walton Goggins), um ex-militar confederado a quem tanto Ruth como Warren odeiam, e que clama ser o novo xerife de Red Rock.
Com uma violenta nevasca em seu encalço, o grupo sabe que não será capaz de chegar a Red Rock antes que a tormenta os engolfe. Eles rumam, então, para o armarinho da Minnie, uma pequena cabana onde terão abrigo e comida por um dia ou dois antes de concluir sua viagem.
Ao chegar lá, mais surpresas.
Minnie e seu marido não estão no lugar. Ao invés deles, um mexicano chamado Bob (Demián Bichir) está tomando conta do lugar porque Minnie precisou visitar a mãe.
Hospedados no armarinho estão Oswaldo Mobray (Tim Roth, em modo Christoph Waltz), um afetado inglês rumando para Little Rock para desempenhar o papel de carrasco em um vindouro enforcamento, o general confederado Sandy Smithers (Bruce Dern) e o vaqueiro Joe Gage (Michael Madsen).
Assim que chegam ao armarinho, a tensão e a desconfiança começam a tomar forma. Enquanto Warren não acredita que Minnie deixaria seu ganha-pão nas mãos de Bob, Ruth tem certeza absoluta de que um dos hóspedes é um comparsa de Daisy. Não bastasse isso, há ainda os ressentimentos de guerra entre Smithers e Mannix e Warren, de modo que, conforme a noite avança, e o Armarinho da Minnie é engolido pela nevasca, a tensão e a desconfiança entre essas pessoas cresce num ritmo alarmante, num festim de falatório regado à tortura, estupro, pólvora, balas e litros de sangue.
É Tarantino em estado puro, seguro, consciente do que deseja mostrar e da história que quer contar, mas não é Tarantino em seu melhor.
Os Oito Odiados é um ótimo filme. Tem uma estética belíssima, boa edição, a tradicional divisão em capítulos, trilha sonora orquestrada de Ennio Morricone, o Beethoven das trilhas sonoras em geral (John Williams que me desculpe, mas o tema principal de Os Intocáveis ainda é a mais bela trilha sonora que eu já ouvi em um filme), dos westerns em particular, do bom elenco (que ainda conta com a feia-atraente Zoe Bell e Channing Tatum), mas algumas coisas simplesmente não são tão boas quanto em outros trabalhos do cineasta.
O binômio falatório/violência que é a marca registrada do diretor está presente em cada milímetro do filme, infelizmente os diálogos não são tão bons quanto foram em outros longas. A violência, por sua vez, parece, vez que outra, deslocada.
Daisy Domergue, a personagem de Jennifer Jason Leigh é espancada o tempo inteiro por John Ruth, e eventualmente por Warren, também. Socos na cara, no estômago, cotoveladas e chutes estão no indigesto cardápio de agressões que a personagem sofre.
Tudo bem, os personagens, conforme sugere o título original, são odiosos, mesmo (e não odiados...), mas há um certo limite para misoginia, e olha que eu sou a pessoa menos politicamente correta que eu conheço, e por vezes defendi Tarantino de acusações desse tipo em rodas de amigos.
O roteiro usa e abusa de expedientes tradicionais da filmografia tarantinesca, os insultos, os palavrões e as ofensas raciais (casualmente, talvez por estar muito frio, Daisy Domergue não chega a aparecer descalça) para falar a respeito de justiça da fronteira, capitalismo, política e a Guerra de Secessão mas, ao contrário do que aconteceu em filmes anteriores, esses longos diálogos parecem menos estar ali para nos dar vislumbres mais aproximados dos personagens do que para justificar o próximo banho de sangue.
Não me entenda errado, sou um fã antigo de Tarantino, e sei admirar um bom banho de sangue, mas após tanta celeuma a respeito de Os Oito Odiados, com a ameaça de Tarantino de não realizar o longa após o vazamento do roteiro e tudo mais, eu confesso que esperava um pouco mais.
A despeito de tiradas muito boas, momentos genuinamente tensos e um trabalho de atuação acima da média de Jennifer Jason Leigh, Samuel L. Jackson e um surpreendente Walton Goggins, Os Oito Odiados é um filme muito bom, mas menor do que a pompa do que "O Oitavo Filme de Quentin Tarantino" sugeria.
Ainda assim, estamos em contagem regressiva, faltam só dois, e Tarantino ainda é um cineasta que merece a deferência da ida ao cinema.
Certamente vale o ingresso.
"Quando o cartaz de procura-se diz 'vivo ou morto', o resto de nós te dá um tiro nas costas de algum lugar alto e te traz morto em cima de uma sela. Mas quando John Ruth , o Enforcador te pega... Você é enforcado."
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