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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Resenha Cinema: Capitão América: Guerra Civil


Lá se vão oito anos, doze filmes e duas séries de TV desde que Robert Downey Jr. assumiu publicamente que era o Homem de Ferro e, procurado por Samuel L. Jackson ouviu falar da Iniciativa Vingadores, no que era o mais ambicioso projeto de franquia cinematográfica até então.
Após doze filmes e mais de oito bilhões e meio de lucro em bilheterias, a Marvel fincou o pé como um dos mais rentáveis produtos de entretenimento do mundo, tanto que a Disney investiu pesado para ter os super-heróis da editora sob sua asa.
Se não há praticamente ninguém em sã consciência que possa dizer que os filmes do estúdio não são divertidos (sempre há os fanboyolinhas histéricos e amargurados destilando um ódio incompreensível seja pela Marvel, seja pela DC), também não é menos verdade que os longas da Casa das Ideias primavam por essa diversão, estando muito longe de alcançar a profundidade, por exemplo, da trilogia das Trevas de Christopher Nolan para o Batman, o que, sejamos francos, nem mesmo a DC parece capaz de replicar hoje em dia.
O primeiro vislumbre de um longa da Marvel com mais do que duas horas de diversão despreocupada, pirotecnia e piadinhas foi justamente em Capitão América: O Soldado Invernal, longa de 2014 que deixou claro à audiência que o estúdio tinha um pouco mais a oferecer do que uma repetida fórmula consagrada.
O longa era um filme de super-herói muito bem embalado em uma trama com cara de thriller político de espionagem, e fez maravilhas pelo cap.
No ano passado, porém, os longas lançados pelo estúdio deram pinta de que a luta de Steve Rogers contra o agente definitivo da Hydra havia sido um evento isolado.
Se Homem Formiga era uma óbvia comédia de ação, a começar por seu protagonista, Vingadores: Era de Ultron dirigido por um Joss Whedon operando em modo Michael Bay pareceu incapaz de dar um passo além da repetição do primeiro longa do super-grupo com uma escala maior de destruição e um bom vilão que acabava soterrado no CGI e nas sequências de ação hiperbólicas no que, ao menos pra mim, foi um longa metragem algo decepcionante.
Por sorte, a DC resolveu dar o famoso "ligeirão" com seu universo cinemático, e após a recepção morna de O Homem de Aço, apostou alto juntando Superman, Batman e Mulher Maravilha num mesmo filme.
O audacioso movimento da Warner forçou a Marvel a equiparar forças, de modo que o terceiro longa do Capitão América foi transformado quase em um Vingadores 2,5.
O filme do sentinela da liberdade, anunciou-se, adaptaria a saga Guerra Civil, dos quadrinhos, onde Steve Rogers e Tony Stark assumem lados opostos em uma guerra que se estende pelos quatro cantos do universo Marvel com resultados catastróficos.
Além de vários dos heróis que já havíamos visto nos longas da Marvel até aqui, ainda surgiriam o Pantera Negra e o Homem-Aranha, "emprestado" pela Sony, numa clara demonstração de que a Marvel não estava brincando na hora de encarar a trindade da DC nas telonas.
Capitaneando o longa estaria a equipe de Soldado Invernal, os diretores Joe e Anthony Russo e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, no elenco, quase todo mundo que já havia aparecido nos filmes anteriores e, pelo menos duas caras novas que todo mundo queria ver:
Chadwick Boseman, e Tom Holland.
Ontem, como qualquer nerd que se preze, eu estava à meia-noite numa sala de cinema, vestindo meu agasalho do Capitão-América e minha camiseta do Homem-Aranha para assistir ao longa.
A ele.
Após o ataque de Ultron à Sokovia e a dissolução da SHIELD, os Vingadores do Capitão América (Chris Evans) seguem seu trabalho de proteger a humanidade, e amarrar pontas soltas.
Durante uma operação na Nigéria para capturar o agente Rumlow, agora o vilão Ossos Cruzados (Frank Grillo), Falcão (Anthony Mackie), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) enfrentam um grupo de mercenários e uma arma química num ataque que termina com onze mortes.
A tragédia, somada às ações dos Vingadores em Nova York durante o ataque Chitauri de Loki, em Washington durante o ataque da Hydra e à destruição da Sokovia nas mãos de Ultron levam as Nações Unidas e o Secretário de Estado norte-americano general Thaddeus Ross (William Hurt, de volta após O Incrível Hulk) a apresentar um ultimato à equipe:
Os Vingadores não podem mais ser uma força-independente operando sem respeitar estados soberanos pelo mundo. A proposta forma uma junta da ONU que decidirá quando e se o grupo será acionado, e onde eles terão liberdade para atuar.
