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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Série: House of Cards


Eu tive, desde sempre, uma relação conflituosa com séries de TV.
Além de minha impaciência - Eu sou incapaz de dar tempo para um seriado se desenvolver. Um programa de TV tem exatamente dois episódios para ganhar minha atenção, e se não fizer isso, eu nunca mais o assisto - havia a agenda.
Jamais consegui ser fiel à um seriado por diversas razões. Mesmo os programas de TV de que eu realmente gostava, como E.R., Friends, Seinfeld, House, The Office.... Todas elas, em algum momento, perdiam minha atenção.
Fosse por causa dos desmandos das emissoras, alterando os horários os dias de exibição ou o idioma dos episódios (The Office foi uma que, quando começou a passar dublado, perto da meia-noite de domingo no FX, perdeu pra sempre minha audiência), fosse porque as séries estavam se alongando obviamente além do tempo que deveriam durar, fosse porque eu, em algum momento, tinha algum compromisso no dia do programa, bastavam um ou dois episódios perdidos e eu abandonava as séries de vez.
Praticamente não assisti E.R. entre a décima e a décima quinta temporada. Abandonei The Office antes da saída de Steve Carell. Parei de ver House antes do sexto ano. Vi Friends inteira apenas em DVD, o que também aconteceu com Seinfeld.
De modo que estava acostumado a ser o sujeito na roda de amigos que não acompanhava séries, num momento em que as séries estavam se tornando um filão cada vez mais poderoso, tanto em termos de abrangência quanto de qualidade.
Embora eu venha assistindo Game of Thrones (não desde o começo, só passei a acompanhar de fato o programa quando peguei, ao acaso, uma maratona da primeira temporada na HBO), o que realmente mudou minha relação com as séries foi Demolidor, e o Netflix.
Antes mesmo de Sílvio Santos alardear as vantagens de ser assinante do serviço de streaming, eu assinei o Netflix unicamente com o intuito de ver se Demolidor valeria alguma coisa.
Tinha sérias dúvidas a respeito da ideia de um seriado sobre o herói já que, historicamente, séries de super-heróis deixam a desejar, haja visto que não consegui assistir Smallville além da segunda temporada, e outras séries do tipo, como Arrow, Flash, Agents of SHIELD e Gotham, não consegui ver além do segundo episódio...
Mas, Demolidor foi um seriado espetaculoso, tão qualificado que eu sabia, de cara, que iria querer ver a segunda temporada, e que iria querer ver Jessica Jones, e Luke Cage e Punho de Ferro, de modo que resolvi manter minha assinatura e não fazer uso apenas do mês grátis oferecido.
O Netflix mudou minha forma de ver seriados.
Eu assisti Sherlock de maneira comedida, um episódio por dia, ao longo de mais de uma semana, Breaking Bad inteira, às vezes vendo quatro ou cinco episódios em sequência, em coisa de um mês e meio. Assisti o primeiro ano de Better Call Saul em uma semana. E após esgotar meu estoque com esses seriados que eu realmente queria ver, comecei a procurar alguma outra coisa pra preencher o vazio de tempo entre a primeira temporada de Jessica Jones e a segunda de Demolidor.
E não foi por mais senão minha admiração pelo trabalho de Kevin Spacey que eu resolvi dar uma chance à House of Cards, um seriado que, confesso, não era exatamente o perfil de programa que eu almejava assistir, ao menos na sua sinopse.
Mas aí, descobri Frank Underwood (Spacey), o improvável deputado democrata de Gaffney, Carolina do Sul, que ao ser preterido no cargo de secretário de Estado pelo recém eleito presidente Garrett Walker começa, ao lado de sua esposa Claire (Robin Wright), uma inexorável marcha rumo ao poder, custe o que custar, doa a quem doer.
Se, em um primeiro momento, o que me manteve assistindo aos episódios foi o talento de Spacey, não demorou para que eu me afeiçoasse à Claire Underwood, Zoe Barnes (Kate Mara), Peter Russo Corey Stoll), Doug Stamper (Michael Kelly) e todos os personagens que orbitam o casal principal.
Confesso que, a quebra de ritmo na terceira temporada, com Francis na presidência e diversas tramas paralelas afastando o foco de Underwood, aliado à minhas férias e ao lançamento da segunda temporada de Demolidor acabaram me afastando brevemente de Frank e Claire, mas após devorar os treze episódios do diabo da guarda de Hell's Kitchen, voltei à House of Cards, terminei de ver a terceira temporada, e, em pouco mais de uma semana, assisti à toda a quarta.
E é bom ver que o programa retomou seu caminho.
House of Cards não é The West Wing. Não é um programa sobre política.
É um programa sobre poder. E sobre a busca por mais poder.
Foi devolvendo Frank e Claire à ribalta e lhes oferecendo desafios de variadas espécies que House of Cards, em sua quarta temporada recuperou a qualidade dos anos um e dois.
Os grandes desafios de Frank e Claire, por sinal, não são as difíceis relações políticas com a Rússia de Viktor Petrov (Lars Mikkelsen, o Napoleão da chantagem Charles Magnussen de Sherlock), nem as dificuldades da campanha democrata contra Heather Dunbar (Elizabeth Marvel), o incrivelmente perfeito candidato republicano, William Conway (Joel Kinnaman), os ataques terroristas da ICO (dublê do EsIs na série) e nem sequer a investigação de Tom Hammerschmidt (Boris McGiver) ou uma tentativa de homicídio.
A única coisa capaz de ferir um Underwood, é outro Underwood.
Abraçando de vez a vilania velada de Frank e Claire, e a levando a lugares novos e sombrios do relacionamento dos dois, e, mais do que isso, tirando a trama do que é politicamente plausível durante a conturbada campanha presidencial, e a levando honestamente para onde é mais interessante, House of Cards reencontrou o caminho, e fechou sua quarta temporada com um gancho excepcional para o quinto ano.
Serão longos meses de unhas roídas até ver onde as maquinações de Francis e Claire os levarão. Por sorte, minha relação com séries, agora, é outra. E eu tenho um bocado de opções para dividir meu tempo até lá.
Obrigado, Netflix. Frank, Claire, nos vemos em 2017.

"-É isso mesmo. Nós não nos submetemos ao terror. Nós criamos o terror."

2 comentários:

  1. Quem diria , vivi pra ver tu se rendendo aos seriados hahaha !

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  2. Netflix foi a arma fundamental nessa rendição.

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