Se a iniciativa imediatamente soa plausível para Tony Stark (Robert Downey Jr.), que vive um momento difícil com Pepper Potts e se sente responsável pela morte de um jovem na Sokovia (aparentemente a mãe do rapaz é uma ótima agente de viagens, pois consegue lançar Tony em uma viagem de culpa sem maiores esforços), é imediatamente rechaçada por Steve, que não é capaz de depositar sua confiança e o poder da equipe à pessoas que tem suas próprias agendas políticas.
Em meio à divisão do grupo, um ataque terrorista atribuído ao Soldado Invernal (Sebastian Stan) coloca o antigo amigo de Steve na alça de mira de todas as agências de segurança do mundo, e quando os interesses do misterioso Helmut Zemo (Daniel Brühl) se misturam ao destino de Bucky, uma intrincada conspiração que se estende do passado de Steve e de Tony Stark toma a forma de uma cisão tão profunda que pode implodir os heróis mais poderosos da Terra de dentro pra fora.
Sob diversos aspectos, Capitão América: Guerra Civil é o que Vingadores 2 deveria ter sido.
Um longa infinitamente mais maduro e melhor construído do que Era de Ultron, Guerra Civil encontra um tom sério e grave sem se transformar em um espetáculo de ódio e melancolia como Batman VS Superman - A Origem da Justiça, e nem abandonar por completo o bom humor que caracteriza os filmes da Marvel.
Existe genuína tensão quando as disposições de Tony e Steve azedam de vez no ato final de um crescendo orgânico e crível que vinha desde o primeiro Vingadores, especialmente porque nenhum dos dois está absolutamente certo ou errado na questão que move o filme, e porque, embora eles não sejam capazes de encontrar um meio-termo onde concordar, ainda são pessoas que se respeitam e admiram mutuamente, dando ao conflito uma dolorosa cara de cisma em família.
Ainda assim, todos os personagens encontram um momento para nos fazer sorrir, seja como um alívio cômico assumido, caso do Homem Formiga de Paul Rudd, e do Falcão, cujas interações com Bucky são ótimas sem soarem forçadas ou gratuitas, seja com o sarcasmo ácido de Tony Stark ou a inocência extemporânea de Steve. A exceção é um dos estreantes do longa, o príncipe T'challa de Wakanda de Chadwick Boseman, que surge como um homem austero e articulado, dominado por um desejo de justiça que se confunde com vingança conforme sua família e seu reino são atingidos pela conspiração de Zemo.
Boseman encontra um bom tom para o Pantera, e ao final do longa, o personagem deixa claro que pode segurar um filme nas costas se for bem trabalhado.
O outro estreante é Tom Holland, que surge como o mais adolescente (e mais pobre) Peter Parker que nós já vimos, emulando o jeito tagarela de Andrew Garfield com o traje, mas dando um toque geek todo seu ao personagem além de um vislumbre da extensão de seus poderes quando enfrenta, sozinho, Soldado Invernal e Falcão ao mesmo tempo na luta do aeroporto de Leipzig, além de ter um arranca-rabo com o Homem-Formiga e o Capitão América em pessoa.
O filme ainda dá um arco dramático para Jim Rhodes (Don Cheadle) o Máquina de Combate, arruma espaço para o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) ter seus momentos e se aprofunda brevemente na psiquê em formação do Visão (Paul Bettany), um ser sintético de pura lógica que não consegue ignorar sua afinidade com Wanda, uma afinidade que pode ir muito além da Joia do Infinito que lhes dá seus poderes.
Os irmãos Russo, e os roteiristas McFeely e Markus, porém, não esquecem o nome de quem está no título, de modo que o Capitão América tem mais espaço do que os demais personagens, a Guerra Civil é entre os times de Tony e Steve e Robert Downey Jr. é um tremendo ladrão de cena, mas o longa ainda pertence ao Capitão América, e mostra mais um capítulo de sua jornada como alguém que não se encaixa, e segue procurando seu lugar no mundo, algo que fica claro na maneira como Steve protege obsessivamente Bucky, seu único elo com seu tempo.
Conseguir imprimir isso em um longa de super-herói de duas horas e meia com tantos personagens e (ótimas) sequências de ação é, por si só, um triunfo dos realizadores.
Sim, Capitão América: Guerra Civil é excelente, talvez o melhor e mais equilibrado filme da Marvel até aqui, o que Vingadores 2 deveria ser e, eu espero, o que os filmes da Marvel sejam daqui por diante.
Que venham Doutor Estranho, Homem-Aranha - Volta ao Lar, Homem-Formiga & Vespa, Pantera Negra e Vingadores - Guerra Infinita, e que tenham todos a qualidade de Guerra Civil.
Assista no cinema, fique até o final dos créditos.

"-Nesse trabalho nós tentamos salvar tantas pessoas quanto pudermos. Ás vezes isso não significa salvar todas..."

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